''Eu não sei segurar isso'' - ele me deu a bebê

'' 'Isso' é uma criança'' - retruquei

''Tanto faz,porque saiu correndo daquele jeito ?''

''Não sei .. me deu uma vontade indescritível de urinar'' - ele me puxou pela cintura,eu já não sentia tanta dor,senti sua língua umedecer meus lábios, a bebê estava entre nós e por um minuto imaginei eu e o Nick ali,só que com nosso filho, apesar de saber que era impossível..simplesmente gostei de imaginar aquela cena.

''O que minha princesa está pensando ? '' - eu gostei de ouvi-lo chamando de 'princesa'

''Princesa ? '' - sorri

''Sim,minha princesa''

''Pra falar a verdade..eu tava pensando ..eu sei que é impossível mas eu tava pensando em nosso filho..se eu e você tivéssemos um''

''Nosso filho?!'' - ele bufou - ''Mesmo que eu pudesse eu não gostaria de ter filhos..eu não gostaria Nísia,eu não quero que o meu filho passe isso,eu .. eu gostaria de ter uma vida normal ás vezes..sem tirar que bebês são seres super estranhos e acomodados,só comem e dormem e esse jeito maníaco que eles olham pra pessoa...'' - eu ri o Nick era realmente exagerado.A família dele chegou alguns minutos depois,acordei a Marrie que não estava nem um pouquinho animada com os 'poemas'.Nick leu um poema do Olavo Bilac,a mãe do Nick leu um poema da Adélia Prado,Marrie leu uma estrofe do filme ''Julieta + Romeu'' e o resto leu poemas já existentes..fui a última,eu não tinha pesquisado poemas eu tinha criado um eu acho.O que dá mais receio de ler para alguém quando a 'obra' é sua na maioria das vezes você acha uma coisa fula ou besta ou se não você até acha bom mas tem medo da reação das outras pessoas.Respirei fundo e comecei a ler o papel que se encontrava dentro de um pequeno diário.

''Ela denominou 'Primavera'

pois era o que todos falavam

a brisa da maré estava baixa.Um casal apaixonado no cômodo de baixo.

e os passarinhos eram todos coloridos

um porém..magro e pequenino

e havia crianças do lado de fora.Elas corriam e gritavam.

risinhos que pareciam do casal ao lado

a pequena pegou outro papel e denominou 'Verão'

pois era disso que todos falavam

e o carteiro agora vinha a pé, dispensando seu triciclo

a brisa da maré estava alta

e as crianças pulavam com uma mangueira na mão

por trás delas ficava um gordo que vendia limonadas

mas suas unhas eram grandes e sujas

o casal continuava apaixonados,os risos aumentavam..

a pequena pegou outro papel e denominou 'Outono'

pois era o que todos falavam

a brisa da maré estava rasa.E a pequena ouvia gritos

gritos e choros que a deixavam assustada

e os passarinhos não eram mais coloridos.O gordo da esquina não tinha mais unhas grandes e sujas,usava terno e gravata e uma caneta que não servirá de nada

o carteiro não ia mais a pé e naquela tarde pegou sua irmã aguarrada na sacada.E se perguntou porque a escada ficava afastada da cozinha

a pequena pegou outro papel e o denominou 'Inverno'

pois era o que todos falavam

a brisa da maré estava baixa.E a pequena se perguntou porque os passarinhos não estavam mais na janela,que ficava muito longe do banheiro.E fora pintada de azul

o casal brigava..e ela viu a mulher dos olhos castanhos ser levada por homens que tinham touca no cabelo

sua irmã saiu de casa

e a cor da nova cortina era branca.E a casa cheirava a flores..que apodreciam junto ao jornal velho e a pequena via homens algemando o homem dos cabelos grisalhos que lhe dava ''tchau'' a cada passo ..

e havia outras crianças fumando ao decorrer da estrada ... e ela se perguntou porque aquela música tocava no rádio..em pleno sábado

e a pequena entrava em uma nova casa

a mulher tinha olhos azuis e passarinhos coloridos na janela

as cortinas eram floridas

e a luz tremeluzia

a casa cheirava a refles de morango

e a mulher lhe abraçava na porta da cozinha enquanto um homem vinha com um bebê no colo .. ele ria.E a cozinha cheirava a brisa..mas não havia mais crianças

nem sinal do carteiro,que fora transformado em um homem com poucos cabelos

assistiam a filmes juntos

em plena segunda e comentavam logo em seguida..ela adormecia enquanto a mulher a ninava fazendo cachinhos que pareciam esculpidos por anjos..e ela dormia e crescia crescia..pequena anjinha.'' - quando terminei todos absolutamente todos me aplaudiam

''Se sua carreira de médica não der certo você poderia ser escritora'' - o Nick sussurrou no meu ouvido enquanto eu sorria..Depois de todos os aplausos fomos assistir um filme,segundo os colegas do Nick era 'demais' mas a mãe do Nick não gostou muito tanto que disse que na casa dela ninguém assistiria violência tirando o filme.Então a maioria foi embora ficando apenas eu o Nick e a mãe do Nick.Ela colocou em um jornal nacional .

''Boa Noite.O corpo de um menino é encontro na beira de um riacho próximo a Toronto,Canadá não se sabe ainda o motivo da morte ao certo estamos com a Lizzy ao vivo enquanto os peritos investigam a área.E então Lizzy já há alguma suspeita ?''

''Boa Noite.Não Sheruza não há nenhuma suspeita de quem possa ter matado Keven Blacker mas uma coisa os peritos já sabem que ele não cometeu suicidio depois de terminar com a namorada.'' - senti um seco na minha garganta,será que ela ia falar meu nome ? Mas ao invés disso não a câmera voltou para a apresentadora

''Continuaremos observando esse caso.Depois do intervalo hom..''

Nick estava ao meu lado e me observava sério

''Princesa tá tudo bem ? '' - eu queria sair dali..eu queria chorar,eu queria me matar!O Keven morreu por causa de mim é claro!Homicídio,todos amavam o Keven!Sai da sala e fui pro 'meu' quarto,eu ia sair daquele lugar..eu ia sair daquilo.O Nick foi atrás de mim.

''O que aconteceu ? '' - ele entrou no quarto pela parede.

''Vai embora!'' - minha cabeça estava enterrada no travesseiro que tinha cheiro de amaciante

''Você conhecia ele ?!Esse tal de Keven..você o conhecia?'' - ele sentou na cama

''Eu o amava!'' - berrei entre o choro

'' 'O amava?' '' - sua voz estava calma,eu não respondi - '' Você nunca o 'amou' , o amor não se pronuncia no passado.Se você ama uma pessoa você vai amá-la até o último dia da sua vida.Quando voltei minha atenção para o Nick ele não estava mais lá,só havia uns lenços de papéis por cima da cama.E fui dormir com aquilo na cabeça 'o amor não se pronuncia no passado.Se você ama uma pessoa você vai amá-la até o último dia da sua vida.'

(. . .)

No outro dia o Nick me acordou cedo iriamos enfim ir para algum lugar que eu não fazia ideia.

''Venham nos visitar mais vezes'' - ela chorava.Eu apenas dei um sorriso meio sem graça,uma coisa que realmente não sou boa é com despedidas,sabemos que o ''até logo'' é fundamental mas quem realmente está preparado ? Eu não chorava mais e fui forçada a passar maquiagem pra não notarem meus olhos inchados de ontem á noite decidi que ainda não pensaria no Keven,pelo menos não agora.Depois das despedidas fomos para o carro do Nick.Na estrada abriríamos o mapa.Já tínhamos entrado no carro.

''Kin!'' - gritei

''Olá garotas,olá Nick.Sentiram a minha falta?Eu estava andando pelas ruas de Londres,depois viajei até a Indonésia e vi minha primeira filha nascer..'' - ele pegou um lenço e quase começou a chorar

''Hãn..você namora?!'' - perguntei incrédula,si o Kin fosse homem jurava que ele seria gay..

''Não é só você que pode namorar garotinha'' - ele piscou e olhou para o Nick,aposto que tava mais vermelha que pimentão.-''Mas e então para onde vamos?'' - a Marrie abriu o mapa -

''Rio de Janeiro,Brasil''- Marrie suspirou - ''enfim clima tropical''

''Hum .. a terra da comida gostosa'' - o Kin falou animado

''Hum..a terra do samba'' - falei sem muita animação,eu nunca sambei.

''Hum..a terra das belas nádegas '' - Nick falou animado,dei um tapa nele enquanto todos riam.

''Estamos chegamos Brasil !'' - Kin gritou.