Dylan abriu a porta e me deixou entrar primeiro. A casa de madeira, simples, mas bem arrumadinha. Deixei minha mochila em cima da cadeira, perto da cozinha. Fiquei observando a casa até ouvir uma voz fina:

- Dylan, papai não vai gostar de saber que você trouxe garotas aqui pra casa.

Me virei e me deparei com uma garotinha que deveria ter uns oito anos. Ela me lembrava Melany em alguns aspectos. Dylan chegou perto dela e falou:

- Mia, eles não vão voltar hoje de viagem, fique tranquila.

- Mas se eles voltarem...

- Eu vou explicar.

- Então ta. – depois ela se virou para mim – Meu nome é Miranda, mas pode me chamar de Mia.

- Prazer, meu nome é Abby. – falei baixinho.

- Legal. Você é o que?

Calei-me de novo.

- É isso que temos que descobrir, maninha. Pelo visto, a Abby não quer nos dizer o que ela é.

Mia sentou-se na bancada da cozinha e ficou me encarando. Senti-me meio desconfortável, então desviei o olhar.

- Você acha que ela é uma 7? – ela perguntou a Dylan.

- Não sei, não sinto nada em relação a isso. – ele falou e eu me virei curiosa. Sente?

Ah, claro. Os 2 são sensitivos. Podem sentir o que a pessoa é. Mas como ele não sente nada em relação a mim?

- Como assim? – perguntei.

- A minha habilidade ainda está no inicio. Meu irmão verá isso melhor. Mas tenho certeza de que não é nem uma 2, já que nunca te vi, nem uma 1, não possui nada que demonstre que é religiosa. Também não pode ser uma 5. – os 5 são grupos de guardas, não teria o porque eu fugir deles – Então sobrou 3, 4, 6 e 7. E eu realmente espero que não seja nem o primeiro, nem o ultimo. – Dylan explicou.

Ele estava sendo realmente legal comigo, eu não podia continuar mentindo pra ele.

Mas também não podia contar a verdade. Ele poderia me querer longe, principalmente por eu ser uma 7. Eu acho. Não tenho mais certeza de nada, pois até ontem eu era uma 4 e hoje eu acordei descobrindo ser uma 7, raças completamente diferentes.

Sentei-me na poltrona, esperando Mia parar de me encarar. Dylan também olhava na minha direção, mas parecia longe com seus pensamentos. Ainda não tinha escurecido completamente, quando a porta foi aberta. Não me virei, mas ouvi a voz:

- Quem é ela?

A voz não me era estranha, mas também não a reconheci. Virei-me para ver quem era. Um rapaz loiro, alto e com os olhos castanhos claro. Quem era ele?

- Daniel, eu... – começou Dylan.

- Dylan quantas vezes já disse pra não trazer ninguém pra cá? – falou o garoto. – Ninguém é confiável. De onde você a conhece?

Pelo visto eles eram irmãos. O que era estranho pois Dylan não tinha nada haver com ele, tirando o cabelo loiro.

Diante da pergunta de Daniel, Dylan ficou calado como eu, quando me perguntaram o que eu era. Observei os olhos de Daniel tomarem um tom desconfiado.

- Não me diga que esteve na floresta de novo. Depois de tudo você voltou a frequentar...

- Tá bom, já entendi, não precisa me dar uma bronca. Não sou mais uma criança. Sei me cuidar sozinho.

- Não foi isso que pareceu da ultima vez. – Daniel fez uma pausa e se direcionou a Mia – Miranda se retire.

- Mas... – ela tentou protestar.

- Miranda é sério. E leve a... – ele falou me encarando.

- Abby. – eu disse.

- Leve a Abby junto. Daqui a pouco eu te chamo.

Ela me olhou com os olhos cheios d’água. Acho que ela tinha medo dele, mas não a culpo, eu também teria. Mia me estendeu a mão e a acompanhei para fora da casa, o clima lá dentro estava tenso.