Laila escrita por Solidão


Capítulo 9
VIII


Notas iniciais do capítulo

Oi, galera, então, mais um capitulo aqui para vocês. Lembrando que: Nenhum detalhe é meramente um detalhe. Pode parecer, mas eu quero que vocês entendam Laila sobre a perspectiva de "anos antes", entendem? Não muitos anos antes, é claro, mas a história avançará um pouco - daqui a uns capitulos - e eu preciso que vocês compreendam Laila AGORA.
Enfim, eu espero que vocês curtam.
Natália Melker, Factory Girl: Essa droga de MENSAGEM PRIVADA está dando "defeito" no meu Nyah! e eu não consigo enviar e nem receber mensagem de ninguém. Se quiserem falar comigo, bem, eu vou arranjar uma solução ;)
Beijos e sinto falta de vocês! (Nati, e a mudança, como anda? Miss Taylor, e seus pais, e os croquis? ahahha)



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Sentou na cadeira velha de estofado azul e esperou pacientemente – ou quase isso – seu computador velho ligar. Era uma sexta-feira, e depois de uma semana de aulas, Laila sentia que merecia pelo menos duas horas de diversão ali.

–LAILA! – ouvi o grito conhecido de sua mãe, uma jovem mulher de trinta e seis anos, cabelos loiros curtos e olhos verdes como o de seu irmão mais novo – LAILA!

A garota revirou os olhos. Ouviu o clique inicial do computador – PI! – e logo a tela da Positivo estava entrando, acendendo aos poucos. Aquela mão com seu polegar erguido. Laila achava aquele desenho engraçadinho.

–LAILA!

0 segundo clique fez-se ouvir e a garota ficou mais tranquila. Geralmente, seu computador não passava do primeiro clique e quando isso acontecia... Argh, pelo menos um mês no concerto para tê-lo normal – ou quase isso – novamente.

Ela levantou da cadeira e andou até o quarto de seus pais, ou melhor, até a sala. A família de Laila morava num quarto e sala em Copacabana, numa enorme e desengonçada ladeira com setenta e nove, oitenta, degraus. O apartamento, convenhamos, não era lá muito grande – na verdade, parecia mais um ovo – mas pelo menos era perto do comércio, da escola de seu irmão e do trabalho de seu pai.

–LAILA! – a mãe gritou novamente, mas a garota já estava na porta do quarto, encarando a tábua de passar roupas e a televisão ligada no telejornal da tarde.

Ela desviou os olhos da imagem para a mãe, uma mulher jovem, de belos cabelos curtos e loiros, olhos verdes, um rosto harmonioso e um sorriso perfeito.

–Oi – murmurou.

–Vai arrumar a mesa – ela disse. Parecia um pouco ríspida, Laila achou – E tira as panelas da geladeira.

A garota assentiu, sem se preocupar em manter uma conversa com a progenitora, e andou lenta e preguiçosamente até a cozinha. Não estava muito animada para comer, não depois de um dia escolar como aquele. Com aquele ótimo “ensaio” no refeitório.

Argh, ela ainda estava com raiva.

Abriu a porta da geladeira, exatamente ao lado do portal da cozinha, e retirou cuidadosamente as panelas de dentro da geladeira. Enquanto fazia essas tarefas domésticas, pensava no que acontecera na escola, mais cedo.

Primeiro, eles resolvem ir embora e cagam pra droga do ensaio. Depois, vem a Luna com aquela história maluca de paixonite, revirou os olhos. Um belo dia de aulas, com certeza.

Terminou de juntar os talheres e os copos e foi até a sala, passando pela mãe e pela televisão ligada, e começou a arrumar a mesa. Pôs a toalha suavemente sob a mesa de madeira circular e colocou os talheres logo em seguida.

Um garfo e uma faca pra mim, contou mentalmente, Um garfo e uma faca pra mamãe, pensou, e uma colher e uma faca pro Rafa.

Colocou os copos e voltou a sua internet tão amada. Gostava de entrar nos sites de jogos e de escrever suas histórias malucas – aquelas coisas doidas de heróis que ela sempre imaginava em sua mente estranha e solitária.

Entrou no MSN, apenas para verificar se havia alguma mensagem nova, e acabou se deparando com um pedido de amizade.

Thiago_penedo@hotmail.com quer adicionar você, aceitar?

Ela piscou. Thiago? Penedo? Thiago Penedo? Quem era aquele? Ela forçou sua memória um pouco e acabou lembrando quem era aquela pessoa. O garoto de sua peça, o menino para o qual emprestou Deltora. Era o Thiago que faria o Roque, na seu trabalho de português.

Mais que rapidamente, o aceitou no e-mail.

Logo eles começaram a conversar. Não preciso escrever aqui o que falaram, correto? Isso seria uma invasão de privacidade para com nossa protagonista que, singelamente, escrevia e respondia cada pergunta e mensagem que o amigo/conhecido enviava no MSN. Conversaram sobre mil e uma futilidades – coisas como jogos de videogame, os quais Laila apreciava bastante, a série de Deltora Quest e os livros que ela emprestou, e inclusive sobre a peça – durante simples e velozes vinte e três minutos.

Laila precisava almoçar. Despediu-se de Thiago e sorriu ao fechar a página do MSN. Ele era um garoto legal, tinha certeza disso, e também era muito simpático. Os dois tinham bastantes coisas em comum e descobriam, a cada letra, mais um assunto que sabiam e gostavam de compartilhar (principalmente sobre videogames!).

Ela sentou-se à mesa e comeu lentamente com a mãe e o pequeno irmão, Rafael, de seus oito anos. Pensava bastante sobre sua vida e sobre o que acontecera. No geral, Laila gostava de pensar, gostava de refletir sobre os acontecimentos e gostava, principalmente, de imaginar coisas.

Thiago é muito legal e parece gostar bastante de mim, como amiga, é claro, pensou, Acho que eu e ele podemos ser bons amigos.

–Laila – seu irmãozinho interrompeu prematuramente seus pensamentos – Me passa a colherzinha da salada?

Ela assentiu e pegou a colher de metal da salada. Ergueu os olhos para seu irmão e o entregou o talher.

O menino, Rafael, era um pouco parecido com Laila. Puxara os cabelos loiros lisos e os olhos verdes de sua mãe, era um pouco gordinho e alto para sua idade. Gostava de jogar futebol, brincar sozinho, cantar e jogar videogame. Além, é claro, de importunar a irmã mais velha com empurrões, implicâncias e brincadeiras infantis.

Voltou a pensar em Thiago e no restante do dia. Luna com aquele garoto da tarde (ou seria noite? Acho que era tarde) e também a história da peça. Aquilo daria trabalho, ela podia apostar os dois rins. Apostava que a peça não daria certo – de quando em vez, Laila tinha umas sensações sobre as coisas. Geralmente, isso se confirmava. Mas ela tentava se enganar, dizendo que premonições não existem, é tudo coisa da sua cabeça doida – e também que odiaria conhecer o “talzinho” de Luna.

Idiota.

A melhor amiga passou a viagem inteira, desde a escola até o ponto de ônibus onde saltavam juntas, tagarelando e enchendo os ouvidos de nossa protagonista sobre esse garoto.

Já não aguento nem mais ouvir falar dele, refletiu. Na verdade, ela sentia uma sensação bem esquisita sobre esse garoto – e sempre que o imaginava com Luna – mas preferia ignorar. Era apenas ciúme de amiga, ela sabia disso.

Terminou de comer e voltou ao computador. Thiago havia deixado uma mensagem extra.

Laila, amanhã, eu e você podemos ficar depois da aula para ensaiar nossas falas. Eu estava vendo e nós contracenamos bastante.

Há um beijo na peça.

Ela arregalou os olhos. Há um beijo na peça? O que ele queria dizer com “há um beijo na peça”?

Ora essa, Laila, que você vai ter que beijar o Thiago, simples assim, sua consciência nada discreta resolveu lhe importunar.

Laila assustou-se e sentiu um pavor crescer dentro de si. Beijar alguém? C-como assim beijar alguém?

Ela nunca beijou ninguém em sua vida inteira – fora um ‘selinho’ que dera num garoto, na sexta série, mas isso não conta – e sentiu um tremendo pavor ao pensar que teria que beijar Thiago justamente durante uma peça. Com toda a turma olhando.

Engoliu em seco e respondeu:

É, a gente pode ver mesmo. Amanhã depois da escola?

Logo veio a resposta.

Amanhã depois da escola, então.

Laila, você é uma garota muito legal.

Beijos.

Ela arregalou ainda mais os olhos, com as órbitas quase lhe saltando pelo rosto pálido e pintalgado de sardas bronzeadas.

Aquilo… O que ele queria dizer? Ele não podia estar dizendo o que ela pensava, não? Eles se falavam desde… Desde aquele dia, na frente da porta da sala de música, quando ele foi lhe avisar que Luna a chamava exasperadamente no pátio térreo.

Ela sentiu um nó no estômago. Thiago era legal e… Não, ela não podia gostar dele, podia? Ela gostava de Abelardo! E por mais que Abelardo não gostasse dela – e mal trocassem palavras pelos corredores gélidos e escuros da escola – ela ainda sentia que alguma coisa aconteceria entre os dois.

Ela sentia.

Suspirou e fechou o MSN novamente. Desligou o computador. De repente, sentiu-se desanimada até mesmo para jogar seus habituais jogos de Fazenda, Restaurante e Café. Sentiu-se desanimada até para praguejar e xingar o “flerte” de Luna. Deitou na cama e fechou os olhos.

Por um momento, pensou em como os olhos castanhos de Luna eram lindos e em como sua boca se contraía e movimentava-se descontroladamente enquanto ela falava.

Que pensamento mais estranho, ela franziu a testa, Eu, hein.

Mas, ainda assim, quando sentiu o sono chegar, ela ainda estava pensando nos olhos, na boca e no perfume de sua melhor amiga, Luna.


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Notas finais do capítulo

Bem, gostaram? Então, algum leitor novo? Se tiver, se apresente! Vamos nos conhecer melhor :))
Até a próxima segunda! Valeu ;)