A Casa escrita por ahiru sama


Capítulo 1
Capítulo Único




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Era um dia escuro, meio acinzentado para ser clara, tinha nuvens pesadadas no céu e aquele ventinho chato, porém nada de chuva. Um clima péssimo para se fazer uma festa, mas vai dizer isso aos meus amigos.

Estava me arrumando em meu quarto, ao som da banda Linkin Park, quando alguém bateu na porta.  Como estava sozinha em casa naquele dia tive que atender, apesar da minha preguiça dizer o contrário. Era Thomas, provavelmente me chamando pra dizer o quanto eu estava atrasada para a festa.

- Você está atrasada - me olhou de braços cruzados, com um olhar repreensivo que ele só achava que tinha.

- Só alguns minutos, calma... - falei, tentando fazer voz doce.

- Só alguns quarenta e sete minutos, você quis dizer - ele disse, enquanto olhava para o seu relógio preto de pulso.

- Você não está bravo comigo de verdade, então entra logo e espera eu me arrumar - abri o resto da porta e o deixei entrar.

- Vou ficar se eu tiver que esperar muito - me fitou de olhos cerrados.

- Prometo não demorar -sorri, subindo as escadas pro meu quarto enquanto ele sentava no sofá da sala pra esperar.

- Espera, - ele disse, e parei na metade da escada - Given Up? - perguntou.

- O que? -falei confusa.

- A música, que está tocando lá em cima.

- Ah... Sim. Given Up - E continuei subindo.

Thomas era meu amigo desde a quarta série, quando eu bati em um garoto que o incomodava. Não que eu fosse lá agressiva, mas sempre odiei injustiças e pessoas idiotas. Desde então não paramos de trocar sms's, músicas de rock e histórias de terror. Dentre o que posso chamar de "nossa turma", ele e Anna são os que eu sou mais... apegada, pode se dizer.

Terminei de me trocar e desci. Estava usando uma skinny azul desbotada com uma camiseta branca estampada com a bandeira do U.S.A e um all star preto botinha pra combinar. Sempre gostei de me vestir de uma maneira simples, apesar de ter 17 anos ainda não vejo graça em saltos altos. Pelo menos all stares combinam com o meu cabelo preto comprido e franja curta na testa.

- Até parece gente - Thomas sorriu, levantando do sofá, com as mãos no bolso de sua calça preta.

- Por favor, sou diva - disse, jogando o cabelo pra trás rindo, e ele riu comigo.

- Ok diva, agora vamos logo - falou, já me puxando pelo braço porta a fora.

Fomos os dois a pé, a festa não era longe, era na casa da Amanda e ficava a uns dois quarteirões da minha, o resto da turma esperava lá.

- Droga, devia ter pego um casaco - disse, esfregando meus braços, quando estavamos quase chegando.

- Toma, veste isso, é fino mas pelo menos esquenta um pouco -Thomas falou, me entregando a flanela preta dele, ficando só com uma regata branca por baixo. Ok, devo confessar que com o cabelo castanho claro e liso, com o porte físico dele acabei aceitando a flanela só pra ver o quão fofo ele ficava daquele jeito.

Quando terminei de colocar a flanela - desajeitadamente, leia-se - nós chegamos. Batemos na porta e esperamos. Foi a própria Amanda quem atendeu.

- Entrem, só vocês e a Anna chegaram ainda - sorriu. Amanda era bonita, loira, e até simpática, mas pra ser sincera não fazia bem o meu tipo de pessoa. Sou mais gente como a Anna, rockeira e que não liga muito pra aparência, gente como eu pra falar a verdade.

- Oi, Anna - falei, de longe, pois ela estava na cozinha, um pouco distante da porta da casa.

- Oi Mi -ela gritou, com uma voz feliz. - A propósito, meu nome é Milenna, mas a maioria prefere encurtar isso.

Thomas foi até a cozinha e a abraçou, levantado-a. O melhor é que meus dois melhores amigos eram também melhores amigos, facilitando as noites de filme de terror e zumbis na minha casa, obviamente à três. Eu ficava muito sozinha em casa pelo fato de ser filha única e meus pais viajarem constantemente para a casa de praia, onde eu detestava ir, o que facilitava muito nossos encontros lá em casa.

- Então, cadê o resto do povo? - perguntei, me jogando no sofá da sala.

- A maioria cancelou por causa do tempo, uma pena, acho que só o Joe e a Marina vão vir ainda - Amanda respondeu, fazendo cara triste e sentado-se na poltrona ao lado.

- Aqueles dois não - Anna manhou vindo da cozinha, trazendo seu refrigerante e sentando-se no tapete da sala, à frente do meu sofá.

- Por que não? - Thomas perguntou, me empurrando do sofá e me fazendo dar um lugar a ele.

- Porque eles são nojentos - respondi, fazendo cara de brava pra ele, por ter roubado meu lugar.

- Isso se chama ciúme - Thomas disse, botando a minha cabeça no colo dele e fazendo carinho.

- Do Joe?! - Eu e Anna protestamos juntas.

- Não, vocês é que queriam ser agarradas daquele jeito também, que eu sei - ele riu.

- Idiota - disse, revirando os olhos.

- Ah, gente, eles são legais de conversar - Amanda disse.

- Isso eu realmente não posso dizer, nunca consegui pegar um momento em que eles não estivessem com as línguas desocupadas pra falar, se é que vocês me entendem - eu ri.

- Idiota - Thomas disse, provavelmente revirando os olhos.

"O jeito é... dar uma... fugi...." O celular de Amanda começou a tocar. Anna, Thomas e eu nos olhamos, rezando internamente para não ser o tipo de música que tocaria na festa hoje.

- Alô...? - ela atendeu - Tá, já tô abrindo, tchau - desligou.

Eram eles. Joe e Marina, insuportavelmente namorados a uns cinco meses. O que eu achava que estava durando muito pelo histórico de namoradas que Joe vinha tendo desde o primeiro ano do ensino médio. Considerado "o mestre" dos rapazes.

Quando Amanda abriu eles já estavam se beijando, tive medo do que fariam num casa fechada, mas ignorei esse pensamento.

Os dois entraram e se sentaram no chão, ao lado de Anna. Eram mesmo legais, Marina, que eu conhecia melhor, principalmente. Mas ela mudara muito desde esse namoro.

- Oi pessoal - Marina falou.

- Oi - respondemos, quase em coro.

- O que vai ser pra hoje? - Joe perguntou, olhando para Amanda.

- Não sei, estava comentando que o resto do povo desistiu de vir por causa desse tempo estranho...

- Bobagem, só vai ter uma tempestadezinha no máximo - respondeu.

- Tanto faz, tem bebida na geladeira e uma noite inteira pra aproveitar - Amanda disse, se dirigindo à geladeira para pegar os copos e o que tomar.

Não costumo beber mas as coisas andavam ruins... na minha vida em geral.. já fazia algum tempo, e eu estava a fim de esquecer pelo menos naquela noite. Sai do sofá e do colo de Thomas, então começamos todos a beber.

Amanda colocou, no começo, uns pagodes estranhos pra tocar. Depois de um tempo, meio tonta, eu até dancei com Thomas quando ele me tirou. Não curtia muito, mas já estava perdendo a noção de algumas coisas.

Após a música terminar olhei pro lado, Joe havia encostado Anna - agora totalmente bêbada - na parede, parecia querer beijá-la. Marina, pelo o que eu ouvira antes, estava vomitando no banheiro. A coisa estava feia. Apontei o que estava acontecendo pra Thomas e ele entendeu, me pegou pelo braço e puxou Anna da parede, olhando feio para Joe, que ficou sem reação. Sempre soube que ele não prestava, sóbrio ou não.

 Quando todos nós estavamos mais calmos e Marina finalmente tinha conseguido sair do banheiro, olhei pra Joe e pensei em contar pra ela, mas eles já estavam se pegando de novo e eu decidi que deixaria ela descobrir quem ele era sozinha.

- Então... - Joe disse - Vocês querem fazer algo mais divertido?

- Joe por favor, tem uma cama lá em cima, tá? - Amanda brincou -ou não- fazendo todos rirem.

- Apesar da ótima oferta - riu, maliciosamente - eu estava falando de outro tipo de diversão.

- Do que você está falando? - Anna disse, com a compressa de gelo na cabeça.

- Vocês já ouviram falar da mansão atrás do cemitério? Há boatos sobre ela... e ela está abandonada a mais de cinco anos, vocês sabem...

- Para de exagerar, Joe, pra começar não é uma mansão, é só uma casa de dois andares e,  talvez, um porão. Sem falar que ela não fica exatamente atrás do cemitério, é apenas uma rua atrás - Thomas replicou.

- Tudo bem, eu só queria tornar a história mais interessante. Mas mesmo assim, ninguém vai lá a muito tempo. E como ainda não chegamos à meia noite...

- Ok, vamos - respondi, com calma, me levantando.

Thomas me olhou, confuso.

- Mas... logo você? Achei que pensava que isso era besteira -ele disse.

- E acho. É por isso que eu quero ir. Não temos nada pra fazer, e pode dar um medo divertido - sorri.

- Não sei. E se for perigoso? A casa pode não ser instável, pois é antiga, e pode ter insetos ou bichos peçonhentos lá - me olhou, cautelosamente.

- Eu te protejo, amor - falei, sorrindo, fazendo ele sorrir de uma forma boba pra mim.

- Já que estamos todos de acordo - Joe disse, puxando Marina.

- Todos? Adoro quando a minha opinião é escutada e analisada por vocês queridos ami...

- Vem logo Anna, - Amanda disse, ameaçando fechar a porta e trancá-la sozinha ali.

- Tá, tô indo, seus ingratos - bufou.

O caminho até a casa supostamente abandonada era meio longo. Rezei pro tempo não resolver chover, pois ninguém havia lembrado de pegar guarda-chuvas.

- Nenhum de vocês têm horário pra chegar em casa? -perguntei, meio preocupada, por sempre me sentir responsável pelos meus amigos idiotas.

- Eu disse que ia dormir fora - Anna disse.

- Eu também, - Thomas falou - achei que íamos pra sua casa depois.

- Eu sempre durmo na casa do Joe, minha mãe já sabe - Marina disse, abraçada nele.

Eca. Pensei.

- E eu já sou crescidinho - Joe riu.

- Ninguém quer saber se você já sabe se limpar Joe. Agora fica quieto - Thomas falou, seco.

- A próxima é a do cemitério, depois é a rua da casa - Amanda interrompeu, apontando a esquina.

Apressamos um pouco o passo, pois estavámos todos curiosos. Até mesmo Anna, que via filmes de terror com a gente com os olhos fechados a maior parte do tempo.

Quando achamos a casa foi meio decepcionante. Na minha cabeça encontraríamos um cenário perfeito de halloween, com um terreno árido, plantas secas. Uma casa escura, de madeira, à moda antiga. Na verdade não foi quase nada do que encontramos. A casa era até bonita. O jardim não era o mais bem cuidado do mundo, óbvio, afinal a casa estava mesmo com aparência de abandonada. A grama e o mato estavam um pouco alto, na altura do meu joelho eu diria.

O portão era apenas uma grade de ferro, marrom, com algumas partes enferrujadas, nada anormal no meu bairro.

E a casa... bom, aparentava ser agradável, como qualquer outra. Ela era feita de concreto, e era pintado num branco bem simples, com algumas partes descascadas pelo tempo. As janelas e a porta que enxergávamos eram de madeiras num tom marrom meio claro. Era uma casa convidativa para se morar com alguns reparos.

- É isso? - Amanda perguntou, com voz de desdém.

- Quando você disse que queria tornar a história mais interessante, não estava brincando Joe - Anna falou.

- Tudo bem, até eu pensava que essa casa era mais assustadora - ele disse, coçando a cabeça, sem saber o que dizer.

- Será que tem alguém morando ou sei lá, vigiando a casa? - perguntei.

- Você ainda tá pensando em entrar Mi? - Thomas perguntou, me abraçando por trás, me fazendo ter um arrepio bom.

- Ainda não temos nada pra fazer, e pode ser legal descobrir o que tem lá dentro. Eu só não quero ser presa por invasão domiciliar, por isso a pergunta.

- Por que a gente não bate, e se vier alguém explicamos que meu irmão perdeu a bola de futebol esses dias nessa rua, e teve vergonha de pedir por ela? - Amanda sugeriu.

- Mas você não tem um... esquece - Anna falou, rindo de si mesma ao final da frase.

Fui a primeira a bater palmas, chamando por alguém. Depois de uns dois minutos - acho- de tentativas, ninguém apareceu.

- Agora chega, daqui a pouco acordamos os vizinhos - Thomas disse.

- Vamos entrar ou não? - Marina perguntou. Me impressiono pelo fato de ela ainda não ter largado Joe.

- Se você vai, eu não sei, eu já estou dentro - eu disse, escalando o portão -por sorte, sem pontas na parte superior- e pulando do outro lado.

Thomas foi o primeiro a me acompanhar, Joe ajudou Marina e Amanda a subir e Anna veio por último.

- Regras - falei com tom sério, juntando todos num pequeno grupo já dentro do pátio.

- Eu sei me cuidar bem querida - Joe falou, começando a andar.

- Dê mais um passo e eu ligo pra polícia relatando o que aconteceu. Você sabe que não tem credibilidade por lá... querido.

- Tudo bem, não precisa apelar -respondeu, bufando.

- Estou falando sério, serve para todos. Quero todo mundo atrás de mim e do Thomas, e Amanda cuidando do fundo, ok?

Todos assentiram. Então continuei.

- Qualquer coisa, falem. Não sabemos se há mendigos, maconheiros, ou como Thomas disse, bichos lá dentro. E não estraguem nada, queremos diversão, não confusão.

- Sim, senhora - Joe disse, revirando os olhos.

- Você sabe... a polícia... - ameacei.

- Ok, ok - falou, com as mãos pro alto.

- Agora vamos - eu disse, com Thomas ao meu lado.

Chegamos na entrada da casa. Parei. Não havia degraus, ela era rente ao chão. O lado esquerdo da casa era encostado na parede, o outro dava para o suposto pátio dos fundos.

Achei que devíamos olhar lá atrás primeiro, mas seria perigoso, caso ficássemos todos presos nos fundos ou algo acontecesse.

- Eu e Thomas olharemos lá atrás primeiro, é melhor que vocês fiquem aqui caso venha alguém ou  tenha algo perigoso lá atrás - falei.

- Querendo ficar sozinha com o Thomas, hein? Inveja dele, confesso - Joe riu, com malícia.

Corei e olhei para Marina, que se virou para Joe como quem não estava entendendo. Vi que Thomas estava prestes a responder algo grosseiro. Ou bater nele grosseiramente, que seja.

- Chega Joe, é sério. A polícia, lembra? - fitei-o.

- Que droga garota, o cara não pode roubar uns salgadinhos e umas cervejas no mercado e já enchem o saco dele, viu - falou, reclamando daquilo como se fosse um absurdo terem prendido ele por uma noite, por ser menor de idade.

- Meu bebê, não sabia que você tinha feito isso... - Marina o olhou, com cara de choro.

- Não me chama assim em público por favor - falou, grosso, soltando o braço de Marina e abrindo a porta da casa.

- Joe nã... - falei, mas era tarde, ele já havia entrado na casa - que me perguntei por que diabos estava aberta - e fechado a porta novamente.

Marina estava chorando em silêncio. Amanda, que provavelmente era melhor que Anna e eu pra lidar com essas coisas a abraçou e tentou a acalmar.

- Calma minha flor, ele é um idiota mesmo - ela disse, fazendo carinho na cabeça de Marina.

- Verdade, ele não te merece Mah, deu pra perceber quando tentou beijar a Anna e... - falei, tapando minha boca instantaneamente. Droga.

- O... O que? - Marina chorou mais ainda, fazendo Amanda e Anna me olharem com cara de repreensão.

Ops.

- Tudo bem gente, calma. - Thomas falou, do meu lado - Vamos lá atrás meu amor, depois a gente volta e procura o idiota do Joe - ele disse, já caminhando em direção aos fundos, segui-o, corada.

O lado da casa era um pouco estreito, havia espaço quase suficiente para duas pessoas apenas. Dele apenas dava pra ver um mato alto como na frente da casa, nos fundos. E um muro gigante que separava este terreno do outro.

- Meu amor? - perguntei, de cabeça baixa e virando de leve para o outro lado, pedindo por Deus para ele não ver a expressão que eu estava fazendo.

- Como queria que eu te chamasse então? - ele perguntou, com um tom meio triste.

- N-não é isso... É que... bom, - tentei consertar, mas como visível não sou boa com palavras, principalmente aquelas que definem o que eu sinto - como você queria me chamar? - sorri, tentando não dizer nenhuma besteira.

- Namorada.

- Ãn...

- Gente, o que tem aí atrás? - Anna falou, aparecendo atrás da gente.

Então olhamos os três para os fundos.

- Aparentemente, nada - falei.

Não tinha mesmo. Mais grama alta, apenas.

- Vamos voltar e procurar o Joe logo, antes que ele faça alguma besteira - Anna falou, e a seguimos.

Marina ainda estava meio chorosa, perguntei se ela queria entrar conosco ou ir para a casa, Amanda até se propôs em levá-la, mas ela negou e falou que queria entrar e mostrar pro Joe que ela podia. Achei uma idiotice, mas só me sentia mesmo responsável por Anna e Thomas, então não me importava exatamente se ela fosse ou não.

- Ok então - eu disse.

Respirei fundo e abri a porta. Primeiramente olhei ao redor para ver se via algum sinal de Joe, mas nada. Só depois reparei no lugar. Fixei meus olhos no canto esquerdo, na parte que dá para trás da porta. Era uma recepção antiga de hotel, ou pelo menos o que parecia, pois havia uma sineta antiga, uma balcão de madeira, e uma prateleira com alguns pequenos quadrados enumerados. Do lado do balcão havia uma repartição, com a escada que dava para o segundo andar. Só então reparei no lado direito, onde haviam três portas, enumeradas exatamente da ordem 1 a 3, começando pela primeira porta a alguns passos de mim.

Por algum momento tive medo de entrar pra procurar por Joe. São vários quartos -pensei - pode haver qualquer pessoa ou qualquer coisa dentro deles. Talvez devessemos...

"O jeito é... dar uma... fugidinha com você... Se você quer..."

- Amanda! - gritei, ao ouvir o toque do celular dela.

- Calma Mi, é só meu telefone - falou, o atendendo. Todos ainda estavam do lado de fora, esperando o meu ok para entrar, mesmo espiando curiosos.

- Alô... Michael? O que? - disse, levando a outra mão na orelha para ver se escutava melhor - A festa? Já rolou cara, agora estamos aqui naquela casa da lenda mal assombrada do bairro, lembra? Como assim a casa era uma pousada que faliu? - "Agora a recepção faz sentido", pensei - Ah, ok - ela desligou depois de um tempo.

- Ele vai vir pra cá - Amanda disse, com naturalidade.

Levei minha mão à testa e tentei parecer o mais calma possível.

- Amanda, amor da minha vida, - falei, irônica - nós já estamos tentando evitar confusão e tirar o Joe daqui logo. Não precisava ajudar chamando logo o Michael e o espírito brincalhão dele pra vir aqui.

- Desculpa, eu só achei que seria útil mais uma pessoa pra nos ajudar a procurar - sorriu, levantando as sombracelhas, buscando aprovação.

- Esquece, agora tanto faz. Conhecendo ele sei que vai vir de qualquer jeito.

Nada contra o Michael, ele era até um bonito rapaz moreno, de cabelo raspado, meio alto até, um pouco magricelo mas sempre fez fama entre as meninas da nossa escola. Ele era um cara legal, mas costumava fazer piada com tudo, e eu estava tensa com aquela casa/suposta pousada, não queria piorar as coisas.

- Dá pra gente entrar pra procurar o Joe e sair logo daqui? - Anna falou, atrás de Amanda.

- Ok, vamos logo, mas sem nos separarmos, por favor - falei.

- Então... Isso era mesmo uma pousada antiga, que pelo visto faliu - observou Thomas.

- É, pelo o que o Michael me falou no telefone a pousada servia para estrangeiros que costumavam se alojar nesse bairro e achavam os lotes de terra muito caros, o que mudou com o tempo. Depois disso ele disse que a pousada ficou com o filho do proprietário, que morava aqui sozinho até falecer. Como ninguém achou os documentos da casa ela ficou abandonada até então.

- Um ótimo cenário para filmes de espíritos e essas coisas - sugeri.

- Não tem problema, você vai me proteger, não vai? - Thomas sorriu.

- Eu disse que ia e vou - sorri para ele.

"Namorada." Acabei lembrando que Anna me interrompeu quando estava tentando dizer algo. Confesso que fiquei agradecida, não sabia direito o que responder, quer dizer, eu adoro ele, mas eu sou confusa e se eu estragasse tudo de alguma forma não ia saber como ia ver o último filme dos Jogos Mortais sem o meu Thomas. Meu até então melhor amigo. Meu...

- A casa não parecia tão grande por fora - Amanda disse.

- Os quartos devem ser menores - respondeu Anna.

- Três quartos na lateral, o 4 e o 5 aqui no fundo... E essa porta do lado esquerdo, um pouco atrás da escada que eu não direito pra o que serve - falei.

- Por que não vamos ali primeiro? - Thomas sugeriu.

- Tudo bem - respondi.

Caminhamos até a porta dupla, do fim do corredor virando à esquerda. Era o restaurante do lugar, onde almoçavam ou algo assim. Haviam umas dez mesas espalhadas com duas cadeiras de madeira em cada.  As toalhas estavam todas manchadas e sujas e também havia uma mesa maior no centro. Provavelmente onde serviam a comida.

- Tem outra porta ali -disse Marina, que finalmente disse alguma coisa depois do infeliz acontecimento - Joe pode estar ali.

Trec.

Ouvimos um barulho de metal bater, algo como uma panela.

- Xiu... - fiz, colocando o indicador na frente do resto. Todos ficamos tensos escutando.

Tentei observar o local procurando algo pra bater ou enfiar em alguém caso necessário. Meus olhos não acharam nada além de mesas e cadeiras vazias. Vi Thomas segurar uma cadeira, pronto para arremessá-la se fosse preciso.

Depois de esperar o que parecia uma eternidade, nada apareceu, nem escutamos algum outro tipo de som.

- Podia ter sido um rato ou até mesmo Joe tentando brincar com a gente - Anna cochichou, ainda em alerta.

- Thomas, fica atrás de mim com a cadeira, vou até lá devagar e vou abrir de uma vez só, vocês fiquem aqui e qualquer coisa corram, ok? - respondi, cochichando o mais baixo que podia.

Todos assentiram, então eu fui, devagar, tentando não fazer barulho e ser discreta. Thomas foi atrás de mim com a cadeira na mão, em posição defensiva. Ele era o único que eu confiava pra fazer isso.

 Cheguei à frente da porta e fitei a maçaneta. Respirei fundo e fiz sinal para Thomas. Tentei não pensar, eu geralmente estragava tudo fazendo isso. Abri a porta de uma vez por  todas, escancarando-a e dando um passo para trás , deixando o caminho livre para Thomas caso tivesse que acertar alguém. Mas não havia ninguém.

Thomas deu uma boa olhada no lugar, ainda com a cadeira em mãos. Não havia mesmo ninguém. Só uma pia gigante de metal, uma chapa no centro da cozinha e algumas panelas penduradas no armário de cima da cozinha.

- Provavelmente foi mesmo um rato - falei, já fechando a porta.

As garotas suspiraram de alívio, e Thomas relutou, mas acabou soltando a cadeira.

- Vamos galera, já vimos que não estamos mesmo preparados caso algo ocorra, então é melhor achar Joe logo e ir embora daqui - falei.

Saímos do restaurante. Haviam cinco quartos para olharmos. Um perto do outro. Ao meu ver, éramos cinco, e isso dava  um número exato.

- Por que cada um não olha um quarto? - perguntei, já vendo o olhar de medo no rosto das meninas.

- Só porque você mesma disse que não deveríamos nos separar e porque nós já olhamos filmes de terror o suficiente pra saber que isso sempre acaba dando errado - Anna disse.

- Nós vírgula, você sempre passa a metade dos filmes de olhos fechados - Thomas tentou brincar, para aliviar a tensão. Sempre gostei disso nele.

- É, mais tinha um motivo para isso - Anna protestou - e eu não pretendo viver ele pessoalmente - terminou.

- Então esperamos todos do lado de fora até a pessoa terminar de olhar o quarto para ver se Joe está, que tal? - sugeri, pelo menos assim devia ir mais rápido e de um modo mais seguro.

- Eu começo - Marina disse, surpreendo a todos pela coragem repetina.

Ela foi em direção a porta de número 1, perto à porta de entrada. Parou em frente a maçaneta e pensou - não sei direito o que. Por um momento achei que estava mais tensa que ela. Talvez fosse o meu instinto de proteção mas eu realmente queria sair logo dali, pois não sabíamos nem mesmos se havia alguém morando ali. E eu não sei, estava me preparando internamente para que algo desse errado. Sentia que ia dar.

Pelo visto Thomas percebeu o quão tensa e eu estava e segurou minha mão. Marina abriu a porta e entrou. Esperamos alguns segundos. É irônico mas eu já estava esperando gritos.

- Nada do Joe aqui - ela saiu, fechando a porta.

- Como é aí dentro? - Anna perguntou.

- Normal, não tem toillet. Você estava certa, é só um quarto pequeno. Tem uma cama de casal, um armário pequeno e uma cômoda.

- Tudo bem, o 4 é o meu então - Anna suspirou.

Eu já estava pensando na parte de cima da casa. Quer dizer, estava muito silencioso para Joe, e ele tinha que estar em algum lugar. "Vivo ou não" pensei, segurando a mão de Thomas mais forte.

Anna entrou. Mais alguns segundos de agonia geral e nada. Ela voltou.

- Nada também. Os quartos não tem sequer janela então é impossível o Joe ter saído por elas. - observou.

- Tudo bem, eu sou a próxima então - Amanda disse, com um pouco mais de medo que as meninas. Ela provavelmente só não queria ficar por último.

Amanda visivelmente tremia. E eu achei que era a única que estava com medo daquilo. Ela caminhou devagar até a porta 3, que na verdade já estava bem perto dela, acho que estava tentando aumentar o tempo ou algo assim.

Ela abriu a porta devagar e deu um passo.

- AAAAAAAAAAAH! - gritou, saí correndo instantaneamente para ver o que era. Amanda parecia paralisada. Cheguei à porta e ela chorava.

- Mas o que...?

- Desculpa - disse ela, ainda chorando - eu só me assustei com o tamanho dessa... ratazana - disse, limpando os olhos.

Suspiramos todos.

- Tudo bem, - falei - só tente não fazer isso de novo ok? - disse, fechando a porta e abraçando-a. Joe também não estava ali.

- Qual você quer Thomas? -perguntei.

- As duas - me olhou.

- E aí eu vou ter duas chances de perder você pra um assassino psicopata. Sem jeito - falei.

Ele fez bico. Estava me odiando por aquilo, mas eu não o deixaria mesmo ir sozinho duas vezes.

- Fico com a próxima, então - falou, já abrindo a porta.

- Nada - falou, apenas tendo passado os olhos pelo lugar rapidamente. Queria eu que todas as outras tivessem feito isso.

- Tudo bem, a porta 5 será a minha - falei, fixando-a.

Thomas me olhava, preocupado. Eu apenas segui e fiquei de frente para a porta.

"Não pode haver nada demais aqui." pensei "É só uma pousada antiga, eu não posso estar com medo disso."

Finalmente abri a porta -não tão devagar, nem tão depressa- e dei um passo, logo após sendo puxada para dentro, assustada tentei gritar e me debater, mas uma mão tapou meus lábios  e braços fortes me seguravam.

Era Joe.

- Xiu, gracinha, já vamos terminar - ele disse, me jogando na cama e colocando o joelho ao meu lado, me prendendo.

Tentei espernear e tirar a mão dele, mas Joe, por levantar peso, era extremamente forte. Estava em pânico. Ele me olhava maliciosamente.

- TIRA AS MÃO DELA -Thomas ordenou, em frente à entrada do quarto.

- Me obrigue - Joe riu.

Thomas o tirou de cima de mim e o deu um soco, pegando entre a bochecha e o olho direito. Joe levou a mão ao rosto, agora sangrando.

Os dois começaram a brigar e a rolar pelo chão.  As outras garotas vieram ver o que estavam acontecendo.

 Tentamos apartá-los e implorei para que parassem, com medo do que Joe com raiva pudesse fazer a Thomas.

Nada adiantava e eles já haviam quebrado uma cômoda. Já estava ficando com raiva.

- PAREM - gritei, e instantaneamente tirei a blusa, ficando apenas com meu sutiã de renda preto.

São meninos - pensei - O que mais os fariam prestarem atenção?

 Joe riu e se levantou do chão. Thomas ficou tímido e me pediu para colocar a blusa de volta.

Fiz o que ele pediu e saímos todos os seis do quarto.

- E agora, podemos ir embora? - Anna perguntou, olhando para a escada.

-Cade a Mah? - perguntei, percebendo a ausência dela.

- A Marina... estava aqui... até agora - Amanda olhou para os lados, assustada.

- Aquela chorona - Joe comentou, fazendo todos olharem feio para ele.

- Talvez tenha ido embora depois de ver Joe - Anna falou - Eu não a culpo - terminou.

- Não sei... É melhor ligar para ela, não? - Thomas disse, me abraçando por trás, como de costume, tentando me fazer ficar confortável.

- Quem tem crédito? - perguntei.

- Eu, o meu é de conta, peraí - Amanda disse, e tirou o celular do bolso.

Desbloqueou a tela e procurou na agenda telefônica.

- Aqui, "Mah do Joe", hum, acho que vou ter que mudar isso - disse, olhando para o mesmo.

Esperamos dois segundos. "No one knows what it's like... to be de bad man..."

- É o toque dela! - Joe exclamou.

- Vindo lá de cima - Anna completou.

Todos nos olhamos.

- Por que diabos ela subiu? - perguntei, um pouco assustada.

"to be the sad man... behind the lines..."

O toque terminou e Marina não o havia atendido ainda. Amanda tentou de novo. Todos olhamos para as escadas. Nada.

- Subimos ou vamos embora? - Thomas perguntou, ainda atrás de mim.

- Não podemos deixar a garota aqui - eu disse - Podíamos ter deixado Joe, mas ela não.

Nenhum de nós sabia direito o que fazer, mas achei que não tinha outra alternativa. Comecei a subir os degraus e todos vieram atrás de mim. Thomas sempre do meu lado.

A escada era larga, de madeira, coberta por um tapete antigo, era bonita, confesso. Ela tinha uns quinze degraus, não pude parar pra contar. Quando chegamos ao fim dela olhamos ao redor e nenhum sinal de Marina.

Haviam sete portas na parte superior da casa. Seis enumeradas - ou seja, seis quartos em cima. Uma parecia ser o banheiro, talvez por isso estar escrito na porta. Enfim.

- 13 portas se contar a cozinha - Joe disse - Sinistro.

- Ia ser mais assustador se fossem 13 quartos - Anna falou - 11 quartos, um banheiro e uma cozinha não contam.

- Gente, a Marina, por favor - falei, ignorando as superstições deles.

- Deixa eu ligar de novo - Amanda falou, já pegando o celular.

"No one knows what it's like... to be de bad man..."

O som estava vindo da única porta sem enumeração. O banheiro.

"to be the sad man... behind the lines..."

Ela não atendia. Até Joe já demonstrava um pouco de preocupação com aquilo.

- Xiu... - Amanda disse. Todos paramos pra prestar atenção.

- T-tem alguém... entrando na casa - Anna disse.

Ouvimos o barulho da porta principal fechar. Fomos todos para trás.

Passos de alguém subindo as escadas. Ficamos paralisados e esse alguém se aproximava.

Gelei. Dei minha mão para Thomas e me preparei pra correr.

- E aí galera - Michael sorriu.

- Ah - Amanda suspirou.

- Seu idiota, podia ter avisado -Joe disse, tenso.

- Ué, logo você com medinho, Joe? - Michael brincou, fazendo todos rirem. Menos Joe, óbvio.

- Vamos lá pegar a Marina logo, por favor gente - pediu Anna.

- Pegar a Marina? - Michael perguntou.

- Estavamos todos lá embaixo e do nada Marina sumiu. Quando ligamos pra ela o celular tocou, ali do banheiro, mas ela não atende, e nem com esse barulho todo ela veio aqui ver o que houve - expliquei.

- Ela pode estar ali chorando pela idiotice do Joe - Anna disse, olhando feio para ele.

Começamos a caminhar em direção ao banheiro, que era a porta exatamente ao lado direito da escada.

Como sempre eu e Thomas fomos os primeiros a entrar no  banheiro.

- Mas o que...? - olhei apavorada, Marina estava amarrada e amordaçada, nos olhando apavorada e tentando se desprender.

- Humm... HUMMMM - ela tentava dizer algo. Me ajoelhei e tirei a fita isolante da boca dela.

- ATRÁS DE VOCÊS! - ela gritou.

Quando olhamos era tarde, dois caras de preto e uma mulher saíram de trás da porta, nos prendendo. Joe, Thomas e Michael tentaram lutar com eles, mas um dos caras tirou uma arma e apontou para eles. Ficamos todos paralisados.

- Calma cara, não vamos fazer nada - Thomas levantou os braços. Todos o acompanhamos.

- Óbvio que não - o cara sorriu.

Depois disso tudo o que me lembro era de ser acertada pela mulher com uma espécie de frigideira na cabeça. Gritos... E as coisas foram se apagando...

***

Quando consegui abrir os olhos novamente, minha cabeça latejava. Percebi que fui a última a acordar, mas todos ao meu lado estavam quietos.

 Estavamos amarrados, porém sem mordaças ou fitas prendendo nossas bocas. Olhei para a porta do banheiro, somente a mulher que me acertou estava lá.

- Quem são vocês? - perguntei.

- Acordou bebê? - Ela perguntou, com voz sarcástica. Era uma mulher bonita, até. Nada de cenário de filme de terror, de novo. Era uma ruiva falsa, de cabelo vermelho tingido comprido e liso. Era alta e magra, uma mulher de dar inveja a qualquer "piriguete", eu diria.

- Ô lá em casa - brincou Joe.

Idiota.

A mulher se aproximou ainda com a frigideira em mãos e o acertou. Joe apagou novamente.

- Pra que fazer isso? - Michael gritou. Estava assustado.

- Deixa. É melhor assim - Olhei para ele e Joe, que estavam à minha direita.

Thomas estava atrás de mim. Percebi que era ele porque pude sentir seu relógio. Marina estava à minha esquerda, e Anna ao lado de Michael. Então Amanda provavelmente estava ao lado de Anna e Thomas.

- Quem são vocês? - repeti, com a voz mais firme, fixa nos olhos dela.

Ela riu.

- Somos ladrões de banco. Famosos mundialmente. Ou melhor, nossos crimes são famosos mundialmente, pois ninguém nunca nos pegou - sorriu.

Cerrei os olhos.

- Então creio que a história de "Nos solte e não contaremos a ninguém" não vai rolar, não é? - eu disse.

- Você até que é esperta, garotinha - ela sorriu.

- Então o que pretendem fazer com a gente? - Anna perguntou.

- Não é óbvio? - Thomas disse, trêmulo, atrás de mim.

- Não, não é - eu disse, e a mulher me olhou, confusa. - Eles são famosos por não serem pegos, e são ladrões de bancos. Matar um bando de adolescentes, sete para ser exata, numa casa fechada no bairro deles não é muito esperto. Seriam pegos facilmente.

- Não interessa a vocês! - ela gritou - E se disserem mais alguma coisa, todos vão dormir mais um pouco como o amiguinho de vocês ali.

- Cade os outros dois? - perguntei, ignorando as ordens dela.

Ela me olhou, desafiadoramente. Após parou.

- Eles estão demorando pra voltar mesmo - disse - Vou procurá-los, e se tentarem alguma coisa, lembrem-se: temos revólvers.

Ela saiu do banheiro. Esperei o que me pareciam uns dois minutos e comecei a tentar desamarrar as cordas, quando olhei para o lado Anna se levantou e começou a desatar todos.

- Sou mais rápida - ela sorriu.

- Te adoro - sorri, de volta.

- Xiu garotas - Thomas disse, baixo.

Ela terminou de nos amarrar. Olhei em volta e não tinha nenhuma janela no banheiro. Já vazia uns cinco minutos e a ladra ruiva não voltava.

Thomas foi devagar até a porta do banheiro e espiou o lado de fora.

- Nenhum sinal deles, vamos, rápido - ele disse.

Corremos todos em silêncio até a escada, e a descemos cuidadosamente. Até Joe e Michael já estavam assustados o suficiente para fazerem silêncio.

- A porta está fechada - Anna disse, tentando-a abrir.

- Deixa eu tentar - Thomas falou.

Todos os meninos tentaram fazer força juntos, mas nada.

- Lá em cima haviam duas janelas, - Amanda disse - podemos tentar sair por lá.

- Provavelmente dos quartos  7 e 9 - falei, porque eram os do lado esquerdo da escada, que dava para frente da casa.

- Eu vou na cozinha primeiro ver se acho algo para nos defendermos daqueles ladrões - Thomas disse - Vocês ficam aqui, se eles voltarem ou me atacarem vão sem mim.

Fiz cara de choro. Percebi que lágrimas provavelmente iriam escorrer e não queria que ninguém visse aquilo.

Thomas foi correndo antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

- CARALHO! - ouvi-o gritar da cozinha.

- Vamos embora - Joe falou - ele disse pra irmos sem ele.

- Vá VOCÊ sem ele, SEU IDIOTA! - gritei, com a voz trêmula. Corri o máximo que pude até a cozinha, alguns vieram atrás de mim, não vi exatamente quais pois estavam pensando somente em Thomas.

Quando entrei na porta entendi porque o palavrão. Thomas estava trêmulo, porém paralisado. Seu olhar estava fixo na parede da cozinha.

E não foi por menos; lá, haviam três cadáveres presos, um ao lado do outro, todos escorrendo sangue. Fedendo a sangue.

Marina entrou gritando "Oh, Meu Deus!" e chorava compulsivamente. Fiquei sem reação.

Anna ao meu lado chorava. Joe, Michael e Amanda não estavam conosco. Não sei nem como consegui reparar nisso.

Comecei a abrir as gavetas da cozinha e todos me olharam.

- Eu não sei como aconteceu isso - disse, ainda abrindo as gavetas e procurando facas ou coisas cortantes - mas precisamos nos defender de qualquer modo.

Thomas entendeu e começou a procurar comigo. Conseguimos três facões, Marina ficou com uma colher de pau mesmo. Antes isso do que nada.

Saímos da cozinha, todos em alerta. O plano era subir até os quartos e ir embora dali correndo.

- Marina, seu celular - lembrei.

- Eles pegaram - disse.

- Eles pegaram o meu também, - Anna disse, revistando seus bolsos - provavelmente pegaram o de todo o mundo.

- Droga.

Tentamos mais uma vez a porta e nada. Após isso subimos as escadas, tentando ficar próximos para ninguém ser pego sozinho.

Olhamos em volta do segundo andar. Não havia ninguém.

- O quarto 7 primeiro, e dessa vez vamos todos juntos - Anna disse.

- Eu vou na frente - Thomas falou, já se posicionando.

- Para de ser idiota! - falei, ele me olhou, confuso.

Antes de eu ver Marina se colocou na frente e abriu a porta. Felizmente ninguém estava lá.

Fechamos a porta, eu e Anna colocamos o cômodo em frente ela.

- A janela está toda pregada - Thomas disse, fazendo força -inutilmente- para abri-la.

- Pessoal - Marina disse, com a voz trêmula, abrindo a porta do armário.

Por um instante eu mesma gritei, Joe estava ali, todo ensaguentado, na minha frente. Pelo menos uma parte dele, pois não havia sinal da cabeça dele.

- D-decaptado - gaguejou Anna.

- Abre a segunda porta e sai de perto - falei.

Marina o fez. Foi exatamente como pensei. Era Michael, também decaptado.

Anna já chorava descontroladamente e Marina tremia. Eu e Thomas, incrivelmente, tentavamos de alguma forma manter a calma para protegê-las. E nos protegermos.

- E-e-e Amanda? E como não ouvimos gritos? - Anna se perguntou.

- Não sei, talvez o nosso pânico... eu não sei, mas vamos sair daqui - eu disse, tentando ficar calma.

- COMO?! - Marina exclamou.

- Ainda não tentamos a janela do quarto 9 - falei.

- Desculpa Mi mas, se esta janela está lacrada é mais do que provável que a outra também esteja - Thomas disse.

- Droga, - falei - tinha um macaco na cozinha, podemos pegá-lo para tirar essas madeiras que prendem a janela - tentei falar baixo.

- Então esse é o plano agora? - perguntou Thomas.

- Sim, - disse - e mais uma coisa.

- O que? - ele perguntou.

- Não me chame de Mi. É amor pra você - sorri, já pegando a cômoda pra tirá-la de frente da porta, desbloqueando a nossa passagem.

Saímos todos do quarto e já estávamos indo em direção às escadas.

Ouvi uma risada grotesca e gelei.

- Aonde pensam que vão? Quero brincar com vocês - era uma voz  rouca, grossa, e vinha de trás da gente, em frente a porta 10. 

Tremi. Olhando para ele qualquer um o faria. Era um homem alto, forte ou gordo, com a barba por fazer. Não era como o Jason, Hannibal ou qualquer assassino de terror que eu jamais vira. Ele não tinha uma máscara, uma capa que o cobria ou uma deformação facial. Mas via-se a maldade em seus olhos. Ele arfava de felicidade. Notava-se que ele estava feliz em nos ter ali.

Em sua mão esquerda possuia um machado, com sangue. "Provavelmente dos meus amigos" pensei, e uma lágrima escorreu dos meus olhos.

O resto eu não tive tempo de analisar, pois saímos correndo escada a baixo.  Ele andava devagar atrás de nós, provavelmente divertido com toda aquela situação.

Conseguimos chegar na cozinha. Olhei. Amanda estava pendurada à parede, junto com os outros três ladrões.

- Mas como... se estávamos... - Thomas indagou.

- Esquece - falei, seca.

Revirei as gavetas e achei o macaco. Porém era tarde demais, pois o homem alto acabara de abrir a porta da cozinha, e nos olhava, sorrindo.

Não tive tempo pra pensar muito, peguei a primeira panela que vi e joguei em seu rosto, ele gritou rouco e correu em nossa direção, dando-nos tempo de correr em volta da mesa e sair pela porta. Marina, a mais lerda de nós, acabou ficando pra trás.

- MI! - Anna gritou, vi o pânico em seus olhos.

- Esquece, corre - falei, chorando.

Subi as escadas me remoendo de culpa. Eu a havia deixado ali, pra morrer. E não havia nada pra fazer.

Conseguimos entrar no quarto 9. Como Thomas disse a janela estava mesmo trancada com tábuas, como a do quarto 7.

Havia uma chave nesta porta, então consegui trancar o quarto. Ouvi gritos. Os gritos da Marina.

Olhei por baixo da fechadura enquanto Thomas arrancava as tábuas da janela, com dificuldade mas felizmente com sucesso.

Então eu o vi. O vi prender Marina no chão. O vi arrancar a blusa dela, com a própria ponta do machado. Eu o vi passar a lâmina de leve em seu abdômen, a fazendo gemer de dor. Eu o vi rir disso, sorrir, se deliciar. Pra terminar ele a decaptou, de uma só vez, sem nem ligar. Ela não servia mais. Aquele brinquedinho não servia mais pra ele.

Fechei os punhos de raiva, desejando socá-lo. Socá-lo até a morte.

Anna me tirou de perto da porta. Thomas havia conseguido abrir a janela.

- Rápido antes que ele perceba - Thomas disse.

Não havia telhado abaixo da janela, teríamos que nos jogar do segundo andar, direto na grama. Era isso ou a morte certa. Eu pulei.

Meu erro foi deixar Anna pular por último.

Meu erro fatal.

Quando Thomas e eu já estávamos perto do portão Anna a recém havia saltado e caído no chão.

- Meu tornozelo dói - gritou.

Parei onde estava e voltei para pegá-la, mas não deu tempo. Ele saiu da casa. Sorrindo ainda, o maldito.

Vi o pânico nos olhos de Anna. Tive vontade de morrer com ela. Estava pensando em fazer isso.

Por um instante ela parou, engoliu o choro e enfiou sua faca na perna do homem, fazendo cair e rugir de raiva.

- CORRAM! - gritou.

- M-mas... - eu disse, trêmula, chorando.

- Só faça um favor - ela gritou, também chorando. O nosso assassino já se alevantava, furioso.

- FALA! - gritei, já soluçava.

- Tratem de ficar juntos! - gritou.

- NÓS TRÊS, PRA SEMPRE - gritei, enquanto corria com Thomas em direção ao portão. Atrás de mim pude ouvir o último grito de Anna e a machadada final que o assassino dera nela.

Escalei o portão primeiro e consegui descer. Thomas estava no alto quando o desgraçado chegou e cravou o machado em sua perna.

- THOMAS! -gritei, instintivamente pegando minha faca e a enfiando no estômago do homem por entre as grades.

Thomas conseguiu tirar o machado de sua coxa e saltou para o outro lado.

- Vem, amor - eu disse, escorando-o em mim e correndo em direção ao final da rua.

Olhei pra trás, o assassino jorrava sangue ajoelhado ao chão. Tirei a flanela preta e enrolei na perna de Thomas, que sangrava.

- Eu... vou sobreviver? - ele disse, com voz choro.

- Você não ouviu a Anna? - falei, com lágrimas nos olhos - Nós vamos ficar juntos, pra sempre.

- Namorada?

- Namorada - sorri, e andamos até a polícia.


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Notas finais do capítulo

Não tinha exatamente muita coisa para fazer, então resolvi escrever, assim, aleatoriamente. Se gostar comenta, assim posso resolver meu tédio de maneira produtiva mais vezes :3 arigatou *-*



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