Skyline escrita por Mackenzie N
Escolhi o meu melhor vestido, afinal, uma festa com um pirralho exige um bom visual como disfarce. Ou pelo menos, esconder um pouco o que as pessoas achariam de mim – uma adolescente encalhada, mas tão encalhada a ponto de puxar um moleque que não alcança sua idade (e seu tamanho) para a pista de dança. Era um azul, brilhante, de alcinhas. Como palpite de mãe vira realidade (como uma bruxaria), vesti um bolero. A noite está calorenta, perfeita para dar uns “remelexos” e beber refrigerante até não poder mais, mas quem sabe, minha mãe joga uma macumba e começa a chover? Nunca se sabe, né?
Calcei meu salto alto fino, branco e cruzei os dedos. Não era para o disfarce funcionar – não me importava com isso, nem ia funcionar mesmo - e sim para que meu salto não quebrasse.
Antes de esperar na porta, como Dudu me recomendou, chequei meus e-mails. Havia outro, mas quem enviava não era Mônica, não mesmo. Queria abrir, mas o moleque chegou, e não parava de apertar a campainha. Minha mãe, já impaciente com o “ding-dong”, me mandou descer e atendê-lo. Ela achava (e acha) correto ajudar um moleque a conquistar a primeira “namoradinha”, mas não contei sobre a minha parte no negócio.
- Já tô indo, Dudu! Quer parar de cutucar essa campainha! – desci rapidamente, checando minha maquiagem e cabelo no meu espelhinho.
- Ok, tudo que eu pude foi conseguir a bicicleta antiga do meu pai. Tcha-ram! – ele me apresentou, com maior orgulho (ou um orgulho falso), a velharia. Caindo aos pedaços, temia que rasgasse meu vestido lindíssimo e caríssimo.
- Essa... – tentei achar o substantivo certo: velharia, joça ou porcaria? Não. Não queria ofendê-lo - ...Coisa não é assassina, certo? – apontei, julgando injustamente. Sim, neste caso, sou ignorante, preconceituosa.
- Claro que não, é só sentir a brisa! – neste momento, a roda quebrou. Demorou, exatamente, vinte minutos e quarenta e sete segundos para recolocá-la no lugar. Dudu aprendeu o básico da mecânica para me levar à festa, achei isso fofo, mesmo sabendo que era tudo para a garota que fisgou seu coração. – Ufa! Demorei um pouco, pra não sujar minha roupa, mas aqui está! Vamos! – vestido de terno, com o cabelo para trás, entupido de gel e se aposentando do boné por uma noite, Dudu realmente estava apaixonado. Espero que ela o faça feliz. Com a maior delicadeza, ele jogou a chave de fenda em qualquer lugar, quase acertando meu pé
- Presta atenção, Dudu! Não quer arrancar meu pé, né? Lembre-se, sou dançarina! – coloquei o capacete fedorento e sentei na parte de trás, incomodada, pois era muito pequena. Ele começou a pedalar, parando de dez em dez minutos para descansar. Desse jeito, chegamos atrasados – atrasados por dez minutos. Dudu havia feito tudo na mais perfeita condição possível, me impressionei.
- Droga, atrasamos! – ele estacionou a bicicleta em qualquer canto onde não roubariam e entrou comigo.
- Relaxa, dez minutos! Tá vazio, olha! – relaxei o menino, que se mordia de nervosismo – E então, onde tá a sortuda?
- Hum... – ele avistou todos os cantos possíveis - ...Ainda não chegou. Vamos sentar e comer, estou morrendo de fome – me impressionei mais.
Enquanto a menina não chegava, petiscava algumas guloseimas e arriscava no ponche, conhecido como estraga-vestidos. Quem nunca viu um filme, novela, ou até mesmo na realidade, alguém, elegantemente vestido, beber um copo de ponche, e inesperadamente, alguém derrubá-lo nas vestes? Com muita sorte, nenhuma gotinha caiu naquele vestido, que paguei cada centavo de economia, deixando de comprar lanchinhos, roupas, CDs e de ir ao cinema, e assim, durante um ano, juntei o dinheiro preciso para comprar aquela obra artística.
- Ah! Ela chegou! Com ele, o namorado... – Dudu olhava vingativo para o garoto. Virei-me para vê-los, e senti um aperto no coração. Foram cinco segundos o vendo para a dor começar o ataque, me matando por dentro.
- E-e-ela?! – eu sentia cada vez mais agonia, vergonha, ódio, inveja, ciúmes. Sentimentos ruins e maldosos sem motivo. E o pior, ela ficou mais linda do que eu imaginava. Depois de tanto tempo sem vê-la (estava em um intercâmbio na Espanha, sua família e seus genes descendem de espanhóis), não imaginava que ficaria assim, tão esplêndida. Não a reconhecia direito por trás de tanta beleza. E ainda estava com ele, ainda. Eles se amavam muito.
- Sim, ela não é gata? – Dudu, com olhos apaixonados pela beleza dela. Parecia um homem cego pelo canto da sereia, mas ela era do lado bondoso.
- E-e-e-e ele?! – muito aflita, apontei com o dedo trêmulo para o garoto.
- Não esquenta, é ciúmes!
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