Faz menos de um dia que eles se conheceram, e Lucy nunca viu alguém mais estranho do que Natsu. Primeiramente, ele foi procurar um dragão... Numa cidade. Segundo, ele tinha um gato azul voador falante, exatamente nessa ordem.  

E terceiro, ele era um dos magos mais fortes – se não o mais forte – que ela já tivera visto em ação na vida.

Natsu, estendendo sua mão a ela, a apresentou para a guilda que Lucy tinha sonhado em entrar desde pequena. Para o lugar onde um dia chamaria de casa, com magos que um dia chamaria de família.

...Pensando bem, ele não era tão estranho assim.

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Faz um ano, sete meses e quinze dias que eles se conheceram, e ela talvez, só talvez, possa gostar dele. Quer dizer, do jeito que ela não conseguia parar de pensar nele ou em como ele estava sempre lá por ela e tudo mais devia ser um indício.

E ela está em apuros, perdida, sem salvação, porque antes ele era o último garoto que ela pensaria em gostar na vida, mas agora conseguia fazer seu estômago dar voltas e seu pulso aumentar só por estar próximo dela-

Lucy pensa seriamente em se tacar da janela de seu apartamento para não ter que viver com esses conflitos mentais. Mas talvez não seja tão ruim.

Além disso, ela tem certeza que ele gosta dela também, mesmo que não tenha se tocado disso ainda.

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Faz um ano, dez meses e vinte e oito dias que eles se conheceram, e ela decide que se não der o primeiro passo, não vai ter salvação.

Estão numa festa, já passou de uma da manhã, e três quartos da população da guilda estão bêbados.

Juvia está fugindo com o que parece ser a blusa, calça e outras coisas de Gray como uma fangirl doida, Gajeel está jogando Lily para o alto como se ele fosse um bebê, Erza está com roupa de gatinha dando em cima do quadro de missões e Cana está desmaiada no chão.

O momento perfeito.

Ela olha de canto para ele mais uma vez – ao seu lado na mesa, rindo do mago de gelo sem roupas -, e parte para o ataque. Finge estar com sono, e encosta de leve sua cabeça no ombro dele.

Tudo bem que não é algo muito direto – um beijo na bochecha, abraço, olhar sedutor - , mas a loira tinha gastado toda sua coragem nesse movimento, então era melhor ele notar alguma coisa.

Quando parece que Natsu não tem nenhum neurônio na cabeça, ela sente um braço se esgueirando timidamente pelos seus ombros e a puxando mais para perto, quase que possessivo.

 Lucy deixa um sorriso se acomodar em seus lábios, e cai num sono tranquilo.

No dia seguinte, tem uma foto dela e do caçador de dragões dormindo abraçadinhos no mural de missões. Ela tem que aguentar as zoações de Happy e do resto da guilda, mas pelo menos ela conseguiu pegar Natsu a encarando pelo menos umas três vezes no mesmo dia.

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Faz nove anos, três meses e sete dias que eles se conheceram, e finalmente, depois de tempo demais esperando – os sete anos congelados no tempo meio que ajudaram nessa ênfase -, ela o beija.

É uma tarde de sol, e os dois estão na praça das cerejeiras fazendo um piquenique. Happy está em um canteiro ali perto colhendo flores para dar de presente à Charle, deixando os dois sozinhos debaixo de uma das grandes árvores do lugar.

 Os dois estão falando sobre missões, planejando o que farão na próxima semana, quando ele a puxa para o lado e o rosto da jovem se vira em sua direção para perguntar o que houve-

Ela bate de frente com o nariz dele, machucando o seu próprio no processo.

- Ow! – Lucy o encara com raiva. – Por que diabos você fez isso?

- Uh... Mira disse era para eu ser direto, então...

Ela arqueia uma sobrancelha, até perceber que podia haver um pouco de vermelho no rosto dele. Aí, claro, ela descobre o que aquilo tinha sido, ou melhor, o que era para ter sido.

- Até isso você não faz direito? – Ela cora, mas ri em seguida. Se aproxima dele que parece não ter entendido nada. – Deixa que eu te ensino.

Ela teria que economizar para comprar algo bom para Mira esse ano no seu aniversário, Lucy reflete, enquanto ele a traz mais para perto e a beija de volta.

O momento teria sido melhor se Happy não tivesse aparecido e começado a cantar “Natsu e Lucy sentados numa àrvore~”, o que resultou nela tacando os dois a uns dois metros de distância com o susto.

Ela suspira, ignorando completamente os resmungos vindos de seus parceiros de equipe ao longe.

É claro que alguém teve que interromper. Mesmo assim, ela sorriu. Estava acostumada com situações desse tipo e isso não iria apagar o fato de que eles podiam ser considerados mais do que melhores amigos agora.

Lucy levanta assim que Natsu está a dois passos dela, e não hesita em beijá-lo outra vez.

Não é nada meloso e digno de um romance com direito a pôr-do-sol nem chuva dramática, mas ela pode jurar que esse é o melhor segundo beijo que ela poderia ter tido na vida.

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Faz onze anos, nove meses e sete dias que eles se conheceram, e o maior desejo de Lucy no momento é matá-lo.

Isso porque ele resolveu sair à procura de Igneel sozinho, sem avisar ninguém da guilda e muito menos ela.

Claro que isso foi há uns três meses atrás.

A garota estava sem comer direito, não conseguia dormir, e passava todo o fim de tarde em frente à cidade, esperando- o voltar. Levy e as outras garotas tinham tentado animá-la levando-a para sair e visitando-a frequentemente, mas não era a mesma coisa.

Não que Lucy não gostasse da companhia, era até bom no momento. Mas... Elas não entravam pela janela e te davam um susto quando você saia do banho. Não eram os braços em que você dormia de noite, nem os que sempre te seguravam quando você caía e o sorriso que podia te animar não importa o momento.

Elas não eram ele. Aquele estúpido, guloso, insistente e denso que não conseguia sair de sua cabeça e a deixar em paz.

Então quando Levy entra suada e sem fôlego na guilda numa tarde e lança um olhar de alívio para Lucy falando que “ele voltou”, a garota não precisa nem de um segundo para ficar de pé e passar por ela pela porta.

 Talvez Happy tivesse a seguido enquanto ela estava correndo ou ele estivesse lá com ela desde o início, mas os pés da maga saem do chão e Lucy se vê voando pela a cidade atrás de cabelos rosas, um cachecol de escamas e um sorriso idiota.

Ele está lá, em frente à sua casa, olhando da rua para a janela de seu apartamento. A maga estelar sente um sorriso formar em seus lábios e os olhos marejarem de alívio. Aí ele olha para cima, bem no momento em que Happy resolve que é uma ótima ideia perder as asas.

É claro que Natsu a salva antes dela despencar no chão. Porém perde o equilíbrio, eles estão caídos um em cima do outro e ele está lá mesmo e não é só outra ilusão ou sonho que ela vem tendo nesses últimos meses.

- Lucy, sua estranha, por que você tá sempre caindo? – Ele fala e, com isso, ela começa a rir. Happy diz que a queda pode ter bagunçado uns parafusos do cérebro dela e Natsu concorda, mas a jovem não vai deixar nada estragar esse momento.

Quando se recupera, a maga estelar trata de dar um soco bem dado na cara dele e beijá-lo logo em seguida.  Por enquanto, aquilo serviria como um “bem vindo de volta”.

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Faz quatorze anos, quatro meses e sete dias que eles se conheceram, e ela mal pode acreditar que o desejo de fugir e entrar para uma guilda tenha a trazido até o dia de hoje.

Levy está mais nervosa que ela, andando de um lado para o outro sem parar e repetindo para Lucy – ou melhor, para si mesma – que tudo vai correr como planejado. Cana está bêbada com o vinho que achou na mesa de bebidas, e Lisanna está a levando de volta para as cadeiras.

 Mira está dando os toques finais no seu cabelo, e seu sorriso é o mais feliz que ela já tivera no rosto desde a volta de sua irmã mais nova. E, Erza, a Titania, está tentando manter a cara séria e não começar a chorar.

A maga levanta, e admira o que pode ser o vestido mais bonito que já viu na vida. Branco, longo e que caía perfeito com os adornos do seu corpo, enfeitado com flores amarelas.

Depois de mais alguns acertos, as garotas saem e ela se dirige calmamente até sua posição. As cerejeiras estão com flores e isso a faz lembrar o seu primeiro beijo, bem ali naquele parque.

Lucy se recorda que, quando era criança e apaixonada por contos de fada, fez uma listinha de requisitos para seu casamento. Ela fecha os olhos, tentando lembrar-se do que queria, e começa a riscá-los um por um.

Isso não é um castelo encantado, é o parque das cerejeiras da cidade. Seu pai não está lá para caminhá-la até o altar e sua mãe não está chorando de felicidade, mas até que Makarov e Juvia cumpriram muito bem esses papéis.

Não é um príncipe que está a esperando ao lado do padre, é o garoto-e, agora, homem – mais estúpido e denso que ela já tivera a felicidade de conhecer em toda a sua vida. Era seu escudo, o braço que a levantava do chão toda a vez que ela caía, seu dragão.

Quantas missões impossíveis eles já tinham completado até agora? Quantos vilões tinham derrotado, quantos amigos tinham perdido, quantas pessoas tinham conhecido? Ela não sabia.

O futuro era incerto, cheio de mais aventuras e jornadas longas nas quais ela tivera aceitado cumprir ao ingressar para a Fairy Tail. Ela podia morrer a qualquer hora, perder pessoas importantes , e até a ele.

Mas Lucy sabe que, na vida, o melhor é pensar no presente. Então, ela caminha de queixo erguido e sorrindo para seus amigos enquanto passa por eles junto do mestre, até chegar ao noivo.

Ela chega ao último item da lista, o mais importante. Natsu estende sua mão, sorrindo, e ela sente como se ambos estivessem de volta à Hargeon, quando tudo começou.  Ela marca um acerto em sua mente, e aceita a mão de seu futuro marido.

Se ela era a garota mais feliz do mundo? Sem dúvidas.