- Peço que venha jantar comigo está noite – disse ela olhando no espelho, talvez estivesse agindo como uma princesinha mimada e acostumada a ter tudo que quisesse, mas estava disposta a isso, repetia a si mesma, isso é por Aithusa e minha glória, mas bem no fundo sabia que era apenas o medo de perdê-lo novamente como tantas vezes antes. – Eu intimo que venha jantar comigo.

- Melhor que não seja dessa forma – falou o dragão entrando no quarto – Seja mais gentil, afinal você é uma lady não uma ogra.

- Faz tantos anos que não sei o que é ser uma “lady” – ela repondeu – Talvez eu nunca tenha sido uma de verdade.

- Você é uma princesa Morgana – respondeu o dragão – Ser da alta sociedade está em seu sangue.

- O sangue de um bastardo não significa nada a ninguém Aithusa, você pode ser muito sabia, mas ainda não entende os humanos, nem mesmo eu sei se os entendo.

- Vamos Morgana, só mais uma vez.- pediu o dragão

- Jante comigo está noite? – ela falou, porem o dragão a encarou duramente.-Que foi?

- Tente ser um pouco mais receptiva, tente realmente querer que ele jante com você.

- Merlin, por favor, jante comigo por esta noite – ela respirou fundo e o que saiu foi – Por uma última vez.

- Isso, minha mãe. – respondeu o dragão com os olhos brilhando em alegria, se Merlin, não conseguisse convencê-la, ela o convenceria. – Agora meu pai não terá como dizer não.

- O que você espera conseguir com isso Aithusa? – perguntou Morgana.

- Um aliado forte. Já falamos sobre isso – respondeu o jovem dragão.

- É que faz tanto tempo que não ouço você chamar Merlin de pai que pensei que pudesse ver um pouco de segundas intenções no seu plano.

- Não minha senhora, jamais – Morgana tinha sérias duvidas de que um animal como Aithusa pudesse ter segundas intenções, mas ali estava ela tentando disfarçar o que realmente queria.

- Está bem. – ela falou passando pela porta – Você não vem?

- Não minha mãe, quero descansar, tenho me sentido muito cansada ultimamente – Morgana não discutiu, sabia que o eterno inverno daquelas terras a faziam mal, talvez realmente fosse melhor que o dragão fosse com Merlin, ela fechou os olhos tentando afastar aqueles pensamento, o que havia acontecido com a Morgana egoísta na qual havia se transformado?

Merlin novamente estava tentando abrir a porta, mas nada, parecia que a liberdade, que havia demorado tanto para atingir, agora fluía por entre seus dedos como água, a pedra de gelo que havia se transformado a porta e principalmente seu trinco queimavam suas mãos e os feitiços pareciam não ter efeito, não sabia ao certo por que.

Esperou o momento, recitou mais um feitiço, Morgana estava enganada se pensava que ele desistiria tão facilmente, correu contra a porta fria, pronto para derruba-la com seu peso, mas a porta se abriu, o corpo do bruxo realmente bateu contra algo, mas não a dura e fria madeira da porta e sim algo macio e quente.

- Realmente Merlin, acho que essa foi a melhor recepção que me dera nas últimas semanas – respondeu o demônio de pele pálida e olhos verdes que agora se levantava em toda sua classe e elegância e Merlin não podia deixar de se sentir encantado.

- Confie em mim, se soubesse que iria gostar, teria armado uma recepção um pouco menos calorosa. – Merlin colocou o máximo de desafio possível em voz ao falar isso.

- Tenho certeza que sim – Morgana o empurrou para dentro e fechou a porta atrás de si e olhou em volta – Aonde vai? – a certeza lhe chegou como um susto, não esperava isso, no fundo, mesmo que o plano de Aithusa não funcionasse, esperava, pelo menos, almoçar com o servo.

- Por que diz isso? – perguntou o rapaz confuso, não esperava que ela lhe perguntasse.

- As mantas estão emboladas como uma trouxa, e você estava tentando arrombar a porta. – respondeu ela.

- O que lhe faz pensar que eu ficarei aqui – ele respondeu duramente – O combinado foi que quando Aithusa aprendesse tudo o que precisava eu poderia ir, prometo que não vou contar onde esta, apenas me deixe ir.

- Vá! só aviso que vem mais uma nevasca por ai,- ela se virou para sair, mas se deteve, precisava mostrar-se amigável - Eu vinha lhe convidar para jantar e amanhã, quando a nevasca passasse lhe deixaria ir, mas se prefere enfrenta-la,- ela fez um gesto aberto indicando para que ele saísse - Vá enfrente, morra congelado, para mim não faz diferença.

Merlin foi até a trouxa e a recolheu, a cada passo um peso tomava conta do lugar onde deveria estar o coração de Morgana, ele passou por ela sem ao menos olhar nos olhos dela e saiu pela porta, ao chegar quase no fim do corredor se virou para ela e falou.

- Não finja que se importa Morgana, a única coisa que importa para você é você e seu maldito reinado, mas saiba que isso nunca vai acontecer – a cabeça de Morgana se abaixou, os olhos se fecharam e sua mandíbula se apertou tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair, “Se ele ao menos soubesse” – Não finja que liga para muito mais, sei que sua intenção era me manter aqui, para poder atacar, mas não ira acontecer.

Morgana se ergueu e caminhou até ele – Você está errado Merlin, - o rapaz pareceu se assustar por um momento, mas se ele queria jogar, então ela também iria jogar – Só existem três coisas que me importam nesse mundo: Eu – ele tremeu – Meu reinado – agora ela estava próxima – E Aithusa – agora seu hálito roçava a orelha dele e isso o fazia lembrar-se de outros momentos. – Nunca mais esqueça.

Ela seguiu para seu quarto, Aithusa já não estava mais lá, então atirou-se sobre sua suposta cama e deixou que as lágrimas rolassem, a dor em seu peito era grande e quando a noite caiu foi até o buraco que servia de janela, em outros tempos costumava ficar na janela e assistir quando os cavaleiros saiam, ou, com repulsa, ver as sentenças sendo cumpridas, agora via o bruxo ser atirado porta a fora de cara na neve, sabia que ele a viu ali, quando ele ergueu a cabeça e sorriu, apesar de seu sorriso estar triste, ele não parecia ver isso e partiu.

Ela novamente acordou ensopada, mas era do suor frio que escorria por sua pele, Aithusa se levantou também.

- Aonde vai? – perguntou o dragão.

- Fique aqui, já volto.

Pegou a capa que estava pendurada e correu pelas escadas, em um local tinha um grupo de lobos e um trenó, mas os ignorou, simplesmente saiu pela nevasca, sem nada para lhe proteger.