O Feiticeiro Parte II - A Dimensão Z escrita por André Tornado


Capítulo 44
VIII.4 A emoção da transgressão.




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Olhou-se ao espelho pela milésima vez, penteou a franja com os dedos, mas a melena era rebelde e por muito que tentasse, teimava em descair para os olhos. O que não era mau de todo, bem vistas as coisas, pois sempre lhe disfarçava a cicatriz. Yamucha ajeitou a gola do blusão, levantando-a, para lhe dar mais estilo.

- Que tal estou?

- Se mexeres mais, estragas a perfeição – respondeu Puar enjoado.

O gato azul estava com ciúmes, Yamucha sorriu. Era compreensível. Puar era um prisioneiro, enquanto ele voava livre, experimentando os prazeres ínfimos e cuidadosamente selecionados da Dimensão Real.

Esperava pela Dedé, para mais um encontro romântico. O primeiro tinha acontecido na terça-feira passada e terminara da melhor maneira. Tinham vindo para a casa dele, beberam vinho gelado, trocaram um par de beijos, ela enfiara-se na cama dele e só saíra na manhã seguinte.

Tinha sido uma noite selvagem e inesquecível, ao ponto de, num momento de maior excitação, ele ter jurado sentir que a Porta dos Mundos se tinha entreaberto e tudo por culpa dele, que se entregava àquela mulher mais despido de alma, do que de corpo, quase transparente, carente, um coração solitário a bater na presença de uma companhia eternamente aguardada.

A noite anterior, a de quarta-feira, tivera a mesma dose de loucura. Bebera demais, falara de dimensões e de feiticeiros, confessara-se apaixonado. A Dedé, que também tinha bebido, ria-se com ele, dizia-lhe que teria ali uma companheira disposta a escutá-lo, dizia-lhe:

- Senhor Eduardo, está bêbado, mas eu estou a adorar.

Ele gostava quando ela dizia o nome inventado dele depois do “senhor”. Seduzia-o e ele despia-se outra vez, primeiro a alma, depois o corpo. Amavam-se desenfreadamente, inventando que tinha sido sempre assim, o Eduardo e a Dedé, o casal perfeito.

Ela percebia que ele gostava quando o chamava de “senhor”. Insistia no tratamento, reforçando-o, adotando tons diferentes, consoante as ocasiões. Casual, desinteressado, caloroso, suspirado, suado. O senhor Eduardo derretia-se como manteiga e ela derretia-se atrás, os fluidos misturando-se.

Puar sofria com aquele enlace, porque quando ele aparecia com a Dedé, tinha de se refugiar no exterior, na varanda estreita do pequeno quarto. Passava as noites ao relento, enregelado e, de manhã, quando ela se ia embora e ele podia finalmente regressar ao interior da casa, vinha mais azul do que já era, resfriado e amuado. Yamucha tentava fazê-lo perceber, era só uma aventura. Uma pequena transgressão. Puar fulminava-o com o olhar e dizia-lhe:

- Se interagires com ela, és um homem morto. E eu não te vou defender de Vegeta-san.

A campainha tocou, duas vezes. Yamucha enxotou o gato azul. Puar escapou-se para o quarto, enfiou-se logo na varanda, resmungando e praguejando. Yamucha abriu a porta. A Dedé sorriu-lhe, resplandecendo com todos os seus anéis e colares, cheirosa como uma flor dos trópicos, vestida de um vermelho que o encandeou. Também lhe sorriu, antecipando o final da noite, quando ele haveria de a despojar de todos os panos, dos anéis e dos colares e ficaria apenas o perfume a perigo de flor dos trópicos.

- Boa noite, senhor Eduardo.

- Boa noite, Dedé. Quer entrar e beber alguma coisa, antes de irmos jantar?

- Obrigada pelo amável convite, senhor Eduardo. Mas podemos ir andando, se não se importa.

- Não me importo nada. Vamos.

Agarrou nas chaves do carro, atirou-as, apanhou-as no ar.

Outro detalhe sedutor era que não se tratavam por tu. Mantinham uma distância polida que era como atear fogo a um rastilho quando brincavam entre os lençóis.

Yamucha fechou a porta do apartamento, passou um braço pela cintura da mulher, que colou a anca ao corpo dele, esfregando-se languidamente e começando, dessa maneira descarada, o jogo de sedução daquela noite.

Adorava estar com a Dedé. Era como se estivesse outra vez com Bulma. Fechava os olhos e embarcava na fantasia, com uma alegria de outros tempos.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Tudo diferente, tudo igual.



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