Então começava o castigo imposto por Minato.

Nove horas da manha.

A porta do quarto se abria e um vulto se aproximava rasteiro até a cama, o pobre Loirinho abriu os cansados olhos azuis que brilharam até ver o rosto no meio da escuridão.

Um sorriso maligno e as mãos com luvas brancas se aproximavam.

__Eh?

__Acorde!

__Ahhh! Demônio!  -Naruto rolou pelo outro lado da cama e caiu no chão.

__Ande logo, Jovem Baka. –Sasuke abria as cortinas tecidas na mais pura seda das imensas janelas deixando o raio de sol iluminar os cabelos loiros bagunçados.__ Temos suas aulas de latim logo pela manha...

__Não se aproxime. –Naruto estava paralisado, olhando para o lado, por um minuto Sasuke achou que abriu demais as janelas, mais depois um sorriso alargou-se em seu rosto.

__Esta, pelado?

__O que? Não! –Naruto fez bico e ficou vermelho, estendendo a mão impedindo que o moreno se aproximasse.

__Que gracinha! –Sasuke sorria malicioso.

__Baka! Vou matar você! –Naruto enrolou-se no lençol e se pôs de pé.

__Baka, somos homens, porque tem vergonha? –Sasuke, pois as mãos na cintura e a cabeça de lado.__ Deixe de frescura!

Mais percebeu que Naruto não disse nada, então se calou.

__Não importa se vista e desça em Vinte minutos, ou seu pai me mata.

__Você vai me dar aula mesmo?!

__Sim, eu pedi para ele, eu consigo lidar com você. –Sorrio.__ Agora vou estar lhe esperando.

Naruto assentiu com a cabeça, sem olhar para o moreno que passava ao lado dele ate a porta.

Esta totalmente, paralisado, porque dessa vergonha toda? O que eu fiz? –Pensou Sasuke.

Ao ouvir a porta bater, Naruto suspirou profundamente.

O que foi isso? –Pensou consigo mesmo.

Ao se olhar no espelho reparou que estava crescendo (em todos os sentidos), tinha a pele branca, apesar de magro, seu rosto era belo, olhos grandes e azuis, cabelo bem cortado, loiro, suspirou, vestiu seus trajes, seu sobre tudo preto, arrumou a blusa por dentro das calças, as bostas longas e de couro, a bengala, a cartola de lado, e um relógio de bolso, o sobre tudo era de um preto azulado, combinava certinho com seus olhos, era um dia frio, o céu se mantinha cinza constantemente, com chuvas que caiam a tarde todos os dias.

Escrever cem poemas em latim, o que significa isso? O que você quer que eu prove?-Pensou, no pai.

Ao levantar a cabeça olhou para cima e se deparou com uma foto de sua mãe.

Quem é ela? –Pensou.

Encarou os olhos daquela ruiva que sorria para ele.

Quem é você? Que sempre fala comigo em meus sonhos.

Bateram na porta.

__Jovem mestre? Sasuke o aguarda na biblioteca, por favor, apresse-se. Gomenasai! –Sakura batia delicadamente e afinava sua voz ao tratar do loirinho.

Então a porta se abriu e Naruto saiu de cabeça baixa.

Sakura o observou mais não disse nada, apenas o guiou até a imensa porta dourada que estava entre aberta, o cheiro de livros velhos era intenso, além do fato de ser enorme cheia de coisas velhas, moveis antigos, e livros, estantes e mais estantes de livros, da altura de Vinte metros, corredores enormes, e para ninguém, apenas Minato, e agora, Naruto.

__Sasuke. –Disse.

Sakura saiu imediatamente.

Sasuke estava com uma das pernas sobre a cadeira, e diante dele uma pilha de livros em latim, e em suas mãos um livro imenso.

__Ora, Jovem, mestre.

Naruto engoliu a seco.

__Sente-se. –Sasuke rodeou a mesa e puxou uma das poltronas para Naruto.

Naruto passou por ele e sorriu.

__Você sabe latim?

Sasuke retirou os óculos e sorriu.

__É uma longa historia... -Suspirou.

Fechou o livro e o pôs sobre a mesa, logo foleou algumas páginas dos demais livros enquanto Naruto o observava.

__Sasuke.

__Hum...? –Sasuke levantou os olhos.

__Venha aqui, por favor... –Naruto o encarava, seus olhos eram imensos.

Sasuke se aproximou quando foi puxado para perto e sentiu e ponta da língua fina de Naruto lamber seus lábios inferiores e superiores deixando-os molhados.

Sasuke o afastou.

__Você é bem malcriado! Pirralho! –Sasuke arrumou a gola de sua blusa e se voltou para o livros.

Naruto sorriu, cruzou as pernas e deixou o chapéu sobre a mesa.

__Você não reclamou na hora...

Sasuke se manteve calado.

Enquanto Naruto sorria inocente.

É só uma criança, é só uma criança. –Sasuke repetia para si mesmo.

Naruto suspirou e acomodou-se na cadeira.

__O latim é uma antiga língua indo-europeia do ramo itálico, originalmente falada no Lácio, a região do entorno de Roma. Foi amplamente difundida, especialmente na Europa, como a língua oficial da República Romana, do Império Romano e, após a conversão deste último ao cristianismo, da Igreja Católica. Através da Igreja, tornou-se a língua dos acadêmicos e filósofos europeus medievais. Por ser uma língua altamente flexiva e sintética, a sua sintaxe (ordem das palavras) é, em alguma medida, variável, se comparada com a de idiomas analíticos como o português...

Naruto aprendia muito rápido, estava pegando tudo à medida que Sasuke iria falando, suas mãos já doíam de tanto escrever, e logo seus olhos começaram e ficar cansados.

__ahh... –Sasuke parou ao perceber que Naruto adormecera.

Dormiu muito pouco, mais foram ordens de Minato, por mim ele dormiria ate de tarde, por que submeter o menino e uma besteira dessas?

Sasuke se aproximou e pegou Naruto no colo.

__Sasuke... -Gemeu.

Sasuke observou, ele falava enquanto dormia em seus braços.

__Fique comigo...

__Naruto?

__Não me deixe sozinho...

Sasuke olhou atentamente, tão indefeso, em seus braços, aquele pirralho que tanto o maltratou, dormindo agora no calor, logo uma súbita sensação conduziu seus lábios até seu rosto, e o beijou, molhando sua pele, sentindo seu sabor.

__Esta tudo bem, Baka... Durma.

__Gomen... -Ino estava diante deles, parada na porta.

Sasuke ficou paralisado.

__é, esta, na hora das aulas de piano do Jovem mestre, ele tocara, e você o ajudara, segundo suas ordens. –Ino estava vermelha. _Você sabe tocar?

__Sim... -Sasuke suspirou.__ é uma longa historia.

Olhou para Naruto.

__Eh, eh, eu posso explicar, ele adormeceu, já estava levando-o para baixo... -Sorrio.

__Sim. –Ino assentiu com a cabeça e se retirou.

Sasuke se perguntou se ela havia visto o beijo.

Engoliu a seco.

Se tivesse parecido malicia, ela contaria para Minato.

Que o mataria.

Sasuke tremeu.

Um tempo depois Naruto havia acordado.

__Eu dormi quanto tempo? –Naruto olhava para Sasuke com cara feia.__ Não me acordou, por quê?

__Você estava bonitinho demais...

__Baka! –Naruto virou a cara e se sentou diante do piano.

Silencio.

Sasuke andou até ficar ao lado de Naruto ainda com o sorriso no rosto.

__Não me diga que você também da aula de piano? –Naruto olhou por cima.

__Sim. –Sasuke já estava cansado de afirmar.

Naruto fechou os olhos e começou a tocar.

“Lacrimosa- Kalafina – Piano- The Black Butler”

Seus dedos eram ágeis, apesar de algumas notas estarem erradas, e Sasuke se deixou levar pela melodia forte e intensa, que soava em seus ouvidos, Naruto era mesmo um menino incrível que despertava em si os mais profundos sentimentos, talvez, porque ele lembrava muito, a ele mesmo.

Embalado pela melodia Sasuke se lembrava de seu passado.

De quando tocara piano.

As mãos de Sasuke batiam com força nas teclas do piano, estava uma manha gelada, a casa se encontrava fria e sem calor humano, seu pai e sua mãe se encontravam na sala, a mãe com algum tipo de tricô nas mãos, e o pai observando os documentos da empresa, também havia um irmão, o qual estava distraído demais com seu cabelo, era vaidoso, e nem se importava com sua família, afinal, era o herdeiro, estava com a vida ganha e tinha muitas pretendentes.

O pobre garoto tocava para ninguém, mantinha-se rígido, nenhum movimento fácil, era branco, tinha os cabelos negros colocados para trás seus olhos de ônix brilhavam, estava elegante.

Tinha Treze anos.

__Como anda a empresa, querido?

__Não me atrapalhe, estou lendo.

__Desculpe. –A mãe abaixou a cabeça.

__Itachi.

__Hum...? –Itachi soltou uma mexa do cabelo.__ O que?

__Quero que vá amanha comigo, preciso que você aprenda algumas coisas.

__De novo?

__Quando eu vier a morrer, você terá que ir todos os dias, só assim para ter o meu dinheiro. –Fez cara feia.

Itachi calou-se.

__Não fale assim com seu filho.

__Ele precisa aprender como ser um homem, já você que o mima demais, e é uma imprestável.

__Cale-se! –A mulher gritou. __Cale-se!

__Não levante seu tom de voz! –O homem se levantou bravo.__ Você não sabe lidar com seus filhos!

__Já chega! –Jogou tudo ao chão.__ Vou me retirar!

Deu meia volta e subiu as escadas, ouviu-se o bater das portas e um grito.

As empregadas olhavam assustadas.

__Vou também. –Itachi se levantou com um suspiro. __Vou ver a mamãe.

__Ingratos. –Grunhiu o homem. Levantou-se e foi também.

Silencio.

Não havia ninguém na sala.

Pobrezinho...

Ninguém olha para ele...

As empregas recolheram as coisas e saíram apresadas até a cozinha.

Vou trazer algo para ele comer. –Uma delas pensou.

O vento bateu na janela, começava a chover forte, era uma mansão imensa, a família Uchiha era conhecida pela fabricação de sapatos de couro, de altíssima qualidade, todos conheciam o senhor Uchiha, em toda parte que fosse porem a família não era tão feliz quanto se pensava, ele estava sendo possuído pela empresa, deixando sua esposa, e seus filhos de lado. Era o começo de uma desgraça.

__Papai... -Ao ponto que o menino tocava sentia as lagrimas em seus olhos. __Gostou da musica?

Silencio.

Dois dias depois.

Gritos.

__Não fala isso sua imbecil! –A mãe de Sasuke jogava os utensílios da bandeja no chão.

Estava deitada, muito doente, seu rosto se apagava, seus olhos estavam enrugados.

__Desculpe senhora.

__Morra! –Gritou.

__Vou chamar o senhor Uchiha.

__O máximo que ele ira fazer é ignorá-la. –Guinchou. __Deixe-me em paz.

Todos se retiravam do quarto, e ao ponto que ficava sozinha ela começava a chorar.

A porta se abria.

__Mamãe...? –Sasuke usava trajes parecidos com os de Naruto.

__O que?

__Porque esta chorando? –Sasuke aproximou-se devagar. __Mamãe...?

A mulher estava com o cabelo na frente do rosto, o filho se aproximou e tocou em sua face.

__Me perdoe... –Sussurrou a mãe. __Me perdoe Sasuke. 

Quando viu os olhos dela Sasuke ficou paralisado.

Nunca esquecerá aquela cena.

__Eu te amo. –Envolveu o filho em um abraço.

Sasuke se sentiu no céu.

Um mês depois o senhor Uchiha internou a mulher em uma clinica, ela foi diagnosticada com uma forte depressão.

__Agora suba Sasuke. –O pai olhava ríspido para o filho que se encontrava na porta vendo o carro  branco seguir rumo ao horizonte com sua mãe.

__Mamãe volta? –Disse em lágrimas.

__Seja homem, Sasuke, não quero um filho babando em cima de mim. –Bateu a porta quase no rosto do pequeno e seguiu rumo ao seu quarto, meio tonto, o pai quase caiu, Sasuke observava tudo, sua família estava desmoronando e ele não poderia fazer nada.

Duas semanas depois.

Estava sozinho no salão onde havia o piano, quando ouvia Itachi sair pela porta de mala e tudo.

Antes havia encontrado uma carta, uma correspondência de um grupo chamado Akatsuki. Conhecidos como a maior gangue de piratas criminosos da região, e seu irmão fora se juntar a eles. 

__Desgraçado! –O pai gritava.

Passos desciam as escadas, logo o som de um tombo, e mesmo assim o bater na porta, gritos e mais gritos.

__Maldito!

O pai corria com um papel nas mãos.

__Morra desgraçado!

Quando parou diante do vão do salão, e olhou ofegante para Sasuke sentado ao piano, o pai tinha os olhos vermelhos.

__Peste! –Avançou sobre Sasuke. __Seu irmão fugiu e você não me disse nada!

__Pai, eu...

Um tapa.

O rosto de Sasuke doía muito.

__Gomenasai...-A voz do menino, quando se virou o pai ficou paralisado.

Ele não derramou nenhuma lágrima, pelo contrario, seu rosto era frio, ao ponto de assustar o pai que saiu andando, meio tonto, até seu quarto, deixando o filho sozinho. As empregadas se demitiram, a família estava perdida, os vizinhos comentavam.

Quando veio a noticia.

A mãe de Sasuke se suicidou.

__Sasuke.

A voz da mãe enquanto tocava o piano em seu velório.

“Clannad - The place where wishes come true”

__Olhe só, querido, mamãe encontrou um gatinho.

__Que lindo, mamãe!

__Que nome você quer colocar?

Risos.

__Gosto de, miau!

__Miau é lindo!-Risos.

__Sabe, Sasuke, um dia você vai herdar tudo isso, um dia você vai fazer algo incrível!

__Vou mesmo mamãe? –Seus olhos brilhavam.

__Vai sim, e quando for a hora, você vai saber.

__Como mamãe?

Pegou o pequeno de Cinco anos no colo.

__Um anjo vai aparecer na sua vida.

Risos.

Risos.

Risos.

E o piano tocava, e o pequeno sorria ao se lembrar da mãe.

Pouco tempo depois o Senhor Uchiha com a falência de sua empresa ficou muito doente, se perdeu no mundo da bebida, Sasuke não poderia administrar a empresa, era um inútil, Itachi era a vergonha, a mulher uma louca suicida, não lhe restava nada, e logo, foi a falecer.

Sasuke não sentiu muito a morte do pai, apenas continuou tocando, tocando para ninguém ouvir, morando naquela casa imensa, sozinho não suportaria, então, quando o dinheiro acabou, aos Quinze anos, foi trabalhar, nas ruas, obtinha sua sobrevivência, tocou sua vida como podia, apagando seu passado de “Jovem mestre”, e se tornando apenas um vagabundo, estava ao ponto do desespero, até encontrar Minato.

__Sasuke, você esta bem?

A voz de Naruto tomava seus pensamentos.

Suspirou.

Seus olhos encontraram os do loirinho, assustado.

__Deixe-me tocar também. –Sentou-se ao lado de Naruto, esticou as mãos, e começou a tocar.

Naruto ficou impressionado.

__Você é um mistério.

Sasuke sorriu.

__A vida é um mistério.

Silencio.

Naruto sentiu aquela mesma força o atraindo novamente, não sabia o que Sasuke significava, mais agora não tocava piano sozinho, sabia que Sasuke era bem mais velho, e que era seu mordomo, porem, com ele nunca mais se sentiu sozinho.

__S-a-s-u-k-e... –Falou com a voz doce, pausando entre as letras.

Sasuke se virou.

E novamente se viu em um beijo, um beijo que explorava cada canto de sua boca, como se tudo aquilo fosse novidade para o pequeno loirinho que se encontrava ali diante dele.

Ao para Naruto o olhou diretamente nos olhos de ônix, estava se curvando para alcançar a boca de Sasuke.

__Arigatou. –E sorriu.