Os pontos invisivelmente visíveis

Era ela ali

Deitada, destruída

Um pequeno ponto

Um enorme ponto

Era ela aí

Deitada, chorando

Um pequeno ponto

Um enorme ponto

Era ela ali

Deitada, quieta

Um pequeno ponto

Um enorme ponto

Era ela ali

Deitada, seca

Um pequeno ponto

Um enorme ponto

Era ela ali

Deitada, chorando

Um pequeno ponto

Um enorme ponto

Era ela ali

Deitada, se debatendo

Um pequeno ponto

Um enorme ponto

Era ela ali

Deitada, tentando se reerguer

Um enorme ponto

Um pequeno ponto

Carmen M. Souza

Prólogo

Ele se aproximava devagar, cauteloso, como se eu fosse fugir a qualquer momento. Ah, se isso fosse possível!

Atrás dele, perto da parede, um vulto passou rapidamente. Era alto e forte. Seriam capangas dele?

Ele se aproximou mais e tirou sua camisa, jogando-a no assoalho frio e quebradiço, junto de minhas roupas tiradas a força por ele.

Mais um passo. Agora seus sapatos estavam fora de seus pés. Por que ele estava fazendo isso? Queria me torturar mais? Não bastava saber o que aconteceria depois? Se é que aconteceria, já que…

Mais um vulto passou atrás dele, só que mais magro e baixo que o outro. Eles estavam sendo silenciosos e tentando não serem vistos, então não deveriam ser amigos desse crápula. Então, quem são eles?

— Olhando o que, querida? Você não vai sair… - o imbecil zombou.

Parei de olhar para os vultos com medo de que ele os visse. Talvez eles quisessem me ajudar, afinal.

Outro passo. Três metros me separando daquele imbecil repugnante. Agora sua calça jazia junta de minhas roupas no chão.

Mais outro vulto. Ele era diferentes dos outros dois, um pouco mais alto que o grandalhão, mas não tão forte quanto ele ou magro como o outro. Merda, da onde eu conheço essas formas?

Voltei meu olhar pro ordinário que me prendia naquela cabana. Eu não podia deixá-lo ver os vultos, se eles fossem amigos dele, já teriam se pronunciado, então, talvez, eles tenham vido ao meu socorro.

Todo meu corpo tremia de medo. O filho da mãe iria se aproveitar de mim o quanto pudesse e depois me mataria, eu sabia disso. Desgraçado!

Sorrindo maliciosamente, ele estendeu a sua mão até a mesinha ao seu lado e pegou algo brilhante, largo e fino. Uma faca. Mais um passo e tudo estaria perdido.

Deixei que o turbilhão de emoções corresse livremente por meu sistema nervoso. Medo. Agonia. Tristeza. Adrenalina.

Nunca mais veria minha família. Nunca veria Alice, Emmett, mamãe, papai, os Cullen… Edward.

Seus braços se engancharam a minha volta, e pude sentir a faca roçar a pele nua de minhas costas. Seu perfume inundou o ar a minha volta, deixando difícil respirar, e a única coisa que eu podia sentir era seu o odor repugnante e asqueroso, como tudo que era dele.

Eu seria dele? Eu me tornaria algo repugnante e asqueroso? Eu temia que sim, mas os vultos se aproximando lentamente dele indicavam que não.

Ele acariciou levemente meu rosto com a lâmina de sua faca e deu um sorriso cheio de malícia iluminado por um feixe de luz vindo do telhado quebrado. Nojento!

— Você é tão linda, querida… – disse-me com voz fria e triunfante. – Eu senti tanta falta da sua pele macia…

Os vultos se reorganizavam, fazendo uma formação que o encurralaria: o mais alto vindo diretamente de trás dele, o magro e baixo de sua direita e a sua esquerda vinha o alto e magro. Ele não percebeu.

Porque aqueles supermúsculos me eram familiares? E aquele jeito felino de andar? E por que, cargas d'água, eu sentia que o olhar que o mais alto me mandava iria me perfurar tentando mandar uma mensagem? Só uma pessoa fazia isso… Oh, meu Deus!

Ele se aproximou mais, seus lábios a três centímetros dos meus, e, então, os vultos se aproximaram mais.