Eu estava completamente atordoada. A visão de Edward, sempre tão belo, mas agora tão assustadoramente predador, na soleira da porta, olhando para mim, com diversos vampiros sedentos do meu sangue atrás dele, na sala, me deixou sem noção.

Senti o toque gelado da mão do Doutor Carlisle em meu braço.

"Não se preocupe. Nada irá lhe acontecer. Vamos resolver essa situação da melhor forma possível."

Eu não conseguia tirar os olhos de Edward.

"Não vai adiantar, Lisa." Sua voz parecia mais branda agora.

"Por que não? Eu preciso tentar. Eu sei, eu tenho certeza, Aro pedirá para tocá-lo. E ele lerá todos os seus pensamentos. Ele saberá de tudo. Saberá sobre mim, sobre os livros, tudo. Ele terá um motivo para nos matar, a nós todos."

Seus lábios formavam uma linha dura. "Lisa, de que adiantará tudo isso se estamos tendo essa discussão agora? Aro verá isso também."

Desabei. Como eu poderia enganar Aro? Definitivamente, em toda essa história, Bella fora a única capaz de fazer isso. E agora? Como eu poderia fazer? Todo o meu plano foi por água abaixo.

"Mas, a propósito Lisa, você ainda não me contou qual é o seu plano."

Engoli em seco. Olhei para Seth. Eu não sabia como dizer aquilo na frente dele. E se ele se sentisse constrangido? De qualquer forma, eu tinha vergonha. E vergonha de Edward também, apesar de ele já saber de tudo e de ter lido os meus pensamentos. Eu não queria admitir aquelas coisas em frente a ele. Nem com todos aqueles vampiros me ouvindo dentro da mansão.

Lendo meus pensamentos, Edward tomou a iniciativa.

"Não se preocupe" ele falou, calmamente pela primeira vez desde que cheguei. A maioria irá caçar fora da cidade daqui a pouco. Sua presença aguçou a sede deles. Alguns até já saíram pelos fundos. Os Denali e meus irmãos também irão caçar na floresta. E Seth e eu vamos para lá também."

Seth parecia acordar. "Eu? Mas... por quê?"

"Vamos."

Edward não deu margens para Seth discutir ou dizer qualquer coisa. Simplesmente começou a correr. Seth teve que se apressar e se transformar em lobo rapidamente, à borda da floresta, se quisesse acompanhá-lo.

Esperamos ainda alguns minutos. Eu não sabia quando deveria começar a falar, pois desde que cheguei, a casa e seus arredores estavam silenciosos. Eu não via diferença alguma de lá para cá.

Poucos minutos depois, dr. Carlisle acenou para mim. "Todos já se foram. Estamos sozinhos, você e eu."

Respirei fundo. "Espero que isso não seja uma prova muito grande para você. Não estou aqui para servir-lhe de 'tentação'."

Dr. Carlisle sorriu alto. "Claro que não, Lisa. Há muitos anos eu lido com situações bem piores. Sangue vivo correndo em minhas mãos, na verdade. Em minha profissão, já tive humanos em estados terríveis, e soube me controlar. É como um dom para mim. Você não tem do que se preocupar."

Eu já sabia disso, mas fiquei mais aliviada.

"Vamos entrar. Vamos ficar mais confortáveis lá dentro."

Aceitei de pronto. Na verdade, eu ia ficar mais confortável lá dentro. Isso só fazia diferença para mim, que era humana.

Entramos. A sala tinha um leve cheiro adocicado, delicioso para mim. O cheiro dos inúmeros vampiros que tinham estado ali minutos antes. Dr. Carlisle me guiou ao sofá branco, na sala, que tantas vezes eu estivera para explicá-los tudo sobre minha presença ali. E agora, eu o fazia ao doutor pela última vez. Bem, eu esperava que isso soasse no bom sentido, e não como um mal presságio.

"Bem, doutor. Eu me sinto um pouco constrangida de falar sobre isso, mas meu plano é muito simples. E até falho, por assim dizer. Tão fraco que eu tenho até medo de pô-lo em prática. Mas não posso deixar todos vocês em risco."

Ele ficou em silêncio, esperando.

"Eu me apaixonei por Seth, doutor. E ele por mim também. Mas isso não o dá o direito de me contar todos os segredos de sua tribo, nem mesmo os segredos sobre o mundo dos vampiros."

"Mas ele não te contou nada."

"Não, mas mesmo assim eu o sei. Eu sei de tudo, como eu já lhe disse. Mas eu não podia saber. Então, imaginei que a única maneira de justificar meu conhecimento seria pelo mesmo modo que Emily, esposa de Sam Ulley, o lider do bando quileute, sabe de tudo."

"Seria o que eles chamam de impressão, não é?"

"Sim, uma coisa mágica, uma das coisas de lobo. Se Seth tivesse uma impressão comigo, isso justificaria o fato de eu saber de tudo. Ele teria que me contar, pois eu faria parte desse mundo. E Aro não poderia agir contra mim, como também não pode agir contra Emily. Da mesma forma que ele não agiu contra Bella, dando-lhe a chance de ser uma de vocês, por causa da ligação que ela tinha com Edward e com toda a família Cullen."

O doutor ficou em silêncio um tempo.

"Entendo. Então, se você fosse o objeto de impressão de Seth, você poderia continuar uma humana, sabendo de tudo, sem precisar ser eliminada pelos Volturi, não é?"

"Isso."

"E como você pretendia enganar Aro? Isso eu ainda não entendi."

"Eu disse que o plano era fraco. Eu pretendia fazer Edward acreditar nisso. Então, Aro acreditaria."

"Lisa, como você acha que poderia enganar Edward? Isso é, perdoe-me, absurdo."

"Eu sei. Quando cheguei aqui, tentei com todas as minhas forças fazer com que Edward visse o quanto o meu amor por Seth e o amor dele por mim eram grandes, tentando fazê-lo acreditar que eu seria o sol de Seth, assim como Renesmee o é para Jacob."

"Mas, Lisa. Olhe o que você está dizendo. Edward poderia acreditar nos seus pensamentos. Mas, e quanto aos pensamentos de Seth? Ele veria que Seth a ama, sim, mas não da forma que seria uma impressão. Então, ele não acreditaria em você."

"Eu sei." me rendi. Droga de plano. Eu estava com vontade de chorar.

"Mas não fique tão alarmada. Vamos encontrar uma solução melhor."

"Obrigada doutor. Mas não consigo ver nenhuma saída."

"Bem, no momento, a única saída é você voltar para a reserva. Não é bom que esteja aqui quando tudo acontecer. Os Volturi estarão aqui pela manhã. E a casa já tem vampiros demais. Não quero que nenhum 'acidente' aconteça."

Suspirei. Não havia mais nada a fazer a não ser obedecer.

Mas, e agora? O que vai acontecer?

Aro saberá de tudo.

Droga de plano.