Sangue Quente - O Contágio escrita por Wesley Belmonte, Jaíne Belmonte


Capítulo 29
Capítulo Vinte e Nove




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Passaram-se dois dias desde o pesadelo que eu tive. Evito pensar nele e em todos os outros que eu venho tendo desde que o mundo mudou. Está tudo aparentemente "tranquilo", acordamos cedo, para cuidar dos animais e das plantações. Deve ter cerca de 20 ou 30 mortos caminhando nas redondezas da fazenda, mas todos evitam discutir sobre isso, é como se estivéssemos nos fechando em outro mundo, em outra realidade, onde está tudo bem.

Hoje é o meu dia de cuidar dos animais, são poucos. Algumas galinhas, três vacas, um bezerro muito brincalhão e dois cavalos de puro sangue, que são o xodó do meu avô, pois ele pagou uma pequena fortuna neles. Mel e Apollo me seguem durante todo o percurso, desde o galinheiro até o pequeno estábulo da fazenda. É um trabalho um pouco demorado, mas é ótimo para passar o tempo. Afinal, não temos muita opção de lazer aqui. Enquanto estou tirando leite de uma das vacas, observo ao longe, que Jenna está embaixo de uma grande árvore com meu avô, me lembro que naquela árvore havia um balanço, mas ele acabou quebrando e o que tudo indica eles estão tentando fazer um novo.

Termino o serviço, recolhi apenas 3 ovos e um balde pequeno de leite. A produção dos animais vem diminuindo a cada dia, talvez tenha algo a ver com esse vírus que está pelo ar.

Passo o resto da tarde, deitado no gramado em um dos extremos da fazenda, com os cães deitados ao meu lado me fazendo companhia, fico olhando pro céu e me perguntando onde Misty pode estar, nem percebo quando meu pai chega perto de mim.

– Muito cansado? - Ele pergunta, sentando ao meu lado.

– Não, pra falar a verdade, estou entediado.

– Melhor se acostumar, essa vai ser nossa vida daqui pra frente, até que esses bichos desapareçam de vez.

– O senhor acha que eles vão desaparecer? Que vamos voltar as nossas vidas normais algum dia?

Ele fita o nada a nossa frente, e uma expressão de tristeza se forma em seu rosto.

– Sinceramente? Eu acho difícil filho, mas independente de qualquer coisa, não podemos desistir. Você... Eu não quero que você nunca desista, entendeu?

– Não, não entendi, por que o senhor resolveu me dizer isso agora? No que você está pensando pai...

– Filho, olhe ao nosso redor, a cada dia que passa mais uma criatura daquelas aparece, e cedo ou tarde vamos ter que sair atrás de abrigo. E tenho o pressentimento que cada vez que sairmos daqui atrás de suprimentos, um de nós não voltará. E agora que eu estou com esse braço quebrado... Sou um inútil aqui.

– Não fala assim pai! Logo logo, o senhor vai estar curado e mais nenhum de nós vai morrer! - Paro e me lembro de Misty, não quero aceitar que ela realmente esteja morta.

– Você ainda está pensando naquela garota, não está? - Fico encabulado, e não respondo nada. - Melhor você esquecer, foi um erro termos trazido ela conosco, e está na cara que ela fugiu. Ela nunca gostou de estar com a gente, nunca gostou de nenhum de nós, e por mais que isso te doa, meu filho, aceite. ELA NUNCA GOSTOU DE VOCÊ.

Sei que meu pai não teve intenção de me magoar, mas essas palavras entraram como uma lança em meu peito. Sinto meus olhos marejarem, mas contenho as lágrimas. Não quero que ele veja que eu estou triste e que me importo com o fato dela não me corresponder. Mas ela me beijou na noite que viu o Adrian com a Jenna, ela não faria isso se não gostasse de mim. Ou será que faria? Meu pai me chama para entrar, mas digo que vou ficar mais um pouco ali.

Quando ele saí, não consigo segurar mais, e as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. Só pode ser brincadeira do destino, cheio de zumbis lá fora e eu chorando por uma garota? Por uma mera desilusão? Enxugo as lágrimas e decido que essa é a última vez que eu penso nela, que se dane se ela está morta ou não, cansei de me importar. Mal sabia eu que essa não seria nem de perto a última vez que Misty me faria chorar.

***

Já é madrugada, como eu estava sem sono, disse que eu poderia ficar de vigia. Um vento muito gelado está soprando na fazenda. Pode ser só minha imaginação, mas sinto que os mortos que estão andando por ali olham diretamente para mim, como se eu fosse o prato principal deles. Sinto meu corpo se arrepiar. Tolice, eu só devo estar um pouco assustado.

Depois de uma hora e meia no mirante, estou quase congelando, então acho melhor ir até a casa pegar uma blusa para mim. Não quero morrer de hipotermia nessa fase do campeonato. O resto da noite passa, e quando o dia está próximo de amanhecer, Ben chega para me substituir. Estou pronto para descer do mirante, quando ao longe vejo uma luz muito fraca. Pisco os olhos com força, devo estar alucinando. Mas não estou, vejo quatro faróis, parecem ser dois carros vindo na direção da fazenda. Fico paralisado, não sei o que fazer.

– Rápido, vá acordar os outros! - Ordena Ben. - Parece que teremos problemas.


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