Olivia

Eu me sentia confusa.

Sentia-me protegida e com medo ao mesmo tempo.

Uma guerra entre sentimentos contrários acontecia dentro de mim

Entrei em casa, deixei o cobertor em cima do sofá e subi as escadas silenciosamente, abri a porta do quarto de Sarah com cuidado para ver se ela havia acordado.

Sarah estava deitada, mais pálida do que o normal.

O perfume de baunilha estava mais fraco.

Alguma coisa estava muito errada, eu só não sabia o que era...

Eu ainda estava no batente da porta, assistindo o peito de Sarah subir e descer calmamente enquanto ela respirava.

Suspirei e fechei a porta com o mesmo cuidado que havia aberto

Entrei no meu quarto e deixei a porta aberta

Deitei-me na cama, por cima dos cobertores e almofadas que enfeitavam a cama.

Eu estava com medo de ter outro sonho medonho, mas fechei os olhos mesmo assim.

‘’ – Olivia... – olhei para o chão, Sarah se arrastava ao lado da minha cama, seu pescoço estava coberto de sangue, o vermelho sujava o chão ao seu redor.

Minha cabeça começou a girar e faltava ar nos meus pulmões

Vi um vulto na porta do meu quarto e agarrei o cobertor que estava embaixo de mim com as unhas quando vi Daniel sorrir friamente para mim’’

Acordei chorando

Será que eu nunca mais iria conseguir ter um sono tranquilo?

Daniel

Deitei-me em minha cama e olhei para o teto.

Eu realmente preciso de algo para passar o tempo enquanto não voltar a ser... Hum... Mortal.

Comecei a pensar nas coisas que Alicia disse

E se Alicia devolvesse toda a minha vida de volta, mas eu tivesse que magoar o coração de Violet?

E se Alicia se revoltar novamente? Será que ela tomaria uma atitude pior a de me transformar em um monstro?

E se...

Suspirei

Será que realmente valeria a pena namorar com Alicia para ter uma ilusão do que deveria ter sido minha vida aos olhos da minha ‘’futura’’?

Ou será que Alicia iria, sei la, voltar no tempo me levando com ela?

Tinha realmente muita coisa a se pensar antes de aceitar algo assim...

Mas ei, pelo menos eu não iria destruir a vida de mais ninguém, eu deixaria de ser esse monstro a qual Alicia me tornou.

Minha garganta esquentou

Alicia foi quem me tornou o que sou hoje, por que ela iria me querer agora?

Minhas mãos se fecharam em forma de punho

Eu nunca poderia dar a Alicia um premio pelo o que ela fez a mim.

Independente se isso for o que eu quero ou não, Alicia tem que sofrer, nem que seja um pouco.

Fechei os olhos e pus a mão no cabelo.

Inspirei o ar fresco que decidiu entrar no meu quarto e passei a língua nos dentes caninos, eles haviam se expandido.

Levantei-me e sai do quarto, eu precisava de algo para me distrair.

Desci as escadas e sai pela porta da frente, deixando a mesma aberta.

Eu nunca a tranco, não há ninguém com consciência que tenha coragem de chegar perto da minha casa.

As arvores estavam mais verdes e o ar mais fresco, não entendi direito a mudança repentina de clima, mas não liguei.

Parei de andar e encostei-me a uma arvore para prestar atenção nos barulhos de seres indefesos, talvez me alimentar fizesse com que eu esquecesse (nem que por minutos) Alicia.

Raramente havia animais no bosque e de vez em quando eu dava sorte.

Eu realmente estava tentando focar minha atenção nos barulhos do bosque, mas havia algo bloqueando meus pensamentos.

E não era só Alicia.

Por algum motivo eu comecei a pensar em Olivia e no que aconteceria com ela se eu aceitasse a oferta de Alicia.

Balancei a cabeça com força para afastar Olivia da minha cabeça e fechei os olhos.

Eu podia ouvir o sussurro do vento, o jeito como ele conversava com as folhas secas das arvores.

Eu ouvia o barulho de insetos andando nas arvores e pelo chão, em busca de comida.

Eu conseguia ouvir tudo, mas, por algum motivo, isso não importava.

Urrei com força e ouvi o barulho de pássaros piando e voando para longe a alguns quilômetros de mim

- sai da minha cabeça, Olivia! – gritei para as arvores.

Se havia algum animal indefeso por perto este já estaria longe agora.

Olivia

A água bateu contra o meu rosto de uma forma grosseira, mas a mesma conseguiu fazer meu coração desacelerar.

Respirei fundo e olhei para o espelho.

Uma garota com olheiras fundas me encarava, eu conseguia perceber preocupação em seu olhar.

- nossa você esta péssima – sussurrei e passei a mão pelo cabelo – o que tem de errado com você? – cerrei os olhos, encarando o espelho – alem dos problemas normais que você enfrenta – falei mais baixo e olhei para a pia branca de porcelana.

Sai do banheiro e me deitei na cama, olhando para o teto.

Abracei com força uma almofada que estava enfeitando a cama

Nem se eu quisesse conseguiria dormir.

- ah Olivia, o que esta acontecendo? – suspirei e abracei a almofada mais forte.

Por que só aconteciam coisas estranhas comigo?

Procurei com os olhos o laptop branco que eu havia usado no dia anterior.

Ele estava no criado mudo, ao lado de uma fotografia em preto e branco dos meus pais.

Eu nunca entendi ao certo o porquê de eu ter essa foto, mas eu sempre a tive comigo, desde o dia em que as pessoas da foto me abandonaram.

Uma pobre garotinha que não entendia onde estavam os seus pais.

E a única coisa que me respondiam quando eu perguntava era  ‘’eles não te querem porque você é louca’’

Tudo o que eu ganhava em troca era um grande ponto de interrogação em minha mente.

‘’por que sou louca?’’ lembro-me de ter perguntado um dia para a diretora do orfanato

‘’seus amigos imaginários são diferentes dos das outras crianças’’ foi a resposta que ela me deu

Mordi o lábio, eu ainda olhava para a foto.

Uma mulher de cabelos claros e curtos sorria ao lado de um homem com cabelos escuros que usava óculos.

Tão sorridentes.

Tão felizes.

E eu não estava na foto.

Diversas vezes eu me peguei pensando que o fato de eu ser ‘’louca’’ era só uma desculpa qualquer para eles me abandonarem.

Mas, se eles não me queriam, então por que esperar seis anos para dar um fim no problema? Pra que esperar tanto?

Essas são perguntas que eu nunca tive a esperança de achar uma resposta.

Suspirei e afrouxei o abraço que eu estava dando na almofada.