Ah! Finalmente dia primeiro de setembro! Hermione sorriu ao acordar e perceber que retornaria a Hogwarts, a coisa que a castanha mais desejava nessa última semana. Apesar de o clima entre ela e Gina ter melhorado perceptivelmente, a amiga ainda lhe lançava olhares de censura e significativos em todo momento em que ninguém estava olhando, se esforçando ao máximo para não fazer com que a outra se esquecesse da promessa que havia feito. Como se fosse possível! O ocorrido entre ela e Draco Malfoy não saía dos pensamentos da garota por um minuto sequer, fosse acordada ou não, até porque, sonhara com a mesma coisa durante os sete dias.

Era um dia ensolarado e quente, e Hermione se encontrava debaixo de sua árvore favorita dos gramados de Hogwarts, aquela cuja qual lhe permitia ter uma visão privilegiada do Lago Negro. Ela lia um livro tranquilamente, alternando sua atenção entre as páginas e as aparições da Lula Gigante, acompanhadas sempre com água lançada para todos os lados. Então, sentia mãos macias tamparem seus olhos, e a voz suave de seu namorado, Ronald Weasley, ecoava em seus ouvidos.

- Ei, Mi, vim ver como estava. - ele dizia.

A garota então se virava e fitava aqueles lábios rosados altamente beijáveis, que esboçavam um sorriso, as sardas ao redor do nariz, aqueles olhos azuis com um brilho especial e as madeixas ruivas que reluziam ao Sol. Sem pensar duas vezes, tornava a fechar os olhos e beijava o garoto, que logo retribuía. Ao abrir os olhos novamente, porém, não via os orbes fitados anteriormente, e sim, os de um cinza intensos, levemente azulados. Percebia então, que os cabelos que seus dedos acariciavam, eram na verdade loiros, ao invés de alaranjados, e suas feições se tornaram mais finas, sem sardas, a pele mais lisa do que a de um bebê. Hermione tentava protestar, afinal, como aquela doninha quicante ousava se intrometer em seu sonho? Mas antes que pudesse produzir algum som, a voz sexy e rouca do garoto soava imponente.

- Shiu, Granger, você fala demais. - e atacava os lábios da castanha com os seus, dessa vez com ferocidade, explorando cada centímetro da boca de Granger. Exatamente como no sexto ano, nos armários de vassouras, salas de aulas vazias e cantos escuros.

Depois disso, ela acordava assustada e não conseguia, pelo resto do dia, tratar Rony como se deve tratar um namorado, já que sua mente era tomada pelo sonho - ou seria pesadelo? - a cada beijo. Não podia tampouco contar com Harry, já que o moreno gastava cada segundo de seu tempo com Gina, sua namorada, e Hermione não queria atrapalhar de forma alguma.

Assim, com grande animação, ela se levantou da cama, espreguiçando e bocejando, e rumou para o banheiro, onde se higienizou e arrumou os cabelos fartos prendendo-os em um coque frouxo. Voltando para o quarto, trocou seu pijama por Jeans e uma camiseta, de modo que já estava calçando os sapatos quando o grito da Sra. Weasley mandando-os acordar ecoou dentro do quarto. Desceu as escadas seguida pelos três, ainda muito sonolentos e sentou-se à mesa para tomar outro café-da-manhã farto e delicioso preparado pela Sra. Weasley .

* * *

Draco desceu as escadas da mansão Malfoy carregando seu malão, pousando-o no carpete da sala. Seu pai, Lúcio Malfoy, encontrava-se em seu quarto, como ficara todos os dias desde seu primeiro julgamento. Mesmo depois de tudo que já havia feito, seu sobrenome ainda era respeitado – e temido – dentro do Ministério da Magia, de forma que sua audiência havia sido adiada para dar lugar a outras visivelmente menos relevantes. Ainda sim, fora submetido à prisão domiciliar até o dia de seu julgamento final. Sua mãe estava sentada à mesa da copa sozinha, com uma aparência cansada. Dera um mínimo sorriso os ver o filho, depositando um beijo em sua face quando este a cumprimentara.

- Bom dia, filho, dormiu bem? Preparado para voltar a Hogwarts? - perguntara fitando-o intensamente.

- A senhora sabe que estou voltando lá pra te ver feliz, não sabe, mamãe? – suspirou sentando de frente para Narcisa. – Sabe que, por mim não voltaria lá?

- Vai me agradecer depois, filho. Esse é o último ano que tem para consertar seus erros. Essa é sua segunda chance, Draco. E é a última que vai ter. – ela esboçou um sorriso de encorajamento e terminou de comer o que estava em seu prato, assim como o loiro.

- Pronto pra ir, filho? Importa-se se eu for com você? – acrescentou diante a resposta positiva do outro.

- Adoraria mamãe! – falou antes de aparatarem.

* * *

A Plataforma 9¾ estava mais cheia do que o normal, já que este ano haveria um ano a mais: seriam dois sétimos anos. Hermione, Harry, Gina e a Sra. Weasley já haviam atravessado a barreira quando a maioria dos presentes virou a cabeça para a barreira e começaram a cochichar instantaneamente. Draco e Narcisa Malfoy acabaram de chegar à plataforma, atraindo olhares e comentários.

- Não acredito que ele voltou!

- Ah, mas é muita cara de pau!

-Traidor! A diretora não deveria aceitar Comensais da Morte em Hogwarts!

Um desses inúmeros estudantes era Rony, que recebeu um olhar de censura de Hermione.

- O que foi, Mione? É realmente decepcionante saber que esse filhote de Comensal vai ficar andando livremente no mesmo lugar que nós! – disse quando Molly atravessou a barreira e voltou para a Estação King’s Cross.

- Para de julgar, Rony. Ele pode ter mudado, você nunca conviveu com ele pra saber...

- E nem quero! – interrompeu-a – Vou conviver com o Malfoy no dia em que vocês se apaixonarem! – ele riu acompanhado de Harry, pensando em quão engraçado foi o que disse, mas ao levantar seus olhos viu que sua namorada olhava para os pés, enquanto Gina lhe olhava intensamente.

- O que há com vocês duas? – perguntou franzindo a testa. – O que estão escondendo de nós, afinal?

- Nada! Absolutamente nada! – respondeu Hermione depressa com a voz esganiçada. – Só não acho justo você ficar falando esse tipo de coisas pelas costas dele!

- Hermione, nós salvamos a porcaria da vida dele, o que automaticamente nos dá o direito de falar o que quisermos. - se intrometeu Harry.

- Vocês dois são impossíveis! – exclamou bufando. – Eu vou procurar uma cabine vazia enquanto ficam aí decidindo que ofensas vão usar da próxima vez, igualmente como duas criancinhas fariam! - e saiu pisando duro em direção à locomotiva.

- Que diabos deu nela? – perguntou Rony confuso, observando os cachos castanhos sumirem na multidão. – Ela anda meio estranha ultimamente, não acha, Harry? Ela ficou assim do nada!

- Verdade, – concordou o moreno – vai ver ela está com TPM, sei lá. Já falei pra ela escrever um livro sobre a mente feminina, é complicado demais para minha massa cerebral. – os dois riram descontraídos.

- Eu fico me perguntando, como podem ser tão tapados desse jeito? – retorquiu Gina com um quê de impaciência na voz. – O mínimo que poderiam fazer é perguntar o que há de errado, mas pelo visto é mais fácil ficarem aí inventando suposições ridículas!

- O que quer dizer com isso? Claro que não há nada de errado com a Mione! Eu sou o namorado dela, é meio obvio que seria o primeiro a saber! – irritou-se Rony.

- Sabe o que mais me impressiona? Você, Rony, tem tanto medo de estar sendo enganado que confia cegamente no seu ego! – retrucou maldosamente, já irritada.

- Você está insinuando que ela está me escondendo algo, Ginevra? – acusou com as orelhas escarlates.

- Não sei, Ronald, por que não pergunta pra ela? – disse por fim, bufando e indo atrás de Granger.

***

Hermione entrou no trem arrastando seu malão, sem nem olhar pra trás, com raiva de si mesma por não ter conseguido disfarçar. Burra, burra, burra! Ela pensava consigo mesma. Se seu namorado tivesse ligado os dois pontos, tudo estaria perdido.  Começou a puxar seu malão com mais força, frustrada e amaldiçoando Malfoy por ter começado com aquilo tudo.

- Ai! – uma exclamação de dor e uma barulho surdo a informara que tinha acertado a canela de alguém com o malão. Ela já ia se virar para pedir desculpas quando percebeu quem acertara.

-Draco? – Hermione repreendeu-se mentalmente por continuar tratando-o pelo primeiro nome. Culpou-se por sentir borboletas no estômago ao encarar aqueles lindos olhos cinzentos que perturbavam seus sonhos constantemente nos últimos dias.

-Hermione. – O garoto deu um sorrisinho de lado, que fez a castanha suspirar, sem conseguir se conter.
A garota estava prestes a dizer alguma coisa para o loiro, qualquer coisa, apenas para que a atenção dele continuasse restrita à ela, quando sentiu alguém se aproximando. Virando-se para trás, se deparou com a melhor amiga encarando-a, nervosa.

Hermione engoliu em seco, baixando os olhos e sentindo-se culpada novamente. Percebeu que Malfoy se afastava e isso só fez com que ela sentisse ainda mais a importância de resolver aquilo rapidamente. Ela precisava conversar com Rony, precisava organizar seus pensamentos e precisava entender o que ainda sentia pelo antigo rival. Estava assustada e sabia que se não colocasse a situação em ordem, iria perder não apenas Rony, mas também Draco, e nada poderia ser pior do que aquilo.

Sem dizer nada, Gina virou-se e recomeçou a andar, deixando Hermione sozinha com os próprios pensamentos. Ela se viu obrigada a procurar alguma cabine vazia, mas, não encontrando nenhuma, limitou-se a sentar com Neville, Simas, Dino e Luna. Encostou a testa no vidro, suspirando, e logo fingiu estar dormindo, apenas para evitar perguntas embaraçosas. Depois de um tempo, acabou realmente adormecendo e quando Neville a cutucou no ombro informando que haviam chegado, levantou-se, sentindo-se cansada, antes mesmo do primeiro dia.

E se as coisas continuassem assim, não seria nada fácil.