Continuo preocupada com o que Troian me disse. Aleza e Coryna discutindo sobre me privilegiar. Ainda não acredito que sou a preferida. Não posso acreditar, na verdade. Troian é mais forte, eu sou apenas inteligente. Se um carreirista me pegasse, eu estaria morta.

Inspiro fundo. Troian ainda segura minhas mãos. Sinto um arrepio ao longo do corpo e me forço a sair. O que eu menos preciso é um sermão de nossa querida pessoa da capital.

Levanto da cadeira e Troian me acompanha até a porta. Giro a maçaneta e vejo que Anderses me espera, escorado no batente.

- Então docinho, pronta para ver as Colheitas? Espero que sim. Amanhã já é o desfile. E espero que você consiga fingir que é gente na frente das pessoas da Capital.

- Tudo depende. Estará sóbrio?

- Trabalhando com você? É impossível. Apenas sua voz me irrita.

- Tenho o desprazer de dizer o mesmo.

- Acredite garota, sua arrogância ainda te mata.

- Não ou arrogante.

- Não me importa. Eu estou vivo e não vou para uma Arena repleta de pessoas que querem me matar. A opção é sua. Seja gentil e talvez não morra.

- Esteja sóbrio e talvez eu me comporte.

- Se não percebe, eu estou sóbrio. Aleza proibiu qualquer Avox a me dar qualquer tipo de bebida alcoólica.

- Mulher esperta.

- Vamos criatura desprezível. A comida da Capital é a única coisa que pode tirar proveito. Aproveite-a e dê valor, porque na Arena você implorará por qualquer coisa comestível.

Dou-lhe um escárnio e me dirijo à mesa. Aleza e Coryna estão sentadas lado a lado nas cadeiras em direção à janela. Anderses se senta na ponta, longe das duas.

Troian e eu nos sentamos no meio, longe de todos, afinal é desconfortável sentar-se perto de pessoas que podem te matar com qualquer item da mesa.

Uma Avox magra de cabelos escuros e finos me serve um prato de biscoitos de alguma fruta. Creio que nunca comi nada igual, afinal, o Distrito 5 só nos oferece um mingau sem gosto com aparêcia não convidativa.

Os pedaços de fruta derretem em minha boca e sinto com prazer as ácidas bagas de amora estourando entre meus dentes. Sirvo-me de um suco azulado e o bobo com pequenos goles.

- Então crianças, já decidiram como vão treinar? – pergunta Coryna.

- Separados. Aleza pegue o garoto e eu fico com a petulante. – intervém Anderses.

Solto um gemido de irritação. Não consigo imaginar o porquê de alguém como Anderses querer me treinar. Não era ele o homem que mais me detestava?

- Anderses querido, você não pode treinar só a Srta. Petterson. – diz Aleza.

- Não só posso como vou. Agora se apresse molenga, tenho algumas coisas para conversar com você.

Travo o maxilar de irritação. Não consigo imaginar alguém tão desprezível quanto Anderses Gimmi. Mas pelo menos seu hálito não fede a bebida barata.

Termino de comer e me levanto. Anderses me segue e paramos na sacada do trem.

- Sente-se no banco. – ele diz.

- O que quer comigo Anderses? Já não basta querer que eu morra?

- Em algum momento eu disse que queria que você morresse?

Nego com a cabeça.

- Ótimo. Agora me escute. A Arena é perigosa, mas há uma chance de vencer usando apenas a inteligência.

- Fala sério?

- Sim, acredito que você tenha algum potencial. Mas acredite, não vai ser fácil. Há anos estudo a Cornucópia e tudo que há nela. Desde o primeiro ano em que assisti os Jogos. E eles sempre colocam as mesmas coisas: Armas, suprimentos e coisas que só pessoas inteligentes seriam capaz de usar como armas.

- E o que seria isso?

- Seu anel por exemplo. – sussurra.

- Como? Isso não é uma arma.

- Não, definitivamente não é. Não passa de um anel, mas acredite, pode ser tão útil quanto uma faca ou espada. Você entenderá na hora certa. Vou te treinar separada de todos porque não acredito que Troian seja capaz de ganhar. Vou te ensinar tudo que aprendi ao longo de todos os anos. Aleza, ao contrário de mim, ganhou por sorte. Era bonita e a Arena completamente voltada para o Distrito 5: Eletricidade. Eu venci numa das mais difíceis edições: Estávamos em um quase deserto, ganhei por ser o mais inteligente e adaptado.

- Olha, você está começando a me impressionar. – admito irônica.

- Um ótimo começo, agora, quando acabarmos, finja que me odeia, Aleza não pode saber de nada que conversamos.

- Não é difícil.

- Sem ironias, por favor. Outra coisa que quero que entenda: Nunca espere que eu seja sua última esperança. Nunca espere que uma dádiva salve sua vida. Elas realmente podem salvar, mas raramente vem. Conseguir patrocinadores não é fácil e você só receberá algo de mim a partir do momento que me impressionar. Caso contrário, vou dirigir minha atenção à Troian. Repetindo, nunca espere que eu seja sua esperança, porque eu posso não ser. Tenha sempre um plano B e mantenha-se a salvo. Se durar até o fim, não lute, espere que a Capital faça algo ou que seu oponente morra de fome ou algo assim.

- E como pretende me treinar escondido de todos?

- Não é difícil, apenas direi à Aleza que você vai passar o dia comigo. Acredite em mim, existem muitas coisas na Cornucópia. Coisas essas que não são úteis até que você seja inteligente o suficiente para usar, Betee usou fios e ganhou. Johanna fingiu-se de fraca. Finnick era bonito. E você? O que é?

- Não sei.

- É por isso que eu vou te treinar. Quero ter a honra de fazer uma vencedora.

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Eu sei que está curto, mas eu estive sem tempo de escreber. Daqui a pouco melhora.

XOXO