Sutilmente escrita por Mina Phantonhive


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo mais introspectivo, é até um pouco soturno. Espero que gostem.



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A última recordação que Chichi tinha era uma voz. Se era retumbante ou canora, ela realmente não se recordava. Essa parte estava em branco. O que lhe foi dito também era uma incógnita. A voz não lhe era familiar em aspecto algum, em timbre, em cadência, nada lhe evocava uma possível imagem família. Contudo, a voz a salvou, por mais que não se lembrasse. A penúltima lembrança era uma mulher que estava em um quadro que praticamente iria absorvê-la, mas a mulher a salvou! Simplesmente um absurdo.

Não podia ser verdade, mas, de repente, começou a se lembrar de tantas situações absurdas e que eram corriqueiras no mundo em que vivia, e decidiu que pra ela, o absurdo residia naquele quadro com aquela mulher e aquela família que se assemelhava à dela sendo algo de tamanha periculosidade, ao ponto de absorver a alma de uma pessoa.

Toda essa divagação não ajudou em nada para saber a quem pertencia a voz, sua presença era como se fosse um inseto ou ainda uma lufada de vento que bateu na janela e fez um som que ela acreditava que fosse alguém falando com ela. Totalmente plausível, não?

O fato de ter sido salva por algo imaterial era mais absurdo ainda. Chichi, uma guerreira que estava treinando o filho mais novo, casada com o guerreiro mais forte da galáxia, convivendo só com lutadores, (se bem que ela não tinha certeza se eles a salvariam ou não) ser salva por algo que ela não sabia se era uma voz ou não? Aquilo só vinha para reiterar a importância e peculiaridade da situação.

O mais irônico é que era algo tão simples, se ela pensasse bem sobre o assunto, e olha que estava pensando, algo que era mais apavorante e incomum para ela do que alguma viagem extraterrena e alguma de extraterrestres ou ainda as odisseias pelo tempo e espaço. Não tinha nada de fantástico em ela sair de casa, soltar o cabelo e entrar em uma casa avariada. Isso não era normal também, embora fosse mais comum do que dizer: “Hey, eu fiquei viúva por 7 anos, meus amigos já morreram e ressuscitaram pelo menos umas 2 vezes e o meu marido é um alien. O absurdo morava aí e nessa avalanche de pensamentos que se acometeu dela, desde o momento em que saiu de sua casa, ou melhor, desde quando escreveu aquele bilhete para o seu marido e os filhos e outras lembranças começaram.

Lembrou-se quando começou a perceber que as pessoas não sabiam quem era ela por si só, do menosprezo pelo fato dela ter modos diferentes e quando ela começou a ser a filha do rei e deixou de ser simplesmente a Chichi. Quando casou era a mulher de Goku e com a passagem do tempo virou também a mãe de Gohan e Goten.

Notou que era a única do seu círculo que era vista como alguém que pertencia a outra pessoa. Bulma, 18 ou até mesmo Lunch eram mulheres por si só. Bulma era a inteligência do bando e aconteceu dela ser esposa do Vegeta, 18 era um andróide com habilidades fantásticas de luta e que fez um favor ao Kurilin quando se casou com ele e Lunch era a mulher de dupla personalidade, mas isso era dela. Elas eram referências e não tinham alguém pra referenciá-las, o que não acontecia com a Chichi que era sempre a mãe e a esposa.

Resolveu se afastar pra ver o que realmente era, se descobrir, mas ficou com medo, era fraca demais sozinha! Era o que pensava. Repentinamente notou que já estava fazendo isso. Estava só. Estava longe dos seus referenciais, estava se descobrindo. Descobriu também, com uma leve surpresa, que estava de olhos fechados.

Abriu os olhos e sentiu uma pontada no coração, mas não era recente, era algo que sempre estava ali, mas que naquele momento específico resolveu se destacar, se fazer sentir. Sentiu que algo saía do seu coração e baixou o cenho para ver um corvo! Sim! Um CORVO!!! Saindo do coração dela! Uma ave abrindo caminho! O bicho era grotesco, fosco, bestial.

Oras, mas em um mundo onde cidades inteiras poderiam ser reduzidas à cápsulas, onde andróides tinham filhos, o que era um mero corvo saindo do coração de alguém? Ou ainda, o que era esse sentimento de alívio e libertação? Será que era possível e normal extrair algo de bom de um acontecido pavoroso? E como ele foi parar ali? Dentro de algo que nem ela conhecia direito, tão íntimo e pessoal? Que tipo de gente carrega uma ave nefasta dentro de si?

A ave tinha uma ligação com ela, tanto que começou a falar e daí ela reconheceu a voz que a tinha salvo:

Chichi, há muitos mitos e dizeres que me colocam simbolizando o mau agouro, maldições, atrasos de vida e de resoluções. E por mais que eu recuse essa alcunha de vez em quando, devo admitir que pelo menos na sua vida, eu vim exatamente para isso. Contudo, você quem me criou. Cada vez em que você se deixava totalmente de lado, deixava o comentário mais sério pra depois, cada vez que expunha suas preocupações com histeria, era um pedacinho de mim que nascia em seu coração. Eu impedi você de se conhecer e você se ressentia de tudo isso. Você queria ser calma, respeitada e amada. Mas aprendeu que amor incondicional é igual a gritaria e medo e você passou isso para a sua família. Sei que você quis mudar, e queria saber quem é, mas o tempo passou. Você nunca viveu também por você; sempre os outros, você sempre depois e resultou em mim. Simples! E agora? O que você vai fazer? Vai continuar a mesma coisa ou vai descobrir algo?”

Chichi nem pensou:

“ Já que me salvou, não posso terminar a minha jornada ainda. ” E saiu correndo sem rumo.


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