Aqui estou eu, indo para um país novo. Provavelmente faria amigos, e era o que esperava, mesmo sentindo falta dos meus antigos amigos, dos meus amigos de infância. Provavelmente teria problemas, como tinha na antiga escola, provavelmente choraria e sorriria lá, mas queria sorrir e chorar no meu antigo país, onde não teria problemas de ser novata, nem de fazer amigos, muito menos de aceitação... Porém, tinha uma coisa que eu não queria e não esperava que acontecesse... Me apaixonar, até porque já havia me apaixonado e não gostei das consequências daquilo, mas não estava afim de lembrar disso.

E dentro do avião me lembrava de tudo por que tinha passado, todas as brincadeiras de quando pequena, todas as paixonites que havia tido, dos meu amigos de infância (Ken e Haruna) e daquilo que não queria lembrar, mas as lembranças tornavam a penetrar meu cérebro e por mais que fizesse força pra não lembrar, não conseguia, e as lágrimas que caíam, se por um lado pudessem ser de felicidade pelas lembranças boas, naquele momento para mim eram amargas e incessantes. Mas não podia ser assim! Não agora, estava começando uma nova vida, sem dores ou pesadelos. Resolvi dormir, as lembranças relutaram a me deixar em paz, mas,por fim, consegui dormir algumas horas.

Acordei com uma mensagem de Haruna:

–Já sinto o coração apertar de saudades... Seja feliz e viva, amiga, você merece!!!Ah, tu tá intimada a me dizer como é aí, ok? Assim que chegar, manda uma mensagem pra mim, pleeeeeease?! Kisses&Hugs - Haruna.

Fiquei extremamente feliz por sua mensagem, Haruna era o tipo de pessoa que te animava, mesmo vendo a situação piorando. Me lembrei quando disse que tinha que me mudar, ela relutou com todas as suas forças a sua tristeza interna pra me encorajar, mas por dentro ela estava péssima de verdade por ter que me deixar ir. Sentia ela travar e caçar palavras para me dizer, mas só conseguia repetir freneticamente: “Vai dar tudo certo! Não fica assim, vou te visitar assim que puder, amiga, prometo.” E isso me doía ainda mais porque eu a amava, ela era a única que ficou do meu lado depois que Ken foi passar um tempo na Academia Militar.

Sem hesitar comecei a digitar e logo havia acabado minha mensagem:

–E eu, não? Ahhh, amiga, eu quero voltar, só de imaginar você aí sem mim e sem o Ken... Mas enfim, te amo muito, tá, e logo logo eu te mando uma mensagem, pelo que vi só falta uma hora de viagem.Bjs *Izumo*

–Haruna...-Murmurei sem nem me dar conta.E uma lágrima solitária escorria do meu olho.

O resto da viagem não foi tão nostálgico, deve ter sido porque estava escutando música e isso quase sempre me fazia fugir da realidade. Desci do avião com meus pais conversando mais que o normal, talvez por estarem excitados pra conhecer a cidade... E por que não estariam? Sair de Osaka pra morar na França, uma cidade extremamente importante. Não os culpo por ter que me mudar, meu pai crescia mais e mais em seu emprego e eu acabo por entendê-lo.

Quis ir logo pra casa porque estava cansada ao extremo com todo aquele processo e com a viagem.Cheguei em casa e não vi mais nada, apenas o despertador no dia seguinte marcando 6:30. Corri, agradecendo ter dormido por cansaço, pois tinha que me acostumar como fuso-horário dali de agora em diante.Tomei banho; escovei os dentes; vesti a primeira roupa que vi; desci; tomei café e pus uns 27,00 euros no bolso para comprar qualquer coisa de que precisasse, pois, como era meu primeiro dia de aula lá, não possuía material nem nada; calcei meus All Star (sem meias porque de verdade eu detestava usá-las) e saí com meu GPS na mão, já que ainda não sabia o caminho (só sabia que era perto).

No meio do caminho, gelei ao lembrar que não mandara a mensagem para Haruna, que ansiava tanto por ela. Sem hesitar, disquei seu número e liguei pra ela:

–Haruna? Amiga, me desculpa! Assim que cheguei em casa, dormi, e só pude te ligar agora. Me desculpa mesmo, Haruna, por favor!

–Deixa de ser boba e pára de desperdiçar tempo se desculpando! Me fala logo, como são as coisas aí?

–Na verdade eu nem me toquei em observar... Só sei que é um pouco mais quente que o normal! Ops, tô atrasada pra escola, tenho que ir, amiga, te ligo quando as aulas acabarem! Beijos, te amo.

–Ok! Também te amo, Izumo, e vê se não se esquece de me ligar.

–Pode deixar. Tchau!

Desliguei o celular e conectei o GPS novamente. Depois de uns 10 minutos estava em frente a uma escola bem grande com um letreiro escrito “Sweet Amoris”.Respirava fundo, nervosa demais por sinal, minhas mãos gelavam. Sem pensar no que estava por vir, entrei, e vi que o pátio era quase a metade da escola de tão grande. Empurrei a porta que ligava o pátio aos corredores e percebi que ainda não havia batido o sinal para as aulas, muita gente estudava ali, e era, a maioria, gente de elite. Alguns me olhavam com desdém, outros com curiosidade e outros não se importavam muito com minha entrada. Fiquei meio que perdida por não saber quem poderia me ajudar, então logo procurei alguém pra me orientar no meio de tanta gente: era difícil porque muitos deles eram estranhos e me olhavam diferente. Finalmente achei alguém que poderia me ajudar, era uma garota linda, tinha os cabelos violeta e os olhos ternos, parecia meio distante do mundo, mas acho que estaria disposta a me ajudar. Sorri para ela pra ver sua reação, mas percebi que ela não tinha me visto, então resolvi ir em sua direção, mas esbarrei em um garoto loiro com um jeito meio nerd, mas muito bonito, parecia um anjo. Me levantei num salto, morrendo de vergonha, e me abaixei para pegar uma papelada que tinha caído na hora do esbarrão.

–Me desculpa! Não conheço a escola e estou meio perdida - falei torcendo para que ele não fosse um daqueles que me olhavam com nojo. Estava ficando meio nervosa e meu jeito atrapalhado não ajudava muito, mas ele parecia tranquilo e sereno demais pra se irritar comigo. Fiquei esperando sua reação.
–Fica tranquila, você deve ser a Izumo, prazer em conhecê-la sou Nathaniel, o representante. Já vi sua ficha. Ah, preciso de uma foto sua, você pode trazer am-

–Hum, vejo que não preciso mais mandar você procurar o Nathaniel, senhorita - uma senhora baixinha de cabelos brancos o interrompeu. - Izumo, eu sou a diretora Erika, prazer em conhecê-la. Nathaniel, por favor, se não estiver ocupado, ajude-a a ver o resto da escola -ela já havia ido embora com seus passos curtos e apressados.

–Ok, diretora, vamos Izumo?

–O-ok- gaguejei nervosa e o segui pelos corredores que pareciam nunca acabar. Só o ouvia dizer os nomes das salas e a turma de cada uma... Enfim, chegamos à uma biblioteca,que por sinal era enorme, um encanto pra mim que mesmo extremamente ligada à música amava ler também. Era uma coisa peculiar gostar de livros e música, mas eu gostava porque me tornava diferente dos outros à minha volta.

–Aqui é onde eu passo a maioria do meu tempo, até mais que na sala de aula e na sala dos representantes.

–Então não tem apenas um representante?

–Na verdade, não, tem vários, um por turma, mas eu sou meio que o líder deles.

–Ah, você é meio que o presidente? - brinquei.

–Não, não diria isso, sou apenas um aluno que faz seu dever com esforço - ele riu, meio tímido. Parecia ser bem diferente dos outros ali. Uma parte minha,uma pequena parte, gostava daquilo, daquele jeito certinho de ser, mas meu lado meio louquinha ficava com vontade de mudá-lo.

–Ah, que isso! Você parece ter uma responsabilidade muito grande com todos aqui na escola, e, pelo que vejo, mesmo que você se sobrecarregue um pouco, você gosta disso e se sente bem cuidando dos alunos e da escola - falei meio hesitante, até porque mal o conhecia e não tinha intimidade para dizer aquilo a ele.

–Ah, obrigado, já que é isso que você acha - ele corou.

Eu assenti e logo depois disso ouvi o sinal tocar.

–Tenho que ir, como já sei em que sala irei ficar, eu já vou indo. Você vem?

–Não, tenho que cuidar de uma papelada aqui, mas fico agradecido pelo convite - ele sorriu, novamente aquele olhar sereno, mas não era muito o tipo de garoto que me encantava, como já havia dito antes, meu jeito maluca e desajeitada se sobressai.

–Está bem, até mais, talvez... - ele assentiu, eu sorri e saí correndo pra minha sala.