Morgana abaixou o corpete do vestido para olhar os enormes roxos, Merlin não havia espancado-a como vira em seu sonho, mesmo assim a tratara com força bruto, o machucado no rosto já estava em um tom mais brando.

Se alguns dias atrás não tinha certeza agora sabia que eram injustas, não sabia o que haviam feito para sua sobrinha e menos ainda quem havia feito, mas, mesmo com seus braços machucados, iria fazê descobrir do que ela era capaz, não ligava para o que os outros pensassem, mas seu casamento ia relativamente bem, mesmo que Merlin a ignorasse, de vez em quando ele se entregava a ela, mesmo que por poucos segundos, mas isso com toda a certeza havia destruído todos os seus esforços nas últimas semanas e ainda havia o agravante de tentarem matar sua sobrinha e Morgana não aceitava isso, apesar de tudo a menina era um amor e ela se lembrava perfeitamente que fora em seus braços que a menina abrira os olhos e em sua mão que deixara o cordão que dias antes a prendia em Gwen.

A porta principal da câmara se abriu e seu agressor passou por elas, sabia que ele viria até o quarto privado e com o pouco tempo que tinha, puxou o vestido tronco acima e amarrou, com dedos desajeitados, seus laços.

– Morgana, sinto muito – ele falou.

– Por que pensa que eu faria uma coisa daquelas? - ela podia sentir a verdade em suas desculpas, mas tantas vezes fora assim, ele vinha e lhe pedia desculpas, mas ela era mais forte e sabia se controlar.

– Eu não sei, apenas...

– Não confia em mim, nunca vai. – os brilhantes olhos azuis agora se fixavam nos dela, mais opacos que nunca – Não se preocupe, é apenas o tempo dele ter idade e iremos embora, - passou a mão pela barriga que não pareceu perceber em seu sonho - Não tenho pretensão de implorar que me ame mais, chega uma hora que mesmo o mais incansável e forte amor se cansa de esperar por uma resposta, então ele acaba, nada alem do normal, nada além do comum.

Merlin se aproximou dela – Sinto muito – as mãos dele foram habilidosas em desatar os laços e sua mão era quente quando retirou o pano de seus ombros e esse caiu levemente, às vezes esquecia como era se livrar de sedas, tão fácil e fluido, os dedos de Merlin corriam levemente sobre seus machucados.

– Não existe mesmo uma ponta de amor por mim em você. - ele a virou para ele, não queria falar, mas desceu seus lábios contra os dela, aquilo não era uma resposta, por mais que alguns pudessem acreditar que fosse a forma dele dizer que a amava, aquilo era uma fuga, ele não queria discutir sobre o que sentia, queria apenas se desculpar e fazê-la esquecer o caso.

Então ela se entregou, sabia como ele podia ser já havia travado esse jogo com ele e sempre parecia perder, não havia desprazer, muito mesmo animalidade no que faziam, Merlin sabia cuidar dela e ela gostava de te ali, parecia ser eterno, pelo menos naqueles pequenos momentos era, Merlin a tinha em sua frente e a usava, mas não para prazer seu simplesmente, mas para ambos, não fazia aquilo para feri-la, mas para que se tornassem um.

Morgana adormeceu pouco depois do fim de suas perversidades, mas Merlin não conseguia se perdoar, nem mesmo tinha certeza se era certo mantê-la daquela forma, Morgana parecia ama-lo de verdade e ele sempre a tratava daquela forma, como uma zinha qualquer com quem se casa por dever, apenas para manter uma relação estável com outro reino ou para satisfazer um senhor birrento que ameaça uma inconstância com o rei, mas não era isso, Morgana não pedira por isso, ela veio até ele, não pedindo ajuda, não pedindo por casamento, fora sua mãe que a manteve ali, ele sabia disso, conhecia Hunith.

E também havia a parte de Arthur, não que ele houvesse sido “obrigado”, Morgana mesmo se propusera a sair de sua vida, mas havia algo além, Merlin tinha tudo em suas mãos uma noiva, uma possibilidade de fazer uma família, não havia real problema em deixar um bastardo, muito o tinham, mas ele quis mantê-la, ele quis que ela ficasse não por conta do bebe, mas por ela, ele queria acreditar que, sim! Haveria um jeito de salvá-la.

Com esse pensamento ele se levantou apenas para fechar as cortinas pesadas de veludo em volta do dossel da cama e descobriu um bom pedaço de do corpo coberto a sua frente, não queria que ninguém o julgasse por ter feito amor com sua mulher durante sua gestação, mas não era apenas isso, Merlin tinha verdadeiro ciúme daquela mulher, afinal esse era o preço do amor não?

O senhor não aguentava ver as enormes marcas roxas nos braços de sua esposa, por isso logo tratou de tira-las, ela ainda dormia quando ele começou a distribuir beijos sobre os machucados já curados, alguns diriam que era medo de seu ego ferido, de que alguém descobrisse, mas a verdade é que jamais teria coragem de machuca-la, mesmo em seus piores dias, podia machucar ou mesmo matar qualquer um, mas nunca ela.

Morgana se esticou preguiçosamente, Merlin possuía os lábios em sua espessa massa de cabelos, mas não parecia adormecido, ela se lembrava de perfeitamente de ter adormecido e em um primeiro momento não entendeu se já havia escurecido ou se eram as enormes cortinas do dossel.

- Merlin – perguntou rouca de sono – Já anoiteceu?

- Não – respondeu ele, sem ao menos olhar para fora.

- Como sabe? - perguntou sem se render, mas o rapaz apenas a ajeitou em seus braços, a abraçando com carinho.

- Não sei – ele respondeu – Ainda me ama? - não foi um pergunta pela qual Morgana esperasse e isso a tirou um pouco do prumo e a fez parar alguns minutos, sem palavras – Eu entendo, apenas saiba que eu não quero o seu mal, ás vezes eu perco o controle – ele disse segurando o rosto fino entre as mãos fortes, lhe dando uma atenção carinhosa – Mas eu juro que não vou mais desconfiar de você.

- Não me prometa o que sabe que não vais cumprir – respondeu ela, se levantando, abrindo as cortinas e recolocando o vestido que ficara atirado – Mas não pense que vou deixar de te amar assim, você é parte de mim agora. - isso fez uma lágrima se formar no canto do olho, mas não a deixou correr, tinha mais pressa para sair da presença dele do que a lágrima tinha de mostrar-se.

- Isso é bom – a primeira coisa que passou por sua mente foi uma piada de seu adorado marido, mas não fora isso que ele passou para ela, ele simplesmente a puxou para perto e beijou-lhe a coroa – Pois eu te amo, Morgana, desde sempre, você é minha e não a nada que eu me arrependa mais do que tudo o que te fiz, sinto muito. - Morgana tinha lágrimas nos olhos, mas era uma guerreira e não seria com uma declaração que a faria amolecer – Deite aqui, por favor – ele sussurrou enquanto a trazia para perto, aconchegando em um abraço.

Não dava para negar que fora constrangedor nos primeiros momentos, queria voltar a dizer a ele tudo o que sentia, mas não tinha palavras para isso e ele não tentava aproximação alguma, mas isso não se demorou, quando os olhos se encontraram, não havia maior verdade do que as contidas ali que pareciam explodir em seus corações e buscar a boca, mas sem sucesso encontrar os olhos, as portas para a verdade como diria algum velho sábio pelos bosques, ou algum padre pregador em sua igreja, mas qual era a diferença se ambos buscavam mostrar a verdade, da mesma forma qual a diferença entre os olhos e a boca se o coração sabe interpretar o mais sutil dos sinais?