Dorcas Meadowes.

Lene estava chorando, e eu não sabia o que fazer.

Geralmente era o contrário.

– Lene, o que houve? – Perguntei me agachando em sua frente.

– Acabou. – Ela falou entre soluços.

– Acabou o que?

– Black... Nós terminamos algo que nem havíamos começamos direito.

Ah... Então era isso.

Bom, eu sempre soube que Lene e Black se gostavam, mas que nunca iriam admitir isso publicamente. E também sabia que eles tinham “intimidade” um com o outro, se é que você me entende.

Mas nunca pensei que Lene estivesse tão envolvida a ponto de ficar daquele jeito.

Tudo bem que, para algumas garotas, chorar por quem gostam é coisa pouca. Mas pra Lene é muita coisa, como se uma formiga estivesse movendo uma rocha.

Eu estava abrindo a boca para dizer alguma coisa quando a porta foi aberta e uma Lily animada entrou por ela:

– Meninas vocês não vão acredit... Lene? – Sua expressão de felicidade logo se transformou em uma careta preocupada.

Lily se sentou ao lado de Lene na cama e envolveu seus ombros com um braço.

– Aconteceu alguma coisa amiga?

– Eu e Sirius terminamos. – Lene começou – Logo depois daquilo que você viu.

– Eu sinto muito, Lene.

– Não sinta, aquilo nunca iria pra frente mesmo. Foi melhor assim. – Ela falou secamente, voltando ao seu tom de voz normal enquanto parava de chorar.

A Lene que eu conhecia estava de volta.

Lily Evans.

Minha felicidade tinha ido dar um passeio no jardim quando vi Lene chorando.

Eu poderia ver James Potter como um mendigo. Remus Lupin sendo taxado de burro e Sirius Black se convertendo para a igreja, que não me surpreenderia tanto quanto ver Lene chorando.

Minha humilde e pequena pessoa estava pensando em coisas que não me surpreenderiam tanto quanto ver Lene chorar quando fui atingida por um travesseiro.

– Lily Evans, me responda quando eu falar com você! – Sibilou Lene.

Pelo visto ela já estava mais que bem.

– Responder o que? – Perguntei. Ainda estava pensando se Sirius Black seria mesmo aceito em uma igreja.

Talvez para faxineiro.

Mas ele era tão pecaminoso que até disso eu duvidava.

– Por que você chegou toda saltitante? Parecia que tinha espetado o pé!

Lene... Tão meiga.

– Você e o James, sabe... – Dorcas começou – Fizeram aquilo?

Aquilo? Hãm?

– Aquilo o que?

– Transaram. Fizeram sexo. Fizeram amor. Se reproduziram. Não sei qual foi o termo que sua mãe usou quando teve aquela conversa com você. – Lene explicou.

Ah... Aquilo.

– Meu Deus, não! Nós nem nos beijamos, somos só amigos.

– Tem certeza Lily? Certeza que não sente nada pelo James? – Perguntou Dorcas.

Eu tinha, não?

Amus... Eu amava Amus.

Eu acho.

– Claro que não, Doe. Mas deixa eu contar pra vocês, James me levou em um campo de margaridas que o rei deu para a rainha como presente de casamento. Foi incrível, sabe? A coisa mais linda que eu já vi em toda a minha vida.

E a companhia também não ficava pra trás...

– Bom, você pode até não sentir nada por ele, mas ele sente por você. E não seria nada mal hein? Viver nesse castelo, se tornar rainha ao lado de um gato e de duas amigas maravilhosas. Quem não quer essa vida? Principalmente pelas amigas maravilhosas. – Dorcas falou.

– É exatamente pela parte das amigas maravilhosas que eu não quero. – Disse fazendo uma careta.

– Vai se f... – Lene começou.

– PERAÍ – Dorcas subiu encima da cama e a gritou – ELA NÃO NEGOU A PARTE DE SER RAINHA AO LADO DE UM GATO. LILY AMA O JAMES!

Lene estava rindo da cara – de babaca – que eu fiz. Fui pega nisso?

Eu, Lily Evans, rainha das piadinhas e truques sem graça fui pega nisso? Oh Deus, me leve para reinar do teu lado como um sábio anjo ruivo. Os mortais estão me contaminando.

Juro que aprendo a tocar harpa.

Me leve antes que seja tarde demais.

– Jesus me leva pra luz pra ver se a loucura reduz. – Falei enquanto me jogava de cara na cama, ao lado de Dorcas que estava pulando e rindo como uma criança que descobre que 2+2 é 4 e não 22.

– Viu? Ela até tá fazendo poesia! – A loira afetada falou, como que comprovando sua teoria.

– Agora foquem aqui – Começou Lene, batendo as mãos para pedir atenção – Hoje terá uma reunião das Selecionadas com o príncipe e alguns outros cavalheiros da alta-sociedade. Lily tem que estar divina, certo? Não quero ter um afilhado pobre.

– Lene! – Reclamei.

– Ele não vai ser meu afilhado? – Lene levantou uma das sobrancelhas para me desafiar a falar que ela não seria a madrinha de uma criança que nem existe.

– Não isso. A outra parte. Não se deve escolher uma pessoa pelo dinheiro, e sim pelo amor.

– Foi sua mãe que disse isso? – Ela perguntou.

– Não, ela pensa como você. – Falei revirando os olhos.

– Uma mulher sábia.

– Ok gente, Lily escolha uma pessoa rica que você ame, simples. Voltando para ‘Lily estar divina’, o que vamos fazer com esse pequeno saco de estrume vermelho? – A loira afetada perguntou enquanto abria o guarda-roupa para checar os vestidos.

– Vou ignorar essa última parte, e minha querida, hello, eu já sou divina. – Falei e joguei uma almofada nela, que riu.

– Como está o seu humor hoje? – Perguntou Lene.

– Hãm?

Como assim?

– Você está alegre, sarcástica, feliz, sensual? O que quer passar com o vestido? – Lene revirou os olhos.

– Hm. Eu tô feliz, sabe? E quero ficar bem bonita também, talvez eu conheça meu futuro marido hoje. Quero uma coisa mais curta pra ficar a vontade, e nada muito colorido.

– Então um preto? Dorcas, temos algum preto? – Lene pediu.

–Temos quatro pretos. Salve nós, as melhores criadas! – Dorcas disse e estendeu os quatro vestidos na cama.

Dois eram longos, um reto e decotado e outro em estilo princesa todo cheio de brilhos. Lindos para outras ocasiões.

Um era abaixo de joelho, algo recomendado para um chá com a rainha.

O último era perfeito. Três palmos acima do joelho, rodado e de alcinha. Sofisticado e estilo menininha.

Era meigo e sensual ao mesmo tempo.

– Vai ser esse. – Apontei para o quarto vestido.

– Achei que seria. Eu sou mesmo demais. – Lene disse e mandou beijinho.

Fui tomar um banho enquanto as meninas separavam os acessórios e maquiagens, e como sempre, me embolei com todos aqueles aromas.

Eu ainda ficava surpresa. Como assim existia água com aroma de frutas cítricas e café?!

Bom, sabe o que também tem cheiro de frutas cítricas e café? Frutas cítricas e café! Pra que colocar esse cheiro na água também?

Tomei meu banho pensando nisso, e por algum motivo que desconheço, selecionei o aroma de baunilha.

E eu juro que não conheço mesmo o motivo, por que definitivamente não foi James Potter e sua preferência esquisita.

Acabei o banho e saí para que as meninas ajudassem e me arrumar.

Coloquei o vestido que marcou bem a minha cintura e minhas coxas, o salto alto – realmente alto – era preto pra combinar com o vestido e tão lindo que era um crime chama-lo apenas de lindo.

Elas aplicaram toda a maquiagem necessária, esfumaçaram meus olhos e na boca colocaram um batom nude enquanto meus cabelos estavam presos em um coque bagunçado.

– Se olha no espelho, gata borralheira. – Falou Lene.

– Que agora é Cinderela – Completou Dorcas.

E quando eu olhei no espelho tudo o que pude dizer era: Uau.

Eu estava linda, e duvidava se Lene e Dorcas não eram fadas madrinhas gordas e velhas disfarçadas de minhas amigas.

– Só que o encanto dela não acaba meia-noite. – Lene disse e sorriu pra mim me encarando pelo reflexo do espelho.

– Então Lilica, faça o favor de voltar pra cá grávida de um bofe ricaço. – A loira afetada soltou a pérola.

– E de preferência que ele tenha uma coroa. – Falou a outra afetada.

– Vocês querem que eu engravide do rei?

– Você pegou a burrice da Dorcas?

– EI!

– Ué, vocês falaram pra eu engravidar de um ricaço que tenha uma coroa! O rei é um ricaço e tem uma coroa!

– Você realmente pegou a burrice da Dorcas. – Falou Lene e colocou uma mão na testa enquanto balançava a cabeça, como se estivesse se lamentando.

– EI!

– Lily, amor da minha vida, engravide do James! – Lene explicou calmamente, como se eu fosse uma criança de cinco anos de idade.

– Ah sim. Não, obrigada.

– Mas é burra mesmo. – Dorcas falou.

– Eu prefiro amor a dinheiro.

– “Mas é burra mesmo” Dois. – Lene concordou.

– Tão burra que está atrasada. – Dorcas falou rindo.

Jesus desce da cruz por que... Por que sei lá, rimou.

– Vou indo, me desejem sorte. – Pedi.

– Vai lá e arrasa. – Dorcas disse.

– Não me volte aqui sem um homem rico pra se casar. – Nem preciso dizer quem falou isso né?

– Amor, amor e amor, meninas. Dinheiro é só um adicional. – Falei rindo e abrindo a porta, mas quando me virei para o corredor – James?

James Potter.

Como hoje seria o jantar entre a alta-sociedade e as meninas estavam convidadas, resolvi buscar Lily em seu quarto.

Não era por que eu queria ouvir o som de sua voz e mantê-la longe de todos aqueles homens, não mesmo. Era por que precisávamos conversar sobre o nosso trato, afinal, ela iria observar as outras meninas pra mim.

Pretendo dispensar mais dez amanhã.

Estava pronto para bater na porta quando entreouvi uma conversa:

– Lily, amor da minha vida, engravide do James! – Uma voz que supus ser a da Lene falou.

– Ah sim. Não, obrigada. – Essa foi a Lily.

Qual era o problema de engravidar de mim afinal?

– Mas é burra mesmo. – Acho que essa foi a voz da Dorcas.

– Eu prefiro amor a dinheiro. – Lily disse simplesmente.

Amor. Não dinheiro.

Eu sabia que Lily não estava interessada em mim ou na minha coroa, mas daí a preferir amor a dinheiro...

Era exótico, digamos assim. Incrível e admirável também.

E depois de mais algumas coisas ditas que não prestei atenção:

– Amor, amor e amor, meninas. Dinheiro é só um adicional. – Lily falou abrindo a porta – James?

Estava linda. O vestido que usava – que estava curto demais para o meu gosto – valorizava o corpo dela. A maquiagem valorizava os olhos, e os cabelos valorizavam todo o resto.

E ela estava indo direto pros olhares daqueles caras...

– Você vai assim? – Perguntei de uma maneira grossa demais.

Seu rosto que estava sorridente murchou rapidamente e me arrependi por minhas palavras no mesmo instante.

Ela puxou uma parte do vestido pro lado e olhou para o mesmo enquanto dizia:

– Você não gostou? – Ela perguntou com uma voz triste que me partiu o coração.

– Você tá linda Lily, muito mesmo. Mas é que... – Decidi não concluir.

Afinal, por que eu estava tão incomodado?

– Mas é que...? – Ela instigou.

– É que você vai roubar todo meu brilho de astro rei. – Eu disse fazendo voz de gay.

– De astro príncipe, meu querido. – Ela disse rindo e entrelaçando seu braço no meu. – Vamos lá. – E me puxou.

Me puxou enquanto tudo o que eu queria era esconde-la em um lugar que só eu pudesse vê-la.