Escrava Do Mundo Inferior escrita por Leticia Di Angelo


Capítulo 2
Conheço a garota


Notas iniciais do capítulo

Dois Leitores, hehehe. Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/302293/chapter/2


POV Nico Di Angelo

Depois do ocorrido no jantar, não vi mais a menina. Ela não nos servia mais, fora substituída por um fantasma de verdade, provavelmente um garçom falecido. Voltei com a minha vida normalmente, mas ficava pensando o que tinha acontecido com a garota. Será que ela tinha morrido? Ou ela já era uma pessoa morta? O que meu pai pode ter feito com a mesma? Machucado? Dado algum castigo a garota?

Um dia, estava ajudando meu pai, quando acabei voltando para meu quarto mais cedo e me deparei com a mesma menina, no meu quarto, arrumando minha cama. Quando ela me olhou, assustada, recolheu um bolo de roupa suja, que ela devia ter separado, e se levantou as pressas para ir embora. Antes de ela partir, pude ver uma cicatriz em seu rosto, que ela não tinha antes.

Como uma cicatriz apareceu no rosto dela se ela já está morta? Quem a machucou desse jeito?

Tomei um banho relaxante e percebi que meu quarto sempre está arrumado, mas não por mim. A garota deve estar arrumando o meu quarto há algum tempo.

Fui para o jantar e me deparei com o salão, novamente, vazio. Fiquei cantarolando alguma coisa sem sentido, mas fui interrompido pelo barulho, bem alto, da porta da cozinha sendo fechada. Era a menina. Ela estava segurando, em uma mão, meu prato, e na outra, um copo com a bebida. A mesma não conseguiu fechar a porta, que fechou com força. Ela olhou para mim com os olhos arregalados e veio até mim.

–Desculpe pela porta – ela disse, ou melhor, sussurrou. Me levantei e a ajudei, pegando o prato de seus braços – Não precisa me ajudar, você não pode fazer isso.

–Tudo bem – eu disse – É difícil carregar um prato pesado e um copo. Não sei como você carrega quatro de uma vez, quando meu pai está aqui.

Ela colocou o copo na mesa, olhando para a minha comida.

–Você está com fome? – eu perguntei. Ela pensou antes de responder, mas parece que a fome ganhou da educação e ela afirmou com a cabeça. – Por que não se senta e janta comigo?

–Não posso, senhor. – ela disse.

–Há quanto tempo você não come?

–Há alguns dias – ela disse.

–Você sente fome?

–Sim.

–Sente-se – eu disse – É uma ordem.

Com isso ela se sentou imediatamente, mas desconfortável.

–Algum fantasma pode vir aqui? – eu gritei e alguns segundos depois um fantasma saiu da cozinha e veio em nossa direção – Traga alguma comida para a jovem.

Ele concordou e sumiu.

–Eu não posso fazer isso – ela disse. – Se ele descobrir eu não sei o que pode acontecer comigo.

–Ele quem?

–Seu pai – ela disse triste a passou a mão pela cicatriz em seu rosto.

–Fique tranqüila – eu disse – Eu digo que eu mandei você comer.

Quando a comida chegou, ela ficou olhando para o prato por um tempo. Eu comecei a comer e com isso, ela também começou a comer. Só que ela estava com muita fome e acabou com a comida em pouco tempo, ela estava desesperada. Como alguém pode fazer isso com ela? E esse alguém é meu pai e eu não vou deixar que isso aconteça com ela.

Enquanto ela comia, observei-a melhor. Ela era pequena, mas aparentava ter a minha idade, por volta dos 15, 16 anos. Era magra, aposto que o motivo é a falta de comida, mas aparentava ser saudável. Tinha um rosto delicado e bonito, olhos verdes intensos e cabelo castanho escuro. Seu cabelo era comprido, provavelmente não cortava há muito tempo, mas não era tão grande, era liso. Ela usava uma roupa velha, uma calça jeans rasgada e velha; uma camiseta marrom três quartos; e por cima um avental branco sujo; usava um tênis velho e seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Ou seja, ela era uma escrava.

–Qual é a sua função aqui? – eu perguntei quando ela tinha acabado de comer.

–Eu sirvo as refeições e, agora, também limpo os quartos. – ela disse.

–E há quanto tempo você faz isso?

–Faz pouco tempo. Desde que eu nasci eu fui ensinada a costurar e, até ano passado, costurava roupas de seu pai em meu quarto. Mas, por algum motivo, tive que sair desse cargo e pela primeira vez, pude andar pelo castelo.

–Você ficava trancada no seu quarto?

–Sim, na companhia de um fantasma aos sábados para me ajudar.

–E por que você teve que sair, agora?

–Eu não sei. – ela disse dando de ombros – Por mais que seja legal sair do meu quarto, eu não gosto de ficar levando bronca como eu levo agora.

Passou um tempo e ouvi a voz de meu pai no corredor. Ela olhou para mim assustada e se levantou com pressa. Pegou o seu prato, arrumou a cadeira, dando a impressão que ninguém esteve ali.

–Obrigada, senhor – ela disse – Pela comida.

–Me chame de Nico.

–Obrigada, Nico – ela disse e foi embora, antes mesmo de eu perguntar o nome dela.



Meu pai, Hades, entrou na sala logo em seguida que a garota fechou a porta da cozinha.

–Olá filho – ele disse e se sentou – Vou jantar com você.

–Eu já jantei – eu disse.

–Então me faça companhia – ele disse como se fosse obvio. Eu aceitei, pois nunca ouvi meu pai dizer uma coisa dessas.

A mesma menina entrou na sala, dessa vez com o prato de meu pai, ela nem se quer olhou para mim. Colocou o prato e o copo na frente de meu pai.

–Parece que está aprendendo agora – meu pai disse – Depois de seu castigo.

A menina concordou e foi embora.

–Quem é ela? – eu perguntei.

–Vai continuar insistindo nisso? – meu pai perguntou.

–Sim. Eu quero saber. Ela não é uma morta.

–Ela é... Diferente – meu pai disse.

–Ela está viva, né?

–Se for olhar a pele dela, sim, ela está viva. Mas, tecnicamente, ela está morta.

–Não entendi.

–Um dia você vai entender Nico. Um dia eu vou te explicar a historia dessa garota.

–Eu espero. Só acho estranho você trata-la desse jeito. Devia dar melhores condições a ela. Comida. Roupa. Um quarto. – eu disse.

–Eu não sei – meu pai disse – vou pensar no assunto. Agora, vá para seu quarto descansar. Amanhã eu vou ter uma reunião no Olímpo, o que eu acho estranho, já que eu não posso ficar lá. Depois disso vou tratar de outros assuntos, algo relacionado ao fim do mundo.

–Os mortais ainda acreditam nisso? – eu perguntei rindo.

–Sim, o próximo fim do mundo é em dezembro. – meu pai disse com um sorriso no rosto – Parece que muitas pessoas vão se suicidar um dia antes, para não encararem o fim do mundo, ou seja, mais fantasmas para entrarem aqui.

–Quanto tempo vai ficar fora? – eu perguntei.

–Por volta de uma semana. Demeter e Perséfone também vão estar fora, acho que as duas estão pensando em uma dieta para os deuses...

Eu ri.

–Bom, vou precisar fazer alguma coisa quando o senhor estiver fora? – eu perguntei.

–Não. Por enquanto não. Divirta-se. Caso eu precise, eu te mando uma mensagem de Íris. Por que não traz algum amigo para brincar com você em casa? – meu pai disse o final com ironia.

–Pai, você não está indo muito bem em ser um pai comum.

–Tem razão. Pelo menos eu tentei. – ele disse dando de ombros – Tchau Nico.

E com isso ele sumiu em uma fumaça preta.





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!