A Escolhida escrita por Madu Oms


Capítulo 18
Chapter one


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Depois de mais de um ano sem postar, cá estou eu, com um capítulo novinho em folha.
Eu não revisei, então me avisem se encontrarem algum erro, ok?
Até as notas finais!



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Eu sabia que aquele não era um sonho comum. Talvez não fosse um sonho, e talvez eu estivesse mesmo no Exílio com Alexei Lound. Na realidade, eram várias as opções. Preferi continuar acreditando que era um sonho muito sinistro e anormal.

Alexei andava calmamente, como ele costuma fazer antes de iniciar uma carnificina. Um sorriso malicioso brincava em seus lábios e, apesar do bloqueio, eu conseguia ler algumas de suas emoções. Não podia ler os pensamentos, que era o que eu queria, mas me contentava com seus sentimentos – quem não tem cão, caça com gato, não é? Inicialmente, pensei que ele ainda estivesse furioso comigo por ter trancafiado seu filho no Exílio, mas vi que ele já tinha esquecido. Estava tão compenetrado em atrapalhar as coisas dentro da prisão onde Cristopher se encontrava que já nem se lembrava da pessoa que o havia trancado lá dentro.

E essa pessoa era eu.

Alexei parou na frente dos grandes portões de ferro e riu. Não era um riso cheio de malícia e raiva, como eu imaginava que seria. Era como se ele realmente achasse engraçado. Como se estar entrando no Exílio e poder ter a má sorte de nunca sair de lá fosse uma situação extremamente cômica.

Que ele era louco eu já sabia, mas aquilo com certeza me deixou desconfiada.

— Cristopher, Cristopher... – ele riu mais um pouco e pegou uma placa jogada no chão, perto de onde estávamos. “Exillium”, era o que estava escrito nela. – Você realmente pensou que eu não viria?

Ele empurrou o portão sem nenhuma dificuldade, e assim que passou por ali, desapareceu.

O encantamento deve ser muito forte, pensei, engolindo em seco. Eu não poderia ser exilada se estava ali apenas em sonho, não é?

Entre, Savanna, a voz de Onum ecoou em minha mente. Não tenha medo, e entre.

O que não mata engorda, afinal.

Respirei fundo. Uma vez, duas vezes, dez vezes. Minhas mãos tremiam e minhas pernas pareciam feitas de gelatina. Se algo desse errado, eu ficaria ali para o resto da eternidade. Os deuses seriam desbancados, os escolhidos morreriam e os magos das trevas reinariam. Eu não podia deixar isso acontecer.

E não iria.

Dei dois passos e abri os portões, passando pelos mesmos e caminhando em direção ao que todos chamavam de Exílio. Uma brisa negra e gelada passava por mim, e eu tinha a impressão de que ela ria.

De perto, a construção não era tão terrível. Parecia um manicômio meio velho e judiado pelo tempo – não que isso me tranquilizasse, é claro –, e se eu não soubesse o que era de verdade, não ficaria com tanto medo.

Abri a porta de madeira e entrei no salão. Novamente, me surpreendi.

Parecia a recepção de um hospital normal. Mulheres vestidas de branco andavam para lá e para cá, carregando instrumentos, comida, empurrando cadeiras de roda, atendendo telefones e sorrindo amigavelmente como se aquilo fosse muito divertido. Não conseguia ver Alexei. Ou Cristopher.

Me dirigi ao balcão da recepção, onde uma moça fazia anotações.

— Por gentileza, poderia me informar onde está Cristopher Lound? – perguntei.

Ela ergueu uma sobrancelha para mim.

— Você é a namorada dele? – me perguntou.

— Co... Como? – gaguejei, podia sentir minhas bochechas esquentando. Isso a divertiu.

— Você tem algum tipo de parentesco com ele? É namorada, prima, irmã, mãe, babá, cadelinha de estimação...?

— Você está de brincadeira comigo?

A mulher sorriu.

— Bem que gostaria. Se não tiver nenhum parentesco com o sr. Lound, então não posso permitir que entre.

Ela deu de ombros e voltou para suas anotações.

— Eu sou… Prima dele. — falei a primeira coisa que me passou pela cabeça, esperando que ela acreditasse. — Rebeca Lound.

Suas mãos rapidamente digitaram meu nome no computador.

— Cubículo 980, andar -15. O elevador fica logo ali – a mulher apontou para a parede atrás de mim.

— Certo, obrigada.

Andei para o lugar que ela havia me indicado. O elevador, enquanto estava fechado, parecia normal. Tinha portas de alumínio que me permitiam ver meu reflexo vagamente, e dois botões - um com uma flecha para cima, e outro com uma para baixo. Como ela havia dito andar -15, apertei o botão de baixo e esperei.

Estar naquele lugar me assustava. O fato de todos poderem me ver fazia com que eu me sentisse vulnerável - e saber que eu ainda estava de pijamas me deixava envergonhada. Tudo que eu queria era impedir Alexei, se possível trancá-lo com seu filho, e sair do Exílio o mais rápido possível.

As portas do elevador se abriram, revelando um interior também muito parecido com o de um elevador normal. A única diferença era que ele tinha dois painéis de números, um para o andar e outro para o cubículo - que devia ser o apartamento em que a pessoa estava, ou coisa parecida. Entrei, digitei os números que ela havia passado, e rezei baixinho para que não tivesse que parar em nenhum lugar. Eu não queria que mais ninguém me visse de pijamas, e trocar de roupa ali, onde todo mundo podia me ver, não estava nos meus planos.

As portas finalmente se abriram, revelando um quarto inteiramente branco, apenas com uma cama e um banheiro.

Dentro dele, Cristopher e Alexei me encaravam. O primeiro sorriu com alívio, e o segundo sorriu com pura maldade.

Cristopher estava pior do que eu me lembrava. Seus cabelos castanhos estavam longos e bagunçados. Sua pele perdera boa parte do bronzeado, fazendo com que ele assumisse um aspecto doentio. E seus olhos, que geralmente eram dourados e brilhantes, agora estavam escuros e opacos.

Vê-lo assim me deixava com o coração na mão. E, por um momento, eu me arrependi de tê-lo exilado.

— Eu achava que você viria… — Alexei deu um passo em minha direção, levantando uma mão como se fosse lançar trevas em mim. — Não estou aqui para lutar, Electi. Eu adoraria poder te destruir agora mesmo, mas meu filho precisa sair daqui o quanto antes, e não vou deixar que você nos atrase.

E então, com um aceno, os dois desapareceram.

Ele os teletransportou para o lado de fora, Onum me explicou mentalmente. Cristopher, no momento, está tentando atrasar Alexei, mas você tem que ser rápida também.

Me virei para chamar outro elevador…

E me deparei com uma parede lisinha. E depois outra três paredes lisinhas. Como eu faço para sair daqui?

Se teletransporte, respondeu Onum, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Revirei os olhos e reformulei a minha pergunta. Como eu posso me teletransportar pra fora desse lugar insuportável?

Não sei explicar, Savanna. Tente se imaginar do lado de fora e concentrar suas forças para lá. O teletransporte funciona de modos diferentes para os deuses e os Electi, eu não tenho como te dizer o que fazer.

Sem responder nada, fechei os olhos e me concentrei na paisagem do lado de fora. Gostaria de ter percebido mais detalhes, provavelmente teria sido mais fácil. De qualquer jeito, imaginei meu corpo atravessando todas as paredes e indo parar depois dos portões do Exílio.

Senti um “frio na barriga” e meu corpo começou a ser lançado para frente numa velocidade anormal. Quando finalmente abri os olhos, estava de frente para Alexei.

— Será que não fui claro o suficiente? — ele bufou. — Não deixarei que você nos atrase, Savanna.

— Você está pedindo para ser exilado junto com seu filho.

O Lound mais velho riu com escárnio.

— Se eu for, meus Luditors virão atrás de mim da mesma forma que eu vim atrás de Cristopher. — ele levantou a mão exatamente como havia feito antes de se transportar. — Sozinha você não é ninguém, Electi. Não adianta tentar me impedir.

Levei a mão para a lateral do corpo, onde ficava minha adaga.

Mas ela não estava lá.

Grunhindo e com vontade de simplesmente acordar e deixar que outro terminasse essa briga, perguntei mentalmente a Onum o que deveria fazer. A deusa não me respondeu. No momento, tudo que eu mais queria na vida era estar com minha antiga arma.

Então senti algo pesando em minha mão direita.

Com toda a glória que eu conseguia me recordar, e agora ainda mais atraente, minha adaga repousava alegremente na minha palma, apenas esperando que eu a usasse.

Antes que Alexei pudesse compreender o que estava acontecendo - e antes que eu mesma o fizesse -, desferi um golpe em seu rosto e outro em seu estômago. Não foi profundo o suficiente para matá-lo, mas eu pude ver o sangue preto escorrendo e manchando sua camisa. Estranhamente, aquilo me encheu de energia.

Cristopher grunhiu ao ver seu pai sangrando, e então sacou sua espada. Pensei que ele tentaria cortar meu braço fora e levantei a adaga.

Porém, para a minha surpresa, Cristopher apontou-a para a garganta de Alexei.

Infelizmente, este já levantava. Com um simples soco, o Lound mais velho atirou seu filho longe o suficiente para não ser mais incomodado.

Alexei também sacou sua espada, e a levantou para mim, mirando em meu peito. Desviei sua lâmina com a minha e fiz um corte em seu braço. Pouco tempo depois, ele revidou com um talho em minha sobrancelha.

Durante alguns minutos que mais se pareceram horas, nós ficamos nessa luta desgastante. Ele já parecia bastante cansado, mas a adrenalina ainda me dominava e eu não sentia nada. Portanto, quando fiz um corte em seu braço e senti que Alexei não seria rápido o suficiente para revidar, me preparei para dar o golpe final.

Bem quando ele me desarmou.

Assim, sem mais nem menos.

Sorrindo, o bruxo apontou sua espada de quase um metro para a minha garganta.

Era o fim.

Senti minha respiração pesar, e toda a energia começar a me abandonar. Os talhos sangravam e ardiam cada vez mais, e meu coração doía a cada batida. Eu ia morrer. A voz de Onum sussurrava algo para mim que provavelmente era importante, mas eu não conseguia escutar.

— Já cansou, Savanna? — ele se aproximou mais. — Poxa, que pena. Eu estava me divertindo! Talvez eu devesse pôr fim ao seu sofrimento…

Alexei levantou sua espada para cortar meu pescoço fora, sorrindo com desdém…

E caiu.

Atrás dele, Cristopher limpava o sangue de sua lâmina mortífera.

Ele matou o próprio pai. Por mim.

— Você está bem? — me perguntou.

Assenti. Não confiava em mim para falar.

— Acho que vou voltar para o meu quarto… — disse ele. — De onde eu nunca deveria ter saído, aliás.

— Me desculpe.

Minha voz soava rouca e cansada, como se eu tivesse corrido uma maratona e não parado nenhuma vez para me hidratar.

Cristopher me deu um sorriso nervoso.

— Pelo quê?

— Por ter te exilado. Você não merecia isso, só Alexei. — respondi, sentindo que ia chorar.

— Eu merecia isso tanto quanto ele, Sav. — ele deu de ombros e se ajoelhou. — Agora me mande de volta para lá.

— Como foi que ele te tirou? Pensei que ninguém saía do Exílio sem passar pelo julgamento dos deuses.

— Meu pai é um bruxo das trevas. Não tente entender seus truques.

— Você não está sentindo nenhum remorso?

— Eu estaria sentindo remorso se tivesse deixado ele te matar e controlar Sócera. — ele pegou minha mão. — Savanna, eu não poderia deixar que você morresse. Não conseguiria viver sabendo que tive a oportunidade de impedir meu pai, mas não o fiz.

— Por… Por quê? — indaguei, já sabendo o rumo que aquela conversa tomaria.

— Porque eu estou apaixonado por você. Desde o primeiro dia que te vi. — Cristopher disse isso como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Depois, me soltou e respirou fundo. — Agora, me exile. É isso que eu mereço.

— Não posso…

— Você pode e deve.

Não deveria ser tão difícil.

— Me desculpa. — senti algumas lágrimas. — Se eu pudesse…

— Savanna. Faça o que você deve fazer.

Ouvi a voz de Onum em minha cabeça e repeti as mesmas palavras já usadas antes. Cristopher sorria pra mim, me incentivando a continuar, mas eu sentia que meu coração estava pesando uma tonelada. Reprimi um soluço quando vi que ele tinha desaparecido.

Não deveria ter sido tão difícil, pensei novamente.

Mas foi.

E eu não gostava nem um pouco do motivo.


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Notas finais do capítulo

E aí?
Não sei quando eu volto a postar. Não esperem muito, ok?
Beijos e até os reviews!



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