O acampamento estava bastante bonito. Todos fizeram um belo trabalho com a decoração, e a neve fora permitida de cair, mas não tão rigorosa, apenas o suficiente para deixar que todos se divertissem.

Andou em direção ao seu chalé. Alguns dos campistas o olhavam torto e Percy suspirou. A fofoca se espalhara tão rapidamente. Mas ele deveria saber que isso aconteceria. Mais uma vez, arrependeu-se por não ter pensado antes de fazer a besteira.

Mas poxa, Percy era um homem, e querendo ou não, ele se atraía a outras garotas de vez em quando. Percebeu apenas agora que quando Dakota se aproximava dele, era quando ele estava mais frágil, na maioria das vezes logo após ter alguma briga com Annabeth, porque, mesmo que a conhecesse há anos, ainda a entendia muito pouco, e sentia que o relacionamento dos dois era muito delicado e ele vivia com medo de fazer qualquer coisa errada que o destruísse - acabou que o destrui da pior maneira possível.

Quando Percy entrou em seu chalé, suspirou de alívio e jogou-se na cama. Queria rever alguns de seus amigos, mas primeiro precisava pensar mais um pouco, talvez até se preparar para o caso de... bem, vê-la.

Kota - como a maioria a chamava - era uma garota extremamente linda e que sempre fora agradável com ele. Normalmente desfrutava de sua companhia após brigar com Annabeth porque ela o acalmava de certa forma, pois ele não precisava ficar se preocupando constantemente com a possibilidade de colocar um namoro a baixo. Ele permitia-se relaxar e ser apenas ele mesmo.

Ela era simplesmente linda, diabos, parecia uma boneca! E mesmo assim, quando Annabeth descobriu e, claro, rompeu o namoro, a beleza da garota não foi o suficiente para fazê-lo esquecer de todas suas lembranças com Annabeth ao longo de 5 anos. Ele preferia ter medo do que podia falar perto dela, do que ficar na companhia de uma garota que é linda... e só.

Só agora que a perdera, percebeu que a amava. Verdadeiramente.

Annabeth era mil vezes melhor, e não era só porque Kota parecia uma boneca, que significava que Annabeth não era bonita. Muito pelo ao contrário, lembrava-se muito bem de seu cachos loiros semelhantes aos de uma princesa, seus olhos cinzas tempestuosos, seu corpo esbelto devido ao tanto de treinamento; sua beleza apenas aumentava mais com toda sua inteligência e sabedoria. Ela era feita para ele, ela o conhecia como ninguém, e tinha certeza que era a única pessoa que podia confiar sua vida.

Merda, ele precisava fazer alguma coisa. E precisava fazê-lo agora.

Levantou-se de sua cama em um salto, e quando abriu a porta, foi recebido com um abraço de Grover.

– Perrrrrrrrcy! - seu amigo exclamou. É, Grover não o abandonara, e Percy ficava feliz com isso, pois ele era seu melhor amigo.

– Hey, Grover! Como você está? - perguntou.

– Cara, eu tô legal. Mas o que me diz de você? Como anda nesses últimos dias?

Desde o término do namoro, Percy não voltara ao acampamento durante as férias de inverno. Era perigoso, sim, mas nada muito pertubardor vinha acontecendo, e por essa dádiva ele se sentia abençoado - sua confusão com Annabeth já era suficientemente exaustiva.

– Eu tô, você sabe, indo. - respondeu. Grover o olhou com aquela cara de quem sabia o que realmente estava acontecendo. Ele sabia que na verdade Percy estava afundado em uma melancolia dolorosa.

– Ér, as coisas estão um tanto tensas por aqui também - Grover falou. - Annabeth anda bastante irritadiça, quando ela vê Dakota então... mas ela tá muito triste, isso é evidente.

– Ah, cara! Que merda eu fiz? - Percy quase chorou, agarrando os cabelos com ambas as mãos. Sentiu uma culpa e tristeza enorme por Annabeth: simplesmente machucou a garota mais importante da sua vida, deixando-a marcada pela traição. Se para ele era quase insuportável só de ficar sem ela, imagine para Annabeth que é a traída.

Segurou-se pra não pular no lago e mandar que as águas o afogasse. Grover arregalou os olhos, e Percy sentiu que daqui a pouco ele iria começar a mordiscar a madeira da porta de seu chalé.

– Ah... Percy, me desculpe! Eu não quis dizer... não é sua culpa... quer dizer, é, mas... não! Não é isso o que quero dizer...

Percy deu um tapinha em seu ombro.

– Tá tudo bem, cara. Eu só... - ele respirou fundo. - Eu preciso fazer alguma coisa - olhou a sua volta e puxou Grover pra dentro de seu chalé antes de continuar. - Eu quero me desculpar com ela. Tá difícil pra mim também, eu... - suspirou - eu fiz uma burrada. E... bem, eu não posso ficar sem ela. Grover, eu... eu amo ela. Eu amo Annabeth.

No momento que falou isso, teve a certeza. Era isso mesmo: ele a amava. E tinha que fazer alguma coisa para recuperar as coisas entre eles. Grover o olhou com compaixão, o que na verdade o incomodou um pouco.

– Bem, ela anda muito irritada, duvido que irá te perdoar tão fácil.

– Valeu por me lembrar. - Percy revirou os olhos. - De qualquer forma, eu não aguento mais ficar desse jeito. É claro que não vai ser fácil reatar com ela, por isso tenho que fazer algo diferente, algo especial.

Grover assentiu com a cabeça, olhando-o com uma mão apoiada no queixo.

– Você sabe que, não importa o que aconteça, ela provavelmente vai tentar te matar na sua primeira tentativa de falar com ela, não é?

– Cara, você vai me ajudar ou não? - Percy frustrou-se.

– Ah, sim, sim! - Grover exclamou, empolgado. - Mas o que a gente vai fazer?

– É por isso mesmo que quero sua ajuda. Preciso fazer algo, mas não sei o que. Tem alguma ideia?

– Por que você não compra um presente pra ela?

– Um presente? - Percy questionou. - Sinceramente Grover, não acho que isso tudo possa se resolver som um simples presente.

– Ué, é só arranjar um presente-não-simples.

– Tá me achando com cara de rico? - Percy falou.

– Ah-ah, Percy. Eu não faço a mínima ideia do que fazer.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, pensando. Então Percy decidiu que, não importasse o que fizesse, não conseguiria nada ficando parado.

– Já sei - Percy falou. - Vamos para o centro, talvez a gente encontre alguma coisa, hum? Ou então até nos dê uma ideia. Vai saber?

– Hum, mas como a gente vai pra lá? Não acho que o Argos nos leve para qualquer lugar quando não estamos em missão. - Grover lembrou.

– Também acho que não... - Percy suspirou infeliz. Então ele olhou para a fonte de água salgada que gorgolejava no canto do quarto. Seus olhos se arregalaram com a ideia que passou em sua mente.

– Ah, meu pai dos mares! - exclamou. - Já sei!

– O que você vai fazer? - Grover perguntou com uma cara que parecia até que Percy iria se meter em encrenca.

– Sei de uma pessoa que pode me ajudar... bem, espero que possa me ajudar.

Grover olhou para a fonte também, e nem precisou que Percy lhe falasse nada, ele adivinhou.

– Seu pai? Francamente Percy, não acho que Poseidon seja a pessoa certa para dar conselhos amorosos.

Percy sacudiu a cabeça.

– Não quero conselho algum. Eu só, bem, eu tenho permissão para ir ao palácio dele. Acho que posso encontrar algo interessante lá.

– Tem algo em mente? - Grover questionou.

– Por enquanto nada - Percy deu de ombros. - Mas as chances de conseguir alguma coisa diferente são maiores lá.

– Tudo bem então. Mas eu não vou com você, não vou a lugar algum abaixo da terra. - Grover resmungou.

Percy se lembrou de suas aventuras pelo labirinto de Dédalo, lembrando-se de como os sátiros ficavam nervosos em lugares subterrâneos.

– Grover, é o oceano, não o labirinto. Além do mais, posso te proteger lá.

– Béé! Eu sei cara, eu sei. É só que... eu tenho umas coisas para resolver aqui. Não vai precisar de mim, e vai estar na água, sua força de controle e de seu pai... não precisa de mim.

Percy bufou, mas deixou pra lá. Eles não estavam em uma missão ou algo do tipo; e se Grover não se sentia bem para ir até o palácio de Poseidon, ele não iria obrigá-lo.

– Tá tudo bem, cara. - Percy deu outro tapinha em seu ombro. - Então eu vou lá, tenho que voltar antes do pôr-do-sol pelo menos.

A caminho para a praia, Percy pensava no que iria falar para seu pai. Foi quando avistou uma cabeleira loira e cacheada. Sentiu as palmas das mãos suarem e seu coração acelerou, ele não estava preparado para ter aquela conversa agora, mas parou por um momento.

Ele pensou, e decidiu que não iria mesmo, afinal não era muito seguro se aproximar de Annabeth agora...

Ele se desviou da menina de modo que ela não o visse e correu em direção a praia tentando não ser percebido, mas teve quase certeza que enquanto corria alguém o encarava.

Percy suspirou depois de um tempo, ele queria ter parado e falado com Annabeth, mesmo que corresse risco de morte por causa disso. Ele se segurou para não dar a volta e ir falar com ela. "Ela não quer te ouvir Percy, e isso é culpa sua", ele lembrou a si mesmo.

De repente, como se fossem aquelas as palavras chaves, ele se lembrou exatamente da noite em que traiu Annabeth, ele lembrou daqueles olhos de boneca piscando para ele e dizendo que ele devia relaxar do relacionamento já que não estava dando certo.

Claro que aquilo foi depois de uma briga com Annabeth, e ele ainda se lembrava de Kota o abraçando e dizendo que ele conseguiria outra pessoa que se importasse com ele tanto quanto Annabeth, na verdade até mais, e deu um beijo da bochecha dele. Nessa hora qualquer homem teria se aproximado e esperado uma reação, e os dois se beijaram, é claro.

"E é claro", Percy pensou, "que eu sou um idiota".

Ele foi caminhando até a borda do mar. Parou um pouco para admirar a paisagem, mas no fundo ele sabia que era só um pouco de medo de seguir em frente e não achar o que ele precisava. "Annabeth", ele pensou, "Podíamos estar numa boa agora, tenho certeza que você acharia uma maneira de voltar no tempo, ou me chamaria de idiota e falaria que isso era impossivel".

Percy respirou fundo e entrou no mar. Nada iria impedi-lo de se redimir com Annabeth.