POV Caroline

Estou tão zangada com a minha mãe, ou melhor... Ex-mãe, que não consigo mais pensar em nada! Esqueci até do que eu tinha falado com o James! Como ela pôde fazer uma coisa dessas? Expulsar o próprio filho de casa? Nenhuma mãe que é mãe faz isso. Prefiro ser órfã, afinal, nem meu pai tem consideração por nós.

Estamos na metade das nossas férias e essas foram as piores que eu já tive na minha vida. Provavelmente a pior de todos nós. O que eu senti quando fiquei pendurada no navio foi indescritível. Ainda bem que eles chegaram a tempo de me salvarem. Eu não tinha força pra subir e minhas mãos já estavam escorregadias. Se eles não tivessem aparecido, eu estaria... Morta. Devo muito a eles. Muito mesmo. Eles salvaram a minha vida.

Estou na cozinha preparando o almoço enquanto Sam e Justin estão conversando na sala. James ainda está dormindo. Quando eu terminar de cozinhar, vou acordá-lo. Termino de fazer macarrão, e coloco em cima da mesa. Pego refrigerante, copos, pratos, talheres e guardanapos, e também coloco na mesa. Vou até a sala e aviso-os que o almoço está pronto, e vou até o quarto do James. Abro a porta. James está deitado de bruços na cama, completamente esparramado. Dou uma risadinha e me sento ao seu lado.

- James... – Faço carinho em suas costas – Acorda...

Ele abre os olhos devagar, olha pra mim e dá aquele lindo sorriso sonolento. Dou-lhe um beijo e me levanto.

- Bom dia – ele boceja e se espreguiça.

- Boa tarde, né. Já são 14h30 – abro as cortinas.

- Ah, ainda é manhã pra mim.

Rio. Ele se levanta e me abraça. Ele demora um tempão me abraçando, e sinto seu corpo ficando relaxado. Puxo sua cabeça e vejo que ele voltou a dormir.

- James! – Balanço-o.

- To com sono... – ele faz cara de cachorro pidão.

- Então eu já sei como te fazer acordar – Dou um beijo nele como nunca dei.

- Hmm... Agora estou muito mais que acordado – ele sorri maliciosamente.

- James! – Dou um tapa de leve em seu peito.

Rimos e vamos para a cozinha. Os meninos se cumprimentam, e almoçamos juntos. O assunto é pouco, mas não chega ao ponto de ficarmos calados. Quando terminamos, Sam me ajuda a lavar a louça enquanto Justin e James vão tomar banho.

- Seria ruim se eu te perguntasse uma coisa? – ele começa a conversar.

- Pode perguntar. Depois de tudo que aconteceu, não vejo problema em responder pergunta alguma – rio sem vontade.

- Como você se sentiu?

- Se for em relação ao navio, eu entrei em desespero. Achei que ninguém ia aparecer pra me salvar e que eu ia morrer. Mas se você estiver falando sobre minha... Sobre o que aconteceu ontem, eu nunca vou perdoá-la. Minha raiva nunca vai acabar e eu nunca vou voltar pra lá. Não quero ver mais o rosto daquela vagabunda.

- Você está certa. Ela não merece respeito. Qualquer pessoa assim merece ser internada.

- É a vontade que eu tenho. Mas como não quero mais vê-la, não farei nada. Deixarei as coisas como estão. É melhor ficar bem longe. – Sou sincera.

- É uma pena que seus pais sejam desse jeito. Desculpe dizer, mas meus pais são completamente diferentes.

- Não tem problema. Me fale sobre eles – terminamos de lavar a louça e nos sentamos de frente pro outro na mesa da cozinha.

- Bem, eu tive uma namorada primeiro. Eles a conheceram e adoraram ela. Mas quando eu contei pra ela que sou bissexual, ela terminou comigo. Continuamos nos falando, mas nada como antes. Então, um tempo depois, eu apareci em casa com um namorado. Meus pais acharam estranho no início, porque eu já tinha tido uma namorada. Mas então eu contei pra eles que gosto de homens e mulheres, e eles aceitaram numa boa. Tivemos que terminar porque ele mudou de país e ele não queria uma relação desse jeito. Senti que não era por nada disso. Ele provavelmente gostou de outro garoto pra onde ele viajou, e terminou comigo pra ficar com ele – Ele ri – Mas agora isso não importa. Porque eu só tenho olhos pro seu irmão – ele sorri.

- Fico muito feliz em saber disso – sorrio e seguro suas mãos – Meu irmão é muito feliz ao seu lado. Ele está conseguindo superar o que aconteceu com o Rick, com você.

- Ele era seu amigo, não era?

- Já fui apaixonada por ele. Achei que ele estivesse me machucando, mas na verdade só estava tentando dizer que não gostava de garotas – rio. – Eu sinto tanta falta dele... Ele era meu melhor amigo.

- Eu posso ser seu melhor amigo – ele sorri.

Me levanto da cadeira e dou um abraço apertado nele. Ele não parece surpreso. Na verdade, me abraça da mesma maneira. Solto do abraço e nós dois nos olhamos e sorrimos.

Todos nós passamos à tarde na sala jogando videogame. Isso está fazendo Justin aliviar um pouco a mente. Eu disse pra ele que ele não precisa se preocupar com isso. Que tem nós três com ele, e pra esquecer o que aconteceu. Ficamos dançando no meu Just Dance 4. James e Sam são os melhores dançarinos. Eles já ganharam várias vezes. Na disputa entre eles mesmos, quem ganha é Sam.

- Tudo bem, tudo bem! Foi uma vitória justa – James ri, e eles apertam as mãos e dão um abraço.

Nos divertimos muito, e vejo Justin rindo. Só de ver isso, já me deixa muito mais feliz. Apesar de tantos problemas, ele ainda mantém o sorriso no rosto. Sorrio largamente e olho pra ele. Ele me olha confuso e eu o abraço.

- Eu amo você – sussurro.

- Eu também te amo. Me desculpe por todas as brigas e discussões que já tivemos – ele beija minha testa.

- Shh. Não fala disso – abraço-o mais forte.

Lanchamos pipoca e refrigerante enquanto assistimos Encantada. Quando chega na parte da música que eu e Justin dançamos no meu aniversário, nos levantamos e começamos a dançar. Rimos e nos abraçamos. Terminamos de assistir o filme e ficamos conversando.

- Qual é o maior sonho de vocês? – Sam pergunta.

- Você responde primeiro – Justin fala.

- Tudo bem – ele sorri – Meu sonho é viajar pelo mundo, surfar em todas as praias que existem e ser conhecido musicalmente. Vez da Carol.

- Eu sonho em aprender a falar português, terminar a escola e entrar pro teatro. – Respondo - Justin.

- Eu quero terminar a faculdade de letras e me tornar um professor. E você, James? Qual é o seu sonho?

Todos nós olhamos pra ele. Ele dá um suspiro longo antes de falar.

- Eu só quero ser feliz. Mas eu já sou, então acho que não tem nada que eu queira.

Todos nós fazemos um grande “aawnn” e brincamos com o cabelo dele.

- Mas é sério. Não tem nada que você queira? – Sam pergunta.

- Ah, eu quero muita coisa. Quero que a fome no mundo acabe, quero que acabe a violência, mas ai já pedir demais – ele ri abafado – Estou satisfeito com a minha vida. Por mim, não mudaria nada. Só o tempo de férias.

Rimos. Sam começa a contar histórias de coisas que já aconteceram com ele. Coisas engraçadas. Nos divertimos muito. Mas a melhor é a última.

- Quando eu tinha 12 anos, eu fui tocar violão na frente da escola inteira pra um concurso de talentos. Eu estava tão nervoso que eu mijei nas calças! – Todos rimos – E o pior de tudo foi que me deram um prêmio como mijão do ano! Fiquei conhecido como Mijão o ano inteiro.

Nós três não conseguimos parar de rir. Sam é um cara muito legal e engraçado. Definitivamente é alguém que eu gostaria de ter como melhor amigo.

Ele pega o violão, e nós cantamos várias músicas. Começamos a ficar com fome e comemos frango no jantar, e de sobremesa comemos sorvete de baunilha. James passa um pouco de sorvete na ponta do meu nariz e lambe.

- Ai, gente... Hoje o dia foi extremamente divertido – tento parar de rir – Muito obrigada.

- Eu que tenho que agradecer a todos vocês. Vocês me deixaram mais tranquilo – Justin sorri.

Sam o abraça e terminamos de comer nossos sorvetes. Voltamos pra sala e ficamos assistindo Two And a Half Men até de madrugada. Sam começa a ficar com sono e vai pra cama. Um tempo depois, Justin vai também. Eu e James ficamos abraçados no sofá. Me levanto e vou até a varanda.

Fico vendo os carros passando, as árvores e a lua. Ela está linda hoje. James aparece e me abraça por trás.

- Sabe... – Começo – É muito bom ver Justin feliz. Sam é um ótimo cara. Ele disse que pode ser meu melhor amigo. E acho que é mesmo – sorrio – Eles se merecem. É bom vê-los juntos.

- É. Eles formam mesmo um casal bonito – James beija meu pescoço, que me deixa mais arrepiada que o vento frio.

- Mais bonito que a gente? – Brinco.

Ele pensa por um instante.

- Acho que ficamos em um empate – rimos.

Me viro e pego na mão dele.

- Vamos. Não gosto de ficar em varandas porque você sabe o que elas me lembram. E está muito tarde. São quase 4h. Precisamos dormir. – Viro e começo a andar, mas ele segura minha mão.

Ele se aproxima devagar de mim, me dá um beijo demorado e me surpreende dizendo com toda sinceridade:

- Eu te amo.

FIM