Naquela noite, Elena teve um sonho.

Ela estava deitada sobre um extenso gramado cinzento, imersa num lugar fora dos padrões de realidade. Ao seu redor haviam inúmeras árvores mortas – secas, opacas e sem folhas – e o céu era completamente cinza, agraciado por raios de luz que clareavam a imensidão cinza escura.

Ao se levantar, com o vento atingindo – a com força, Elena pôde ver um extenso lago, absolutamente negro, bem a sua frente. Desajeitada, ela passou a mão no longo vestido preto, sem decote e mangas, afim de distrair o pavor de estar ali, no desconhecido. Seu cabelo liso mexia – se conforme o vento ordenava e quando ela ousou desafiar a natureza enquanto arrumava o cabelo, percebeu algo estranho em seu indicador direito.

Um anel metálico com uma pedra verde – que cintilava diante dos raios elétricos que rasgavam o céu –, aparentemente antigo e indiscutivelmente belo.

O estranho era que Elena sentia que já o havia visto em algum lugar...

Confusa, Elena olhou em volta e pôde ver o lugar sem vida em que estava. Tudo era ligeiramente acinzentado e pálido. Tudo parecia sombrio e...

Assustador.

Sem saber onde estava nem para onde ir, Elena permaneceu parada – quieta, controlando até mesmo os intervalos entre as tragadas de ar –, apenas observando a beleza gótica que o lugar possuía.

Num piscar de olhos, Elena sentiu que algo se aproximava dela pelas costas.

Algo não, Alguém.

Um homem.

Um Monstro.

Ou talvez um vampiro.

Um tremor atingiu o corpo dela quando uma mão, fria feito gelo, tocou seu ombro.

Assustada, Elena desviou para o lado defensivamente e ao observar quem a tocara, perdeu a voz.

Aquele homem era o mais belo que ela vira na vida.

Ele era alto, forte e extremamente pálido. Possuía cachos louros que iam até o pescoço e os olhos azuis celestiais dele a deixaram boquiaberta.

Com um sorriso tímido, ele segurou a mão de Elena, entrelaçando os dedos aos dela, que tremia – e que não conseguia parar de olhar para os belos e puros olhos azuis dele.

– Bem – vinda ao mundo das sombras, Elena. - disse ele com uma voz grave e extremamente cordial ao apontar para o lago negro que se pusera bem a sua frente.

Como que por instinto, Elena se aproximou do lago e ao observar seu reflexo na água, percebeu algo que a assustou.

Ela possuía dois caninos avantajados e afiados.

Ela era uma vampira.

Apavorada, Elena levantou – se da cama às pressas. Seus braços e pernas tremiam devido ao sonho e sua respiração estava duramente ofegante.

“Calma, Elena”, disse ela a si mesma, “foi só um pesadelo.”

Ainda nervosa, ela sentou na cama e ao fechar os olhos, respirou fundo.

Após alguns minutos sentada, ela olhou a hora no celular – que estava na penteadeira – e ao perceber que já estava tarde, correu para se arrumar, pois a escola esperava por ela.

• • •

Com o longo e liso cabelo solto, Elena descia as escadas que dariam na sala vestindo uma jaqueta jeans sobre a blusa vinho, que Stefan dera a ela de presente de aniversário há um ano atrás, e uma calça preta suavemente justa.

Quando por fim chegou na sala, Elena se deparou com a televisão ligada num canal local e ao ouvir a notícia que era transmitida, sentiu seu instinto interior ordenar que ela prestasse atenção:

Na madrugada de hoje, nos arredores de Mystic Falls, foram encontrados restos de um corpo, ainda não identificado, nos fundos do bar Church. A polícia ainda está investigando o caso, mas tudo indica que se trata de um ataque feito por um animal – uma raposa, talvez – pois só haviam ossos e restos mízeros de carne no local do acidente. Em breve transmitiremos mais informações sobre o caso...

Logo após tal notícia, a jornalista informou algo sobre mortes relacionadas ao uso da cocaína, falando sobre a falta de piedade dos traficantes e de como sofriam as famílias dos usuários. De imediato, Elena captou a mensagem que seu instinto queria lhe passar: Que tipo de raposa devoraria alguém, deixando apenas os ossos? Ela sabia que havia algo por trás daquilo, afinal aquela não seria a primeira vez em que mortes misteriosas aconteciam em Mystic Falls...