Hate At First Sight escrita por DudaMoura


Capítulo 21
Espíritos da noite


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/309863/chapter/21

– Como assim pelo beijo? – Eu beijei alguém enquanto estava bêbada? Minha cabeça tentava decidir como eu deveria ficar em relação á isso. Um beijo é menos do que ficar grávida, mas é muito mais do que eu faria se estivesse sóbria, que seria nada.

– Eu te levei para o meu quarto. – Austin mordeu a boca parecendo questionar se devia ou não contar aquilo pra mim. – E você não parava de dizer que me queria.

– Eu?

– Não! O Barack Obama!

– Ah! Menos mal! Eu sempre soube que o Barack Obama tinha uma queda por você. – Tentei piscar para Austin como nos filmes, mas foi em vão, eu não tinha coordenação motora suficiente para fechar apenas um olho, tenho que entrar para o circo e aprender esses truques mágicos.

– Claro que era você. Sua idiota! Você vai continuar de gracinha ou vai me deixar terminar?

– Okay! – Eu falei frustada desistindo de piscar, minha carreira no circo estava acabada.

Aproximei a xícara para mais um gole daquele chá contra a ressaca, enquanto alguns segundos de silêncio permaneceram predominantes na nossa mesa. Tenho que admitir que apesar de não saber o que tinha naquilo, era bom e viciante. Será que era um chá de cogumelo feito de pernas de pôneis preparado com toda a qualidade por gnomos da floresta contra a ressaca? Aquilo era ótimo!

– Então você me beijou e fim. – Troy Austin disse com a maior naturalidade do mundo. Como se tivesse contando uma história de Era um vez e dizendo “ Então eles viveram felizes para sempre e fim”. Mas nesse caso não era um conto de fadas, era um conto de capetas.

Eu engasguei com o chá na minha boca e acabei cuspindo uma parte dele. Uma mistura de chá e cuspi acabou voando da minha boca em direção ao rosto de Austin.

– Eca! Que nojo! – Ele reclamou pegando vários guardanapos e limpando os resquícios de chá do seu rosto.

– Desculpa! – Eu falei dando risada. Foi tão engraçado que eu nem tinha percebido que tinha falado desculpa. - É que eu entendi uma coisa totalmente diferente do que você falou, acho que eu não me recuperei ainda. Estou meio doida!

– O que você entendeu? – Perguntou arqueando uma sobrancelha e franzindo levemente a testa.

– Que... Ah! – Disse sem graça encarando a mesa. Eu tinha gostado dessa toalha com flores. Era a mesma estampa das calcinhas da minha avó. Ou será que vovó roubou algumas toalhas para fazer de calcinha? Aquela velha era realmente rebelde!

Troy Austin bateu os dedos na mesa tentando chamar minha atenção. Provavelmente ele iria morrer de rir da minha confusão. Eu podia até ter beijado o Barman, mas não ele.

– Que eu tinha beijado você. – Segurei uma gargalhada esperando o momento que ele também fosse dar risada e se juntar a mim, mas isso não ocorreu.

– E foi exatamente isso. – Ele deu um sorriso malicioso e piscou pra mim, vendo minha cara de surpresa se transformar em terror. Merda! Ele sabe piscar e eu não, provavelmente ele foi expulso do circo.

Eu beijei Troy Austin? A criatura que eu mais odiava na face da terra. Isso não era possível! Ele estava brincando comigo para ver se eu tinha um ataque cardíaco e morresse. Pelo menos minha morte resolveria todos nossos problemas.

– Você está mentindo só para me fazer sentir pior. Claro que eu não beijei você! Isso é um absurdo! – Balancei as mãos no ar tentando apagar aqueles pensamentos. Droga de imaginação! Pense em outra coisa Amanda! Lembre do comercial de Miojo.

– Ops! Não é isso que a minha boca diz. – Ele apontou para o canto esquerdo do seu lábio inferior, onde havia um corte. – Você é uma destruidora de lábios. Sábia?

– Eu não fiz isso! Você deve ter caído e ter batido a boca em um extintor de incêndio ou algo do tipo.

– Claro que não, Mandy! Porque eu mentiria pra você? – Sua voz afinou um pouco e seus olhos se concentraram apenas em mim. Como se estivesse tentando conseguir a confiança de uma criança depois de ter contado para ela que Papai Noel não existe.

– Porque você só quer me confundir mais. – Aumentei meu tom de voz sem perceber. Era um golpe muito baixo ficar inventando mentiras tão cruéis para alguém que não lembrava de nada, até mesmo para aquela criatura com camiseta listrada na minha frente, nem uma zebra do mal faria isso comigo.

– Como se eu ganhasse dinheiro fazendo você se confundir. – Revirou os olhos em tédio.

– Ah! Mas se ganhasse, já estaria milionário. Você me deixa louca, sabia disso? – Gritei e todos das outras mesas me olharam assustados. – Parem de se entrometer! A vida é minha. Continuem comendo e conversando sobre novela e essas bobagens que pessoas inúteis conversam. – Eu mostrei o dedo do meio e a expressão de surpresa delas passaram para indignação.

– Mandy! – Austin falou em reprovação. – Desculpa gente! Ela acabou de sair da clínica de reabilitação. Então ignorem! – As pessoas me olharam com cara de dó e se viraram novamente parando de prestar atenção em mim.

– Clínica de reabilitação! É sério isso?

– Amanda Miller, meu amorzinho. – Austin fez um gesto tentando pegar minha mão, mas eu desviei e automaticamente ele jogou em direção a mim um olhar triste. – Você não pode falar assim com as pessoas.

– Meu amorzinho? Devia comer seu fígado por me chamar disso. – Bufei e cruzei os braços mal humorada. – Por que não posso falas assim com esses seres?

– Porque não pode! E você é vegetariana, não iria querer comer meu fígado.

– Eca! – Fiz a melhor cara de nojo que conseguia. - Mas eu só disse a verdade em relação a elas.

– A verdade as vezes ofende.

Eu senti uma pontada de indireta na sua fala. Não podia ser hipócrita, ele tinha dito algumas verdades para mim no seu apartamento e eu chorei e solucei como uma criancinha que esperava uma Barbie e tinha ganhado uma Susie. A verdade doí, mesmo que seja verdade.

– Vamos embora? – Eu perguntei timidamente ainda pensando sobre o assunto anterior. Estava extremamente incomodada.

– Parece que você aprendeu uma coisa hoje. – Austin falou passando a mão pelo meu cabelo e o bagunçando.

– Aprendi mesmo. Agora vamos embora antes que eu aprenda a usar uma bazuca também. – Eu estava com um certo ódio. De tudo, de todos os seres vivos que respiravam o mesmo ar que eu.

– Olha, sobre o beijo... Podemos esquecer, okay?

– Mas eu nem lembrava! Você que é um babaca! – Austin fez um gesto para eu falar mais baixo. Aquelas pessoas ridículas que não tinham mais nada para fazer na vida já estavam começando a me encarar novamente.

– Eu sou um babaca mesmo. Mas antes de irmos embora, vamos passar no cinema? – Ele perguntou como um cachorrinho pidão. Odiava cachorros!

– No cinema? Não! Eu quero ir para casa. – Me virei desconfortável no assento, tentando achar uma posição que resolvesse todos os meus problemas.

– E você também quer esse livrinho? – Ele tirou de dentro da blusa o Mestre da química parte onze. Eu queria xinga-lo por não ter cuidado com livros, principalmente aquele que era bem raro. Guardar um livro no bolso significa quase amassa-lo. O que eu considerava um dos piores crimes.

– Ah! – Gemi encarando o livro! Aquilo era a décima primeira maravilha do mundo. – Você disse que iria me entregar o livro se eu visse para cá.

– Na-na-ni-na-não. Eu disse que se você ficasse bem boazinha eu deixaria você ficar com o livro. E pra mim ser uma pessoa bem boazinha incluí assistir Espíritos da noite no cinema comigo.

– Merda! – Praguejei me levantando e deixando uma nota de dez dólares na mesa.

– O que é isso? – Virei para encarar Austin.

– Isso o quê? – Porra! Eu queria ver aquele filme idiota logo e depois ir para casa e ler meu livro. Por que ele tinha que complicar tudo? Acho que nem Deus sabia como ele me irritava tanto.

– Mandy, eu te convidei. Eu pago. – Ele timidamente me entregou os dez dólares e se aproximou da garçonete pagando ela. Não bastava ser chato, ainda tinha que ser orgulhoso. Que idiota!

Eu com certeza iria brigar com ele, se Troy Austin não tivesse com um dos livros que eu desejava em mãos. Puta que pariu! Eu tomei o chá, tenho todo direito de pagar por ele.

***

O elevador estava quieto demais. Eu estava com um pacote de balas coloridas e meu tão sonhado livro em mãos. Estava na quarta página e já tinha certeza que ele seria meu preferido. Nunca alguém tinha descrito química daquele jeito. Tudo era tão mágico entre as moléculas de carbono. Só podia ser uma obra de Deus!

– Então, o que você achou do filme? – Troy me cutucou atrapalhando minha leitura. Eu não sabia se eu odiava mais ele, sua cutucada ou o fato dele ter me atrapalhado em um momento tão importante da minha vida.

– Hum... – Fechei o livro emburrada. Talvez seria melhor ler ele no apartamento. Quando se tem um livro muito bom em mãos eu não conseguia decidir se era melhor termina-lo de ler rápido ou aproveitar o máximo possível para não acabar muito cedo. O que importava era ler ele com honra, sem um cabeça de brague atrapalhando.

– Hum o quê? – Ele questionou.

– Achei legal. Não foi tão ruim quanto eu imaginava. Mas os efeitos especiais ficaram um lixo. Dava para ver a polpa do tomate no que eles chamaram de sangue e todos sabem que aquela menina não era propícia para carregar um demônio. Para carregar um diabo dentro de sí tem que ter responsabilidade. Isso mostra que até Espíritos são incompetentes.

– Você não existe. – Austin disse dando uma risada nervosa. – Mas você não ficou com medo?

– Não! O filme mal editado da Barbie Sereia me dá muito mais medo. E você? Ficou com medo? – Perguntei, mas já sabia a resposta. Essa noite valeu a pena pelo único fato de Troy Austin ter gritado que nem uma garotinha na maior parte do filme. Ele estava quase morrendo no cinema.

– Eu? Claro que não! – A porta do elevador se abriu e ele agarrou minha mão.

– Você poderia parar de se encostar em mim. – Abaixei a cabeça em direção as nossas mãos juntas e ele logo as separou. – O que você quer?

– Acho que você está com medo do filme e não quer admitir. Como eu sou um cavalheiro, eu deixo você dormir na minha cama hoje.

– Eu estou com medo? – Dei uma risada forçada caminhando em direção a minha porta e a abrindo. – Eu não estou! Você está.

– Não estou com medo. Que absurdo!

– Tudo bem, então. Sonhe com os Espíritos da noite e com a garotinha! Espero que você não tenha muitos pecados. – Dei um sorriso de lado vendo seus olhos se estalarem com o desespero.

– Amanda?

– Oi?

– Você tem um crucifixo?

***

– Mandy? Mandy? Mandy?

– Vai se foder Beto! – Não acredito que depois de tanto tempo abandonada, meu Anjo da guarda voltou da Florida e estava me enchendo no meio da noite.

– Quem é Beto? – Aquela voz era conhecida, mas não era de Beto. Era de Austin... Merda!

Abri os olhos e tudo estava embaçado. A única coisa que não estava meio duplicada era Troy Austin na minha frente. Suas mãos estavam nos bolsos e sua expressão era assustada.

– Austin! Apaga essa luz agora! Está me deixando cega. Espera! O que você está fazendo aqui? – Perguntei me sentando na cama e checando a hora. – Ás duas horas da manha!

– Mandy. Eu estou com medo! – Suas bochechas coraram levemente.

– Ah! Não me diga. - Revirei os olhos. Beto! Seu vadio. Então seu presente da Florida foi trazer Austin ás duas horas da manha para me acordar? Não precisava dessa lembrancinha, querido. Eu juro que quero depilar suas asas, anjo da guarda filho da puta.

– Posso te levar para o meu quarto? Os Espíritos estão me perseguindo. – Ele disse timidamente se aproximando da minha cama.

– Não vou para o seu quarto. Você vai ter que enfrentar os Espíritos como um homem sozinho. – Cobri meu rosto com o travesseiro. Não acredito que estava acontecendo aquilo. O filme nem tinha sido tão pesado, talvez tenha sido, mas tenho que confessar que estava mais imaginando como meu livro era do que pensando sobre o espírito da garotinha.

– Mas eu tenho medo de crianças demoníacas. – Ah! Troy Austin amava crianças, tipo muito, considerava elas mais do que simples pestinhas, acho que quando ele viu o capeta entrando em uma criança inocente ele não gostou muito.

– Se vira! E aproveita e feche a porta quando você for. Não quero ouvir seus gritos enquanto os Espíritos te devoram. – Porque meus pais deixaram uma chave reserva com ele? Para perturbar meu sono? Pois conseguiram.

– Tudo bem, então. – Ele tirou o celular do bolso e começou a discar números.

– Não acredito que você está ligando para o meu pai. Pois saiba que se me dedurar dizendo que não estou sendo legal, você só vai estar ajudando para que eu volte para casa.

– Não estou ligando para o seu pai. Estou ligando para a Vanessa! – Falou colocando o celular na orelha.

– Porque você está ligando para aquela filha da puta? Aquela vadia é nojenta! – Gritei e o sangue começou a borbulhar em minhas veias.

– Ela vai vir me proteger. Talvez você até escute alguns gritos, mas não vão ser dos Espíritos, fique tranquila.

– Quê?

– Calma! Vou pedir para ela não fazer muito barulho, para não te acordar.

Refleti por alguns segundos, estava em uma emboscada. As batidas do meu coração aceleraram e meu cérebro tentava achar um caminho sem me comprometer demais.

– Alô? Vanessa?

Parece que aquela vadia tinha atendido o telefone e eu me vi levantando e tropeçando no edredom sem perceber que estava fazendo mesmo aquilo. Arranquei o celular da mão dele e fique surpresa comigo mesma. Eu não tinha planejado aquilo, foi um impulso.

– Ei! – Ele me olhou irritado.

– Austin! Você joga muito baixo. – Falei desligando seu celular.

– Eu sei. – Sorriu para mim. – Então, você vai para minha casa. Até os Espíritos tem medo de você, acho que você tem um demônio muito maior do que o da menininha no seu corpo.

– Como é? – Eu perguntei coçando os olhos. A situação parecia engraçada, mas não para mim.

– A diferença é que eu consigo controlar o demônio em você. – Ele alargou ainda mais o sorriso. Idiota!

– Ah! Jesus Cristo! Estou começando a me arrepender de não ter te deixado ligar para a Vadia, ops, Vanessa.

– É? Ela tem alguns segredinhos para me deixar mais calmo.

– Vai se fuder. – Joguei o travesseiro mirando em sua cabeça, mas ele incrivelmente desviou. Porra! Vou ter que voltar a fazer arco e flecha.

– Você quer que eu te carregue até minha cama como ontem? – Austin perguntou vendo que eu estava deitando na minha cama novamente. Eu estava morta. Acredite ou não, depois que todas as dores da ressaca passam, você parece que quer desmaiar de tanto sono. Hibernar como os ursos por seis meses não parecia algo ruim.

– Não! Eu não vou sair daqui.

– Mas você...

– Se quiser pode dormir na minha cama. Agora apaga essa luz agora. – Falei irritada me cobrindo com o edredom.

– Pode ligar o abajur? – Ele perguntou baixinho.

– Pode. – Não consegui evitar de dar um sorriso. Austin parecia uma criança com medo do escuro.

É, mas uma criança não tinha aqueles gominhos na barriga e muito menos aqueles braços fortes. Porque ele tirou a blusa?

– Que porra você está fazendo? – Tentei o máximo não encara-lo, porque meus olhos não conseguiam desviar do seu corpo, era tão automático.

– Não consigo dormir com camisetas, elas me incomodam. – Ele se justificou acendendo o abajur e logo em seguida apagando a luz. Talvez era melhor assim, ele não conseguiria ver que minhas bochechas estavam em um estado deplorável de tão vermelhas.

Troy se jogou na cama como se fosse um pula-pula.

– Olha o tamanho dessa cama! Vai mais para lá! – Tentei empurra-lo, sem nenhum sucesso. É uma cama super box de casal, dava para abrigar todos os filhos do MC Catra lá.

– Sabe... É uma sensação estranha deitar em uma cama com uma garota e não transar com ela. – Disse no meu ouvido e como resposta recebeu vários tapas e socos até estar na outra ponta da cama, quase caindo. - Viu? Nenhum demônio iria enfrentar você. – Ele deu uma gargalhada e eu só conseguia chegar a uma conclusão sobre aquilo. MORTE!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam dos reviews! Quero saber o que acharam do capítulo.
xoxoDudaMoura



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hate At First Sight" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.