Minhas pernas estão bambas enquanto subo os degraus do palco me esforçando para não cair. Subo normalmente tentando disfarçar o nervosismo e vou ao encontro de Caesar.

Ele aperta minha mão e pede para que eu me sente.

- Então Kramer, todos assistimos a sua reação ao saber que foi escolhido para a 27 edição dos Jogos Vorazes. Naquele exato momento, o que passava pela sua cabeça?

- A primeira coisa que pensei, foi que tudo aquilo era um terrível pesadelo, também pensei em  minha família e amigos.

- E aquela linda moça correndo desesperada no meio de uma multidão gritando seu nome? Ela não parecia ser apenas uma amiga – Diz Caezar me olhando com um sorriso.

Deixo escapar uma risada e fico em silêncio por alguns segundos. Apenas me lembrando do lindo sorriso de Kândice que talvez nunca irei ver novamente.

- Para mim ela era mais que uma amiga – Digo o encarando – À cada momento que eu precisava, lá estava ela. Em todos os momentos difíceis, lá estava ela outra vez. E foi aí que descobri meu verdadeiro sentimento por ela.

Caesar faz uma pequena pausa até que pergunta.

- Você sabe se ela está nos assistindo agora?

- Sim. Ela com certeza está – Digo baixando a cabeça.

- E então? Não tem nada a dizer para ela?

Meu corpo estremece, mas sei que Kândice vai gostar de ouvir isso.

- Kândice, se eu não voltar, peço que leve em conta minha promessa. Pois se eu realmente não voltar, não foi pelo motivo de não tentar. Pois o que mais quero é poder voltar e dizer tudo o que eu guardei durante anos para você. Nesse exato momento estou sendo movido apenas pela vontade de te reencontrar – Faço uma pequena pausa – Kândice... Eu te amo.

Escuto a multidão fazendo um “ OWWNN”  e Caesar ate em meu ombro com a esperança de me consolar.

- Todos sabemos que você vai tentar. Vai tentar por ela.

Retribuo um sorriso e balanço a cabeça em concordância. Ele segura minha mão e à ergue para o auto.

- Esse foi o jovem Kramer Trybiane do distrito 10!

Os gritos da capital eram ensurdecedores. Então por fim, desço do palco mais tranqüilo do que nunca, e aliviado por ter me declarado para Kândice. Finalmente não estou mais carregando aquele peso. Pela pequena televisão no corredor, assisto a entrevista de Michella, ela parece estar bem tranqüila e fico me perguntando se passei a mesma expressão.

Voltamos ao nosso andar e Merle vem e da um tapinha em meu ombro. Parece que estão todos tentando me consolar. Então penso em algo que me deixa preocupado. E se eu fiz besteira me declarando daquele jeito para Kândice? E se eu fiz minha imagem parecer frágil e fraca? Um garoto de 16 anos com o coração partido. Cada pelo em meu corpo se arrepia. Mas balanço a cabeça para me livrar daquele pensamento ruim.

Vou ao encontro de Merle.

- EI Merle, você acha que eu passei alguma imagem de fraqueza ao meu respeito.

Merle hesita um pouco antes de falar até que diz.

- Se passou, o alvo mais fácil será você. Os primeiros a morrerem são sempre os fracos e com uma vida pessoal abalada. Esses são os preferidos dos carreiristas, são os alvos fáceis da arena.

- Eu não acho que tenha parecido fraco – Digo.

- Nem todos são como parecem Kramer. Você alguma vez da vida já julgou um livro pela capa? Balanço a cabeça negativamente.

- Então, às vezes o aparentemente fraco pode ser o mais forte, e o mais forte pode ser o mais fraco.

Ele diz boa noite e me deixa sozinho. Vou em direção de meu quarto e deito na cama pensando que aquela seria minha última noite com vida, e que meu próximo sono será para toda a eternidade.