Corremos tudo o que aguentamos até o folego se tornar escasso, a neve a baixo de nossos pés dificultada a corrida. Já devem fazer cerca de duas semanas que fugimos de onde Red morava, Granny não veio atrás de nós como prometido, ela preferiu ficar para “segurar as pontas” como dizia na carta que ela enviou, sem sinal do nightmare nesse tempo. Já contei a Red que eu sou a Snow e o fato de eu ser eu nesse momento está nos causando essa nova corrida, os guardas da rainha nos acharam.

–- Acho que despistamos eles! – Falo triunfante.

–- Snow, espere! – Red diz, apesar disso continuamos correndo.

–- Não pode fugir dos guardas da rainha Snow White! – Um dos guardas berra.

Ele é o mais próximo, os outros estão longe, aproveitamos isso e o golpeio com minha faca deixando-o vivo, mas inconsciente, caído no chão. Continuamos correndo, mas algo me chama a atenção, me aproximo da árvore na qual um cartaz escrito “Snow White – procura-se por assassinato e traição”. O arranco da árvore o rasgo, logo após continuamos a corrida.

–- Por aqui – Red fala e me puxa para uma árvore que tem um buraco, nos escondemos ali enquanto os guardas passam sem notar nossa ausência.

–- Está tudo bem – falo baixinho, não sei que quero acalma-la ou a mim – Eles já foram.

–- Minha capa está rasgada – Red diz com a voz assustada – Você tem que se afastar de mim!

–- Não vou te deixar sozinha!

–- Hoje é dia de lua cheia! A hora do lobo já vai começar – ela responde com um medo aparente. – Essa capa é a única coisa que me protege da transformação!

–- É só um rasgo! Talvez ainda funcione... – tento acalma-la. Sem sucesso.

–- E se não funcionar? Você viu o que eu fiz ao Peter... Essa coisa, o lobo, quando me transformo perco o controle. Por favor Snow, encontre um abrigo. Entrarei na floresta e acharei um lugar para me esconder.

–- Certo – confirmo – Mas só hoje a noite. Nos encontramos pela manha perto do córrego e então vamos procurar um local seguro para nós duas.

–- Porque você está fazendo isso? – Ela pergunta.

–- fazendo o que?

–- Sendo gentil comigo. Você viu o que eu fiz quando me transformei no lobo. Você sabe o que eu sou. – ela completa.

–- Mas eu sei o que você não é também. Estamos juntas nessa Red. – Digo, e ela esboça um pequeno sorriso antes de sair correndo para dentro da floresta.

Sozinha. Onde será que o Sonhador está a uma hora dessas? E se o mataram? Ele sabia que poderia morrer, mas não, ele não pode ter morrido. Levanto e começo a andar pela floresta, vou primeiro até o córrego beber água e depois começo a procurar um lugar para passar a noite, quem sabe a cima de uma árvore ou algo parecido. Ouço um barulho de cascos batendo em um tronco. Começo a correr até ouvir outro ruído seguido de uma voz.

–- Desculpe, Snow, mas não estou capacitado para correr.

–- S-Sonhador? – pergunto.

–- Quem mais seria? – Sonhado pergunta vindo ao meu lado, revelando seu pelo preto manchado de sangue e alguns cortes em suas costas.

–- Céus! O que aconteceu com você?

–- Problemas – ele diz.

–- Pensei que unicórnios fossem pacíficos. – comento.

–- Os unicórnios são. Os caçadores não.

–- Por que não se cura?

–- Sabe Snow, toda magia tem um preço, até a boa, se é que eu posso ser considerado algo bom – ele explica – Os nightmares estão cheios de magia quando estão saudáveis, quando estamos doentes, para nos curarmos, precisamos acha-la, ou fabrica-la.

–- E como se faz isso? – Pergunto.

–- Apelando para o lado das trevas – ele explica – mortes. As histórias que você deve ter ouvido de nightmares transformando pessoas em carvão não foram sem motivo, eles apenas queriam sobreviver ou proteger quem amam.

–- O que você poderia fazer para conseguir magia agora?

–- Matar um unicórnio talvez, ou uma fada, ou conseguir pó mágico, ou alguém me curar. – ele Explica – Matar humanos não rende tanta magia.

–- Onde tem unicórnios por aqui?

–- Não, Snow, uma vida não pode ser trocada por outra – ele diz – cada vida é única e especial.

–- Você não pode morrer! – Agora já estou chorando.

–- Um dia todos morrem – ele diz.

–- Não! Eu já perdi minha mãe, meu pai e não posso perder você!

–- Talvez eu não morra.

–- Você não vai – controlo a voz. – Nós vamos dar um jeito, eu prometo.

POV RED

O sol penetra lentamente meu esconderijo perto das árvores. Levanto e percebo que ainda estou com a capa, então provavelmente não me transformei. Suspiro aliviada. Levando e vou até o córrego beber água, coloco a minha capa ao meu lado e molho minhas mãos. Bebo alguns goles de água quando alguém aparece e pega minha capa.

–- EI?! – berro e começo a correr atrás.

Corremos alguns metros até ele parar, eu paro também.

–- Procurando por isso? – ele pergunta levantando a minha capa. Ele segura uma tocha na outra mão.

–- Não, não, por favor! Eu preciso disso – falo.

–- Essa coisa velha? – ele rebate. – Para que precisaria dela?

–- Solte-a – peço.

–- A menos, que ela proteja você de algo – ele diz ameaçando colocar a capa no fogo.

–- Do que, do que você está falando?

–- Acha que eu não sei reconhecer uma loba quando eu vejo uma? – Ele pergunta. Não consigo me controlar e corro o derrubando no não.

–- Como sabe o que eu sou? – pergunto.

–- Eu sei como reconhecer uma filha da lua. – ele diz e faz seu olho ficar amaralo.

–- Você é um também!?

–-Meu nome é Quinn – ele diz e me ajuda a levantar – senti seu odor noite passada. Nunca teve ninguém para conversar sobre isso, teve? Para ensina-la sobre o que você é.

–- Meus pais foram mortos por caçadores quando eu era bebê, fui criada pela minha avó. – Falo.

–- Ela escondeu a verdade de você. – ele diz. – Fez você vestir aquilo – ele aponta para a capa caída no chão e eu corro para pega-la. – Continua perdendo o controle ao se transformar? Ou até feriu alguém? Eu sei como você se sente. Já passei por isso, não tem que ser assim.

–- O que você quer dizer com isso? – falo na defensiva.

–- E se eu te disser que existe uma forma de se controlar durante a transformação? Assim não terá que ter medo do que possa fazer novamente.

–- Como isso é possível? – Pergunto com um sorriso.

–- Me siga. – ele diz.

Andamos pelo meio da floresta novamente. Lembro-me de ter combinado com Snow de nos encontrarmos no córrego, mas sinto que devo segui-lo. Paramos a frente de uma caverna com uma porta de madeira.

–- Isso é algum tipo de armação? – pergunto.

Como ele me ignora e entra, eu decido segui-lo. Tem uma escada que leva para uma espécie de câmara subterrânea que é incrivelmente bem iluminada. Cheia de tochas e uma fogueira no meio.

–- Costumava ser o Gran hall de um castelo – Quinn explica. – Até afundar. Agora é todo nosso. Dou uma olhada em volta e percebo algumas pessoas em volta da fogueira.

–- Eles são...

–- São todos iguais a nós. Venha, Anita espera por você.