Vigaristas escrita por Juh, Amanda, Taís


Capítulo 7
Segura


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários queridos!

Boa Leitura :)



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Estranhei quando o meu corpinho não se estatelou como jaca podre no chão.

Entreabri um olho para espiar, depois o outro... Tendo a total certeza de que aquele silêncio gritava aos quatro ventos que eu não estava realmente desmaiada...

Eram extremamente azuis aqueles olhos a me observar, com seus cabelos loiros desgrenhados que pareciam iluminar meu rosto. Suas mãos continuavam firmes me impedindo de cair...

Dei uma olhada em volta e lá estavam mais os outros dois caras me encarando de braços cruzados, com rostos nada amigáveis.

Eu estava completamente batata! Quero dizer, frita... Completamente frita, e agora o que me batata? Digo, me restava? O que me restava?

Correr.

E não deu outra, assim que meu sensor de perigo soou novamente, desesperada, tentei correr, e pasmem vocês... Consegui dar dois bons passos, até o loiro me pegar de volta sem o menor esforço! Tsc!

Até tentei me soltar do loiro, mas ele me mantia firmemente sobre seu domínio.

Continuei me debatendo, percebendo que ele trincava os dentes, deixando evidente em suas mandíbulas que estava perdendo a paciência. Ótimo. Porque eu também estava de saco cheio de suas garras em mim!

Ele afastou novamente seus braços a fim de me segurar com mais afinco, enquanto eu não parava de me mover... Foi quando de relance percebi que sua jaqueta ficava entreaberta, e o volume encoberto ali me chamara atenção.

No calor da adrenalina, passar a mão em sua carteira que estava no bolso interno foi moleza e um tanto inesperado, nem acreditei que tinha realmente conseguido fazer aquilo. Mas fui tão ágil que ele sequer percebeu. Sim! Isso foi fruto do meu esforço e suor nos treinamentos!

Forcei mais alguns movimentos para de deixar a carteira escorregar pra dentro de minha bolsa, até que de boa vontade me largou, como se não fosse mais continuar naquela ânsia de me segurar. Ufa!

Então foquei novamente no meu plano de correr até dar de cara no peito das duas torres à minha frente, que bloqueavam minha passagem. Droga!

Os caras eram mal encarados, cada um segurou em um braço meu. Sentia-me extremamente fraca e insignificante ali presa nas garras daqueles dois, então ergui a cabeça para olhar pro loiro, que me parecia calmo, disposto ao diálogo. Ótimo!

Mais alguns momentos de sobrevivência não seriam nada mal!

— Gostou do carro? — o loiro me perguntou e eu apenas sustentava um olhar desentendido a ele, o que não deu muito certo... — Que coincidência, eu também! Por isso o comprei! — disse abrindo um sorriso amigável que não combinavam em nada com a ameaça implícita contida em sua voz macia.

Também... O que eu poderia querer? O cara me pegou arrombando a porta de seu carro com uma chave de fenda! Não poderia nem chorar e jurar inocência até a morte! Que explicação poderia dar? Numa tentativa de sobrevivência até cheguei abrir minha boca para argumentar, mas minha atenção foi tomada pela gargalhada estrondosa dos outros dois...

— Cara... Ela te roubou! — o da esquerda disse zombando.

— Na maior cara de pau! — o da direita completou segurando a barriga, para rir.

— Ela até tentou, mas pra própria sorte não conseguiu... — o loiro disse me lançando aquele olhar azulado. Na mesma hora o da esquerda pegou minha bolsa abrindo-a e tirando a carteira do loiro que enfiei ali dentro. Droga, droga, droguinha. To lascada, de hoje não passo!

— Tem certeza? — o da esquerda disse com a carteira do loiro na mão abrindo um sorriso brilhante.

— FILHA DA MÃE! — o loiro gritou fazendo meu esqueleto estremecer, e começou a me arrastar a força consigo.

— NÃO, NÃO, NÃO POR FAVOR, NÃO ME MACHUQUE, EU IMPLORO... — choraminguei, tentando obter algum sucesso, mas ele me enfiou carro adentro e fechou a porta num baque que me ensurdeceu de vez. Em seguida deu a volta e sentou-se no banco do motorista.

— Ué? Você não queria andar no meu carro? Então vamos! — ironizou.

Eu não sabia dizer se ele estava com muita raiva ou se segurava para não rir. Talvez, fossem suas feições perfeitas que me confundiam mas a opção para o retardadismo sempre estava em aberto.

Antes que pudesse choramingar novamente, o miserável enfiou um saco preto em minha cabeça, deixando-me completamente às cegas.

— É bom não tirar isso daí, mocinha. Não quero arrancar seus dedinhos fora. — ele alertou e arrancou com o carro dali.

Quando finalmente ele estacionou, pude escutar outro carro parando logo atrás de nós — os outros dois também vieram para a chacina. Droga! Vou morrer.

Senti quando o loiro pulou para o banco de trás onde eu estava, e fiquei ainda mais amedrontada.

— Ok, seja boazinha. Tenho bons planos pra você! — o loiro disse tirando o saco preto da minha cabeça. Ufa. — Mas que merda! — ele resmungou entre dentes ao me olhar e eu pulei com o susto de sua reação inesperada.

— O que fiz agora? — perguntei sem entender.

— Que merda de olhos verdes, grandes e atraentes são estes? Não basta me roubar, cheirar bem, ainda tem que ser linda? — lançou seu olhar azulado e tudo o que sentir foi o rubor tomar conta de meu rosto.

— Não vai me matar, vai? — perguntei nervosa.

— Confia em mim?

— Não.

— Ótimo, você é inteligente... Não deve mesmo! Acho que sobrevive sim. — disse ao abrir um sorriso. Quando os dois começaram a bater no vidro do carro, ele olhou de má vontade, logo voltando a me encarar.

— Arrume os cabelos, vou ter que colocar o saco de novo, é só por um minuto. — ele explicou e eu concordei, como se tivesse opção! Eles não queriam que eu soubesse onde estava.

Fiz um coque improvisado no cabelo, e ele colocou de novo aquilo na minha cabeça. Desceu do carro abrindo a porta e me deu a mão para trazer-me consigo. Levantei-me já tentando tatear as coisas a minha volta, mas acho que peguei nos braços musculosos de um dos dois, que não disse nada, apenas se afastou como se eu fosse perigosa. Argh.

Levei um susto dos grandes quando de repente, o loiro me pegou no colo, entrando no lugar onde queria me levar. Pude escutar os outros vindo logo atrás.

Comecei a entrar em pânico, o loiro só podia estar me enganando! Que outra coisa eles iriam querer comigo a não ser me matar? Não seria este um lugar para tortura, seria? Quero minha mãe! 

— Ei, ei, me coloca no chão! Me coloca no chão, por favor! — comecei a implorar. — Me tirem daqui, por favor! Prometo que não abro a boca sobre vocês! — parei pra pensar em algo mais convincente, e eis que surgiu a ideia... — Meu marido... Sou casada, e meu marido é muito apaixonado por mim. Tipo: Muito mesmo! Ele vai ficar muito bravo se não me encontrar em casa. Ele é um bandido da pesada e vai procurar por mim! Soltem-me e prometo que não falarei nada pra ele... Não contarei nadinha! — Enquanto tentava blefar com eles, uma quarta voz ríspida surge no ambiente, interrompendo-me as súplicas...

— Neji? Shikamaru? Tão fazendo o que aqui? Que gritaria é essa?

— Temos uma surpresinha pra você! — um deles responde.

— Tcharam! — o loiro brincou dando um passo comigo adentro do lugar.

— Não nos envolvemos em sequestro. E nada de garotas na minha casa. Por favor, deem meia volta daqui! — o cara aparentemente sensato ordenou.

— Isso não é um sequestro! — o loiro explicou. — É a solução dos nossos problemas! Lembra da conversa que tivemos?

— Desistam! — o cara disse, e eu estou com ele!

— Isso mesmo, desistam! — expressei minha concordância e fui repreendida com um aperto.

— Vou te dar três bons motivos pra não desistir... E lá vai o primeiro: — o loiro anunciou tirando o saco preto em minha cabeça. O coque em meus cabelos se desfez, espalhando meus cabelos... Abri os olhos lentamente pra poder habituar minha vista à iluminação daquela sala. PERAÍ... DAQUELA SALA?

Bem diante dos meus olhos, estava Sasuke com a expressão mais aterrorizante que já vi na vida. Pude notar quando ele engoliu em seco com a "surpresinha" do loiro.

Ao seu lado, havia um outro homem moreno com fortes expressões no rosto, que mal me olhava nos olhos.

A sala antiquada da casa de Sasuke era inconfundível para mim. Ver aquele ambiente "descolado", ainda que eu não confiasse em Sasuke, me deu um enorme alívio.

— Eu sei, eu si... Ela é linda! — o loiro disse e todos os homens da sala começaram a me secar. Estava usando uma saia um pouco curta, e uma blusinha de alça. A cara de Sasuke variava entre um tom de roxo e azul claro. — Nós precisamos de uma mulher como esta aqui, será perfeita para os negócios, admita. E o mais nobre motivo é que essa garota, olhe bem pra este rostinho... — ele disse pegando meu rosto para demonstração... — Ela bateu minha carteira sem que eu percebesse! Fora que quase roubou meu carro! — o loiro disse com um sorriso nos lábios. Ele é doido, é? Tava orgulhoso?

— Com uma chave de fenda. — um dos dois rapazes ao nosso lado acrescentou erguendo a ferramenta em suas mãos.

— Era preferível que ela usasse alguma tecnologia, mas... Uma garota saber roubar, já é uma grande coisa! — o da direita acrescenta. Machista de uma figa!

— E então? O que achou dela? — o loiro pergunta todo ansioso.

— Vejo que já conhecem a Sakura. — Sasuke disse fuzilando o loiro com os olhos. Ele estava numa calma desafiadora, meio diabólico vindo em nossa direção. Paralisei quando ele chegou muito perto de mim passando a mão em volta da minha cintura, levando-me consigo para o lado em que estava inicialmente. — Escutem bem... Ela é minha mulher. — revelou sem nenhuma expressão no rosto ou entusiasmo na voz. Aquilo soava mais como uma ameaça feroz.

Todos os pares de olhos da sala caíram no chão.

— COMO É QUE É? — o loiro perguntou incrédulo, todos os outros estavam tão espantados quanto ele. — Pff... É brincadeira sua que eu sei! A coisa mais parecida com um compromisso que você já teve foi a Karin! — o loiro disse e eu me irritei. Ele tinha que colocar essa azeda na conversa? Hellooooo!

— É verdade, meu filho. Nós somos casadinhos da Silva — disse fazendo a demonstração com a linda aliança em meu dedo... — Digo, casadinhos Uchiha! — Dei um sorrisinho pro Sasuke que mal disfarçava a vontade de me matar.

— Perfeito! Prazer mulher do Sasuke, sou o Neji. — Neji disse vindo beijar minha mão, ele era muito bonito.

— Prazer mulher do Sasuke, sou Shikamaru... — Shikamaru disse vindo para beijar minha mão, mas quando estava a ponto de fazer, lembrou-se que Neji havia beijado ali, e trocou pela outra. Ele era bonito.

— Naruto, a seu dispor! — Naruto disse sorrindo de canto. Ele era muito bonito. Fiquei esperando o outro carinha se apresentar, mas ele nada disse. Estranho... A educação mandou um abraço viu! — Ah, aquele é o Lee, apenas ignore-o, ele não é muito de falar — Naruto explicou e todos riram. Piadinha interna é? Argh. Dei um tchauzinho pra ele, mas ele desviou o olhar, eu hein. E ah, antes que eu me esqueça... Ele também era bonito!

— Sou Sakura. — disse sorrindo e todos eles olhavam com brilhinhos nos olhos pra mim, agora nos olhos do Sasuke só havia ódio sangue e miséria...

— Bem-vinda à equipe, Sakura. — Naruto disse. Que equipe? Pensei em perguntar pro Sasuke, mas este já estava bufando de ódio.

— Olha aqui, eu espero ser bem claro no fato de que Sakura não vai se envolver com isso. E fiquem longe, ou pelo menos tentem manter seus olhos longe das pernas dela, entendido? — Sasuke falou endiabrado. Eu ri internamente. — Ótimo. Suba, Sakura. — ele ordenou e eu não estava em condições de discordar, então fui fazer o que ele mandou. Quer dizer, mais ou menos.

Não pude resistir ficar ali escondidinha na escada escutando a conversa.

— Que mal tem? Ela vai ser muito útil! — Naruto argumentou tentando convencê-lo.

— Além do mais, nós sempre concordamos com o fato de que uma mulher seria uma carta na manga... — Shikamaru se pronunciou.

— Nós precisamos de uma mulher esperta e você é casado com uma, logo concluímos que não há nada mais justo que ela participar! — Neji meio que batendo o martelo na situação, mas o coitadinho se esqueceu que Sasuke é ruim feito o cão...

— Sem chance! Sakura não é confiável — Sasuke afirmou, e eu quase me desequilibrei no degrau em que estava sentada. Como assim não sou confiável? Só porque tentei te dar o golpe do baú? Quanto rancor...

— Concordo, mulheres não são confiáveis... — Lee disse. Sim, ele fala! — Não é a toa que elas consomem o maior número de antidepressivos e calmantes na indústria farmacêutica, é a maneira de tentar parecerem normais.

— Então porque se casou com ela? Afinal... Quando foi que se casou? — Naruto perguntou inconformado.

— Não é da conta de nenhum de vocês! Apenas desistam dessa ideia maluca. E se não for pedir demais, Naruto, não mande mais seus "presentes" para minha casa.

— Eu tenho dó da Karin, e sem falar que você bem que se diverte com ela... — Naruto disse se auto interrompendo, ao lembrar-se de algo... — Poxa... Acho que confundi a Sakura com ela ontem no telefone... E eu duvidei que estivesse aqui hoje... — ele ri ao recordar. Pois é, mané!

— Karin não é uma diversão. Apenas não a coloque mais aqui dentro.

— Uma briga de garotas não seria nada mal, não é mesmo? — Naruto disse — Brincadeira, não está mais aqui quem falou!

— Ra, rá!— Sasuke riu sem ânimo. — Agora expliquem, onde foi que a encontraram?

— Eu fui até a farmácia procurar pelo Lee. Neji e Shikamaru tinham chegado um pouco antes de mim, fomos avisados de que ele não estava por lá, logo estaria aqui na sua casa, não é puxa-saco? — Naruto interrompeu para se referir ao Lee, que deu de ombros... — Quando saímos da farmácia, demos de cara com meu carro aberto e uma mulherzinha inofensiva com uma chave de fenda em mãos! — Naruto contava como se achasse divertido.

— Foi demais! Ela simulou um desmaio, depois tentou correr e nesse meio tempo roubou a carteira do Naruto, depois tentou fugir de novo... — Neji narrava os acontecimentos com entusiasmo.

— Pelo cálculo de tempo que ela utilizou para abrir o carro com uma ferramenta primata, cheguei à conclusão de que se ela estivesse com algumas de minhas ferramentas teria conseguido se mandar antes que Naruto aparecesse. — Shikamaru disse. "Minhas ferramentas" Nerd e metido, não? Pff.

— Qual a probabilidade do Naruto não ter percebido o roubo da carteira? Vamos lá... Qualquer um de nós perceberíamos, não somos amadores! — Sasuke duvidou.

— Nós vimos acontecer, Sasuke! Ela realmente é boa, ainda melhor que as pilantrinhas da boate... — Neji afirmou. Não é de se espantar que eles também as conheçam! Espera ai... "Sou melhor"? Hummmm.

— Estão dizendo isso porque querem que ela entre, e eu já disse que não vai acontecer! — Sasuke manteve-se firme. Sou melhor sim, nem vem!

— Não estou mentindo, estou sendo justo! — Neji defendeu. Ele me parecia meio moralista, mesmo que um moralista fajuto.

— Só pedimos que pense a respeito, Sasuke. Você melhor que ninguém sabe o quanto precisamos estar preparados para a tua preciosa missão. Podemos prepará-la enquanto há tempo... — Naruto argumentou. Mas do que é que eles estão falando? Droga.

Mais algum tempinho de debate, e escutei eles se manifestando para irem embora.

Rapidinho entrei no quarto, coloquei um casaco, pois já era noite e estava esfriando. Sasuke estava subindo as escadas, podia ouvir suas passadas pesadas e sentei em sua cama, só para irritá-lo. Tsc!

— Tava fazendo o que numa farmácia de manipulação, trombadinha? — Sasuke perguntou com aquele sarcasmo idiota.

— Vai ver estava comprando calmantes ou antidepressivos, sabe como são as mulheres... — respondi, e ele me olhou percebendo que eu havia escutado tudo. Azar! Não fazia questão de esconder mesmo!

— É muito feio escutar a conversa dos outros, sabia? Sua mãezinha não te ensinou isso antes de bater as botas não? Ou seus pais não te deixaram nada, nem educação? — ele indagou com aquele olhar que me reduzia ao pó.

Levantei-me indo a sua frente me impor.

— Dane-se. Estavam falando de mim! Eu tenho o direito de saber, e espero que seja você a me contar. — disse colocando o dedo em seu peito, afrontando-o.

— Porque está fazendo isso, hein? Primeiro na boate e agora tentando roubar carros por aí? Você é maluca, Sakura? Quer que eu te interne? Porque como seu marido eu posso, e vou!

— É melhor do que me matar!

— Então é isso? Olha, por mais que eu queira muito te matar, não vou fazer isso. — assegurou-me e em seguida fechou a cara. — O teu problema é dinheiro, não é? Então me diz o que você quer e eu pago. O que quer estudar? Em que você é boa? Não quer ganhar dinheiro e ser livre? Eu pago !— sugeria cheio do veneno. Argh.

Meu sangue começou a ferver nas veias, então o empurrei estrategicamente, e ele veio pra cima de mim bem como eu queria. Assim que ficamos perto o suficiente, bati sua carteira, colocando-a no bolso do meu casaco.

Sasuke tomado por sua fúria me sacudiu, e quando finalmente resolveu me largar, dei as costas a ele pretendendo descer as escadas. Até que sua voz me interrompeu.

— Apenas desista. Certamente não é nisso em que você é boa... — disse num tom frio e sugestivo, o que me fez virar para olhá-lo.

Esbugalhei os olhos ao ver que ele já estava com sua carteira intacta na mão, me encarando seriamente.

Minhas pernas ficaram bambas.

E tinha alguma coisa de muito errado com a droga do meu cérebro, porque eu o admirei. Ele sem dúvidas era o melhor e por isso todos os outros meio que o obedeciam. Sasuke era bom no que fazia.

— Do que é que vocês estavam falando, Sasuke? Em que posso ajudá-los? Que raio de missão é essa? — perguntei eufórica. Eu ansiava por respostas, mesmo sabendo que ele me negaria. Ainda me lembrava bem da conversa, quando prontamente disse que não confiava em mim.

— Pediatra? Secretária executiva? Guia Turística? Engenheira Civil? Em que você é boa? — Sasuke ignorou minhas perguntas, voltando ao papo de profissões.

Sinceramente, acho que estou meio grandinha pra saber o que vou ser. Patético.

Fitei-lhe, percebendo que ele ainda aguardava por uma resposta, resposta essa, que eu não tinha para dar... Uma onda de melancolia de repente, me pegou e resolvi encerrar logo aquela discussão inútil.

— EM NADA! NÃO SOU BOA EM NADA, SASUKE! — respondi exaltada. Corri para o banheiro batendo a porta atrás de mim. Sentei-me sobre o vaso sanitário e me pus a chorar feito uma idiota.

Lembranças chatas começaram a divagar em minha mente...

Momentos que tive com meus pais...

Talvez eu fosse pequena demais pra compreender quando tentava atribuir alguma profissão as minhas bonecas e meu pai apenas dizia “Ora, Sakura querida, ela não precisa de um dom, basta ser uma linda princesa e nada mais... Seu marido pensará por ela"...

Minha mãe concordava plenamente com um vasto sorriso nos lábios. Aquilo soou como uma doce verdade em meu coração. Eu me olhava no espelho e gostava do que via, minha vida era perfeita... Eu não precisava me preocupar com provas, profissão, carreira e bla, bla, bla!

Tudo o que eu queria, eu possuía. Porque tinha os meus pais milionários para me dar; e futuramente, um marido milionário para continuar me dando...

Só que toda aquela realidade se desfez bem diante de minhas vistas.

Meus pais não eram eternos, a herança que deveria ter também não era eterna. E o príncipe encantado de que haviam me falado, tampouco existia.

Olhei para a porta, lembrando-me de Sasuke e suas sugestões de estudo idiotas!

Crescer ouvindo o quanto eu era linda e tinha a vida perfeita, fez com que eu nunca quisesse ser nada além daquilo que eu já era e tinha. Temari ao contrário de mim, sempre ansiou por estudar fora e expandir seu intelecto.

Seus pais a incentivavam a tal coisa, diziam algo sobre formar um caráter forte, uma mente aberta, e ela o fez... Ficou cerca de dois anos e meio estudando na Suíça. Nunca exerceu profissão nenhuma, apenas vivia à custa dos pais assim como eu, sempre mencionando que quando encontrasse o verdadeiro amor, sairia de casa... Tsc!

Amor...

As pessoas apenas precisam de um motivo pra sofrer ou serem felizes, e daí inventaram uma palavra pra colocar a culpa de ambas as coisas e eis que acharam uma perfeita: amor.

Aprendi com a minha mãezinha que isto era algo utópico

O único motivo pelo qual o ser humano se move é pelos seus próprios interesses, e é em torno disso que a vida gira — nossos desejos, vontades, anseios e nada mais —, apenas inventamos desculpas para torná-los mais nobres...

Falir, dar um golpe frustrado, bater carteiras em uma boate, e roubar um carro com um trombadinha... Fugia um pouco dos planos de princesa que meus pais tinham pra minha vida.

Toda essa realidade me assustou... E realmente acreditei que fosse morrer.

Mas quando Naruto tirou aquele saco preto de minha cabeça e vi Sasuke a minha frente, senti um grande alívio... Me senti segura.

E quanto tempo faz que não me sinto segura?

Eu não faço a mínima do que esperar amanhã. Toda a estabilidade e previsibilidade se passaram. Não tenho mais uma porcaria de uma vida estável; eu não tenho ninguém que se importe, e também não tenho droga de dom nenhum!

Ainda por cima me vem Sasuke com essa?

Eu não sou boa em droga nenhuma! Ele não tem que esperar nada de mim! No fim das contas está querendo apenas se livrar do estorvo que sou em sua vida... Pois vou tratar de deixá-lo a par do quero também!

Quero fazer parte de seus planos, participar de seus assuntos; quero ser boa o bastante para ter sua confiança; quero juntar dinheiro suficiente e dar o fora dessa casa chinfrim o quanto antes!

Só não vou permitir ser despachada para ir estudar porcaria nenhuma! Porque quando vi seu rosto ao entrar na sala, pude perceber que ele era a coisa mais próxima de "segurança" que eu tinha no momento.

Lavei o rosto e me olhei no espelho — dessa vez odiando o que via. Meus olhos estavam levemente inchados e eu não fazia ideia se tinha pepinos naquela casa!

Saí do quarto cautelosa, arrastando os olhos pela cama de Sasuke que encontrava-se vazia.

Então desci vagarosamente pelas escadas. Por que diabos ele não para quieto na cama durante a noite? Na sala não estava, cozinha também não. Fui até a garagem e nada de Sasuke, mas seu carro permanecia ali.

Encafifada, voltei me perguntando se aquele cara tinha uma capa de invisibilidade do Harry Potter, Tsc... Não estava em canto algum!

Contrariada, voltei para a cozinha, retornando ao meu objetivo original: achar um pepino para cortar em rodelas e por nos olhos que estavam um horror de tão inchados. Tsc!

Abri a geladeira, que estava praticamente vazia, e nada de pepinos!

Pra não dar viagem perdida, bebi um copo d’água e enquanto que a água descia pela minha garganta, fiquei olhando ao redor procurando por uma explicação para esses sumiços do Sasuke...

— Droga! Aonde é que esse infeliz se meteu! — disse batendo com força o copo sobre a mesa. — Merda... — resmunguei pisando duro no chão que de repente cedeu, fazendo-me despencar numa queda brusca... Acabei caindo numa espécie de... O que era aquilo hein? Porão? Buraco? Bat Caverna? Que raio era aquilo?

De costas no chão e gemendo de dor, só consegui captar alguém ao meu lado...

Sasuke!


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Notas finais do capítulo

O que acharam???

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