Lá estava eu mais uma vez andando pelas ruas de Ikebukuro no meio da madrugada. É realmente impressionantes ver como aquela cidade é quieta durante a noite, fora pelas gangues coloridas que às vezes apareciam pelos cantos rindo bêbados muitas das vezes depois de brigarem uma com as outras. Humanos são tão previsíveis. Mas você deve estar se perguntando o que eu estaria fazendo ali sozinho... Ou de repente não, bem, eu estava fazendo um pequeno trabalho que não é importante expl....

De repente percebo que estou de costas para a calçada com uma maquina de refrigerante gigante em cima de mim me imobilizando.

— Ii-zaa-yaaaa-kuuuun! – Uma voz familiar canta meu nome.

Merda! O que ele estava fazendo acordado há esta hora? E mais importante, como eu ia tirar esse treco de cima de mim? Isto parecia pesar uma tonelada, não eram como as máquinas comuns que Shizuo joga, essa era tão pesada que só nesses poucos segundos todo meu corpo doía. Eu tentava empurrá-la para o lado com o ombro sem parecer desesperado, mas a máquina não saia do lugar. Afinal, de onde raios ele tinha tirado isso?

— Izayaaa! – Dava para ver por sua voz que ele estava mais perto.

Uns poucos segundo depois a maquina vira para o lado amassando a parte esquerda de meu corpo com uma força mais forte ainda, e é arremessada para longe de mim. O pouco tempo que a maquina ficou sobre meu lado esquerdo já me fez sentir uma dor horrenda, porem não tão pior quanto a que estava em minha perna direita.

Shizu-chan estava parado a minha frente me olhando com um sorriso de vitória, suas mãos estavam dentro dos bolsos de sua calça. Como eu estava deitado não tinha como ver detalhes dele.

— S-shizu-chan – Eu disse fraco tentando manter o rosto indiferente apesar da dor que agora era menor já que a máquina não estava mais sobre mim. Tentei me levantar, o que foi um erro já que a dor em minha perna ficou pior, pelo jeito eu a tinha quebrado, então só fiquei sentado olhando para o homem mais forte de Ikebukuro. Minha mão já estava no bolso para pegar a faca caso ele desse um passo em falso, não a sacaria antes disso, porque ele poderia investir contra mim, e no estado em que eu estava se ele me desse um soco provavelmente eu não conseguiria escapar a tempo.

— Eu já não mandei você ficar longe de Ikebukuro? – Perguntou ele se aproximando mais um pouco.

— Eu tinha que fazer uma coisinha aqui... E também não esperava que você fosse estar na rua há essa hora, Shizu-chan.

— Porque não se levanta? – Disse ele, para minha surpresa. Geralmente ele só grita xingamentos e tenta me tacar algo pesado que possa me matar, será que ele estava se controlando? Ele queria me ver tanto assim, machucado, que conseguia pensar em não me bater pelo menos por um tempo?

Apesar da dor, eu me levantei – distribuindo todo a peso para a perna esquerda – e fiquei de frente para ele.

— Pronto estou de pé... mas Shizu-chan, porque não adiamos essa luta para um outro dia? Eu estou meio que ocupado no momento.

— Que foi Izaya, ta sentindo dor? – Disse ele debochando.

Mas uma vez me surpreendi. Pelo jeito já devia estar na cara o meu estado real, então, para que mentir?

— É claro que estou.

Essa o pegou de surpresa, provavelmente ele estava esperando uma negação.

— Sua pulga insignificante, só hoje te farei um favor, depois que quebrar a sua cara te levo pro Shinra ajeitar de volta. – Disse Shizuo já contendo um pouco da raiva.

— Shizu-chan, vamos, me deixe sair dessa, te recompenso mais tarde.

— Acha que é tão fácil assim, pulga? – Disse ele ao tentar me dar um soco no rosto com a mão direita, por sorte ou por azar eu consegui me esquivar agachando-me. Não. Agachando-me não é a palavra certa, me jogando é mais apropriado. A parte da sorte foi porque não tinha levado o soco, mas a parte do azar foi porque quando me abaixei, seu corpo foi para frente pelo impulso e isso fez com que ele caísse e seu joelho batesse em meu peito o que me fez cair com ele sobre mim.

— Aaahn – Deixei escapar um gemido de dor.

Shizuo estava com seus dois joelhos um de cada lado de meu peito, do modo como eu estava, deitado com os dois braços acima da cabeça, – Já que Shizu-chan me impedia de abaixa-los com seus joelhos – eu só conseguia ver seu abdômen por cima de mim, rapidamente Shizuo se endireitou, mas não para levantar e sim para ficar com o rosto mais próximo do meu, ele estava tão perto que eu conseguia sentir sua respiração, seu rosto estava totalmente corado e com certeza o meu estava igual.

— Não vai levant...

De repente sou impedido de falar pela boca do homem acima de mim, seus lábios são macios e totalmente irresistíveis, mesmo sendo apenas um selinho. Me surpreendi comigo mesmo, eu queria mais, muito mais, eu queria tanto que ignorei a dor em minha perna e tentei tornar o beijo mais serio, ao abrir os lábios e tentar pedir passagem com a língua, no começo vi que ele hesitou, mas acabou cedendo, depois percebi o porquê dele ter hesitado, não era por surpresa de eu estar correspondendo era porque ele com certeza não tinha experiência quase nenhuma, dava para ver que ele não sabia o que estava fazendo. Isso o fazia mais irresistível ainda e também mais manipulável. Terminamos o beijo só por falta de ar. Shizu-chan estava totalmente vermelho e quando percebeu que eu o olhava ele rapidamente virou o rosto. Tudo isso por causa de um beijo? Resolvi aproveitar aquele momento para tirar dele algumas respostas.

— Nee Shizu-chan, por que me beijou se você me odeia?

— Urusei.

— Ainda ta em cima de mim Shizu-chan, esta querendo mais um beijo?

— Urusei pulga maldita antes que eu te mate. – Reclamou ele ao mesmo tempo em que se levantava, antes que ele saísse por completo por cima de mim o puxei para mais um beijo. Nós dois sabíamos que depois desse dia tudo voltaria ao normal, então se era minha única chance que pelo menos ela seja completa. Shizuo não esperava por isso, então na hora que ele voltou para mim não teve muito tempo para se posicionar corretamente e acabou se estabilizando com uma das pernas em cima da minha quebrada, soltei um gemido de dor baixo – mesmo depois de tentar impedi-lo – mas mesmo assim ele ouviu e rapidamente tirou a perna de cima da minha, na mesma hora puxei a gola de sua camisa e quando seu rosto veio de encontro ao meu o beijei, dessa vez tentei controlar mais o beijo, ajudaria mais se eu estivesse por cima, ficar naquela posição – deitado tendo que levantar a cabeça – era desconfortável. O beijei mais intensamente do que antes, tentando aproveitar cada detalhe, sua boca incrivelmente quente, o gosto de tabaco que sempre pensei que nunca fosse gostar, sua língua que explorava cada canta de minha boca igualmente eu fazia com ele, tudo estava tão bom que não aguentei e o puxei para mais perto segurando seus cabelos, ele fez o mesmo só que com a minha cintura. Tudo estava perfeito, ate que faltou ar, que foi quando nós separamos enquanto eu mordia seu lábio inferior. Quando Shizuo se deu conta do que tínhamos feito rapidamente me largou com o rosto parecendo um tomate de tão vermelho, eu também estava corado com certeza, mas num tom de vermelho bem mais claro que Shizuo provavelmente. Ele parecia tão inocente e facilmente quebrável assim, era tão tentador.

Shizu-chan se levantou, eu me sentei, ele parou a minha frente e parecia tentar dizer algo, porem não saiu nada então ele só virou as costas e andou calmamente pelo caminho que tinha vindo.

— Hidoi Shizu-chan, você vem, me quebra, me beija e nem me ajuda? ! – Falei alto para que ele me ouvisse mesmo a alguns metros de mim.

Ele nem chegou a olhar para trás.

— E o pior é que você ainda me faz gostar disso. – Eu disse, quando ele já estava longe demais para me ouvir.

Shizu-chan me fez ver uma coisa inesperada hoje, eu era como todos os humanos, facilmente enganado, facilmente convencido e facilmente vulnerável ao amor.