O barulho de embalagens de alumínio ecoavam irritantemente enquanto eu atirava em uma das àrvores.

–Será que você pode parar de comer isso? - Perguntei. Ele sorriu e deu de ombros.

–Não se pode combater o mal com fome. Principalmente quando se tem um pacote de doritos. - Respondeu, mastigou e depois continuou:- Uma das melhores coisas inventadas pelos trouxas.

Meu estômago roncou, imaginando o sabor dos triângulos de queijo nacho.

–Certo, então pelo menos me dê um. - Me sentei ao seu lado no tronco de madeira coberto de neve, e estiquei a mão pra dentro da embalagem, tirando um monte de doritos.

–Ei, vá com calma. Metade disso é ar, e eu quero também. - Reclamou.

–Draco, porque temos que ficar esperando?

–É melhor irmos lá à noite. - Falou, seguramente.

–Acho que você está é com medo... - Comentei.

–Medo? Draco Malfoy não tem medo. - Respondeu. Eu o fitei, cética, e ele continuou: - Certo. Talvez eu já tenha tido, mas isso é passado. Agora sou um homem. Já posso até comprar meu próprio doritos.

–Nossa, que homem. Tão macho. - Sorri.

–A questão é que, a casa é grande. à noite podemos nos esconder facilmente e quem sabe, tentar algum elemento surpresa. Aparecer lá agora seria como tocar a campainha e esperar ela abrir a porta.

–Elemento surpresa? Draco, ela está nos esperando lá.

–Ah, bom... Mas ainda acho melhor irmos à noite.

Ele está morrendo de medo, pensei. E isso me assustou um pouco. Se ele, que em algumas horas já foi mais corajoso do que eu, estava com medo, imagine como eu deveria estar.

– Sabe, ela não tem pressa. Ela não vai matar a criança até que cheguemos lá.

–Isso é reconfortante.

–É. Então, porque não pratica mais com a arma?

–Caramba, meus dedos já estão até doendo! - Reclamei.

–Calma, gafanhoto. A prática leva à perfeição. - Respondeu serenamente. - Ei!

Eu o empurrei e ele se desequilibrou do banco, caindo de costas na neve.

–Bobão.

–Esses são provavelmente nossos últimos momentos juntos e você vai me empurrar pro frio congelante? Obrigado pelo carinho Granger. - Ele se levantou sacudindo a neve das roupas.

–De nada.

–Eu quero o divórcio. - Ele cruzou os braços com uma expressão séria no rosto, mas se via que estava segurando um sorriso.

–Nós não somos casados, Draco. - revirei os olhos.

–Ah, não? - Ele pareceu sinceramente desapontado, e então sorriu. - Bem, podemos resolver isso.

Arregalei os olhos, mas tentei manter a voz calma.

–Como é?

Ele percebeu minha reação e deu aquele sorriso presunçoso.

–É uma promessa. Se sairmos vivos dessa, quero dizer.

–V-você está falando sério?

–Nunca falei mais sério em toda minha vida. - Respondeu. Meu coração batia a mil. - Quero dizer, eu te amo, você me ama, o que mais falt..

Antes que ele pudesse terminar eu me joguei em seus braços, fazendo-o cair na neve novamente, junto comigo. Cobri seu rosto de beijos.

–Granger, me deixe pelo menos respirar..! - Implorou. Eu saí de cima dele, sem conseguir esconder meu sorriso.

–Desculpe. Não consegui me conter. - Falei.

–Que nada. Se você for assim comigo todos os dias, será maravilhoso.

–Eu vou ser, pode acreditar. - Respondi. O sorriso dele só aumentou.

–Agora só falta enfrentarmos uma assassina lunática sequestradora.

–Tudo bem,- Apesar de saber o que aconteceria agora, não estava mais triste ou amedrontada. Queria sobreviver, apenas pra poder realizar esse sonho que ele acabara de me propor. Passar a eternidade com a pessoa que mais amo nesse mundo. - desde que eu esteja com você.

* * *

A mansão Malfoy se erguia imponente no escuro da noite, cobrindo boa parte das estrelas, se a olhasse de baixo. As janelas estavam escuras, algumas fechadas com tábuas. Haviam alguns tijolos aparentes, e a porta da frente fora arranhada em vários pontos, por algo que eu não queria saber o que era.

É, aquele lugar já fora bem cuidado. Mas provavelmente, assim que Narcisa e Lúcio Malfoy foram presos, a mansão estava abandonada, servindo sabe-se lá pra quê, além do covil de Bellariz agora.

Entramos por uma falha na cerca-viva em volta da casa. Algo bem grande havia passado por lá, e estraçalhado aquela parte da planta, e eu agradeci, pois assim poderíamos entrar sem sermos percebidos.

Aquela parte da cerca dava para os fundos da casa. Havia uma pequena construção com uma porta de madeira, onde provavelmente guardavam pás e instrumentos para jardinagem. Entramos lá.

–Céus, que cheiro era aquele lá fora? - Perguntei, exasperada. Mesmo dentro da construção ainda se sentia um cheiro podre, que fazia meu nariz arder.

–Por favor, não me faça responder. - Draco respondeu, sua voz uma oitava mais fina.

Mas eu sabia o que era, apenas não queria admitir. Naquela casa, Bellatriz torturou muitas pessoas até a morte. Até mesmo eu já havia gritado de dor, e graças à Dobby, consegui fugir à tempo. Lembro de ter me perguntado o que ela fazia com os... corpos das pessoas. Se ela simplesmente os levava pra algum lugar, ou se nem se dava ao trabalho disso, e mandava os servos os jogarem no quintal. Segurei a ânsia de vômito.

–Você já sabe não é? - Draco me encarou por um segundo, com uma careta. Preferi não responder.

–Só me diga, qual é o plano? - Sussurrei, sentindo um gosto ruim na minha boca.

–Não podemos vencê-la se ela estiver com uma varinha. Temos que arranjar algum jeito de pegá-la. - Ele respondeu. - Só depois podemos rendê-la, pegar o bebê de forma segura, e sair daqui.

–Sair? Vamos deixá-la aí? - Perguntei, incrédula.

Ele me fitou, uma expressão assustada e surpresa. Acho que ele não imaginou que eu fosse realmente capaz daquilo. Isso me deixou um pouco irritada.

–Você tinha outros planos?

Eu o encarei por um segundo, e então abri a porta da construção, já planejando uma corrida até a porta dos fundos, para não ser vista das janelas.

O cheiro podre entrou novamente, e estranhamente me deu forças. Me lembrou de todas as coisas que aquela mulher já tinha feito contra mim, meus amigos, e todo mundo. Me deu ódio.

–Vamos logo! - Falei enquanto corria em direção à casa.

Quando me virei de volta, vi que ele me olhava com um misto de assombro e curiosidade.

O que ele pensava sobre a minha decisão?