Em uma floresta afastada da civilização, um pequeno garoto de cabelos rosas encrava seriamente três pedaços de madeira à sua frente.

Os olhos escuros estavam fixos e ele tentava ao máximo se concentrar e concluir o treinamento que seu pai lhe ordenara.

Deveria estar ali à mais de duas horas, os olhos ônix não deixando a madeira à sua frente.

Franziu levemente as sobrancelhas, e estendeu a mão pequena para frente tentando fazer com que apenas os dois tocos de madeira das extremidades pegassem fogo, e deixar o do meio intacto.

“Isso é difícil” ele pensou, depois de ver tudo queimar e virar cinzas. Fazer algo pegar fogo sem encostar nela era mais complicado do que lhe parecera quando Igneel explicou o treinamento.

Se levantou e arrumou outros três pedaços de madeira, dando continuidade ao seu trabalho.

- Natsu - a voz grave ecoou pelo pequeno vale, e uma criança pequena com cabelos rosas tirou os olhos do pequeno monte de madeira que estava tentando incendiar e olhou para seu pai adotivo - Já terminou?

- Não. - ele bufou, um pequeno bico se formando nos lábios. - Isso é a coisa mais difícil que eu já tentei fazer.

- Então amanhã você continua, ainda tem mais uma coisa que eu quero lhe ensinar hoje. - o grande dragão vermelho falou, vendo o humano o olhar meio contrariado.

- Eu não posso tentar só mais um pouquinho?

- Não. -Igneel falou, mesmo que gostasse da insistência do rosado no treinamento - Você já treinou isso a tarde inteira, Natsu.

O humano suspirou, mas se levantou, batendo o pó das roupas surradas que usava, os olhos escuros dando toda a atenção que o dragão queria.

- Agora, venha aqui, garoto. - Igneel usou uma de suas grandes garras para puxar o humano mais perto de si, enquanto se deitava confortavelmente no chão. Olhou nos olhos escuros do garoto com seus grandes vermelhos antes de falar. - Esta é uma das coisas mais importante que você deve aprender, Natsu. Pode não fazer muito sentido agora, mas tenho certeza de que um dia entenderá.

O garoto bufou, mas se sentou de pernas cruzadas na frente do focinho coberto de escamas vermelhas do dragão.

- Eu imaginei que ia ser algo chato. - ele resmungou.

- Natsu.- Igneel lhe chamou, sério. O rosado estranhou o tom e olhou para seu pai, curioso. - Pode ser chato, mas é algo crucial para a sua vida. Vai chegar um momento que você vai encontrar alguém muito importante para você.

Ele fez uma pausa, vendo a criança franzir as sobrancelhas em confusão.

- Ela vai fazer você sentir um monte de coisas. Vai fazer você querer ficar o tempo todo do seu lado e não deixar que nada de mal aconteça a ela.

Natsu ainda tinha o rosto franzido.

- Mas eu me sinto assim com você por perto, Igneel. Eu sempre vou querer ficar perto de você e vou queimar qualquer um que tentar lhe machucar. - o rosado ergueu o punho, que estava em chamas.

O dragão riu levemente, fazendo uma baforada de fumaça escapar de suas narinas.

- Não, Natsu. Ela será diferente para você. Única. Ninguém, no mundo inteiro, vai ser como ela.

- E porque você está me falando tanto sobre essa pessoa?

- Porque, meu filho, eu quero ter a certeza de que quando você encontrar essa pessoa que te faz sentir tão diferente - ele fez uma pausa, os olhos vermelhos grandes olhando fixamente nos escuros do garoto. - Você não a deixe ir embora.

Natsu piscou, meio confuso.

- Ir embora?

- Isso. Não importa o que aconteça, não a solte. Não a deixe fugir da sua vida. - a voz grave do dragão estava incrivelmente suave - Quando você a achar, não quero que a deixe sozinha. Esteja sempre lá, para ela, assim como ela estará lá para você.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, enquanto Natsu mantinha uma face pensativa.

- Como eu vou saber que ela vai ser essa pessoa?

- Você vai se sentir diferente perto dela. Principalmente aqui.- uma garra afiada encostava sutilmente o peito da criança, exatamente onde estava seu coração.-Vai se sentir quente.

- Mas eu sempre sou quente, pai.-Natsu respondeu, confuso.

- Sim, mas vai ser um quente diferente.- o dragão explicou, com toda a calma do mundo.-Vai ser bem estranho, comparado com o resto que poderá sentir. Seu coração vai bater mais rápido, seu corpo todo vai reagir à presença dela; e ela vai estar sempre presente em seus pensamentos. - ele fez uma pausa, pensando como poderia explicar da maneira mais simples o quão importante aquela pessoa seria - Ficar longe dela vai ser doloroso, quase como se você estivesse se afogando e apenas a presença dessa pessoa vai ser o ar que você precisa para sobreviver. Você vai querer estar do seu lado o máximo de tempo possível, e querer fazer tudo o que puder com ela. Vai querer que ela sinta o mesmo calor estranho que você sente.

- Um quente estranho?

- Isso.

O rosado mordeu o lábio inferior, pensativo.

- Eu vou sentir um monte de coisas estranhas, é?

- Sim.

- Por causa dessa pessoa?

- Exatamente.

Mais um momento de silêncio.

- Coisas estranhas acontecem por causa de pessoas estranhas...- a criança murmurou e o dragão a observava atentamente, vendo-a trilhar seu próprio raciocínio.

Alguns minutos se passaram e Natsu fazia uma lista mental de tudo o que seu pai falara, guardando na memória como fazia com cada lição aprendida.

- Tá bom pai! - ele gritou, repentinamente - Quando eu achar essa estranha, nunca vou deixar ela ir! Vou dar a minha vida por ela!

Igneel riu com o filho antes de voltar a treinar com o fogo, mas pareceu bastante satisfeito que ele tivesse entendido. Talvez de um jeito um tanto quanto estranho, mas definitivamente, ele sabia que Natsu tinha entendido.

-x-

- Naaaaatsu! - o grito feminino ecoou pelo apartamento da loira, enquanto o rosado ria da cara da dela. - Porque você sempre faz essas coisas comigo, hein? O que eu fiz para merecer isso? - ela resmungou, ainda tentando expulsá-lo de sua cama com os braços.

O Dragon Slayer sorriu, e circundou os braços fortes na cintura fina dela, puxando-a contra seu peito.

Ele enterrou o nariz no cabelo dela, sentindo o aroma doce que ela exalava. A loira continuava estática em seus braços, sem saber como agir diante daquele abraço repentino e estranho.

- Porque você é estranha, Lucy. - Natsu sorriu, olhando diretamente em seus olhos castanhos, vendo as bochechas dela ficarem belamente coradas. A garota resmungou algo e escondeu o rosto no peitoral largo dele, envergonhada.

Ele riu de leve e não se mexeu, tampouco deixando ela se mexer, vendo a loira ao poucos ceder ao sono, ainda aconchegada em seus braços.

Encostou a testa na dela, sentindo como seu peito ficava quente quando estava perto da loira.

Natsu sabia que não haveria mais ninguém no mundo todo que fosse tão estranha como Lucy.