O hotel Grand Lyon se erguia imponente diante dos prédios do centro de Londres. Entreguei o dinheiro ao taxista, peguei a minha bolsa, e logo me via entrando por uma das portas de vidro, no saguão de mármore branco. Sinceramente, isso era demais para mim, que vivia em um apartamento quarto e sala, no subúrbio, mas quem se importava agora? Eu estava com o dinheiro em mãos.

Uma recepcionista com um coque muito apertado me recebeu. Pedi um quarto, e percebi que ela estranhava o fato de eu não carregar nenhuma mala.

–Quantos dias? – perguntou ela.

–Quanto dá por 600 libras?

–Cerca de um mês. Quarto 416. – Ela respondeu, assim que lhe entreguei o dinheiro. Agradeci, e logo entrei no elevador.

Ok, eu havia decidido fazer algo inesperado, mas eu precisava de um lugar para dormir não é? E afinal, a Hermione aqui precisava de um pouco de luxo, e apesar de ser um hotel trouxa, era muito mais confortável do que muitos lugares bruxos que eu já me hospedara.

Os números do elevador subiam rapidamente, e ele logo abriu no meu andar. Eu teria saído calmamente, não fosse um idiota que fez questão de trombar comigo. Esses londrinos apressados..

–Olha por onde anda, seu idiota! – Reclamei, me recompondo.

–Ah, desculpe, eu... Granger?

Olhei para cima lentamente. Um garoto alto, loiro de olhos cinzentos olhava surpreso para mim.

–Ah, que ótimo. – Resmunguei para mim mesma. – Malfoy.

Ele estendeu a mão para ajudar a me levantar.

–Não tenho culpa se você é afobada Granger. – Disse. Algumas de nossas rixas haviam acabado no último ano, mas isso não quer dizer que tínhamos que ter simpatia um pelo outro. E isso, obviamente, era recíproco. – O que você está fazendo aqui?

–Me diga você primeiro.

Ele fez uma careta, como se lembrasse de algo ruim.

–Não te interessa.

–Está bem então. – Respondi, indiferente. Saí do elevador e me dirigi à porta do meu quarto, mas parei no meio do caminho, enquanto ele dizia:

–Ah, não acredito. – Me virei para ele confusa. Ele tinha um sorriso travesso no rosto. – Somos vizinhos. Isso vai ser divertido.

Eu o fitei, irritada. Não iria deixar que isso arruinasse minhas “férias”. Me aproximei dele, e tentei dizer as palavras com calma.

–Eu juro que se você me incomodar, Malfoy...

–Não aponte esse dedo pra minha cara Granger. – Ele tentou dizer seriamente, mas ainda ria de minha desgraça. Ah, Merlin, me dê paciência com esse loiro oxigenado cara de fuinha! – É claro que eu não vou te incomodar, porquê eu faria isso?

Ele fez uma cara de inocente, e eu vi que era óbvio que ele mentia. Ignorei, e voltei ao meu quarto, cuja porta se abria com aqueles cartões-chave.

Tudo tinha cheiro de amaciante para roupas. Havia uma cama de casal, uma tevê de tela plana, e um frigobar, ao lado da cama. As cortinas cor de creme tinham vista para o subúrbio de Londres, resisti ao impulso de tentar ver se conseguiria localizar o meu prédio. No banheiro, uma jacuzzi.

–Isso é que é vida. – Disse para mim mesma.

Já era tarde, e então eu deixaria para começar amanhã. Vesti uma camisola, e me deitei na cama, logo adormecendo.

***

“I had a dream last night

That I was piloting a plane…”

–Mas o quê…?

Abri lentamente os olhos. Uma música do Rolling Stones vinha de algum lugar. Eu estava sonhando? Mas porque eu sonharia com Rolling Stones? Talvez eu... Espere, a música não vinha do meu quarto...

Malfoy.

Ah, eu vou matá-lo.

Bati na parede repetidamente, e encostei o ouvido nelas. Ouvi uma risadinha sarcástica do outro lado.

Ah, definitivamente, eu vou matá-lo.

Me levantei num salto da cama, e olhei no relógio. Três e meia da manhã.

Vesti um roupão por cima da minha camisola e saí porta afora, em direção ao apartamento ao meu lado. Bati repetidamente na porta, e um calmo “já vai.” Me deixou ainda mais irritada.

–Ora, quem diria? – Draco apareceu na porta, com um sorriso presunçoso e braços cruzados de satisfação. Ele me analisou, e eu confusa, procurei o que ele tanto olhava. Eu havia esquecido de amarrar o roupão, e minha camisola azul clara só ia até o início das minhas coxas. Fechei o roupão contra o corpo, envergonhada.

–Em que posso ajudar? – Perguntou, agora olhando para meu rosto, finalmente.

–Desligue essa merda. – Eu falei, ainda irritada. Não costumava falar palavrões, mas esse cara estava começando a me irritar.

–Seja mais específica.

–Desliga essa merda de som.

– Pensei que todos gostassem de Rolling stones. Porquê eu deveria desligar?

–Porque senão eu juro que eu te mato.

Ele riu, divertindo-se.

–Você, me matar? Ah, por favor. – Ele colocou sua mão no topo de minha cabeça, para deixar bem claro que eu não chegava aos seus ombros. – Seguinte, vá pro seu quarto, e eu penso no seu caso ok?

Eu bufei, indignada.

–Porque você adora me irritar?

–Porque você fica até bonitinha brava. E porque na maioria das vezes é patética.

Eu bufei novamente, e voltei para a porta do meu quarto. Girei a maçaneta, repetidamente, mas a porta não abria. Malfoy assistia rindo, enquanto eu tentava arrombar a porta, me lembrando que havia deixado meu cartão-chave lá dentro.

–Como eu disse: patética.

Eu suspirei derrotada, e então me virei novamente para ele.

–Posso usar seu telefone para ligar para a portaria? – Perguntei, olhando pra baixo. Nunca me senti tão envergonhada.

–Qual é a palavra mágica?

–Sai da frente. – Disse indiferente, tentando passar por ele para entrar em seu apartamento. Ele me segurou pela cintura e me puxou para fora novamente.. – Argh, Me larga Malfoy, foi você quem me meteu nisso!

–Mesmo assim você precisa aprender a ser mais educada. – Ele disse, calmamente, enquanto eu me esticava para sair de seu aperto.

– Por favor. – Suspirei, derrotada.

Ele assentiu e me soltou, e então eu entrei em seu apartamento.