Conta-se que um velho pedreiro que construía casas estava pronto para se aposentar. Ele informou ao chefe o seu desejo de sair da indústria de construção e passar mais tempo com sua família.

 Ele ainda disse que sentiria falta do salário, mas realmente queria se aposentar.

 A empresa não seria muito afetada pela saída do pedreiro, mas o chefe ficou triste ao ver um bom funcionário partindo. Assim, pediu ao pedreiro para trabalhar em mais um projeto, como um favor. O pedreiro não gostou, mas acabou concordando. Foi fácil ver que ele não estava entusiasmado com a ideia.

 Assim, prosseguiu fazendo um trabalho de segunda qualidade e usando materiais inadequados.

Foi uma maneira negativa de ele terminar sua carreira.

Quando o pedreiro acabou, seu chefe veio fazer a inspeção da construção. Depois, deu-lhe a chave da casa e disse: "Essa casa é sua. Ela é o meu presente para você."

O pedreiro ficou muito surpreso. Que pena! Se soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito tudo diferente.

Tudo diferente...

Por um momento acreditei que pudesse contar com aquela pilantrinha... Mas não!

Claro que não!

Como pude confiar este trabalho a ela?

Claro que a trambiqueira usaria "materiais" de segunda. E agora, me deixou na mão...

 Mas a maior prejudicada seria ela mesma.

Da mesma forma que tirar tudo que Itachi tem é só pelo prazer da vingança, Sakura estava nessa unicamente pelo dinheiro.

Custava esperar até que eu tivesse resolvido tudo? Sim! Tudo tem um preço e não titubeei em pagar, ainda assim ela não quis saber, apenas veio com aquele papo de que não quer mais enganar... O que deu nela? Argh!

Mulherzinha insuportável.

Poderia obrigá-la se quisesse, mas para quê tornar o processo ainda mais desgastante?

Dane-se tudo!

Já passou da hora de agir.

As coisas acabam de tomar um novo rumo.

Peguei o notebook que Shikamaru havia me dado justamente para a transação. Sei que o combinado com Kiba e os rapazes não era para agora, precisávamos esperar até que tudo estivesse pronto...

 Só que eu não estava a fim de perder mais tempo.

Afinal, não era isso que ela queria quando exigiu dinheiro?

Acabar com tudo e desistir? Que não quer mais enganar?

Então aqui está, e justamente como ela queria. Não precisará mais enganar.

Eu deveria arrastá-la até aqui, para lhe mostrar que as coisas seguem conforme os meus comandos. Mas ela com certeza deve estar ocupada demais se maquiando no quarto ou no quinto dos infernos! Argh.

Eu não dou a mínima!

 Entrei no programa hacker do Shikamaru, invadindo e copiando os dados bancários da empresa para transferir trinta milhões de dólares dos cofres da Uchiha para uma conta fantasma, graças aos programas que instalamos nos computadores da empresa.

Peguei uma quantia exata, o suficiente para desfalcar e quebrar todo aquele império miserável de merda!

Soltei uma lufada de ar sentindo um grande peso sobre meus ombros, provavelmente todo o estresse que sentia ao pensar no que a idiota fez.

Por que raios ela muda de ideia com tanta facilidade? Argh.

Interesseira!

Não podia esperar para ter a grana? Não podia continuar fazendo seu número de miss humildade?

Só faltava uma coisa para que tudo ficasse perfeito. Argh. Criaturinha maligna!

Como pode num momento agir como se importasse com as pessoas e no instante seguinte somente consigo mesmo e com quanto pode lucrar?

 Por que raios estou tentando entendê-la?

Isso não me importa!

Enquanto os números cresciam na tela do computador, encostei a cabeça na mesa do escritório e para minha infelicidade, acabei caindo no sono.

 Acordei exatamente às cinco horas e quarenta e sete minutos. A transação já havia sido concluída.

 E oficialmente o dinheiro da empresa estava sob minha posse.

Levantei-me massageando o rosto e subi a fim de ir ao quarto acordar Sakura e nos organizarmos para fugir.

Assim que adentrei o cômodo, percebi que não estava ali. Caminhei até o banheiro abrindo a porta irritado, e nada!

Onde aquela idiota se meteu? Argh!

 Abri a porta do closet, pegando algumas peças de roupas e uma mala pequena.

Inclinei-me para pegar uma peça que havia caído no chão, quando só então percebi algo no sofá de Sakura.

Mas, o quê?

 Tudo estava intocável, como quando a deixei na noite passada.

Não podia ser...

Sakura não pegou o dinheiro? Mas... Por quê?

 Não foi para ter o dinheiro logo que ela desistiu? Não era este seu único interesse?

"O pedreiro ficou muito surpreso. Que pena! Se soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito tudo diferente."

Por que Sakura mudou de ideia? Por quê? Argh!!!

Terminei de arrumar as coisas e coloquei dentro do carro, em seguida espalhei os explosivos por alguns pontos da casa.

Dei uma última olhada naquela casa e suspirei...

Era hora de partir.

Entrei no carro e acionei o controle dos dispositivos.

Dei partida assim que vi o impacto dos fragmentos esvoaçando. Precisava encontrá-la, e certamente sabia onde ela estava...

— Abre logo essa merda, Naruto. — insisti impaciente, quando o mesmo surgiu na porta.

Adentrei empurrando-o para o lado, percorrendo o lugar com os olhos.

— Bom dia, Sasuke... Perdeu alguma coisa por aqui? — perguntou-me irônico.

— Onde ela está?

— Que tal dar uma olhada no meu bolso?

— É melhor parar de brincar antes que eu quebre a tua cara. Sei que ela dormiu aqui.

— Dormiu sim, na minha cama... E o contrário do que eu queria, ela não estava pelada gemendo. Mas chorando por ter te deixado...

— Do que está falando?

— Já chega, Sasuke... Não percebe que ela caiu na infelicidade de gostar de você? Pare de fingir que você não mudou desde que ela chegou, ou não teria vindo até aqui atrás dela antes de dar o fora!

— Você sabe muito bem que preciso deixá-la em segurança. — retruquei entre dentes.

— E você sabe muito bem que eu poderia fazer isso, mas está aqui não está? Você se importa, Uchiha.

— Já chega! Preciso levá-la, agora! — exigi.

— Ela não está...

— O quê?

— Ela foi até a empresa... — Naruto contou, e no mesmo instante meu celular tocou.

— Sasuke, Itachi acaba de descobrir o rombo que foi feito na empresa! — Kiba avisou-me e eu desliguei o celular, olhando para Naruto que entendeu imediatamente o que estava acontecendo.

Ele estava furioso.

— Não acredito que você já transferiu o dinheiro da sociedade para sua conta sem nos avisar!

— O que queria que eu fizesse? Ele iria descobrir de todo jeito... Sakura se negou a continuar com o disfarce.

— Mas agora ela está lá dentro! — ralhou, puxando os próprios cabelos com ódio.

Merda!

— Vou buscá-la. — disse, discando o número dela que só chamava. Argh. Idiota, atende essa merda!

Chamou mais umas cinco vezes, até que finalmente atendeu.

— Palavra de princesa não volta atrás... Nem vem que não vou voltar! É isso mesmo que você ouviu não me faça repetir, please. — disse a vozinha irritante.

— Me diga exatamente onde você está. — pedi impaciente, Naruto já arrancava os cabelos andando de um lado para o outro.

— Eu sei que está sendo difícil para você o nosso processo de separação, Sasuke. Mas uma hora você terá que aceitar e cair na real que não te devo mais satisfações!

— Não estou brincando, idiota. Onde você está? — perguntei com a voz alterada.

Essa idiota não se toca que é importante, não?

— Idiota? Acaso ouvi com esses ouvidos que o diamante há de repousar na forma de brinco que você me insultou? — fez uma pausa e pude ouvir sua respiração. — Sasuke Uchiha, entenda de uma vez por todas que depois da nossa separação verbal e que eu saí da sua casa, não lhe devo mais satisfações, e não aturarei mais os seus insultos... — avisou, e eu me irritei ainda mais. Eu a estrangularia só para calar essa boca se ela estivesse aqui!

Suspirei contando mentalmente até dez antes de continuar.

— Sakura, Itachi está aí com você? — perguntei ignorando o delírio.

— No momento não. — respondeu desistindo de me infernizar.

— Onde é que você está?

— No banheiro da empresa retocando o meu blush... Quê que é, vai ficar me controlando agora, eu não o comprei no seu cartão, ta? — disse irritada.

— Ele acabou de descobrir o golpe. Você tem que sair daí, imediatamente! — avisei.

— Q-Quê?! Oh my God! E-eu vou ter um ataque... Minha visão está ficando embaçada, já posso ver uma luz e... Mamãe é você? — Sakura surtava no celular. Argh.

— Cale a boca, Sakura... Não é hora para dar chilique. Tem que conseguir sair daí sem que ninguém te veja, acha que consegue?

— Estou com medo, Sasuke. — choramingou temerosa.

Afastei o celular do ouvido, controlando minha raiva.

— Não fique — tranquilizei-a. — Vou te buscar. Apenas tente sair dai de dentro.

— Está bem... — concordou. — Mas para onde devo ir? — perguntou, e eu parei para pensar num lugar seguro e próximo.

— Vá até o metrô, fica a cinco minutos da empresa. Esconda-se no banheiro de lá, estou indo te pegar.

— Certo. — Concordou e eu desliguei.

Apesar de tudo, Sakura era esperta, e se tem uma coisa que ela consegue fazer direito é salvar sua pele.  

Para o bem de Itachi, era melhor não conseguir pegá-la, meu humor não estava dos melhores. E se encostasse num fio de cabelo rosa dela e cruzar meu caminho, não me responsabilizarei.

— Vou com você. — anunciou Naruto.

— Não mesmo! Você coordenará a equipe por mim. Certifique-se de que tudo fique pronto, é o tempo de Kiba e Shizune se esconderem, Sakura ficar em segurança, daí sim ficarei frente a frente com Itachi. — expliquei.

— Você sabe que estamos esperando o Lee... — Naruto contestava-me, mas o interrompi. Não tinha tempo a jogar.

— Confio nele. Fugirei até que esteja tudo pronto. Deixe que eu entre em contato com vocês. — disse e Naruto assentiu.

As coisas finalmente começaram a andar.

Construí este momento de minha vida, um dia de cada vez, estrategicamente, bloco por bloco, e muitas vezes fazendo o menos possível para não me envolver nessa "construção".

Bolei um plano, coloquei Kiba infiltrado como advogado na empresa, juntei uma equipe de homens habilidosos, coagi os acionistas para me tornar sócio e a única coisa que não fazia parte deles era ter Sakura entre minhas decisões, fazendo com que eu mudasse a rota de tudo, apressasse as coisas de maneira incerta.

 Era para ser uma curta participação, um simples sobrenome, mas ela foi se instalando e se metendo nas minhas coisas, e quando vi...

Já não podia simplesmente ignorá-la.

 Estava sendo irracional e isso definitivamente não estava nos planos.

Mas depois de tudo, com surpresa, descobri que precisamos viver na casa que nós mesmos construímos.

Percebi que me importava com ela.

Não poderia ignorar todo este tempo em que ela infernizou minha vida com seu jeitinho azucrinante, fútil e maluco.

Não poderia deixá-la em perigo.

 Não podia.

Se pudesse voltar atrás...

Talvez fizesse tudo diferente. Eu mal podia prever onde isso tudo daria. A única certeza que tenho era que nada saiu como o esperado

. Só que também não posso voltar atrás, não é mesmo?!

Eu martelei os pregos, eu ajustei as tábuas, fui eu quem construiu os alicerces.

Eu era o arquiteto.

Minha vida é um projeto que eu mesmo edifiquei. Todas as atitudes e escolhas de hoje, estão determinando o tipo de "casa" em que farei morada amanhã.

O amanhã que era tão incerto quanto às surpresas que encontrei pelo caminho.

 Sakura era uma delas.

Apressei-me até o carro, dirigindo velozmente, e em questão de minutos já estava por lá.

Liguei novamente para Sakura.

— Já chegou? — perguntei.

— Sim... Venha logo, por favor... Estou com muito medo. — Sakura disse aos sussurros.

— Está no banheiro?

— Sim, em cima do vaso sanitário... Acho que tem alguém aqui, está se aproximando, Sasuke... Por favor... — sussurrou ainda mais baixo.

Freei o carro bruscamente, parando-o num ponto de táxi em frente ao metrô. Ignorei os xingamentos dos taxistas e corri para as escadas, descendo para a estação que para minha sorte estava praticamente vazia.

 Cacei entre as placas onde ficavam os banheiros, correndo para lá em seguida.

Diminuí o passo quando estava próximo, preparado para sacar a arma presa em minha cintura a qualquer momento. Embora não quisesse chamar atenção atirando em alguém, faria se necessário.

 Aproximei-me do banheiro feminino a passos lentos, imperceptíveis, e vi que ali havia um homem engravatado com um revólver em mãos, enquanto chutava as portas do banheiro em busca dela.

 Aquilo me irritou.

Lembrei-me da voz amedrontada de Sakura ao celular e isso só provocou ainda mais a minha ira.

Esperei até que ele se aproximasse da porta principal, e quando o fez, dei um forte chute na porta, prensando-o na parede, fincando esmagado com o impacto do baque.

No mesmo instante, Sakura havia saído de uma das cabines do banheiro, presenciando a cena, e agora fitava o nada em pânico, completamente atônita, com uma feição frágil e feminina, totalmente indefesa.

 Seu olhar demonstrava o quanto estava abalada. Sua blusa estava suja com o sangue que espirrou do homem caído no chão inconsciente.

 Passei por cima dele, pulando-o, peguei sua arma no chão e a guardei comigo, indo na direção de Sakura que correu para me abraçar...

Assustada. Em pânico. Chorando.

— Obrigada... — pude ouvir em meio aos soluços.

Apenas lhe envolvi em meus braços, desejando levá-la para longe dali.

 Aquele homem no chão certamente não era o único atrás de nós.

 Afaguei seus cabelos, segurando seu rosto delicado entre minhas mãos e num ato impensado, pressionei meus lábios nos dela, dando-lhe um olhar acolhedor.

 Entrelaçamos nossas mãos e juntos saímos correndo.