A mesma situação de sempre. A mesma tristeza que invadia meu coração a cada vez que eu ouvia aquelas palavras. Seja de pessoas desconhecidas ou até mesmo de familiares. Eu só conseguia me lembrar disso.

– Eu odeio você, Izaya! Eu realmente o odeio!

Mairu berrava aos prantos, lamentando-se pelo estrago que eu havia feito em sua boneca. Era apenas um pequeno corte de cabelo, ela não deveria ficar irritada com isso. E ao vê-la daquele modo, eu sorri. Era divertido. E só fiz aquilo por um motivo, um único motivo. Eu amo os humanos. Eu sinto um grande amor por toda a humanidade. E se você perguntar porquê, é por causa do ódio deles por mim. Era algo meio difícil de se explicar, é verdade. Mas ao perceber suas reações, os seus sentimentos exaltados... Eu me sentia outra pessoa.

Porém, havia uma excessão. Tinha um homem no qual conseguia me quebrar em dois a cada vez que expressava o seu ódio... Ele.

Nunca me importei ao ouvir as ofenças dos outros. Namie sempre disse que eu era o pior. Simon sempre me chamou de covarde. Kida não suporta nem olhar o meu rosto por causa que arruinei sua vida milhares de vezes. Novamente, eu amo humanos. Mas ficava realmente abalado quando todas essas palavras vinham de quem eu mais era apaixonado.

– Suma da minha vista! Caia fora de Ikebukuro! - Gritava o loiro, arrancando uma placa de trânsito do chão e amassando-a com força. - Eu odeio você... Eu odeio você, eu odeio você, eu odeio você! - Fez questão de repetir.

Shizu-chan me odiava. Eu estou bem... Ora, a quem quero enganar? Precisava manter a seriedade para encará-lo de frente, mas isso foi o que menos conseguia no momento. Estava cansado, destruído. Então, deixei que as lágrimas saíssem dos meus olhos e percorressem todo o meu rosto.

– Por que você está chorando? - Perguntou, deixando de lado tudo que pretendia fazer no momento. O barmen tirou os óculos e o fitei com mais um sorriso no rosto. Um sorriso que mostrava todo meu sofrimento, toda a minha dor.

– Porque... Isso machuca. - Confesso, deixando-o surpreso. Eu estava machucado com suas palavras. Isso fazia de mim um fraco, provavelmente. Aguentei tantas pessoas me odiando, mas chorava por causa do homem que mais tinha raiva de mim entre todos?

Sim, eu chorava. E muito. Não me importava com as pessoas em volta, nem com o que ele estava pensando de mim. Só estava farto de lidar com isso em silêncio. Fingir que não ligava para nada que ele dizia.

Então, sem esperar muito, sinto os braços do mais velho me envolvendo em um abraço forte. Procurava me confortar em seu peito, acalmando-me com o calor de seu corpo. Enterro meu rosto em sua camiseta, permitindo que alguns soluços escapassem de minha boca. E Shizuo passa a mão em minha nuca, sussurrando com culpa na voz:

– Me desculpe.

E ao ouvir aquilo saindo da boca dele, me senti amado pela primeira vez em toda minha vida. Percebi que, mesmo após tudo, havia alguém que se importava com o que eu sentia. Que se importava comigo e não pensava somente nos erros que eu cometia. Não se focava somente em um ódio... Compreendia o meu lado também. E isso me deixou alegre como nunca.

– Me desculpe também, Shizu-chan. - Digo. Eu não precisei dar motivos, ele já havia entendido tudo. Não se moveu, continuou unido ao meu ser, movimentando sua mão em meus cabelos na tentativa de acariciá-los.

Com aquilo, tive certeza que ele era o único humano no qual eu me importava. O único que eu realmente não suportaria ser odiado, mesmo depois de tudo.