Pov Katniss

Já faz um tempo que estou acordada. Com a mamãe pegando cada vez mais plantões no hospital desde que meu pai morreu, eu fiquei com a responsabilidade de acordar mais cedo, fazer o café da manhã e acordar a Prim, minha irmã mais nova, que tem 14 anos.

Pode parecer que já aceitei bem a morte do meu pai, mas não é verdade. Faz só 4 meses que ele morreu, em uma acidente de carro e desde então minha mãe se afundou no trabalho. Ela é enfermeira, e agora quase não para em casa, vive no hospital, parece até que ela evita o máximo possível ficar em casa. Tenho que admitir que muitas coisas da casa lembra o papai, e isso deve ser muito doloroso para ela.

Escuto um barulho no quarto de Prim. Parece que ela e sua melhor amiga, Rue, que dormiu aqui, já acordaram. Melhor, assim não terei de acordar elas com um ataque de cócegas. Pode até ser estranho, mas eu tenho tratado Prim mais e mais desse jeito nos últimos meses, tentando substituir a dor pela perda do nosso pai com brincadeiras e sorrisos.

Essa foi uma das razões por eu não implica por Rue ter dormido aqui outra vez, já é a terceira vez no mês, e não estamos nem na metade do mês ainda! Mas eu a entendo, se não fosse por Clove e Mindy (que todos chamamos de Fox face, por ela ser muito inteligente) minhas melhores amigas, e por Gale, meu melhor amigo, eu não sei se conseguiria ter lidado com tudo o que aconteceu.

As meninas chegam à cozinha rindo e brincando, olho para elas e fico feliz por a minha irmãzinha conseguir sorrir de novo, depois de vê-la chorando 3 dias inteiros, acho que finalmente ela está melhor.

Elas se sentam animadas na mesa de café, onde já tem algumas panquecas (que Prim adora), algumas frutas e um suco de laranja que acabei de espremer. Estou terminando de fazer o café quando escuto o barulho do carro da mamãe entrando na garagem. Pouco tempo depois, ela entra pela porta da cozinha e nos vê todas sentadas a mesa e força um sorriso, passa por Prim e Rue e dá um beijo na cabeça de cada uma e pergunta:

– Como foi à noite, se divertiram muito? Não dormiram muito tarde não é?!- Prim olha para ela com um sorriso sincero.

– Foi ótima! E não dormimos tarde, só assistimos à alguns filmes e fomos dormir. – Respondeu Prim.

– Que bom. E você Kat, dormiu bem?- ela pergunta olhando para mim.

– Dormi como sempre. –respondo, o que não era mentira. Depois de me certificar que as meninas estavam dormindo, fui dar uma volta no jardim que tenho atrás da minha casa, que na verdade é mais como um parque que une todas as casas desse bairro. Depois da volta que eu costumo dar quando estou com a cabeça cheia, voltei e tentei dormir, mas nessa noite até que consegui dormir algumas horas.

Ela balança a cabeça como quem diz "tudo bem então”, se vira para as meninas, dá um tchauzinho com a mão e sobe para seu quarto. Ela acabou de voltar de um plantão duplo, deve está exausta.

Olho para o relógio e vejo que já são 6h55min, temos 20 minutos antes que nossas aulas comecem e ainda estamos todas de pijamas!

– Vamos, vamos, vamos! Se apressem meninas, vou trocar de roupa. Quero você prontas as 7h10!- disse me levantando apressada, terminando de tomar meu café com leite e indo ao meu quarto para me arrumar.

Não demoro muito, 7h05 já estou pronta e aproveito para ligar para Clove.

– Oi! Passo para te pegar?- digo assim que ela atende, eu costumo da carona para ela já que a casa dela é apenas a 5 casas da minha e é caminho do colégio.

– Claro! Como sempre!- diz ela animada do outro lado da linha.

– Ok. Estou passando ai logo, logo. Beijos. –digo e desligo o telefone, por que se deixar, nós começamos a conversar e ai sim chegaremos atrasadas no colégio.

Quando saio do meu quarto, encontro Prim e Rue na sala com uma cara de “conseguimos nos arrumar antes de você!”. Ignoro isso pego as chaves do civic antigo que herdei do meu pai e pego a minha bolsa em cima do sofá.

Entramos no carro e eu dirijo até a casa da Clove. As meninas vão sentadas atrás e Clove entra na frente, dá bom dia para as meninas e olha pra mim, mas suas feições eram sérias. Ela move os lábios e diz sem som: ”precisamos conversar”. Tenho até medo do que pode se tratar, mas vindo da Clove, eu posso esperar de tudo!

O caminho até o colégio não é muito longo, mas hoje fazemos todo ele em silêncio. O único barulho no carro era o do rádio que agora tocava “You and me" do Lifehouse. Paro o carro e todas descem, tranco-o e me despeço de Prim e da Rue.

Clove e eu estamos indo a caminho da nossa sala, quando do nada a porta se abre e Foxface sai com as mãos no rosto, provavelmente ela está chorando. Ela corre em direção ao banheiro, não pensamos duas vezes e corremos atrás dela.

Quando entramos no banheiro, Foxface esta sentada em um canto do banheiro abraçada com suas pernas e com seu cabelo ruivo caído em seu rosto. Ajoelhamos-nos ao lado dela e a abraçamos. Depois que ela se acalma, levanta a cabeça e nos olha. Passa um bom tempo assim, até que volta a chorar novamente.

– Está bem Foxface, nós já entendemos que você tá triste, amiga, mas se não nos falar o que aconteceu, não vamos poder te ajudar! –disse Clove já meio sem paciência. Ela é assim mesmo, meio estourada.

– Clove! – digo, mas não adianta de nada. Ela simplesmente me ignora.

– Não, tudo bem, ela está certa Kat. -diz Foxface levantando a cabeça e enxugando o rosto com a manga de seu casaco. - O que aconteceu foi que... que quando eu entrei na sala, a Glimmer e a amiguinha dela começaram a implicar comigo dizendo coisas do tipo: “e ai nerdzinha” e “onde estão as suas amiguinhas? A loucona e a depressiva.”, e vocês sabem que eu não sou boa em dar respostas, eu simplesmente sai correndo de lá.

– Como é? Elas fizeram isso? Aposto que o idiota do Cato também participou.. - disse Clove com os olhos brilhando de raiva.

– Não, na verdade ele ficou só olhando. - Respondeu Foxface tentando defender o irmão, sim é isso mesmo, Foxface é irmã do babaca do Cato.

– Mas se ele não participou, ele deve ter dado corda para aquela loira oxigenada e aquela baranga irem implicar com você. Eu vou mostrar quem é a loucona!- Disse Clove, se levantando e saindo irritadíssima do banheiro. Eu já podia imaginar o que ela iria aprontar.

Foxface e eu não perdemos tempo e vamos atrás de Clove. Ela iria acabar fazendo besteira e ficando de detenção, mais uma vez. Quando alcançamos a porta da sala, percebemos que o professor ainda não havia chegado e que tinha se formado uma roda no meio da sala, de onde podíamos ouvir a voz da Clove, os gritos da Glimmer e a voz de nossos colegas de classe, alguns apoiando, outros dizendo para pararem.

Decidimos entrar no olho do furação, e lá estava Clove sentada nas costas da Glimmer puxando os cabelos dela, mas a Delly também estava puxando os seus. Se não fosse triste vê uma bagunça dessa, até que seria muito engraçado. Do outro lado do círculo, Cato está de braços cruzados assistindo a tudo com um sorriso no rosto, Peeta esta meio que tentando ir ajudar a separá-las, mas Marvel está segurando ele enquanto dá boas risadas daquela situação.

Vou para cima da Delly para tirá-la de cima da Clove, mas acabo entrando em uma briga com ela. É puxão de cabelo pra cá, aranhão pra lá, até que vejo pelo canto do olho Peeta conseguir se soltar de Marvel e ir na minha direção e tentar tirar Delly de cima de mim. Mas ela ainda estava com a minha trança na mão e eu com seus cabelos entre meus dedos, até que escutamos a voz do nosso professor de educação física gritando:

–MAS QUE BAGUNÇA É ESSA! TODO O MUNDO SENTADO!- só pela voz,parecia que ele estava bem irritado!

Todo o mundo congelou, e a situação era a seguinte: Peeta estava segurando Delly pela cintura, que estava com os meus cabelos nas mãos e eu com os dela, Cato segurando Clove no ar. Marvel e Foxface segurando cada um, um braço da Glimmer.

O professor Finnick se aproximou da gente, nos olhou analisando cada um. Respirou fundo e disse:

– Peeta, Katniss, Delly, Cato, Clove, Marvel, Glimmer e Mindy, para a coordenação. Agora!