Elena estava encantada. A floresta era sempre a mesma aos olhos de Harry, sempre verde, cheia de musgo devido ao tempo úmido, e com pedras e troncos podres. Porém, para ela, era novo, atrativo e tudo muito interessante. Ela analisa as árvores com cuidado como se procurasse alguma coisa, atentando-se aos mínimos detalhes:

― Tudo parece tão igual, você já se perdeu aqui?

― Já. A floresta sempre foi o melhor lugar para se esconder durante as brincadeiras, mas eu sempre me perdia na hora de voltar. – Ri. – Além disso, Nicolas já me abandonou aqui algumas vezes...

― Nicolas é aquele garoto de agora a pouco?

― Sim.

― Vocês não se dão muito bem, estou certa?

― Está. – Sorri. – Eu nunca tive nada contra ele, brincávamos juntos quando crianças, mas depois de certa idade ele passou a me repelir, tentava me diminuir diante dos outros e quis que eu me perdesse na floresta para nunca mais retornar... Em outras palavras, nós nos odiamos agora!

― Ele me falou uma coisa no meio de toda aquela confusão, disse que queria provar o que você provou ao me beijar. – Morde o lábio, ficando ainda mais nervosa, não acreditando que conseguira tocar naquele assunto. – O que ele quis dizer com isso, realmente?

― Bem, é que... – desiste do que ia falar. – Eu fiquei... – desiste novamente. – Eu sei que faz pouco tempo que nos conhecemos... – desiste mais uma vez. – Enfim, eu estou apaixonado por você.

Um silêncio constrangedor paira entre eles. Harry despejara as palavras tão repentinamente, e ele estava tão inseguro, que mal conseguia ouvir as batidas fortes que o coração de Elena estava a dar.

― Que loucura! – Ri de si mesmo, se achando um idiota. – Chegar assim tão de repente e dizer essas coisas, você deve achar que isso tudo é uma tolice, não é?

― Não, eu não acho, porque se isso for uma tolice, então ambos seremos tolos... Porque eu também gosto de você, Harry.

― O que é aquilo? – Aponta Harry para algo atrás dela, fazendo-a se virar.

Não havia nada lá. Entretanto, quando Elena volta seu olhar para ele, Harry já estava próximo o bastante para beijá-la.

O beijo é aprofundado quase instantaneamente. Elena eleva uma de suas mãos para o ombro de Harry e a outra para os cabelos, como se tentasse impedi-lo de parar. Ele, por sua vez, sentia como se fortes cordas amarrassem o seu corpo, arrastando-o em direção a ela. E quando a envolve pela cintura, trazendo-a para mais perto, Harry sente as tais cordas o prenderem a ela, como se quisessem fundi-los em um só...

O toque dos lábios somente se encerra, quando o ar lhes falta. Elena joga a cabeça para trás, puxando uma grande quantidade de oxigênio e clareando os pensamentos, pois o calor que emanava do corpo dele faziam suas pernas ficarem bambas. Harry deposita um beijo em seu pescoço fazendo seus olhos se fecharam no mesmo instante, como se estivesse enfeitiçada.

Assim que Elena ergue a cabeça novamente e seus olhares se cruzam, Harry pôde ver as lembranças mais marcantes de sua vida passando como um filme diante de seus olhos: quando aprendeu a andar de bicicleta, o dia em que ganhara seu primeiro arco e flecha, quando um rato invadiu seu quarto fazendo-a espernear e depois o momento em que ela o pegara com uma flecha certeira, a ocasião em que seus olhares se cruzaram na sala de aula e seu o 'quase' beijo no refeitório.

Harry não cabia em si de tanta felicidade, estava extasiado por diversos motivos: por tê-la em seus braços, por poder ver a si próprio nas lembranças mais marcantes dela e por ver os sintomas do imprinting finalmente acontecendo.

― Ficou mudo de repente – sussurra Elena colando suas testas. – Eu beijo tão mal assim?

― Pelo contrário. – Sorri. – Senti como se o universo tivesse parado, entrei em transe... Acho que fui para o céu, beijei os lábios de um anjo e voltei para a minha humilde floresta!

Elena ri e sente seu rosto corar, pois era a primeira vez que se referiam a ela com palavras tão apaixonantes.

― Você ainda está às minhas ordens, senhor guia turístico?

― Com toda a certeza, Srta Noolan, o que deseja de mim?

― Desejo que me beije novamente e nunca me deixar escapar deste seu feitiço!

― Tudo o que desejar – sussurra de volta, antes de tomar os lábios dela novamente, em outro beijo de tirar-lhes o fôlego.

Mais uma onda de magia se abate sobre eles, Elena podia sentir a ligação ficando mais forte, pois seu coração se derretia cada vez mais por ele. E Harry, podia sentir as cordas de seu imprinting se apertando ainda mais, partindo drasticamente todos os cabos que o uniam às outras pessoas e até mesmo à sua família. Ele estava preso a ela, de forma forte, arrebatadora, prazerosa e irrompível.

Seu imprinting estava completo, mas também estava intensificado.

― Namora comigo? – pergunta Harry ainda ofegante, logo após terminarem o beijo.

― Eu seria louca se recusasse.

― Isso é um sim?

― Sim, isso é um sim. – Ri.

― Promete nunca me deixar? – pergunta ele, fazendo-a rir inicialmente, mas logo perceber que ele falava sério.

― Eu prometo nunca o deixar, se você prometer nunca esconder nada de mim.

Harry fita seus olhos por alguns instantes, havia uma mistura de seriedade e preocupação em sua voz, mas com o que ela estaria preocupada? Ele não fazia ideia, mas confirma sua promessa, ao mesmo tempo em que Elena confirmava a dela.

Depois de mais alguns minutos na floresta, o novo casal se dirige a praia. Passando pela casa dos Clearwater e vendo Lucian na sacada. Com um copo em mãos, o cherokee ergue a mão como se brindasse alguma coisa e Harry sorri abertamente, confirmando ao pai o que ele já suspeitava: eles estavam juntos.

― Você falou muito de mim, por aqui? – pergunta ela timidamente. – Senti como se todos estivessem ansiosos por me ver...

― Talvez um pouco. – Hesita. – Uma palavra ou duas... Ok, centenas ou milhares de palavras! É impossível não falar de você, quando é você a dominar a minha cabeça todos os dias.

― Vocês parecem estar se dando bem – diz Hana, aparecendo de repente. – Muito prazer, Elena, eu sou Hana, a irmã de Lucian e tia do bonitão ao seu lado. – Sorri simpaticamente.

― Muito prazer! – Aperta-lhe a mão.

― Me perdoe por não vir conhecê-la antes, fiquei presa no trabalho.

Harry dá um sorriso de lado, sabendo muito bem a que tipo de trabalho ela ficara presa. Contudo, ele estava contente por ver sua família se interessar e receber Elena tão bem, não se preocupando com mais nada, a não ser a vida feliz que ele já imaginava ter ao lado dela.

Hana se despede depois de uma conversa rápida e o casal se dirige para a praia, onde passeariam e se divertiriam como todo casal comum.

― Por que os está espionando? – pergunta Seth depois de um tempo, ao perceber que a esposa estava concentrada demais neles. – Você não vem para casa?

― Tem alguma coisa errada, Seth.

― Não achei nada demais, ela me parece uma menina legal.

― Não, Seth, você não me entendeu. – O olha com expressão séria e preocupada. – Tem algo muito errado com este imprinting...

― Vamos para casa, você deve estar exausta – diz ele com ar mais sério. – Descanse um pouco e, em seguida, iremos até Lucian e Leah conversar a respeito. – Acaricia o rosto da esposa, que assente positivamente com a cabeça.

O dia passa de maneira lenta, mas prazerosa. Elena tivera a oportunidade de provar dos dotes culinários da família Clearwater, depois de uma manhã de muitos beijos e passeios, e, ao entardecer, é levada novamente para casa pelo mesmo príncipe encantado que a buscara.

― Obrigada pelo convite, Harry, e pelo passeio, foi tudo incrível.

― Você é incrível – confessa, fazendo-a corar.

Elena se aproxima de seu rosto e toca seus lábios de maneira suave, rindo quando o vê resmungar:

― Só isso? – retruca, recostando a cabeça no banco do carro.

― O que mais você queria? – Ri.

― Queria aquela mesma porção que experimentei em La Push. – Se aproxima. – Depois de provar o sabor de sua boca e o toque dos seus lábios, é impossível desejar menos do que isso.

Harry toma seus lábios mais uma vez, de forma gentil e apaixonada, e logo Elena se despede, saindo do carro e sentindo uma sensação estranha no peito, como se tivessem arrancado algo dali de dentro. Dentro do carro, Harry sente a mesma sensação assim que a porta do veículo é fechada, era como se Elena partisse e levasse com ela o seu coração, pois um enorme vazio se abriu em seu peito.

Ele se vai e, assim que Elena adentra a casa e fecha a porta atrás de si, ouve a voz grave de seu pai:

― Quantos?

― Quinze que eu pude contar, possuem uma tatuagem da matilha no ombro...

― Seu amiguinho está nessa contagem?

― Não. – Suspira aliviada. – Graças a Deus, não!