Lily Luna Potter.

Eu iria voltar para a casa.

Ah, como esse pensamento deixa-me feliz. Estou formada há exatamente dois meses, e hoje voltarei à Inglaterra.

Saudade, já não sei se essa palavra é capaz de definir o que sinto neste momento.

Eu não gosto muito daqui, a Alemanha é muito... Comum. As pessoas são exatamente todas iguais, cabelos loiros, olhos azuis, pele exageradamente branca, posso até arriscar dizer que não exista outra ruiva além de mim.

_Já terminou de arrumar as malas, amor? - perguntou Phillipe, meu noivo, entrando no quarto.

_Quase... - respondi sorrindo, enquanto ele me abraçava por trás.

É estranho pensar que eu fora me apaixonar justamente por ele, um cara loiro, de olhos azuis e pele exageradamente branca, um típico Alemão, que tanto me perseguia nos corredores da faculdade, e era um dos poucos alemães que eu conheci que falava a língua inglesa.

_Melhor nos apressarmos - falou ele, começando a me ajudar - O vôo sai em três horas, e você sabe como é o check-in dessas viagens internacionais... Demora. - resmungou.

_Vai dar tempo... - falei.

Depois de mais alguns minutos, terminamos de arrumar tudo, nosso apartamento alugado estava com a mobília que o pertencia coberta com plásticos. E nossos pertences de maior valor já deviam estar no navio, a caminho de Londres.

_Vamos? - ele perguntou, saindo do apartamento.

_Ah... - falei, passando a mão pelo sofá. - Sentirei saudades...

_Aposto que a Inglaterra é muito melhor... - falou ele.

_É claro... - respondi sorrindo, pensando na família que eu havia deixado lá.

Chegamos ao aeroporto cerca de meia hora depois, ele estava apinhado de pessoas, visto que o natal chegaria em breve, todos queriam voltar para casa ou visitar alguém.

Fizemos o check-in, tudo correu muito bem, e duas horas depois estávamos acomodados em nossas poltronas. Phillipe olhou para mim e apertou minha mão com força, sempre teve medo de aviões.

Eu estava nervosa, e nem sequer sabia o porquê, eu iria rever minha família, aquela com a qual eu cresci, não deveria ficar tão nervosa, deveria?

O avião levantou vôo, e depois de alguns minutos, meu noivo caiu no sono, deixando-me sozinha com meus pensamentos.

“Será que ele finalmente vai estar lá?” pensei pela vigésima vez, desde que entrara no avião.

Hugo, meu antigo melhor amigo.

É incrível como ele está em todas as minhas lembranças da infância e da adolescência.

Quando eu tive meu coração quebrado por um idiota, ele estava lá me abraçando. Quando eu brigava com a minha mãe, ele estava lá me dizendo que iria ficar tudo bem.

Como pode uma amizade tão forte se perder? Eu não sei, só sei que depois que ele foi para o Canadá, e eu para a Alemanha, a nossa amizade nunca mais foi a mesma.

Éramos tão jovens quando nos separamos... Lembro-me de que ele era um garoto magro, de joelhos ossudo, cabelos cheios e castanhos, como os da mãe, e dono de dois olhos extremamente azuis, como os do pai.

Como ele me faz falta, há seis anos que não o vejo pessoalmente, mas realmente, não sei se estou preparada para revê-lo, depois de tanto tempo.

Ainda com a cabeça cheia de lembranças, adormeci, mergulhando em um sono, sem sonhos.

Hugo Weasley.

_Hugo... Huguinho... - uma voz de porcelana me acordou. - Ah, você não vai ficar dormindo em pleno sábado de tarde, não é?

Essa é Julieta, minha noiva.

_Tá bom amor, tá bom. - falei me levantando. - O que quer fazer? - perguntei.

_Que tal se fossemos passear em algum lugar? - ela perguntou.

_Ah Ju, eu não queria sair... - tentei recusar.

_Amor... - ela falou baixinho - Sua avó quer que eu ajude com as coisas para o jantar, para os seus parentes que irão chegar, você sabe como eu sou horrível na cozinha... - ela completou, ainda sussurrando.

Ai que eu lembrei o porquê de estar n’A Toca, meus pais, minha irmã e alguns tios estavam arrumando tudo para alguns parentes de fora do país que chegariam hoje, para passarmos o natal reunidos.

_Tudo bem... - concordei, realmente, Julieta e cozinha não combinam, e eu falo isso por experiência própria.

Ela sorriu e correu para pegar sua bolsa, fiquei sentando olhando os cachos loiros que pulavam em suas costas.

Logo estávamos saindo, porém minha avó nos alcançou quando saímos pelo portão.

_Hugo! Hugo! - ela corria, chamando meu nome.

_Sim vovó? - perguntei.

_Aonde vocês vão? - ela perguntou, cruzando os braços.

_Dar um passeio. - respondeu Julieta.

_Não, não e não. - falou ela, puxando-me pelo braço. - Seus tios e primos vão chegar e vocês precisam estar aqui, faz séculos que você não os vê. - ela completou.

_Eu sei vovó, mas é coisa rápida - respondi me desvencilhando. - Julieta quer passear um pouco, prometo que em duas horas estamos de volta.

_Promete? - ela pediu. - Lílian ficaria decepcionada de novo se você não estivesse aqui. - completou.

Lílian. Lily. Esse nome ecoou em minha mente. Então eu entrei em um estado de transe, ela viria.

Há quanto tempo eu não a via? Cinco, seis anos?

_Hugo? Você promete voltar? - perguntou a minha avó, tocando meu braço para chamar minha atenção.

_Ahn... É... Claro. - respondi, saindo de meus pensamentos.

_Tudo bem então, divirtam-se. - disse ela, dando um largo sorriso e virando as costas.

_Está tudo bem Hugo? - perguntou Julieta.

_Claro Julie, claro. - falei saindo da casa de meus avós.

_É, você ficou estranho de repente... - disse ela.

Eu não respondi, por que nesse momento, minha cabeça estava ocupada com outra coisa.

Lily Luna, minha prima, minha melhor amiga, é, eu iria revê-la. 

Como será que ela estava? Ainda com as inúmeras sardas em sua pele branca e macia? Os cabelos ainda ruivos? Grandes? Pequenos? Há tanta coisa que quero saber... Tanto tempo sem nos falar, sem nos ver. Será que mudados muito? E como foi a vida dela na Alemanha durante esses anos?

Precisava revê-la, contar as novidades. Se eu bem que conheço Lílian, ela me mataria assim que soubesse que eu estou noivo. Precisava apresentá-la a Julieta, espero que as duas sejam amigas...

Mas, acho que apenas quero revê-la, sinto sua falta, entretanto será que ela ainda se lembra de como eu sou? Éramos tão jovens quando o destino nos pregou uma peça.

Ela foi para a Alemanha e eu para o Canadá. Será que está tão mudada assim? A saudade batia em meu peito, algo iria acontecer, disto eu tinha certeza, mas o quê?

_Huguito! Hugo! – sua foz fina ecoou em meus ouvidos - Hugo você me escutou?

_Ah?! Sinto muito Julie, pode repetir? Desculpe, estava distraído.

_Eu disse: “Por que não compramos algo para sua prima Lílian?”. Tenho certeza que ela vai amar.

_Bem... Pode ser. Tenho certeza que sim. – sorri - Vamos? – peguei em sua mão.

_Vamos – disse e então me deu um beijo nos lábios.

Seguimos caminho para as lojinhas que se encontravam ali perto da casa de meus avos e enquanto eu caminhava sentia que algo estava errado, mas o que era? O que estava acontecendo? Que sensação era esta?

“A tristeza de uma despedida é necessária para que haja a alegria de um reencontro”. - Edmundo Dragon Heart