"Morra Slender Man!". Que tipo de pessoa recupera a consciência dizendo isso?!

Olha, minha situação era... é péssima. Eu não gosto de trabalhar ao lado de quem eu não confio, e com certeza já deu para perceber que eu não confio no Cato. Posso até fingir que estou por cima da situação, mas a realidade é completamente diferente. Ele é uma grande ameaça. E em relação a isso, o grande problema de fugir com a ajuda dele é: quanto mais ajuda, mais sentimento. Por isso é ideal que o assassino não tenha nenhum tipo de proximidade com o alvo. Ter o mesmo alvo por anos e anos dificulta ainda mais. Querendo ou não eu sabia quase tudo sobre Cato, só saberia mais se pudesse ler seus pensamentos.

Ou talvez eu possa ler os pensamentos dele. No momento tenho quase certeza de que ele está pensando "Devia ter escrito meu testamento quando tive tempo". Marvel não para de rir da expressão "pré-morte" de Cato. Nosso plano era o seguinte:

–Primeiro, Cato iria convencer os guardas a se retirarem da porta. Mas para isso era necessário que ainda não tivessem conhecimento da rápida e recente traição dele. Nossa esperança era que Peeta convencesse Katniss por tempo suficiente.

–Segundo, imobilizar os inocentes guardas, que estariam distraídos pelas doces e mentirosas palavras de seu até então notável chefe (que na verdade estava ajudando criminosos a fugir).

–Terceiro, correr até um lugar longe o bastante para arriscarmos pedir ajuda ao Tordo.

Em troca: Marvel e eu demos nossa palavra de ajudar Collapse a investigar o Tordo(que apesar de ser meu "patrão", é uma pessoa que eu adoraria ver atrás das grades... depois de descobrir quem é).

— Certo, vocês tem certeza que isso vai funcionar?— Cato pergunta, apreensivo.

Não.

—Hum, talvez. Nunca se sabe.

—Muito encorajador.— ele responde, antes de caminhar em direção aos guardas, assumindo um semblante despreocupado, totalmente diferente ao que mostrava instantes antes.

Tudo está montado para dar errado, e eu estou pronta para a fuga. A experiência me diz que vou ter que correr por minha vida mais uma vez, mas uma pequena parte de minha mente dizia "confie nele". Simplesmente resumi minhas ações a continuar escondida e respirar calma e silenciosamente. Não consigo ouvir muito de minha localização, mas parece que os inocentes guardas estão caindo na conversa que planejamos. Ou não. Cato caminha novamente em nossa direção, muito antes do planejado, com uma decepção imensa registrada em uma magnífica careta.

— Oque aconteceu? Porque você está voltando?— perguntou Marvel.

—"Ordens da Srta. Everdeen, ninguém entra ou sai do prédio até capturarem os fugitivos, as portas estão trancadas e o único modo de abrir é com o comando da central".— ele responde.

Ótimo, realmente ótimo. Isso significa que estão atrás de nós.

—Mas como eles não sabem que temos o Collapse de nosso lado?— Marvel continua, depois olha para mim e diz — Wow, essa é uma frase que eu nunca pensei que me ouviria dizer.

— Provavelmente Gale e o outro ainda estão desacordados...

— Eles não estavam mortos?!— Cato exclama.

— Não, eu sou péssima com armas. Devem pensar que o temos como um refém, mas isso ainda não explica como os guardas não estranharam ver você se já receberam ordens sobre nós.

Os dois rapazes a minha frente me encararam, com uma estranheza absoluta estampada. Talvez porque eu consegui raciocinar muito mais rápido do que fazia naturalmente, de um modo que até eu mesma me espantara. Ou porque esperam qualquer reação.

— Onde você arrumou tanta calma pra pensar, baixinha?!— exclamou Marvel. Na verdade, calma eu não estava, mas devia pensar urgente no que fazer. Dois guardas armados não podem me impedir.

—Espera, eu preciso planejar algo. E não me chame de baixinha. — eu digo. É difícil pensar sobre pressão, Marvel e seus comentários não ajudavam em nada, muito menos Cato e sua enorme habilidade de ficar parado me encarando. Eu aponto para ele, acusativa e digo, o mais alto possível já que estávamos "escondidos"— Você aí, me ajude a pensar!!

—Eu? Ehr...

—Rápido! A qualquer momento a maldita Katniss Everdeen pode...

— Aparecer segurando um arco e acompanhada de uns 5 caras de terno e rostos de vilões de filme? Por que é o que você vai ver se olhar para trás. — disse Marvel.

Todos os palavrões possíveis estavam passando em fila indiana por minha mente, mas eu simplesmente solto um grunhido de desaprovação e viro para olhar Katniss. O arco em suas mãos e a aljava pendendo em suas costas indicava que ela iria querer algum tipo de combate. Os homens que a acompanhavam não me interessavam, mas eram um grande problema

—Vocês conseguiram me distrair por um momento.— ela diz.

— Peeta conseguiu, nós não fizemos nada. Fico surpreso de saber que ele pode prender sua atenção por tanto tempo, oque aconteceu afinal?— Cato fala. Um sorrisinho malicioso se forma nos lábios de Marvel assim que o rosto de Katniss fica vermelho por instantes, mas eu me limito a revirar os olhos.

—Não te interessa, Cato. Não devo explicações a alguém que foi idiota o suficiente para ajudar a pessoa que tentou te matar. E eu ainda tentei ajudar... que pena, talvez não sobreviva tanto para ver como eu pego seu posto de detetive tão fácil!— ela continua, sorrindo.

—Olha, vamos deixar esse papo de lutas épicas pelo posto de "Collapse" e distrações suspeitas por um tempo, eu só quero saber qual é a do arco!— Marvel fala, ainda sorrindo.

— Bom...— Katniss pega uma flecha e a posiciona no arco, sendo acompanhada pelos homens e suas armas. Eu pego uma faca e me preparo, sem interromper o contato visual com a garota a minha frente e torcendo para os dois idiotas ao meu lado se armarem também.— Arco contra facas, nada mais justo, não é?

Uma ideia me ocorre, assim que Katniss pronuncia "arco". Olho para Marvel e sussurro "Glimmer". Embora sua habilidade no arco não fosse tão boa, ela tinha acesso ao helicóptero do Tordo, e por acaso é o número 1 na chamada rápida do celular de Marvel, o mesmo que deixamos no laboratório ao fugir rapidamente...

— Pode deixar, bactéria. Mas preciso de uma distração.

Sem pensar direito, agarro a mão de Cato, e o puxo para um dos corredores, enquanto Marvel segue para a direção oposta, confundindo nossos oponentes. Tenho tempo apenas de ouvir Katniss gritar "atrás deles", me lembrando estupidamente de uma tirana de filmes. Maldito tempo que eu passei com o Marvel.

—Oque você está fazendo?!— Collapse exclama, mas eu continuo o puxando até deixar de ouvir os passos rápidos dos homens armados. Katniss foi atrás do Marvel.

— Onde fica o comando central?— eu digo, enquanto espero Cato se acalmar. Até parece que ele nunca correu tanto na vida dele, eu tenho certeza de que já o fiz correr mais.

— Nós passamos a entrada a alguns metros...—ele responde, tentando recuperar o fôlego— Podia ter me dito isso antes, estamos perdendo tempo.

— Sim, claro, e revelar nossa posição para eles!

— "Eles" já nos perderam de vista a muito tempo e...

Ouvimos os passos novamente. Cato aponta para uma porta e entramos, o mais silencioso possível. Infelizmente o espaço era pequeno, abafado, a única janela ficava na porta, mas era trancada e coberta por cortinas. Não tivemos escolha a não ser ficarmos muito próximos, em me obrigando a ficar de costas para ele. Ele fez menção de falar alguma coisa, mas tampo sua boca com a mão(meio que errando e dando um tapa nele sem querer), esperando os guardas se afastarem.

— Se abaixe.— eu sussurro.— Você é muito alto, eles vão te ver.

Cato se abaixa, cuidadosamente, para não fazer nem um ruído, e encosta seu rosto na curva de meu pescoço. Fico incomodada, mas não faço nada para interromper o estranho contato. Esse maldito vírus marvelous me faz ter ideias erradas nos piores momentos.

Ficamos naquela posição até ver a silhueta dos três homens que nos perseguiam passar rapidamente pela pequena janela. Tento abrir a porta, mas Cato me impede, me envolvendo com seus braços.

— Espere se afastarem mais, temos que voltar, eles pensam que estamos seguindo em frente.

Assinto com a cabeça, e espero alguns instantes se passarem até finalmente me livrar de Cato, e agradecer mentalmente a qual seja a divindade que comanda o mundo por Marvel não estar por ali.

Abro a porta e olho em volta para ter certeza de que é seguro. Seguimos até o controle central, e Collapse começa a abrir as portas.

—Pronto. Só precisamos garantir que elas fiquem assim.

Eu pego uma das facas e corto os fios que ligam o computador. As luzes se apagam.

— Algo me diz que sem energia não podem fechar as portas.

—Vamos torcer para que isso não tenha acionado nenhum alarme que fecharia as portas.

— Se arrisque um pouco, Collapse!

Ele me olha, indignado.

— Caso não tenha percebido, Garota das Facas, eu estou arriscando toda a minha vida por voc... Pela chance de vencer a Katniss.

—Caso não tenha percebido, Collapse, eu estou arriscando meu trabalho, minha reputação, meu melhor amigo e minha própria vida por você.

Cato se aproxima, ficando perto demais de mim. Ele fica me olhando por um tempo, sem nenhuma reação. Depois diz:

—Porque está fazendo isso se está arriscando tanta coisa?

—Porque...

Ele está tão perto, se abaixando até que seus lábios se encontram com os meus.

Isso é um erro, um gigantesco erro. Mas não me incomodo de errar dessa vez.