O vento frio logo tocou meu rosto, alertando-me de que havíamos chegado, e apagando qualquer sinal dos dedos de Draco na minha bochecha.

Abri os olhos, esperando que a sensação de sufocamento passasse, e me deparei com um lugar um tanto familiar.

Era uma floresta, obviamente. A neve cobria boa parte do chão, e as árvores estavam praticamente sem folhas, graças ao inverno. Más lembranças me ocorreram.

Harry, Rony e eu já havíamos acampado aqui, no ano retrasado. Fugindo dos comensais.

–Ah, finalmente vocês chegaram!

Levei um susto com a voz grave pronunciada bem atrás de nós. Um garoto alto com pele cor de chocolate estava logo atrás de minhas costas. Reconheci Zabini, o melhor amigo de Draco na época de Hogwarts. E provavelmente ainda é.

–Você está bem? – Draco perguntou ao meu lado, preocupado com o súbito susto que eu levara.

–Ah sim, é só que... – Vi que eu falar pra ela era uma bobagem, então me recompus. – Hã, oi Blaise.

Ele me deu um leve aceno de mão. Estava tão confortável na minha presença quanto eu estava com a dele, mas aposto que tinha aceitado fazer esse acampamento pela diversão de me ver no meio de pessoas que me odeiam. Que ótimo senso de humor não?

–Blás, eu estava tentando armar as barracas, e eu não... – Uma garota de cabelos pretos lisos apareceu no meio das àrvores. Se rosto magro e pálido se virou diretamente para mim. – Mas o que...?

Eu recuei instintivamente para trás do corpo de Draco, mas ele percebeu e me puxou para frente, me apresentando formalmente:

–Pansy, lembra de Hermione? – Ele falou, sorrindo entusiástico. Eu o fuzilei com o olhar. Aquele... Maluco! Ele queria é me ver morta mesmo. Grr.

Pansy cruzou os braços e sacudiu a cabeça lentamente em sinal de sim, começando a ficar levemente vermelha de raiva.

–Pois então, ela vai passar esse fim de semana com a gente. Não é ótimo? – Ele colocou o braço em minha cintura, impedindo que eu saísse correndo, que era o que eu pretendia.

–Isso vai ser divertido. - Zabini riu baixinho.

– Como... É... Que... É? – Pansy falou pausadamente, olhando nervosamente a mão de Draco na minha cintura. É agora que eu morro, pensei.

Tentei me afastar de Draco. Agora eu definitivamente iria sair correndo dali. Mas ele me segurou ainda mais forte.

–É isso aí. – Ele repetiu, sorrindo. Devia estar adorando aquilo.

Eu devia dizer alguma coisa. Quem sabe eu pudesse atrasar o momento em que ela partiria pra cima de mim...

–Oi.

Foi um oi tão baixo que não pude ter certeza de que todos tinham ouvido. Minhas pernas estavam começando a ficar bambas com o olhar de Pansy sobre mim.

–Bom, já que ela está aqui... – Pansy disse, a vermelhidão desaparecendo de seu rosto. – Vamos garantir que ela se divirta. Não é Blás?

Ele concordou com a cabeça, enquanto eu engolia em seco.

POV Draco

–Muito bem. O que fazemos agora? – Blás perguntou, com as mãos na cintura depois de armar as barracas. Eu sinceramente achei que elas logo fossem desabar, mas não comentei.

–Não sei, nunca acampei. – Confessei.

– E a única coisa que eu já vi na TV foram as pessoas assando marshmallow na fogueira. Parece que elas não fazem nada além disso. – Ele revirou os olhos.

–Sabe, nos não temos mashmallows, nem uma fogueira. Acho que seria uma boa idéia arranjar isso. – Respondi, sem deixar de rir.

–Hm... Mashmallow. Fogueira. – Ele repetiu, pensando.

–Blás, porque você não vai buscar lenha pra fogueira, junto com Hermione? – Pansy perguntou, na sua voz doce, o que significava que se ela não tivesse o que queria iria começar a berrar.

–Hã... Claro. – Ele se endireitou e foi pra junto das àrvores, Hermione seguindo-o nervosa.

–Draquinho, querido... – Ela se aproximou de mim, calmamente, falando com sua voz doce. - O QUE DROGA VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, SEU CRETINO?

Eu tive que tampar os ouvidos pra ter certeza de que não ficaria surdo.

–Estou acampando. – Respondi, sorrindo. Só então pensei: eu era suicida ou o quê?

Pansy me olhou de um jeito que me fez desejar não ter nascido.

–EU SEI DISSO IDIOTA! - Ela gritou, e então respirou fundo várias vezes. Nunca vi uma mulher tão perplexa. Será que eu devia começar a rezar?

Ele se afastou de mim, provavelmente tentando não partir pra cima do meu pescoço.

–O que você pensa que está fazendo... – Respirou fundo. – Trazendo essa... -respirou fundo de novo. –Sangue-Ruim... - Respirou fundo de novo. – pra cá?

Ok, aquilo foi pesado. Nem eu mesmo chamava Hermione de sangue ruim mais. Chega de defensiva.

–A mesma coisa que você pensa ainda tendo contato com seus amiguinhos foras da lei. – Retruquei.

Seu rosto ficou mais branco se é que isso era possível.

–Como você...

–Da última vez que Bella me pegou, ela contou que você ainda amizades incertas Pansy. Inclusive com ela própria. – Acrescentei.

Seu rosto ficou assustado, percebendo que eu não deveria saber disso. Me lembrou do sexto ano, quando eu contava a Blaise e a ela sobre o que planejava fazer. Ela achou que se tornando uma comensal iria acabar ficando mais perto de mim, e que teria utilidade de espiã em Hogwarts, já que ninguém sabia o que ela era de verdade. A diferença é que ela não tinha abandonado sua “carreira”, nem tinha percebido o quanto isso estava errado, como eu. Ela me dava nojo.

–Vo-você não pode falar nada... – Ela se encolheu.

–É claro que posso. Sou sujo igual a você, mas pelo menos não continuo mais assim. – Respondi, rudemente.

Ela me fuzilou com o olhar. Ia falar alguma coisa quando ouvimos passos na neve se aproximando.

–Você não sabe com quem está falando, Draco. Você vai se arrepender. – Sussurrou apenas. Eu estava tão intimidado com a sua ameaça que dei risada. Aquilo era tão patético...

–Gina Weasley, o Ronald e a Luna Lovegood? Sério mesmo? – Ouvi Blás num tom de risos, se aproximando da clareira onde estávamos. – Hermione, você é má, fico até com dó do Draco!

Hermione riu junto com ele.

Pelo menos alguém estava realmente se divertindo.