Cansada de esperar por Leah, entrei no Starbucks e comprei o café. Não tentei passar despercebida ou chamar atenção, então algumas pessoas vieram falar comigo. Já havia tomado metade do café quando elas chegaram, pessoas se amontoaram a sua volta e elas tiveram que cortar caminho para chegar até o balcão. A atendente estava tremendo quando entregou seus pedidos. Elizabeth simplesmente se desviava das pessoas, Leah acenava e empurrava Sarabella. Me meti entre elas.

-Por que demoraram tanto?-perguntei.

                Leah mantinha um sorriso congelado no rosto quando disse:

-Fiz uma pausa para termos uma conversinha- e olhou de esguelha para Sarabella. Então eu entendi tudo, Leah tinha conversado com ela. Era verdade, era tudo verdade. Manchas borravam minha visão, mas eu me concentrei em seguir em frente, fugindo das pessoas.

                Quando finalmente conseguimos nos esquivar de todos, eu estava ofegante e Elizabeth parecia prestes a desmaiar. Mudei o foco de meu olhar para Sarabella, minha irmã parecia prestes a ter uma crise de vômito e eu não sabia se era por causa de toda aquela gente ou de Leah. Mas pode apostar, se fosse por causa de Leah e Jacob, eu os faria pagar. Ninguém faz isso com minha irmã e fica por isso mesmo. Disse à mim mesma que deveria me acalmar, se começasse uma briga logo que entrasse em casa meu pai jamais permitiria que eu voltasse para Forks e visse Renesmee novamente. Respire, ordenei, você vai voltar para Forks. Vai falar com Renesmee e então nunca mais terá que ver seu pai ou Elizabeth novamente, se não quiser. Faça isso, faça por Sarabella.

-Edlly, vamos nós duas no meu carro, tudo bem?- Perguntei, já arrastando-a junto comigo.- Será melhor assim- expliquei-, nos encontramos mais tarde.

                Eu levei Edlly ao lugar que ela mais gosta de ir desde que aprendeu o valor do dinheiro, o shopping. Nosso caminho até lá foi silencioso, mas ela acabou se soltando assim que viu a primeira vitrine. Muitas pessoas nos pararam, obviamente. Mas todas elas queriam a atenção de minha irmã. Se eu continuava famosa? Claro que sim, as pessoas ainda falavam e ouviam muito sobre mim, mas era Sarabella quem tinha feito um filme ultimamente e assinando um contrato com uma linha de roupas só dela. Ela parecia satisfeita com toda aquela atenção e ria da afobação de seus fãs, mas mesmo em sua risada havia tristeza. Talvez não para aqueles que não a conhecessem, mas eu sabia o quão chateada ela realmente estava. Eu conhecia minha irmã melhor do que ninguém, mas não era só isso. A verdade é que eu me sentia da mesma forma.

                Eu queria gritar com meu pai, brigar com Renesmee e simplesmente dar um tiro em Seth e Leah por mentirem esse tempo todo. Mais do que isso, eu queria publicar a história em todos os jornais e ver a vida deles virar um inferno. Mas eu não podia, claro que não podia. Sarabella estaria bem no meio do fogo cruzado enquanto eu aproveitaria meus últimos meses curtindo a escola de verão em Forks, e eu simplesmente não poderia fazer isso com ela.

                Só quando o sol já estava desaparecendo no horizonte é que voltamos para casa, eu estava pronta para tomar um banho quente e me jogar na cama, mas meu pai mudou meus planos. Ele conseguiu uma entrevista para mim hoje e- que grande novidade- fechou um contrato com uma gravadora sem me consultar, a cara dele. Disse-me que arrumariam uma gravadora em Port Angeles para que eu gravasse meu CD sem ter que me mudar, mas nem isso me animou. Eu queria ligar para Holly e Kate e contar o quão horrível tudo estava sendo, mas fui arrastada para um set e acabei adormecendo na cadeira de maquiagem.  Quando acordei, fui bombardeada com instruções de uma mulher desconhecida, ela se apresentou como minha nova agente. Eu teria uma equipe que prepararia tudo para mim a partir de agora. Ela me informou sobre como agir: não largar informações inventadas, nada de supor datas e com certeza cantar alguma coisa se me pedirem. Eu precisava divulgar o álbum.

                A única parte boa de tudo é que Sarabella foi comigo ao set e ficaria comigo até o fim do programa.

-Ela é uma garota talentosa, linda e que ficou meses desaparecida- a apresentadora bradou com um sorriso.- Senhoras e senhores, palmas para Lucy Black!

                Eu entrei correndo e a platéia explodiu em vivas, o que me fez sorrir abertamente apesar da tristeza que eu sentia por dentro. Era bom sentir que alguém gostava de mim, mesmo que fosse só um pouquinho. Ser amado é o melhor remédio para qualquer tipo de dor. Dei um abraço apertado na apresentadora, como se fossemos melhores amigas, e me sentei, cruzando as pernas. Eu usava um vestido preto e ele subiu um pouco, deixando mais da minha coxa à mostra. Não corei ou tentei abaixá-lo, a altura não estava apelativa nem comprida demais. Era só a velha Lucy dando uma entrevista.

-Então, Lucy, onde você esteve?- perguntou, fazendo graça.- Você desapareceu do nada, pensei que tivesse desistido de sua carreira para criar lhamas.

                Eu explodi em uma estrondosa gargalhada, a qual a platéia seguiu, mas eu não sabia o quanto de mim estava atuando naquele momento.

-Foi tipo isso, mas a gente não se deu bem, então eu voltei- disse, fazendo um muxoxo e entrando na brincadeira.- Acho que vou ter que pegar meu antigo trabalho da vida. É triste, eu realmente gostava das lhamas.

                A platéia explodiu em gargalhadas, assim como a apresentadora à minha frente. Suas gargalhadas não soavam falsas ou exageradas, como antes sempre pareceram para mim. Eu sabia qual era minha expressão agora, eu estava emocionada e feliz por estar de volta. A dor desapareceu de meu peito e eu torci para que o mesmo acontecesse com minha irmã. A apresentadora se virou para mim novamente.

-Você fez uns vídeos, certo? Eu vi você cantando no Youtube, acho até que vou te convidar para cantar no meu casamento, o que acha?

                Eu sorri.

-Seria perfeito.- Respondi.

                Ela sorriu para a platéia, como se quisesse acolher a todos, e então seu sorriso se tornou perverso em minha direção.

-Acho que podemos ver um deles, certo? Tem um que você está com uns óculos muito legais...ou você poderia cantar uma música ao vivo, o que preferem?-gritou para a platéia.

                Eles aplaudiram como loucos e então um assistente de palco me trouxe um violão, eu respirei fundo e observei a todos, eu nunca havia tido uma platéia tão grande. Minhas mãos estavam trêmulas quando eu ajeitei o violão branco sobre meu colo e testei alguns acordes. Olhei para a outra extremidade do palco e lá estava Sarabella, sorrindo para mim.

-Tá legal- murmurei para mim mesma-, lá vamos nós.

                Respirei fundo mais uma vez e comecei meus acordes.

(http://www.youtube.com/watch?v=XdWw0xfE5ug)

                Memórias de Ethan simplesmente começaram a fluir em minha mente, essa música era totalmente sobre ele. Não era o ritmo que eu queria, mas eu estava satisfeita. Precisaria de muito mais do que apenas minha voz para trazer o ritmo desejado à tona. Imagens de Ethan iam e vinham em minha mente, foi impossível controlar o sorriso. Estava me apaixonando por ele, droga. Era uma coisa terrível e fabulosa ao mesmo tempo. Meu coração não estava mais quebrado, o amor dele o curou. Credo, isso foi tão brega quanto soou?

                Antes que eu pudesse ter percebido, a música acabou e a platéia me aplaudia. A apresentadora parecia realmente impressionada, como se não imaginasse que eu podia mesmo cantar. Seu sorriso era meio falso quando olhou para mim novamente, mas eu via fascínio em seu olhar.

-Essa música é...linda, você que escreveu ?

                Eu corei e assenti, envergonha. Isso fez ela me olhar estranho. Envergonhada não era bem algo que Lucy Black costumava parecer. Atirada, metida e arrogante faziam mais o meu tipo, assim como aqueles vestidos pretos e colados. Essa garota sentada à sua frente era completamente desconhecida para ela, uma totalmente diferente do que a que esteve aqui da última vez.

-E você vai manter o ritmo?- perguntou, parecendo um pouco ansiosa.- Tipo uma balada?

                Eu ri e neguei com a cabeça.

-Provavelmente não, ainda estamos vendo isso.- Menti, não estávamos vendo porcaria nenhuma.- Talvez mudemos um pouco a letra também- disse, dando de ombros.

                Ela pareceu confusa e seu lábio tremeu um pouco.

-Mas está perfeita!- exclamou, me sobressaltando.- Eu vou ter que confessar, Lucy, em todos esse anos que você vem ao meu programa, eu nunca achei que existisse tanto sentimento dentro de você. Você sempre pareceu...

-Uma perfeita criança de Hollywood?- concluí.- Linda, talentosa e completamente vazia?- Me virei para uma das câmeras e sorri.- Sem ofensas- Então me voltei para ela novamente.- Eu sempre tive sentimentos, só gastava a maior parte do tempo tentando escondê-los porque a vida de uma celebridade não é sempre fácil- Dei de ombros.- Mas para o lugar onde eu fui não dava para fugir dos sentimentos, eles eram...

                Ela sorriu com cumplicidade em minha direção.

-Sobre um garoto?- e piscou inocentemente. Eu corei intensamente, me entregando.

                Eu abri e fechei a boca diversas vezes, sem saber o que dizer. Eu corava ainda mais a cada movimento que fazia. Por fim acabei desistindo e sorri, negando com a cabeça.

-Parece que eu não fiquei boa em esconder- respondi, mordendo o lábio. A apresentadora riu para mim.

-Então, essa música era para ele?

                Comecei a mastigar o lábio, sem saber se deveria contar a verdade ou inventar alguma coisa.

-Eu...meu Cd não é só sobre um cara, mas, sim, ele é sobre relacionamentos- Disse, me ajeitando na cadeira.- É sobre meu relacionamento com meus amigos, pessoas que decepcionei e pessoas que me decepcionaram- Eu fiz uma pausa.- Acho que é meio que um álbum que liberta todos os sentimentos que escondi durante todo esse tempo.

                Eu podia ver minha nova agente sorrindo e fazendo uma ligação de última hora por trás das cortinas, mas não me senti satisfeita por agradá-la. Eu sabia que meu tempo já estava quase acabando, mas, pela primeira vez em anos, não sentia vontade de ir embora. A tentação de revelar tudo que meu pai havia feito estava me corroendo, mas eu sabia que não poderia fazê-lo. Não podia contar para aquelas pessoas.

-Mas, se você se tornar uma cantora, como fica sua carreira de atriz e modelo?- Perguntou-me, eu havia me perguntado muito sobre isso, então, pela primeira vez no dia, eu tinha uma resposta na ponta da língua.

-Acho que minha agenda vai ficar um pouco mais cheia, mas eu vou tentar conciliar tudo- Sorri para ela e sabia que meu tempo já tinha acabado porque as luzes começavam a diminuir.

                Ela pegou minha mão e sorriu docemente para mim.

-Foi muito bom de ter aqui, Lucy.- Disse, o que me fez sorrir para ela. Eu não sabia se estava fingindo ou não, mas não me importava.

                Apertei levemente sua mão.

-É bom estar de volta- respondi e nós nos levantamos.

                Ela me abraçou e eu retribui, sentindo um vasto nada. Mas era isso que meu pai iria querer, que eu fingisse que gostasse dela. Sim, estava feliz por estar de volta. Mas não, não gostava dela. Apresentadores podem ser engraçados, mas eles vão te ferrar se puderem. É o trabalho deles. Não se pode confiar.

-E essa foi Lucy Black, pessoal. No próximo bloco teremos Selena Gomez.

                Quando o intervalo finalmente começou, eu dei um suspiro e me afastei da apresentadora com um aceno, minha agente estava com o rosto radiante quando me aproximei. Ela se apresentou como Mia.

-Foi simplesmente perfeito!- exclamou, passando um braço por meus ombros e me guiando até a saída. Sarabella ficou para trás, caminhando a uma certa distância, como uma sombra.- Eu liguei para a gravadora e eles acham que talvez possamos gravar essa sua música essa semana mesmo e talvez fazer uma sessão de fotos, também.

-Ah, ótimo.- respondi, sem me preocupar em colocar animação em minha voz.

                Ela tirou um Ipad da bolsa e o esticou para mim, era um calendário.

-Nós estamos na segunda-feira e já é tarde, então podemos dar esse dia como encerrado- Suspirou, girando o Ipad em minhas mãos e clicando nos dias para ampliá-los.- Amanhã e quarta-feira você terá algumas horas de treinamento, de voz e canto. Na quinta-feira você fará sua preparação até o meio dia e então teremos uma sessão de fotos- lancei-lhe um olhar de reprovação.- Não olhe para mim desse jeito, é para a Seventeen. E, bem, na sexta você dará mais uma entrevista e nós...huh...vamos criar um instagram para você. No sábado nós embarcamos para Forks.

                Sobressaltei-me.

-Nós?- berrei.

                Ela riu com o meu choque.

-Sim, querida, estou indo com você- retrucou, parecendo satisfeita consigo mesma.- Alguém precisa conciliar sua escola patética de verão com suas aulas de canto, a gravação do Cd e algumas aparições especiais que você fará. Talvez a abertura de alguns shows ou idas ao Shopping, quem sabe? Mas nada de vídeos no Youtube, por enquanto.

                Ela sorriu novamente para mim.

-Este vai ser um longo verão.