O Feiticeiro Parte II - A Dimensão Z escrita por André Tornado


Capítulo 53
X.3 Um passeio na cidade.




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- Está quieto, não te mexas! Como é que queres que te trate dessa cara?

Bulma irritou-se. Vegeta soltou um suspiro cansado, agitando-se impaciente na cadeira. Ela carregou com força no algodão embebido em água oxigenada e Vegeta gritou com o ardor que lhe entrou pelo ferimento adentro.

- Não preciso dos teus cuidados, mulher!

Sempre que se sentia encurralado, tratava-a daquela maneira rude, trazendo à superfície as raízes incivilizadas dos da sua raça. Bulma agarrou num penso que retirou da caixa de primeiros-socorros.

- Não te quero no meio da rua com ar de quem anda a travar combates clandestinos noturnos.

- Eu estive a combater ontem à noite. E não quero estar no meio da rua.

- Mas vais estar!

Bulma aplicou-lhe o penso com uma chapada e Vegeta cerrou os dentes, esforçando-se para não voltar a gritar. Ela não mostrou uma gota de sensibilidade. Fechou a tampa da caixa de primeiros-socorros com uma palmada e saiu da cozinha. Ele deixou-se ficar sentado, descansando um braço dorido na mesa. Noutra cadeira, Bra observara a cena dos curativos calada como um ratinho. Ele perguntou-lhe:

- Este passeio é ideia tua?

A filha negou com a cabeça.

- Hum-hum… Foi ideia da ‘kaasan.

Ele suspirou aborrecido, fechando os olhos.

- É sábado e a ´kaasan diz que está um dia muito bonito para passear.

Bulma regressou à cozinha, compondo a alça da mala no ombro.

- Vamos?

E a voz dela tinha um toque jovial, como se fosse a coisa mais natural do mundo, dar um passeio em família naquela dimensão. Vegeta não estava com disposição para discussões e levantou-se da cadeira, enfiando as mãos nos bolsos das calças, amuado, concentrando-se no ardor do ferimento que tinha na cara. Pelo menos, era algo a que estava habituado, aguentar a dor, fintá-la, esquecê-la, até que a chaga se fechasse e estaria pronto para outro combate.

Sentou-se no lugar do pendura, fechou a porta do automóvel. Bulma ajudou Bra a colocar o cinto, no banco de trás e tomou o lugar ao volante.

- Não te quero com esse ar de condenado ao pé de mim.

- E Trunks?

- Ele não quer vir. Deixa-o. Não me apetece arruinar a minha boa disposição desta tarde.

- Ele não quer vir e não vem. Eu, pelo contrário… – resmungou.

Bulma rodou a chave, ligando o motor. Ajustou o volume do autorrádio, baixando-o, para permitir uma conversa, sem que deixassem de ter música ambiente para acompanhar as palavras.

- Acontece que acho que precisas de te distrair – explicou ela, conduzindo o automóvel para a estrada. – Andas demasiado tenso.

- Não devias estar a terminar a máquina das dimensões?

- E eu também preciso de me distrair. Uma pausa, Vegeta, nas nossas atribulações.

Espreitou a filha pelo espelho retrovisor. Bra estava radiante com aquele passeio e, olhando pela janela, absorvia com genuína felicidade todos os detalhes daquela curta viagem. Bulma sorriu.

Chegaram à cidade, dirigiram-se ao centro, Bulma estacionou o automóvel no parque de estacionamento situado à entrada da rua das lojas. Entrelaçou-se no braço de Vegeta que insistia no amuo, mas ela não se importou. Apesar de o céu se mostrar ameaçador, pejado de nuvens cinzentas, não estava frio e havia uma luminosidade preguiçosa a acentuar cada detalhe. Admirou algumas montras e anunciou, ao chegar junto à entrada do centro comercial, próximo da Gardy, a pastelaria mais afamada daquela rua:

- Vamos parar aqui para tomar um café.

Vegeta não esboçou qualquer sinal, de aprovação ou de recusa. Deixava-se, simplesmente, comandar pelos caprichos dela, fechado em si mesmo, ruminando a dor do ferimento da face direita, uma fina agulha enfiada na carne, insignificante, quase motivo de escárnio, porque o príncipe dos saiya-jin não se incomodava com aquelas ninharias. Mas a insignificância era bem-vinda, salvava-o de uma situação ingrata e não se queria irritar durante aquele estúpido passeio.

Bra apontou para uma mesa do fundo e exclamou:

- Olha quem está ali, ‘kaasan. É Kuririn-san!

- Oh, que surpresa agradável. Vamos ter companhia para o café.

Aproximaram-se da mesa onde se sentavam Kuririn, número 18 e Maron, entretidos com os cafés, o leite, as águas e os bolos. Bulma disse:

- Parece que hoje toda a gente teve a mesma ideia.

Kuririn devolveu o sorriso a Bulma. Levantou-se atrapalhado, arrastou uma cadeira de uma mesa próxima e convidou-a a sentar-se, juntamente com Vegeta e com Bra, dizendo de rajada que haveria lugar para eles, gostaria muito que partilhassem o lanche. Ficara nervoso por ter sido descoberto na rua mais concorrida da cidade, num sábado à tarde, como se pertencessem ali, como se fosse coisa normal lancharem na esplanada de um café da Dimensão Real. Mas Bulma não quis comentar, porque também ela estava de passeio com a família e Vegeta decidira laconicamente ignorar o ambiente externo.

Bra sentou-se ao lado de Maron, enquanto Bulma e número 18 trocavam um cumprimento cortês. Kuririn perguntou, ao reparar no grande penso na cara de Vegeta:

- E o que foi que te aconteceu?

Bulma respondeu por ele:

- Vegeta andou a lutar com Goku, ontem à noite. Por causa de Trunks, consegui saber. E sabes onde andaram a lutar?

- Onde?

- Aqui, na cidade. Numa rua, mais abaixo desta, onde se situam os locais de diversão noturna.

- Honto?

Pelo canto do olho, Vegeta viu número 18 esconder um sorriso com a chávena do café com leite.

- Tiveram assistência, alertaram a polícia. Felizmente, conseguiram fugir a tempo e desapareceram antes de serem apanhados pelas autoridades. Espero que, enquanto estivermos aqui, não apareça ninguém que esteve a assistir ao combate. Se o reconhecerem, vai ser um problema.

- Tu é que insististe neste passeio – retorquiu Vegeta.

- Por acaso, não tiveram nada a ver com a destruição daquela loja do final da rua, um café antigo que se chama “Aliança”? Quando passámos por ali, ouvimos comentar que colocaram ontem uma bomba nessa loja.

- Vegeta? Sabes alguma coisa?

- Talvez tenha sido Trunks – respondeu. – O ki dele aumentou de repente e desapareceu no início da noite. Foi assim que descobri que andava por estes lados e vim atrás dele.

- Por que razão iria Trunks destruir o interior de uma loja?

- Por que é que não perguntas ao teu filho?

Bulma não gostou da resposta. Kuririn interveio, para evitar a discussão:

- O que é que Trunks andava a fazer ontem à noite para motivar uma luta entre Vegeta e Goku? Para além de, supostamente, andar a destruir lojas…

- Estava com uma rapariga.

Maron pousou a chávena que tinha entre as mãos. Bulma explicou:

- A mesma rapariga que estava a espiar-nos, no dia seguinte à nossa aventura no hospital. Aquela que tinha aulas de japonês com Gohan-kun. No início desta semana, essa rapariga esteve quase a interagir com Trunks.

Vegeta cruzou os braços e o seu rosto mudou de aborrecido para zangado.

Kuririn empalideceu:

- Então, o que senti não fez parte de um pesadelo? Foi mesmo a Porta dos Mundos?

- Hai.

- E o que fizeram os dois, para que interagir estivesse quase a acontecer?

- Era de noite, estavam os dois sozinhos, no meio da serra. Podemos imaginar…

- Muito bem. Já percebi! – Cortou Kuririn aflito, a deitar olhadelas à filha que, com apenas dezasseis anos, não podia ouvir certas conversas.

- Depois Trunks contou à rapariga quem nós somos, apresentou-nos com os nomes verdadeiros. Como a rapariga conhece a forma que temos nesta dimensão, passou a saber da nossa estadia temporária aqui. Assim, significa que não pode ter qualquer contacto connosco.

- As aulas de Gohan-kun já tinham terminado, certo?

- Julgo que sim.

- Então, só Trunks é que continua a encontrar-se com ela.

- Esses encontros terão de terminar também – afirmou número 18 séria.

- Não te preocupes – resmungou Vegeta. – Eu asseguro-me que Trunks nunca mais se vai encontrar com essa intrometida.

Uma novidade, Vegeta a concordar com número 18 e Bulma olhou admirada para ele.

- E o que é que acontece, se Trunks e a rapariga se encontrarem outra vez? – Perguntou Kuririn.

- Interagir – respondeu número 18 num tom neutro.

- Não vai acontecer – replicou Vegeta.

- Como é que tens tantas certezas? – Perguntou Kuririn.

O saiya-jin sorriu, Maron encolheu-se.

- Trunks sabe que terá de me enfrentar.

Bulma sentiu o sangue fugir-lhe.

- Nani? Tu ameaçaste o teu próprio filho?

Apareceu um empregado desfolhando um pequeno bloco de notas, com um lápis entalado entre os dedos.

- Boa tarde. Os senhores desejam alguma coisa?

A interrupção do empregado rasgou a tensão, como um trapo a ser lentamente dividido ao meio. A seguir, o silêncio, o empregado especado, aguardando a resposta à sua pergunta, esperando que fosse Bulma a responder-lhe. Kuririn deu um toque ao de leve no braço da amiga que desistiu de fulminar Vegeta com um olhar imperioso, exigindo uma resposta que ela, apesar de tudo, já conhecia. Ele tinha ameaçado o filho. Respondeu à pergunta do empregado e fez o pedido. Dois cafés, um sumo e um bolo para Bra.

***

Na geladaria Gardy próxima dali, pertença do mesmo dono e, por isso, com o mesmo nome do café em cuja esplanada, e sem que o suspeitasse, estavam os seus amigos, Gohan esperava o seu turno no balcão com uma nota de mil escudos na mão. Depois do par de namorados, seria atendido. Naquele sábado à tarde tinha vindo passear até à cidade com a família.

A empregada, de vestido verde-escuro coberto por um avental branco, cumprimentou-o com um sorriso cordial.

- Boa tarde.

Gohan pediu três cones com dois sabores, menta e chocolate. O verão já tinha acabado, mas o dia, apesar de velado por um manto de nuvens pardas, não estava especialmente fresco e Pan adorara a ideia de comer um gelado com os pais. Enquanto esperava que a empregada terminasse de compor os cones que pedira, alguém colocou-se ao seu lado.

- Veja lá! Tem de ter cuidado com a garganta.

Gohan voltou-se e encontrou a professora Teresa.

- Já entramos no outono – acrescentou a sorrir-lhe abertamente.

Era a última pessoa que queria ver, naquela tarde que dedicava à família, numa tentativa de pôr cobro às batalhas surdas que travara nos últimos tempos com Videl. Não devia ser indelicado, contudo, e saudou-a com simpatia.

- Boa tarde, professora Teresa.

- Boa tarde, professor Gomano. Resolveu passear hoje?

- Sim.

- Nunca o tinha encontrado por estes sítios.

- Não costumo vir até à cidade…

- É verdade. Nunca o encontrei fora da universidade. É uma pessoa muito caseira?

- Sim, sou uma pessoa muito caseira – concordou inquieto. Não gostava da excessiva proximidade da professora e daquele sorriso melado.

- Posso perguntar-lhe o que faz em casa, dias e dias a fio?

- Estudo… na minha biblioteca.

- Ah! É uma pessoa dedicada ao trabalho, então. Não o julgava uma pessoa assim. – Pediu a uma segunda empregada: – Um cone de baunilha e ananás, se faz favor.

- Não me julgava uma pessoa assim, como?

- Uma pessoa tão responsável em relação àquilo que faz. Se fica em casa a estudar na sua biblioteca, presumo que prepara as suas aulas na universidade e aprofunda a sua sabedoria nas matérias que leciona. Engano-me?

- Realmente, não se engana.

- Quem olha para si, não diria que é tão… estudioso. Compreende-me?

- Não.

- Você é jovem, Gomano. Muito jovem. Vai para a universidade de bicicleta, corre com desenvoltura. Tem um corpo atlético, bem proporcionado. Muito bem desenhado.

E pousou a mão no peito dele. Usava dois anéis prateados, no dedo indicador e no dedo do meio, cada um com uma enorme pedra laranja. As unhas compridas estavam tratadas com uma fina camada de verniz incolor.

- Não tem o aspeto físico de um rato de biblioteca – concluiu ela, sorrindo de través. – Deve fazer algo mais… do que passar os dias a estudar.

A mão dela estava quente, sobre o coração dele. Sentia-o bater, de certeza, mas Gohan não se deixou perturbar e as batidas cardíacas mantiveram um ritmo normal.

- Costumava treinar artes marciais com o meu pai – explicou lacónico. – Quando era mais jovem. Mantenho a forma física, fazendo alguns exercícios, mas agora passo a maior parte dos meus dias a estudar.

Ela retirou a mão, ele sentiu-se mais aliviado. A empregada deixava dois cones no suporte metálico posto em cima do balcão. Menta e chocolate. A segunda empregada deixava o gelado de baunilha e ananás no mesmo suporte metálico.

- Com o seu pai?

- Sim… Com o meu pai.

- Hum… E chegava a magoar a sua cara daquela forma tão brutal?

- Às vezes.

- Bem, teve sorte. – Aproximou-se, lançando uma baforada para cima da boca dele. – Não tem cicatrizes assinaláveis.

- Sempre recuperei depressa.

- E lutava bem?

Gohan inclinou a cabeça para trás, para fugir do alcance das respirações da professora.

- O meu pai dizia que sim. Mas eu nunca gostei de lutar. Sempre que o fiz, foi para… defender o que achava correto.

- Defender? – Estranhou ela.

A empregada deixou o terceiro gelado de menta e chocolate no suporte metálico. Gohan entregou a nota de mil escudos, disse à empregada que pagava os quatro gelados e que não queria troco. A empregada sorriu e agradeceu.

A professora agarrou no gelado de baunilha e ananás.

- Muito obrigada, Gomano, pelo seu gesto tão amável.

Era a primeira vez que o tratava só pelo nome, deixando cair o professor. Ele agarrou nos três gelados.

- São para os seus amigos?

- Não. São para a minha mulher e para a minha filha.

O sorriso da professora Teresa diluiu-se. Perguntou azeda:

- Nunca me disse que é casado.

- Nunca me perguntou.

- Um detalhe interessante. É um poço de surpresas, senhor professor.

 Ele sorriu-lhe, mas ela olhou para o relógio de pulso, escapando-se do alcance daquele sorriso inocente.

- Não gostaria de conhecer a minha mulher e a minha filha? Elas estão ali fora.

- Senhor professor, estou atrasada.

Virou-lhe as costas, enfiando o gelado de baunilha e ananás no balde do lixo vermelho que estava junto à entrada da geladaria. A tampa articulada ficou a abanar.

- Vemo-nos na universidade, professora Teresa.

Mas ela não lhe respondeu.

Saiu, carregando os três gelados nas duas mãos. Pan agarrou entusiasmada num cone e Videl, quando recebeu o seu, observou desconfiada:

- Demoraste muito tempo lá dentro.

- Encontrei uma colega da universidade.

- Uma colega? Não seria aquela mulher que saiu uns segundos antes de ti?

- Provavelmente.

- Parecia zangada. Conversaram sobre o quê, para ela ficar daquela maneira?

Ele lambeu a bola com sabor a menta. Encolheu os ombros.

- Coisas sem importância.

- Hum… Gohan-san, não gostei daquela mulher. Ela estará interessada em ti?

- Porque é que dizes isso?

O grito de Pan salvou-o.

- ’Tousan! Olha quem está ali!

Olharam para onde a filha apontava com tanto alarido e descobriram, numa mesa da esplanada do café que se colava à geladaria, Kuririn e Bulma com as respetivas famílias. Bra também reconheceu a amiga e lançou outro grito:

- Pan-chan!

Aproximaram-se. Pan arrastou uma cadeira pela calçada e sentou-se ao lado de Bra que bateu palmas, recebendo-a com risadinhas de alegria. Kuririn cumprimentou-os, convidou-os a juntarem-se ao lanche. Depois, viu a cara cómica da filha, a boca aberta, o recheio de ovos-moles do croissant a escorrer pelos dedos e repreendeu-a:

- Maron-san! Comporta-te. É apenas Gohan-kun.

Mas ela não olhava para Son Gohan. Balbuciou, fixando o olhar vítreo mais adiante:

- Aquele que vem ali… Não é Yamucha-san?

- Nani?

Kuririn voltou-se na cadeira, Bulma parou de mexer o açúcar do café enquanto esticava o pescoço.

Descendo a rua das lojas, vinha um homem e uma mulher, abraçados, roçando-se, com o passo sincronizado, trocando beijos e lamechices, delambidos como um parzinho novo de namorados. Mas aquele homem e aquela mulher não eram jovens, tinham o ar pesadão conferido pela meia-idade retocada para emular a juventude distante e já perdida.

Alcançavam a esplanada e, se dúvidas houvera relativamente à identidade do homem, a proximidade desfizera-as todas. Vegeta rosnou, as duas meninas, Bra e Pan, estavam emudecidas porque adivinhavam sarilho. Bulma levantou-se da cadeira e chamou-o:

- Yamucha.

Assim, pelo seu verdadeiro nome, em plena Dimensão Real, para que ele soubesse quem o chamava e estremecesse de terror, como se tivesse diante dele o próprio Zephir.

O par parou, ele ficou vermelho como um semáforo. Gaguejou:

- Bulma?!

Assim, o nome verdadeiro dela, em plena Dimensão Real, e ele a estremecer de terror, como se ela fosse um enviado do próprio Zephir.

Os olhos de todos colavam-se no par, agora não tão agarrado e nem tão enamorado. A mulher perguntou:

- Senhor Eduardo, passa-se alguma coisa?

Bulma foi direta.

- Quem é esta?

A mulher ofendeu-se.

- Esta?!

- É… uma amiga minha – explicou Yamucha.

- Parece-me mais do que só uma amiga.

Bulma torceu o nariz à mulher que ainda era mais pirosa do que parecera à distância – cabelo pintado e armado em caracóis fantasiosos, maquilhagem berrante, colares e pulseiras e anéis em doses exageradas, um decote escandaloso e uma saia demasiado curta, a mostrar umas coxas musculadas.

A mulher defendeu-se.

- E sou mais do que uma amiga. Sou a companheira do senhor Eduardo!

- Apresento-te a Dedé – murmurou Yamucha. E acrescentou inquieto, pois não tinha a certeza se deveria chamá-la pelo nome – Bulma.

- Dedé? – Disse Kuririn. – Não sabia que alguém se poderia chamar dessa maneira.

A mulher puxou pelo braço de Yamucha.

- Mas quem é esta gente tão grosseira, senhor Eduardo? E quem é esta senhora de tão baixo nível?

- Ela não está a falar de mim, pois não? – Perguntou Bulma.

Yamucha negou com a cabeça.

- Senhor Eduardo? Quem é esta gente?

- São amigos.

- Olhe, pois, se não se importa, senhor Eduardo, não pretendo tomar o nosso cafézinho na mesma esplanada desta gente grosseira, mesmo que sejam seus amigos. Que horror! A Gardy, tão mal frequentada.

- Onde é que a encontraste? – Perguntou Kuririn.

- No ginásio…

- Tu frequentas um ginásio?

Yamucha tentou explicar:

- Era para me distrair. Dois dias por semana… Não falava com ninguém. Entrar e sair, sem dar muita confiança. Nunca falei com ninguém.

- Mas arranjaste uma amiga… que parece muito íntima – observou Kuririn semicerrando os olhos.

- Livra-te dessa mulher. Já! – Ordenou Bulma.

A mulher indignou-se.

- Senhor Eduardo, não vai deixar que me falem assim, pois não?

Yamucha deixou de respirar.

- Ouviste o que eu te disse?

E era o mesmo tom de voz que Bulma utilizava quando discutiam e quando lhe exigia vassalagem ou o namoro terminaria no segundo seguinte. Tantas vezes utilizara aquele expediente que houve, realmente, um dia, em que terminou para sempre.

Vegeta levantou-se, Gohan levantou-se atrás, vigiando-lhe os movimentos.

- Senhor Eduardo, acho que aquela senhora tem algum problema com a nossa relação. Acho mesmo que está com ciúmes.

Continuava sem respirar, mas Yamucha conseguiu fazer passar as palavras pela glote:

- Dedé… lamento. Mas é melhor ir embora.

O silêncio caiu. A mulher inchou como um pavão, corou e apertou os punhos. Mas quando todos apostavam que ia desatar numa gritaria capaz de varrer a rua das lojas de uma ponta à outra como uma enxurrada, controlou-se e disse num tom de voz cerrado:

- Está bem, vou-me embora. Só que fique bem esclarecido: não vou porque me está a pedir. Vou porque não aprecio escândalos com gente grosseira e de reputação duvidosa. Mas eu logo lhe telefono para esclarecer toda esta situação, senhor Eduardo. Nós os dois vamos ter uma grande conversa.

Girou sobre os calcanhares e afastou-se num andar afetado, Yamucha conseguiu respirar novamente. Encurvou as costas, cansado, como se tivesse acabado de livrar um combate complicado num torneio de artes marciais. Bulma censurou-o, para rematar a cena:

- O que é que tinhas na cabeça para arranjares uma namorada na Dimensão Real? Continuas a não conseguir resistir a um rabo de saia… Nem mesmo aqui. Que vergonha, Yamucha-san!

Se dissesse a Bulma que estava com a Dedé porque a achava parecida com ela, era um homem morto e guardou esse comentário. Perguntou se podia sentar-se com eles e Kuririn respondeu-lhe que sim. Estalou os dedos para chamar a atenção do empregado e pediu uma água gaseificada.

- Nunca pensaste que podias interagir com essa Dedé? – Indagou Kuririn.

Antes de responder, Yamucha olhou para Vegeta que fingia ignorá-lo.

- Bem… na realidade, não – mentiu. Acrescentou atrapalhado: – Não aconteceu, certo? Não interagi com ela. Esqueçam a Dedé.

- Se tu também a esqueceres – atirou Bulma provando o café que tinha arrefecido. Pô-lo de lado.

Yamucha não soube como responder. Aquela relação não teria consequência, mas era divertido fingir que a Dedé era Bulma e que era assim que poderia ter sido se tivessem continuado juntos.

Pan e Bra brincavam uma com a outra, trocando segredos, gelado e bolo, totalmente alheadas à confusão dos adultos. Maron vigiava-as, sorrindo com a alegria delas.

Gohan disse:

- Vegeta-san… Reparei quando cheguei, mas não tive oportunidade de dizer nada, porque, entretanto, tivemos o pequeno percalço com Yamucha-san… O que foi que aconteceu com a tua cara?

- Andou a lutar com o teu pai, ontem à noite – explicou Bulma acendendo um cigarro. Soprou o fumo para o lado. Número 18 franziu a cara, não gostava de vê-la a fumar ao pé da filha.

- Porquê?

- Por causa de Trunks e da tua aluna.

Vegeta olhou para ele.

- A Ana-san já não é minha aluna – explicou Gohan, devolvendo o olhar.

- Honto? Mas tinha ouvido que as aulas tinham recomeçado, apesar de terem sido canceladas logo após o acidente de Trunks…

- Concordei em receber a Ana-san quando ela me apareceu à porta, nesta quinta-feira à noite – explicou a Bulma. – Não iria mandá-la embora, seria tão indelicado da minha parte.

Videl resmungou qualquer coisa.

- Falámos sobre nós…

- Sobre nós? – Indagou Kuririn.

Gohan sorriu e disse:

- Falámos sobre Namek. Não, não é nada estranho porque ela sabe quem nós somos, conhece o nosso passado. As nossas aventuras! – E deu uma entoação dramática a essa frase. Deixou de sorrir, quando o dramatismo se escoou na expetativa dos rostos que tinha voltados para ele, como numa sala de aula. – Foi a desculpa perfeita. Nós estamos a braços com outra, digamos… aventura, para simplificar. Disse-lhe que não nos poderia voltar a ver, especialmente Trunks. Eu também senti a Porta dos Mundos a querer abrir-se no início da semana, soube que foi ela com o teu filho, Bulma-san.  Não lhe expliquei porque é que não nos podia voltar a ver, não lhe falei sobre interagir… Pedi-lhe apenas que se afastasse e a Ana-san compreendeu as razões que invoquei. E tenho a certeza que vai acatar o meu pedido.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
A dança do destino.



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