Will You Remember? escrita por cmatta


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

To vendo vocês aí que leram o capítulo passado e não deixaram um oi nos comentários ta?? num sô boba nam, mocinhos. (mas obrigada por lerem até aqui!)

E sobre o 10... uau. São 83 páginas de word já, sabia? (pois é)



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Risos acompanhados do tintilar de chaves lutaram contra o som da TV ligada na sala da casa dos Collins quando Simon abriu a porta, acompanhado de Chloe. Suas roupas encharcadas da chuva que não cessava. A mulher tirou suas botas logo na entrada e ambos largaram os casacos molhados num gancho que tinha ao lado da porta. Simon sinalizou que ia desligar a televisão e já encontraria com ela no quarto, e então foi até o outro lado da sala. Quando se virou para a escada, deparou-se com a inesperada cena dos dois garotos no sofá, dormindo calmamente enquanto ainda se mantinham abraçados. Nos primeiros instantes ele não foi capaz de mexer um músculo sequer e muito menos pensou em qualquer coisa. Mas então, lentamente, um sorriso tranquilo foi roubando espaço na expressão de Simon e algo dentro dele se acalmou.

Quando subiu, foi direto até o armário de seu quarto em que guardava roupas de cama e retirou de lá um cobertor bem quente. Acabou ignorando quando Chloe o chamou e desceu direto até o sofá. Cuidadosamente cobriu os meninos e teve a intenção de passar a mão sobre os cabelos do filho, mas riu quando viu que já lhe tinham tomado aquilo.

 

 

O sol começava a subir e invadir com sua luz toda a sala. Incomodado com a luminosidade, Neil abriu os olhos devagar, tentando assimilar onde estava. Levantou o olhar e encontrou o rosto adormecido de Matt, então a vontade que tinha de levantar e fechar a cortina subitamente desapareceu. Ficou com medo bobo de levantar e acordá-lo ou não conseguir voltar para o mesmo lugar, e o que ele menos queria agora era estar em um lugar diferente daquele. Voltou a deitar a cabeça sobre o peito do ruivo e de repente ouvir o coração dele batendo tornou-se um dos seus sons favoritos.

E quase como se tivesse tomado um choque de adrenalina, Neil percebeu que o ritmo calmo que estava quase lhe fazendo dormir novamente se acelerou. Matthew começou a ficar inquieto, seu corpo parecia tentar se mexer desesperadamente e aos poucos, Neil conseguiu ouvir a voz do garoto saindo, mas nenhum dos sons era compreensível. Assustado, ele se sentou, ainda sobre Matt. Quando ele começou a tentar mexer os braços, Neil agarrou-lhe pelos pulsos e fez o máximo para conseguir deixa-lo no lugar. É só um pesadelo. Já, já ele acorda, pensou enquanto lutava contra a força que o outro fazia. Mas quando notou que os gemidos começavam a ameaçar se tornarem gritos e viu que lhe saíam lágrimas dos olhos, Neil percebeu que ele não ia acordar tão fácil. Começou a chama-lo pelo nome, mas como imaginava, não adiantou muito. Tentou sacudi-lo enquanto o chamava cada vez mais alto. Sentia sua própria voz num tom desesperado cada vez que Matt parecia ficar mais em pânico.

E com um grito que demonstrava o mais puro horror, Matthew abriu os olhos aterrorizado. Começou a olhar em volta. Sua respiração estava ofegante e seu corpo todo estava tremendo. Neil ficou uns segundos assustado, ainda segurando os pulsos do garoto como se ele não tivesse acordado ainda.

Quando os olhos verdes encontraram Neil encarando-os com medo, Matt levou os braços para cobrir seu rosto. Não sabia o que tinha acontecido, a única coisa que ecoava na sua mente era próprio grito que lhe acordara. Xingou por não conseguir fazer seu corpo se acalmar.

Neil ouviu os passos de Simon descerem as escadas correndo e já virou o tronco em direção a ele. E finalmente pareceu lembrar que o pai os vira dormindo, o que lhe deixou ainda mais nervoso.

— O que foi?! O que aconteceu?! – Simon perguntou ansioso.

— Sonho bem ruim – Neil respondeu, tentando ficar calmo – Desculpe por acordá-los. Tá tudo bem.

— Certeza?

Ele respondeu acenando a cabeça positivamente. Simon suspirou e voltou ao andar de cima. Voltou a atenção para Matt, que continuava escondendo o rosto. Neil tocou-lhe o braço e puxou-o devagar como que lhe pedindo para tira-lo dali, e assim o fez, mas mantinha os olhos fechados.

— Tudo bem? – Perguntou com a voz trêmula enquanto delicadamente secava uma lagrima que ainda lhe escorria o rosto.

Ele respondeu balançando a cabeça em negativa. Neil esticou a mão e tirou os fios ruivos de seu rosto e timidamente começou a acaricia-los, esperando que ajudasse em algo.

— O que aconteceu? – Matt finalmente perguntou, a voz confusa e ainda sem coragem de abrir os olhos.

— Você teve um pesadelo... eu acho. Tava quase se debatendo e não parava de gemer alguma coisa...

Matt por fim voltou a olhar para Neil, que o olhava agora com ar de preocupação. Tentou forçar um risinho, mas soube pela reação do outro que não chegara nem perto.

— Desculpa por isso. Tô melhor agora, olha – disse erguendo a mão, tentando mostrar que não tremia mais. Neil sorriu. E Matt conseguiu abrir um meio sorriso. Até perceber algo. – Neil... – chamou enquanto esticava a mão até o rosto do menor para limpar o sangue que saía de seu nariz.

— Ah.

Começou a pressionar o nariz com os dedos e se levantou devagar, já sabendo que há um tempo se sentia fraco demais até para andar. Pegou um pedaço de papel no banheiro e retornou ao sofá, sentando-se os pés de Matt. E ele, por sua vez, virou no sofá e pousou sua cabeça sobre a perna de Neil.

— Isso acontece o tempo todo, é?

— Às vezes, sim – respondeu com a voz engraçada por ter o nariz fechado. E depois de hesitar por algum tempo, Neil levou sua mão livre até os cabelos ruivos novamente, acariciando-os. – Você acha que volta a dormir agora? – Perguntou finalmente algo que estava o preocupando.

— Nem fodendo – riu – mas se você quiser, pode continuar me usando de cama, hein?

Envergonhado demais para conseguir responder, Neil ficou quieto, sentindo seu rosto esquentar.

 

 

A manhã não tinha passado da metade quando Matthew saiu da casa dos Collins, à contragosto de Simon, que insistiu para que ficasse pelo menos para o almoço. Neil queria perguntar o porquê de ele não ficar, mas imaginou que era por ter dormido fora de casa, talvez a mãe dele fosse se preocupar? Então só assentiu e despediram-se com um beijinho tímido quando acharam que Simon e Chloe estavam fora de visão.

Com um sorriso no rosto, Matthew caminhou até o ponto algumas ruas dali e pegou um ônibus. Cada quarteirão, sua expressão esfriava. Não ter ficado em casa para receber ligações do hospital lhe afligia. Ta na hora de largar essas merdas e comprar um celular, concluiu pensando em seus vídeo-games. Sua mãe não recebia muito e acabava gastando tudo em bebida e remédio; a pensão que recebiam pela morte do pai era o que tentava sustentar a casa. O que Matt às vezes tinha era o que ele guardava para suprir sua paixão pelos jogos. “Vai fazer algo de útil, seu merda”, suspirou lembrando das palavras quase diárias de sua mãe. Tombou a cabeça em direção ao vidro gelado da janela e fechou os olhos, sentindo as rajadas de vento cortarem seu rosto como milhões de agulhas.

Desculpa...

 

Ele odiava demais o clima que os hospitais têm. Em nenhuma das vezes que foi visitar alguém, recebeu uma notícia boa. Primeiro seu pai. A lembrança de não poder ter sequer ouvido a voz dele pela última vez depois daquilo lhe doía até hoje. E a última imagem que tem gravada é dele todo ensanguentado sendo retirado do carro e levado à ambulância em uma maca. Depois disso não se recordava muito bem de nada, mas algo que ficou nítido como um filme foi o médico vindo em sua direção e dizendo que a cirurgia não tinha dado certo e ele, tão pequeno e agarrado a uma blusa do pai que pegara na mochila, não conseguira chorar. Talvez não absorvera a informação na hora, ou talvez essa fosse sua forma de absorver. Sua primeira lágrima caíra quando se deitou na cama, ainda abraçado à blusa do pai.

Entrou no elevador. As paredes de metal tão polidas que pareciam espelhos tentavam deixar a atmosfera daquele cubículo ainda mais congelante.

Depois, veio o pai de Michael. E às vezes achava que as lembranças dos dias que se seguiram o acidente lhe doíam mais do que a morte do próprio pai. Hoje ele conseguia compreender que talvez lhe doesse muito mais ver o amigo sofrendo dia após dia a todo o momento, do que a notícia de seu pai. Frank ficou internado por alguns dias, passou por cirurgias, encarou um coma. E entre entradas e saídas, ele esteve ao lado do amigo lhe dando o ombro para chorar, indo todos os dias com ele para o hospital e passando as tardes lá. Quando chegou o último dia, Matthew manteve-se inerte. Vira Michael desabar por completo, e ele ficou ali para segurá-lo.

A porta do elevador abriu para a sala de espera da UTI. Algumas famílias sentadas lá esperando a hora de visitação. Ele se sentou numa das cadeiras. Tudo naquele lugar era frio. Parecia querer que esquecessem que havia vida ali dentro. Ficou encarando o relógio, quase numa contagem regressiva.

Quem seria o próximo agora? Helen? Neil? Matt estremecia com a ideia de ter que encarar mais isso. Quão resiliente ele ainda podia ser antes de se romper definitivamente? Das rachaduras já começava a se transbordar e a ideia de perder o controle lhe amedrontava.

 

 

Quando Chloe saiu para pegar algumas coisas no mercado, Simon chamou o filho para a sala com a desculpa de que tinha um programa muito bom na TV. Assistiram por alguns minutos enquanto ele pensava em quais palavras seriam mais adequadas.

— Neil, como você tá?

— Bem – respondeu com a atenção completa no programa.

— Você tá feliz?

Olhou confuso para o pai. Do que ele tá falando? Neil ficou paralisado quando lembrou da cena daquela manhã. E então pareceu compreender a pergunta. É só isso, então? Abriu um sorriso fino e seus músculos pareceram relaxar completamente. Acenou positivamente com os olhos cerrados. Simon entendeu e soltou um risinho enquanto afagava os cabelos loiros do filho.

— Então tá certo – disse por fim com uma voz suave e um grande sorriso, o que deixou Neil tranquilo.

Continuaram assistindo a TV em silêncio, de certa forma felizes com a situação.

 

 

— Desculpa, a paciente já foi transferida.

Ele encarou a enfermeira meio confuso, ficou esperando ela adicionar informações, como para onde Helen tinha sido levada e como ele chegava lá. Mas ela já tinha se virado para a tela do computador. Matthew se apoiou sobre o pequeno balcão, chamando a atenção da moça de volta a ele.

— E não vai me dizer pra onde, é?

— Você, quem é?

Largou um suspiro pesado. Então percebeu que ela parecia nova já que ele mesmo não lembrava dela, e como passara a semana anterior inteira ali, o dia todo, tinha conversado com praticamente todos os enfermeiros daquele andar.

— Filho dela.

— Certo – ela puxou o telefone e se virou para conversar com a pessoa do outro lado, mas logo voltou-se para Matt novamente – Qual seu nome, garoto?

— Matthew Hunt.

E ela ficou de costas novamente. Depois do que pareceu serem anos, ela desligou e com um sorriso disse a ala em que Helen estava e que o médico responsável queria falar com ele, que devia procurar pelo Dr. Taylor.  Agradecendo, ele foi até o elevador e numa placa com vários setores coloridos, procurou aquele que a mulher lhe dissera.

Quando chegou no local certo, depois de pedir informação em vários lugares, Matt foi até a recepção do novo salão de espera. Prontamente, a enfermeira ali levou-o até a ala em que sua mãe estava. Era um quarto grande com quatro camas separadas por cortinas brancas. Suspirou. Queria poder ter como pagar por um quarto... E quando a enfermeira já se virava para retornar a sua posição, Matt lhe chamou.

— Disseram que o médico dela quer falar comigo. Dr Taylor?

— Certo. Vou chama-lo, pode esperar aqui mesmo – sorriu e saiu.

Foi até a cama onde a mãe dormia tranquilamente; Matt se sentou na poltrona que havia ao lado dela e ficou apenas observando-a e como essa atual serenidade contrastava com seu temperamento habitual. E por um momento ele sorriu com a esperança de que algum dia a veria assim normalmente, mas no fundo temia que ela acordasse agora e o visse ali; não conseguia prever qual seria a reação dela. E então, depois de poucos minutos, levantou-se, dando de cara com um homem tão alto quanto ele vestindo um jaleco branco.

— Matthew Hunt, suponho? – Perguntou simpático o homem; pequenas rugas lhe entregavam a idade no canto dos olhos. Matt somente balançou a cabeça afirmando – Acho que preciso lhe informar sobre o quadro de sua mãe.


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