Ficamos nos encarando por um tempo. Seus olhos vidrados em mim. O garoto parecia vasculhar seu cérebro procurando alguma informação a meu respeito, a garota apenas me olhava como se eu fosse alguém sem importância.

                - Como me conhece? - perguntou a garota. - Ah espere, não responda, obvio que me conhece, um asmodiano de respeito tem essa obrigação. - ela disse jogando uma mecha de seu cabelo para trás.

                 - Não, não. Já ouvi falar de você, mas não faço ideia de quem seja. - sorri ironicamente.

                 - Ora sua... - ela falou já perdendo a paciência. 

                - Já te vi em algum lugar, mas não consigo me lembrar onde.. - falou o asmodiano chegando perto e examinando meu rosto, o que me fez dar um passo para trás.

                - Está me irritando garoto. - disse franzindo o cenho e cruzando os braços.

                - Tanto faz. - ele deu de ombros. - Você vai entrar para a Grand Chase? Se for, vai ser bom ter outro asmodiano com a cabeça no lugar, a Rey me irrita.

                - Olha, eu nã...

                - Eu te irrito? Você que é o irritante aqui, idiota. - Rey começou após ter me interrompido.

                - Não começa Rey. Sabe que você me da nos nervos.

                - Você que... Que... Ah! Idiota! - ela disse virando-se de costas para ele e cruzando os braços. Dio balançou a cabeça negativamente.

                A atmosfera ficou estranha. Os dois brigavam enquanto os outros apenas os olhavam.

                - Então. - disse cortando a briga dos dois. - Eu não irei entrar na Grand Chase como vocês pensavam. Mas aceito a hospedagem. - quando terminei de falar, a ruiva se aproximou de mim.

                - Você seria de grande ajuda para gente. - começou. - Mas acho que não posso deixa-la

                - Já disse, possuo dinheiro, poderei pagar e ajuda-los a exterminar alguns monstros. - falei séria. "Já que isso é uma grande oportunidade para me tornar mais forte, até que eles serão bem úteis." pensei enquanto Elesis me encarava buscando alguma resposta. Ela suspirou.

                - Está certo. - pude ouvir alguns ali dando vivas pela decisão da ruiva. Pouco me importo, são humanos, do que valem? - Já tem o seu quarto, só falta apresenta-la ao resto do grupo. Mas tenho uma única condição. - a sala ficou em silencio. - Nós da Grand Chase não aceitamos traições, e sabendo de suas origens, sempre temos um resquício de desconfiança. Como já deve ter percebido, não é a única da sua raça por aqui, porém, eles estão conosco há mais tempo, e podemos confiar nem que seja um pouco nos dois. Mas você, ainda não sabemos da sua história. Sinta-se à vontade para conta-la quando puder.

                - Pode ficar tranquila ruiva. Eu sou de confiança quando sinto que os seres ao meu redor também são. Mas como você, ainda desconfio de vocês. Mas não se preocupem, traição vai contra a minha natureza. - disse para me retirar do local.

                - Um aviso. - Elesis disse fazendo-me parar. - Temos horário para comer, se chegar mais tarde, ficará sem a refeição. Mas o campo de batalha está a sua disposição, poderá usa-lo a qualquer hora.

                - Fico feliz por esse aviso.

                - Fica nos fundos, área aberta. - afirmei com a cabeça e subi as escadas.

                Bem, consegui um lugar para ficar, e foi exatamente onde o povo da Grand Chase reside. Descobri que a "Lenda da Von Crimson" era real, pelo menos a parte. Achei o cara com quem lutei a muito tempo e um imortal que não é tão bravo quanto diziam ser. Esse dia foi bem cheio.

                Antes de chegar ao primeiro andar, uma figura vinha descendo em minha direção. Era um homem com cabelos cinzentos e usava uma mascara e... "Não, impossível." ri. Jurava que vi aquele homem carregando uma das três espadas lendárias. 

                Ele não passou por mim, parou em minha frente e começou a me encarar.

                - Quem seria você? - disse em um tom nada amigável.

                - Namie, um tipo de residente que irá ajudar a Grand Chase. Suponho que faça parte desse grupo. - ele afirmou com a cabeça. - Então, seu nome?...

                - Zero. - disse apenas. Que nome engraçado

                - Muito bem Zero, se me dá licença, preciso treinar um pouco, a líder de vocês me deu permissão para usar o campo de batalhas. - disse me virando e seguindo meu caminho em direção ao meu quarto, onde havia deixado minha espada. Preciso porta-la com cautela, se ela for levada, eu ficaria em sérios problemas. Coloquei-a dentro de sua bainha e, depois, em uma espécie de sacola alongada feita especialmente para carrega-la.

                Sai de meu quarto, fechando a porta logo depois. Quando me virei, o tal do Zero estava a me esperar.

                - Vem cá, você é algum tipo de pervertido? - perguntei colocando minhas mãos na cintura. Ele não mostrou feição alguma, apenas negou com a cabeça. - Se é isso. - continuei meu caminho, mas fui parada pelo garoto que segurou meu pulso. - Não quero me meter em confusão, mas você está me deixando irritada... - rosnei.

                - Irei com você.

                - Você quem sabe. - falei dando de ombros.

                Chegamos a um grande descampado, onde, mais ao fundo, podiam-se ver várias árvores, que dizendo a ruiva, iriam dar em uma clareira.

                - Bem. - disse tirando minha espada das costas. - Eu irei treinar alguns golpes, você, faça o que bem entender. "Droga... Não posso sacar minha espada na frente desse sujeito." - vasculhei uma pequena mochila onde levava água e alguns petiscos para mais tarde. De lá tirei uma poção que comprei de Françoá há muito tempo, ela permitia deixar qualquer coisa com outra aparência. Pinguei algumas gotas em cima de minha espada, deixando-a parecida como outra qualquer que você pode comprar em lojas de armas normais. Quando virei para o mascarado ele segura sua espada ao lado do corpo. - Não... Onde você arrumou essa espada, garoto?!

                - Garanto-lhe que possuo uma idade aproximada da sua, portanto não sou mais um garoto. - aproximada da minha, ta, sei. - Meu criador, digo, pai, me deu essa espada para lutar contra Eclipse. - então é verdade.

                - Você é o portador da Grandark, quem diria. Mas derrotar Eclipse não será uma tarefa tão fácil.

                - Eu sei. - ele disse ficando em posição de ataque. - Se importa?

                - Claro que não. - disse ficando na mesma posição. - Se pensa que vai ser fácil me derrotar, está muito engana... - parei de falar quando senti a lâmina passar perto de minha cintura, fazendo um corte superficial. - Isso é covardia... - rosnei e pude ver um leve e pequenino sorriso brotar na face do mascarado. Pelo seu jeito, aquilo era algo bem raro.

                - Não baixe a guarda. - ele investiu contra mim com tudo, porém eu desviei com facilidade, mas ele aproveitou a oportunidade e me empurrou com sua espada fazendo com que eu cambaleasse um pouco.

                Logo após correu em minha direção a fim de me dar uma estocada com a espada. Saltei antes de a espada atingir meu abdome aterrissando em cima de Grandark, prendendo-a ao chão, incapacitando Zero de utiliza-la. Ele criou uma esfera de energia e a arremessou contra mim. Dei um mortal para trás e investi contra ele.

                Utilizando Grandark, ele protegia seu corpo de todos os cortes que minha espada faria nele. Continuei dando vários cortes em sequência em sua espada, aumentando a velocidade, tentado fazer algum dano. Concentrei minha energia na espada e dei um ultimo ataque antes de dar mais um mortal para trás.

                - Lute direito! - esbravejei. - Você só está defendendo de meus ataques! - segurei minha espada com força e investi novamente. Tentei corta-lo em diagonal, mas ele defendeu. Abaixei em um movimento rápido, tentado passar uma rasteira nele, mas ele pulo e jogou uma bola de fogo em minhas costas, fazendo a ponta de meus cabelos queimarem. Senti meu sangue ferver e meu rosto enrijecer. - Você pegou pesado agora, mascarado.

                Concentrei uma grande quantidade de energia em minha mão, formando uma grande esfera negra e a lancei em Zero. Ele defendeu com Grandark, mas a esfera o arrastou durante uns dez metros. Ele saiu da defensiva quando pensou que o ataque da esfera havia passado, mas ela se expandiu e explodiu, fazendo com que ele caísse ao chão. Sorri vitoriosa.

                Eu estava ofegante, mas continuava com o cenho franzido. Zero não parecia estar cansado. Dei de ombros e me sentei no chão.

                - Você luta bem. - ele disse se aproximando de mim. - Mas usa força bruta, precisa aprender técnicas de batalha, como focalizar sua força e utiliza-la de uma maneira melhor do que essa. - ele estendeu a mão e a utilizei como apoio para me levantar.

                - Até hoje, penso que não treinei o bastante, mas já consegui sobreviver a uma grande guerra. - ele não esboçou emoção, ficava difícil desvendar o que ele sentia através daquela mascara. - Mas é claro que meus aliados me deram muitas forças. E meu pai, não me deixou participar de muita coisa. - disse guardando minha espada. - Eu vou descansar um pouco, você vem? - ele afirmou com a cabeça e seguimos para a clareira.

                Eu gosto desses tipos de lugares, esse tinha um lago de águas cristalinas no centro. A lua quase não aparecia, a noite escura, mas tinha várias estrelas, isso já era o bastante para iluminar o nosso caminho. Vento gélido e o melhor: sem a presença de nenhum ser para me atrapalhar. Claro que Zero estava ali, mas ele não é do tipo que me atrapalharia.

                Sentei-me na grama e logo me deitei. Fechei meus olhos e dei um longo suspiro.

                - Você é bem recatado, mascarado. Mas é um grande lutador. - disse olhando para o céu. A cabeça dele surgiu enquanto eu olhava para cima, não fiz nada, apenas deixei ele me encarar. - O que foi?

                - Seus olhos. - ele disse fazendo minha cabeça pensar no motivo. - São muito parecidos com os da Rey. - franzi o cenho.

                - O que você quer dizer com isso? 

                - Eu acho essa cor muito bonita. - ele disse voltando a sentar do meu lado. - Desculpe pelo seu cabelo

                - Ah isso? - peguei uma mecha de meus cabelos, as pontas estavam chamuscadas. - Foi pouco, eu corto depois e ele volta a crescer normalmente.

                - Eles parecem muito com os de alguém que eu conheço. - voltou seu olhar para o céu.

                - Quem seria? - perguntei sentando-me. Ele ignorou. Olhei para seu rosto, consegui ver que ele tinha orelhas pontiagudas. - Você não é humano! - me animei, esboçando um sorriso. - Tá explicado porque eu to te aturando até agora. - soltei uma risada. - Região do submundo né? - ele afirmou com a cabeça. - Você é legal mascarado, gostei. - me levantei. - Se importa se eu der um mergulho? - ele negou. Pelo seu jeito, ele não ligaria mesmo. Tirei minha blusa e segui para o lago, mergulhando e ficando um bom tempo ali dentro.

                Sai, pensava que ele já tivesse ido embora, mas ficou me esperando, gentil de sua parte. Peguei minha blusa e coloquei-a novamente

                - Namie. - ele me chamou e virei a cabeça em sua direção. - Perdemos a hora do jantar.

                - Como?! - me exaltei. - Vamos! - corri e segurei seu pulso voltando a toda velocidade para dentro da base.

                Entramos e fomos direto para a cozinha, não havia ninguém, e já passava das duas da manhã.

                - Droga... - reclamei sentindo meu estômago roncar. 

                - Zero, e ai? - ouvi alguém falar enquanto adentrava na cozinha, Zero fez um sinal de "olá". - Quem é ela? - a voz perguntou até se mostrar quem era. Um outro elfo, dessa vez com cabelos alaranjados e olhos verdes. - Ah tá, a novata que a Elesis falou. Namie né?

                - Sim. E você?

                - Sou Ryan! – ele apontou para si mesmo. Minha barriga roncou novamente e a cobri com as mãos. - Fome? - afirmei meio envergonhada. - Tem comida na geladeira, não liga, a Elesis vive dizendo que não pode comer fora de hora, mas eu sempre faço isso. - ele esboçou um sorriso travesso. - Sirva-se!

                - Certo. - fui para frente e peguei um sanduíche que já estava pronto. Ofereci outro para o mascarado e ele aceitou.

                Sentamo-nos e comemos em silencio enquanto o ruivo nos observava.

                - Ei Zero, o que estava fazendo a essa hora da noite, sozinho? - ele perguntou.

                - Não estava sozinho. - respondeu rapidamente.

                - Ah... Entendi. - ele sorriu safado. Percebi de cara o que aquele sorriso queria dizer e fiz questão de deixar claro:

                - Não encha essa cabecinha de besteiras, criança. Estávamos apenas lutando. - dei mais uma mordida no meu sanduíche e logo depois um gole na bebida ao meu lado

                - Zero se faz de santinho, logo com a novata cara? - ele disse dando um leve tapa nas costas do mascarado que nada fez. - Você deu sorte.

                - Não quero ser rude com você garoto, mas posso acabar com esse seu rostinho de criança em um estralar de dedos se você continuar a me irritar. 

                - Tá certo. Então, vou indo, boa noite pra vocês dois. - ele saiu dando uma piscadela para Zero, o que me fez rolar os olhos.

                - Crianças. - falei terminando de comer. - Mais tarde, quero minha revanche mascarado. - disse me levanto, ele afirmou com a cabeça. - Até.

                Voltei para o meu quarto, estava cansada, muito, mas precisava fazer contado com meu pai.

                - Como você vai querida? - ele perguntou sério.

                - Muito bem pai, como vão as coisas em Elyos?

                - Como sempre. - ele me olhou pelo holograma. - Onde está? Quero informações. - ele permanecia sério. A conversa continuou por um bom tempo antes de eu começar a fechar os olhos de cansaço.

                - Sim, não se preocupe, cumprirei minha missão nessa dimensão sem problemas. Preciso ir, a gente se fala mais tarde. - desliguei e dormi direto.