Forever escrita por Miwa Mazur


Capítulo 1
Forever.


Notas iniciais do capítulo

A história, em si, se passa no baile de formatura da Rose, onde ela recebe sua resignação, e descobre que guardará Lissa juntamente com Dimitri. Ela não foi presa, nem nada do tipo aconteceu. Apenas prosseguiu sua vida com todos os obstáculos, até que tudo a levou a este momento -- narrado por Dimitri.
Um desafio que propus a mim mesma, afinal, a vida é feita deles. Mas, claro, não teria conseguido sem o apoio e sugestões da minha família virtual.
Obrigada por tudo, vocês são extremamente importantes para mim!



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Examinei todo o perímetro da quadra, observando enquanto os estudantes dançavam com os corpos colados, sorrindo timidamente uns para os outros, ou então, no caso de Lissa e Christian, flertando entre si.

Estava feliz por eles, ambos que mantiveram afastados por muito tempo, tempo o suficiente para que Lissa começasse a se sentir péssima, mesmo que não fosse vinculado com o espírito, ou com o lado sombrio desse elemento, a escuridão. Agora, graças a uma conversa que eu havia tido com o Ozera, eles começavam a se entender – e há quem diga, apenas por olhá-los, que estejam namorando novamente.

Estava ciente do meu trabalho como guardião de Lissa – e sabia que em parte isso se destacava porque eu a manteria longe do Ozera, mas não poderia simplesmente vê-la sofrendo pela saudades e permanecer de braços cruzados. Em parte, ser guardião de algum Moroi significa protegê-lo, mas também quer dizer que devemos procurar e zelar pelo melhor para eles.

Bom, este foi o melhor para Lissa.

No entanto, não foi à cumplicidade e a paixão como se fosse a primeira vez que dançavam juntos que me chamou a atenção. E sim uma pessoa que analisava a paisagem do outro lado das vidraças, encostada em uma janela, ignorando todo o movimento ao seu redor.

O cabelo castanho escuro estava em forma de trança, exibindo suas marcas e também a da promessa. Vestia-se com um vestido preto que caia até centímetros a cima do joelho. Ainda assim, parecia extremamente triste, solitária.

Roza.

Pensei nos rumores que havia ouvido ultimamente, e em como alguns guardiões alegaram que ela havia terminado com Adrian. Na verdade, como eles haviam terminado juntos. Adrian porque havia conhecido uma alquimista, e Rose porque... Bem, esse fora um fato que não fiquei sabendo, e era também o que mais me corroia.

Ela nunca fora daquelas que ficava sozinha por querer, embora diversas vezes preferiu sua própria companhia a as cantadas que seus antigos colegas de classe costumavam jogar sobre ela.

Agora, sendo iluminada pelo globo que oscilava a luz entre nós, parecia ainda mais solitária – lembrando-me do que costumavam dizer sobre mim na época em que ainda era seu mentor, sobre como eu era solitário, mesmo que continuasse afastando todas as pessoas de mim.

Bom, quase todas. Sempre haveria uma exceção – e por mais que eu negasse todos os meus sentimentos que voltavam a se mostrar ainda mais fortes e menos resistentes, sabia que Roza ainda tinha esperanças.

Ela nunca desistiria, e essa era uma das coisas que mais admirava nela.

E mesmo sabendo que isso era extremamente errado, e ia contra tudo o que eu havia dito a ela, e suplicado até então, comecei a me esgueirar pelas laterais daquela quadra onde o Baile de Formatura acontecia, onde ela finalmente havia recebido sua resignação: Vasilisa.

Onde ela havia descoberto que teria que lidar comigo por todo o resto de sua vida, mesmo que eu continuasse a machucando, e mesmo que ela negasse, partindo seu coração.

Uma das melhores coisas quando se tem uma sincronia perfeita com uma pessoa, precisamente com a que você ama, é que se é possível descobrir todos os sentimentos que ela tem – mesmo que tente esconder, mesmo que insista nisso --, mas quando penso em Rose, subitamente me lembro de como essa sincronia pode nos magoar ainda mais, mesmo que o erro tenha sido meu. Lembro-me das minhas palavras duras e insensatas naquela Igreja, onde vi o brilho determinado de seu olhar vacilar, e subitamente ela começar a segurar todas as suas lágrimas, enquanto corria pela porta da Igreja, temendo que todos a vejam chorar por causa da mentira que eu insisti em sustentar.

E, por mais que seja difícil de realmente admitir, tais palavras partiram meu coração tanto quanto partiram o dela.

Não que meu coração ainda estivesse sendo dominado pelas trevas, não, nada disso realmente aconteceu – era apenas meu psicológico, que continuava a alegar que era incapaz de amar alguém, mesmo que eu me sentisse daquela mesma forma boba quando a via – quando via Rose – nos treinos, de manhã, sem saber como exatamente lidar com ela. Lutando para manter o controle, para ser o exemplo, quando na verdade, era ela quem me sustentava quando eu mais precisava.

Mas tinha medo, era movido pelo nojo que tinha de mim mesmo. Tinha medo de que ela desse conta de tudo o que eu a fiz passar, e decidisse que eu não era o melhor para ela. Tinha medo que ela se magoasse ainda mais comigo, quando tinha Adrian, alguém que realmente a merecia e poderia a fazer feliz. Tinha medo de tudo, inclusive de prejudicar seu futuro. Eu sabia que se permitisse que ela ficasse ao meu lado, e que não fosse aceito novamente pela Coroa, ela abandonaria tudo e deixaria esse ambiente por mim – e isso sim me fazia pensar que eu não poderia manter-me perto dela. Não quando era uma ameaça a seu futuro.

Enquanto reunia todo o meu autocontrole para não demonstrar sentimentos, parecendo apenas casual em um simples diálogo que teria com Rose, não pude deixar de pensar no que alegaria.

Que sentia saudades? Que teríamos que nos dar bem agora que protegeríamos a mesma pessoa?

Tudo se assemelhava ainda mais a uma simples desculpa de qualquer estudante de colegial que pretendia pedir para sair com uma garota, mas não sabia como. E inutilmente, eu me sentia como um.

Coloquei minha máscara de guardião, e cruzei os braços para trás, enquanto continuava a observar o movimento.

Mesmo antes que eu pudesse falar algo, seus ombros se tornaram rígidos, tensos, como se pudesse sentir minha aproximação. Mesmo que meu olhar não estivesse preso ao dela, desviei momentaneamente, encarando todo o exterior, enquanto controlava um sorriso que tentava se formar nos meus lábios, até que ele finalmente desapareceu.

Mas é claro que Roza sempre saberá quando eu estiver por perto.

Quando voltei novamente meu olhar para ela, notei que soltou um leve suspiro, esperando que eu desse o primeiro passo, com medo. Mas depois de todas as minhas tentativas de repeli-la, ela não tentaria novamente.

Apesar de Rose ser completamente determinada, ela também se cansa. E eu interagi de uma forma que a convenceu que eu não a queria por perto. Agora, teria que interagir da mesma forma, convincentemente, para que ela confiasse em mim novamente.

-- Não parece estar se divertindo. – Comentei, vendo ela se virar cuidadosamente, de forma que seus olhos se focaram nos meus por um breve instante antes de ela desviar o olhar, quebrando o contato visual.

-- Não estou com cabeça para diversão. – Ela respondeu. Não conversava como antigamente, comentando coisas casuais ou então fazendo comentários sarcásticos. Estava séria, preocupada, tensa.

Uma parte de mim quis envolvê-la em um abraço apertado, dizendo que tudo ficaria bem, mas a outra parte, a racional, manteve o autocontrole e recompôs a máscara de guardião que vacilara por breves segundos, provavelmente revelando minha preocupação.

-- Mas você também não parece estar se divertindo. – Ela argumentou, sempre atenta.

-- Estou supervisionando Lissa. – Seu olhar pareceu decepcionado, mas logo foi substituído pela dúvida.

-- Não, não está. – Rebateu, em tom de alerta. – Você está tentando me dizer algo, e mesmo que não estivesse, seu olhar não está direcionado para Lissa ou para qualquer outro Moroi. Ele está focado em mim. – Rompi o contato visual imediatamente, olhando para qualquer outra pessoa enquanto controlava, novamente, o sorriso que tentava aparecer.

-- Estava supervisionando os alunos, mas percebi que há uma em exceção que se recusa a dançar. – Voltei a encarar seus olhos.

-- Nem pensar, camarada, eu não... – Interrompeu sua fala, percebendo o apelido que havia dito. Irônico ou não, havia sentido falta deste, pois indicava que ela estava completamente à vontade perto de mim. – Quero dizer, Dimitri.

-- Tudo bem. – Afirmei, voltando a esconder minhas emoções como antes.

Rose soltou um longo suspiro, ajeitando uma pequena mecha de seu cabelo que havia saído do penteado atrás da orelha. Mas havia algo a mais naquele gesto, como se estivesse nervosa, ansiosa, com grandes expectativas. Parte de mim quis virar as costas e desejar que ela nunca mais se decepcionasse, criando novas expectativas sobre nós, mas a outra parte, a que havia me enviado até essa conversa, esse momento, quis atender a tais, mesmo que não soubesse quais eram.

-- Diga logo, Dimitri. – Seu tom se tornou sério, cansado. Era como se aquela aproximação a estivesse machucando ainda mais. – Porque eu estou a um passo de finalmente voltar para casa e realmente aproveitar minha noite. Dormindo.

-- E por que eu tenho algo a dizer? – Provoquei, a vendo dar de ombros em resposta.

-- Talvez porque você tem passado semanas dizendo que não me quer por perto, e agora simplesmente se aproxima, como se fosse à coisa mais normal do mundo.

-- E não é? – Ergui uma sobrancelha.

-- Por Deus, Dimitri! – Levantou as mãos, exasperada. – Decida logo, porque suas mudanças de humor estão acabando comigo.

Desviei meu olhar pela vidraça, admirando a paisagem por um breve segundo, que me permitiu lembrar-me de uma certa cena descrita em um dos velhos romances que estou acostumado a ler. Uma cena do meu favorito – e embora as circunstâncias fossem completamente diferentes, decidi que não poderia mais viver em um impasse.

Porque, afinal, se eu realmente queria ver Rose bem – e sem sofrer, independente de qual seja o motivo – deveria agir. Havia me afastado dela por esse motivo, mas por não saber explicar todos os meus sentimentos, e por simplesmente me acovardar e hesitar, acabei a magoando ainda mais.

Estendi minha mão para ela, em um convite mudo. Rose pareceu hesitar, mas em seguida colocou a sua sobre a minha, me deixando que eu a conduzisse para fora do salão, passando pelas escadas, e indo em direção ao jardim dos fundos. O mesmo lugar para onde ela olhava.

-- Dimitri, o que você quer? – Ela perguntou assim que soltei sua mão, mesmo adorando o calor que ela emitia até a minha, mesmo sabendo que ela também adorava aquela sensação. Mesmo sabendo que ainda queria permanecer daquele jeito.

-- Rose, por que você nunca desistiu de mim? – Perguntei, ficando de frente para ela. Se eu realmente fosse prosseguir com o que tinha em mente, deveria, antes, saber se ela sentia o mesmo por mim.

Mas é claro que ela sentia – sempre sentirá. Eu sentia aquele mesmo sentimento emanando dela para mim, mesmo quando eu dizia palavras duras.

-- Dimitri, eu não-

-- Apenas responda. – Insisti, segurando novamente sua mão devido a sua menção de sair dali. – É importante pra mim.

-- Eu já disse. – deu de ombros. – Eu simplesmente amo você. Mas por que você quer saber disso agora? Depois de tudo o que disse, depois de tudo o que afirmou, dizendo que não me amava.

-- Acredite se quiser, mas doeu mais em mim do que em você. – Murmurei, decidindo me abrir para ela da mesma forma que fazia comigo. Decidindo ser justo com ela da mesma forma, confiando.

Mas ela não pareceu convencida, e com um único puxão tirou sua mão da minha, cruzando os braços e olhando ao redor.

-- Então por que me disse tudo aquilo? – Contestou, voltando a me encarar.

-- Era para o seu próprio bem. – Justifiquei. – Você estava decidida a deixar tudo por mim, não é? – Ela assentiu. – Mas não poderia deixar que isso acontecesse, não com você, não depois do que fiz ou fui.

-- E por isso resolveu agir como um idiota? -- Certo, eu realmente, realmente, merecia isso.

-- Foi o único modo de me desvencilhar de você. – Argumentei, mesmo sabendo que era completamente inútil continuar com esse questionário. Rose tinha razão, mesmo que eu visasse o bem dela, havia sido um completo idiota, mesmo que não quisesse.

Ou mesmo que tentasse ser outra coisa.

-- Espero que saiba que só está piorando sua situação. – Ela bateu o pé, fingindo ser indiferente, mas no fundo eu conseguia sentir seu coração batendo aceleradamente. Dei de ombros como resposta. – Dimitri... – Tentou contestar, continuar com seus protestos ou com algum comentário irônico, quando eu me aproveitei da pouca distância entre nós, distância que dois passos quebraram, e rodeei sua cintura com meu braço, enquanto o outro foi para o seu pescoço, aproximando seus lábios dos meus.

E mesmo tentando manter-se impassível, fria, durante nossa conversa, correspondeu ao beijo no mesmo instante, passando seus braços pelo meu pescoço, enquanto uma de suas mãos ia para o meu cabelo.

Naquele momento, senti que toda a minha resistência, toda a minha culpa, se dissipava. Este era o modo como o simples toque de Rose era para mim – uma droga viciante, que era capaz de deter todos os meus sistemas de defesa. Me permiti ceder, apreciar aquele momento, mesmo quando sabia que deveria voltar para o ginásio e vigiar Lissa.

Mas ao invés disso, apenas me permiti sentir, novamente, como era tocar sua pele, seus lábios... Apenas me permitir sentir aquela paz que ela transmitia a mim, mesmo que ironicamente. Apenas me permiti a me sentir, definitivamente, em casa, como não me sentia desde que a havia perdido – desde que a havia forçado a se afastar de mim.

Relutantemente, nossos lábios se afastaram, enquanto colamos nossas testas, enquanto eu fitava os olhos de Rose – que permaneciam fechados.

-- Você quer acabar com minha sanidade, camarada. – Por mais que seu tom fosse descontraído, meu coração se comprimiu um pouco com aquela afirmativa. Eu nunca quis o mal de Rose, nunca quis magoá-la, mesmo que no fim, esse tenha sido o resultado.

-- Você já acabou com a minha, Roza. – Respondi, a vendo sorrir maliciosamente.

Estiquei novamente minha mão para ela, e seu olhar se tornou duvidoso.

-- Camarada, eu estava falando sério quando disse que não dançava. – Pude observar uma pontada de pânico em seu olhar, o que resultou em um sorriso que eu não me preocupei em esconder. Não mais, não enquanto estava sozinho com Roza.

-- Confie em mim. – Ela fez uma careta, e então cedeu, colocando sua mão sobre a minha novamente.

Caminhamos até um espaço reservado do jardim, onde as luzes estavam ligadas, e um chafariz ficava no centro. A música ecoava pelas janelas, e chegava perfeitamente ao nossos ouvidos. Uma música lenta – coisa que combinava perfeitamente para o momento que tentava proporcionar.

Virei-me para Rose, que vasculhava o lugar com seus olhos, examinando cada detalhe das flores ao nosso redor – rosas. Assim que nosso olhar se encontrou, um brilho cruzou o dela – um brilho que me fazia falta, pois sabia que era o único a conseguir proporcionar tais sentimentos a ela, assim como ela era a única que conseguia me fazer ignorar todas as lições que havia aprendido até àquela hora.

Logo nos posicionei, de forma que nossos olhares ainda se cruzassem. Ela fechou os olhos, soltando o ar vagarosamente.

Elevei minha mão até seu queixo, a fazendo abrir os olhos e fitar os meus novamente.

-- Confie em mim. – sussurrei, e ela balançou a cabeça afirmativamente. Entrelacei nossos dedos enquanto segurava sua mão, e então comecei a me movimentar junto com ela, rodeando o chafariz, enquanto ela deixava escapar alguns sorrisos por estar conseguindo dançar.

Logo a fiz girar graciosamente, e então nossos corpos se colaram novamente.

-- Não consegue dançar, não é mesmo? – Provoquei, enquanto ela dava de ombros como resposta.

-- Sorte. – Murmurou.

-- Eu duvido. – Contestei, sorrindo genuinamente para ela. E então flexionei minhas mãos na altura de seu tórax, a levantando. Passei meu braço direito por trás antes que seus pés tocassem o chão novamente, a mantendo na mesma altura que eu.

No momento seguinte, nossos lábios se selaram em uma promessa muda, saudosos, doces, suaves e ferozes. Não existia nada além de nós dois – nem mesmo leis ou proibições.

E agora eu entendia o que a levaria a abandonar tudo, caso eu não fosse aceito novamente pela sociedade. Também entendia que eu faria a mesma coisa por ela, independente do que pensassem ou do que dissessem.

Porque eu a amava – eu realmente a amava.

Assim como ela também retribuía esse amor de forma igual.


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Notas finais do capítulo

Então é isso, espero que tenham gostado.