A deusa perdida escrita por Nina C Sartori


Capítulo 41
Titãs esquecidos




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Fomos em direção a minha biga alada. Deixei o comando do palácio para Kim enquanto eu estivesse fora. Subimos em minha biga e dei o comando para os silfos nos levar em direção ao atlântico, no palácio do meu pai, Oceano. É claro que, como deusas, vamos conseguir respirar debaixo d’água com a permissão do titã, senhor meu pai. Faz tanto tempo que não o vejo, igualmente a minha mãe. O curioso é o porquê dos dois terem deixado essa história do sumiço deles continuar viva mesmo depois de tanto tempo. Chegamos na superfície do mar atlântico e paramos bem em cima onde fica o palácio do meu pai. A minha biga não consegue mergulhar, já que os silfos são espíritos do ar, não da água. Precisamos de ajuda para chegar até lá.

— Peço a permissão do titã Oceano para entrar em seus domínios.

Depois de alguns segundos, ninfas do mar apareceram com dois hipocampos para nos levar em direção ao palácio.

— Essa é a resposta mais rápida que vi nosso pai dando para algum de seus filhos. Penso que ele deve estar com saudades da protegida do Monte Olimpo. – disse sarcasticamente Electra.

Revirei os olhos e montei no primeiro hipocampo e Electra no segundo. Ordenei que os silfos levassem a biga de volta para o palácio e, enfim, mergulhamos em direção ao palácio do meu pai. A cidade perdida de Atlântida se tornou o domínio mais precioso para o senhor Oceano. Ele fez dela a sua morada e de suas criaturas do mar. Passamos por dentro da cidade e suas ruínas. Podíamos ver ao nosso redor muitas criaturas e... um comércio? Que curioso! Dava para notar várias casas também. É, sem dúvida Atlântida ganhou vida novamente. Da última vez que estive aqui, a cidade estava muito mais vazia do que consigo ver agora. Com certeza as coisas mudaram durante esses séculos de minha ausência.

Chegamos em frente ao grande corredor com suas colunas enormes que sustentam um teto retangular. Descemos de nossas montarias e eu agradeci pela ajuda. Os hipocampos foram dispensados e seguimos as ninfas em direção ao corredor. A sensação de estar dentro d’água é diferente de quando estou no ar. Sinto a carícia aveludada e leve do mar em minha pele, como se estivesse sendo gentil comigo. Subimos alguns degraus e passamos por uma grande porta. No fundo do grande salão, estava Oceano, sentado em seu grande trono. Eu olhei para Electra e mudamos nossa altura para ficarmos igualadas ao nosso pai. As ninfas foram embora e seguimos para dentro do salão, para ficarmos mais perto do trono. Quando chegamos mais próximos, nos ajoelhamos e esperamos a reação do grande titã.

— Podem levantar. – a voz grave de meu pai reverberou em todo o salão.

Levantei e observei Oceano. Ele era o mesmo: grande, com sua grande barba e cabelos pretos. No lugar das pernas, tinha uma grande calda de peixe azul e algumas barbatanas. No alto de sua testa, vinham um par de chifres em formato de braços de caranguejos. É, os titãs têm um formato peculiar. Olhei diretamente para àqueles olhos negros que me avaliavam.

— Saudações, papai.

Ele sorriu quando ouviu chama-lo assim e olhou para Electra.

— Olá novamente, pai.

— Como sempre quebrando acordos, não é mesmo, Electra? – disse Oceano.

Electra deu de ombros.

— Não gosto de seguir acordos em que eu não concordo plenamente neles.

Oceano encostou em seu trono e voltou a sua atenção em mim.

— Vejo que mudou um pouco durante os anos, Alexis. E parece um pouco mais velha, vejo que são os sinais da batalha que está próxima.

O olhei surpresa.

— Como sabe da batalha?

— Poseidon me contou.

Então é verdade, o cretino também sabia que meu pai continuava em Atlântida.

— Vejo que sua amizade com Poseidon está cada dia mais forte. Vi que os hipocampos dele estão aos seus serviços também.

— Ah, sim! E são criaturas tão leais. Ele foi gentil em me dar um exército deles. E, claro, de outras criaturas, já que a maioria dos meus fieis soldados estão mortos.

A guerra dos titãs levaram muitas baixas. Cronos conseguiu convencer muitos deles para trabalharem ao seu lado na época.

— Não usaria mais a colocação de fieis, mas tudo bem.

Ele suspirou.

— Tem razão.

— Pai, tenho muitas perguntas para te fazer.

Oceano sorriu para mim.

— Sim, tenho certeza que tem. Diga, minha filha.

— Por que continuou escondido durante todo esse tempo de mim e seus outros filhos?

Ele coçou a barba, num gesto que indica que está pensando, tentando lembrar daquela época.

— Apenas alguns filhos meus ficaram sabendo da mentira contada pelos Olimpianos. Outros continuaram aqui comigo e Tétis e prometeram manter o segredo de nossa moradia. Tivemos que esconder de vocês por causa de Zeus. Ele sabia que você estava muito envolvida com a família na época e o único meio de fazê-la cumprir seus deveres, era forjando a minha aliança com Cronos.

De novo Zeus e sua mania de controlar tudo ao seu redor para sair exatamente como ele quer. Idiota.

— Zeus e suas idiotices. – falei

Electra riu e meu pai apenas me analisava.

— Convenhamos, Alexis, você é bem difícil de lidar e não obedece tão bem as regras. Não faço ideia como conseguiu passar tanto tempo como uma Olimpiana.

Olhei perplexa para meu pai depois de sua declaração, enquanto Electra ria cada vez mais alto.

— Concordo plenamente com o velho titã. – disse Electra.

— Rá, rá, olha quem fala, não é, Electra? – fuzilei minha irmã com os olhos.

— Sobre vocês duas, penso que devo intervir. Electra, pare com essa obsessão com Alexis e seu domínio, desse jeito você nunca conseguirá que os Olimpianos te aceite como uma das deusas amigáveis. E Alexis, chega de vinganças. Vocês duas deveriam trabalhar juntas. Seus poderes são complementares, dariam ótimas armas.

— Não me vingarei de Electra, se ela parar de me perseguir. – falei.

— Ei! Eu não te persigo, só gosto de te irritar mesmo. – disse Electra, dando risadas.

Hoje ela está bem risonha. Estou com uma vontade enorme de bater naquele rosto perfeito. De repente, senti a presença de alguém muito poderoso entrando no salão e me virei.

— Vocês duas continuam com esse cabo de guerra mesmo depois de séculos? – disse Tétis, enquanto entrava no salão e vinha em nossa direção.

Tétis, a titânide da fertilidade e das águas puras, com sua forma de uma mulher humana, jovem e muito bonita com sua pele clara, cabelos pretos e olhos azuis. Ela chegou perto de mim, segurou meu rosto, enquanto me analisava.

— Minha querida filha rebelde. Você está cada vez mais encantadora e dando trabalho para o mundo da superfície. – ela sorriu.

— Olá, mamãe. – sorri de volta.

Sentia falta daquele contato com eles. Aquela sensação de conforto e segurança que reapareceu em mim depois do contato que tive com meus pais. Essa sensação é completamente diferente de qualquer outra que já senti. Aqui me sinto invencível. Tétis foi em direção ao trono de Oceano e ficou em pé ao seu lado.

— Se a guerra dos titãs já tinha acabado, por que continuavam com o segredo?

Tétis e Oceano se entreolharam e minha mãe respondeu.

— Tínhamos jurado para Zeus que não íamos atrás de você e de alguns de seus irmãos para não atrapalhar os planos dos Olimpianos.

— Quais planos?

— Não sabemos de tudo. Só ficamos sabendo que você deve trabalhar e cooperar com os Olimpianos. Creio que Apolo tenha feito alguma previsão na época. – respondeu Oceano.

Apolo também sabe. Que maravilha. Quem mais continua guardando segredos e que é bem próximo de mim? Eu não gostava de nada daquilo. Cada vez que procurava respostas, mais desenterrava sujeiras. Ainda por deuses que são muito próximos de mim. De repente, senti uma pontada forte em minha cabeça e um calafrio subiu em meu corpo. Tive uma sensação terrível percorrendo meu corpo inteiro.

— Tem alguma coisa errada acontecendo, eu tenho que voltar para o palácio.

Oceano e Tétis me olharam preocupados.

— Tenha muita cautela nesta batalha, Alexis. Não use de seus impulsos no grande momento, seja sábia e cuidadosa. Não tenho um pressentimento tão bom relacionado a este episódio no futuro. – disse mamãe.

— O que está me pedindo é praticamente impossível. Por isso tenho outros deuses para prestar a atenção nessas partes para mim.

Oceano se levantou de seu trono e chegou perto de mim. Segurou meu ombro esquerdo e me olhou dentro dos olhos.

— Alexis, eu sei que guarda muita raiva durante esses séculos sem respostas, mas tente canalizar isso de outra forma. Também peço desculpas por ter me afastado de você. Mas saiba que todo esse tempo, continuamos te observando e nos sentindo orgulhosos de você. E, no seu grande dia, estaremos te apoiando no que precisar.

Segurei a mão do meu pai e sorri.

— Agradeço, pai.

Electra e eu nos despedimos de nossos pais e voltamos a montar os hipocampos, em nossos tamanhos humanos, até a superfície. A sensação ruim continuava martelando em todo o meu corpo e eu não conseguia identificar exatamente o que era, só sabia que tinha de voltar logo para meu palácio. Chegamos na superfície e convoquei dois silfos para mim e Electra podermos montá-los e voltarmos mais rápido para o palácio.


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Notas finais do capítulo

O que será que está acontecendo no palácio de Alexis?



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