Ella - A Verdade Por Trás Da História escrita por Ayelli


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

O medo daquilo que não conhecemos muitas vezes nos impede de dar uma chance ao que é novo e quase sempre nos faz cometer injustiças ao acreditar que não existem exceções às regras.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/283864/chapter/7

Ana nunca estivera na Suécia antes, pelo menos não que se lembrasse, mas havia algo de familiar em cada quilômetro da estrada, principalmente no cheiro daquele país.

Carlos, o motorista, apareceu junto com Pedro no retorno de uma viagem ao México, segundo Doroty. Era muito simpático, atencioso e também muito discreto, tanto que durante o tempo que permanecera na casa, Ana o tinha visto no máximo umas duas vezes e o que mais achava engraçado, era o fato de quese “pensassem” em chama-lo, imediatamente ele aparecia. E o que também a intrigava agora era que ele parecia saber exatamente aonde ir e se esforçava para fazer parecer o contrário.

– Srtª, estamos em Gävle, onde exatamente deseja ir? – perguntou o motorista.

– Não sei para onde ir, Carlos, mas sei que existem respostas por aqui e preciso encontrá-las!

– Se me permitir, posso lhe indicar alguém que terá prazer em hospedá-la.

– Claro que sim, nunca estive na Suécia antes, então, ficaria grata com qualquer ajuda que recebesse.

Carlos levou Ana até uma residência localizada na área central de Gävle, onde foi recebida por uma senhora muito distinta, elegante e educada.

– Madame Amaril, son serviteur! seu criado! – disse Carlos curvando-se de maneira engraçada. Não! Um empregado latino que morava na Suécia e falava francês! Ana já estava ficando tonta com tantas coisas, digamos, um pouco fora do comum. A Senhora apenas curvou a cabeça. – Deixe-me apresentar, esta é a Srtª Ana, ela esteve hospedada em casa do Sr. Pedro e precisou vir a Gävle para tratar de assuntos particulares, como nunca esteve na Suécia e, sabendo do imenso apreço e confiança que o Sr. Pedro tem pela Srª, eu a trouxe para cá. Espero não parecer abuso de minha parte.

Notava-se que a Srª Amaril era uma mulher de idade que a aparência não denunciava, olhou Ana de cima e embaixo, refazendo o caminho inverso até alcançar seus olhos, nos quais se fixou por um instante. Ana não soube dizer exatamente o que sentiu, sua expressão não revelava descontentamento, mas parecia pensar “lá vem confusão” e em seguida disse:

Ne vous inquiétez pas! Imagine! Minha casa é a casa de Pedro, estará sempre aberta para ele e seus amigos que considero meus. Carlos, chame Affonso para lhe ajudar com a bagagem. Venha, querida, vamos tomar um chá, assim poderá me falar um pouco sobre você e o que procura em Gävle - Carlos sumiu num piscar de olhos, como sempre.

Olhando a casa de fora já era possível ter uma idéia do que poderia ser visto dentro. Assim que entraram, uma linda moça apareceu.

– Évenice, essa é a Srtª Ana, será nossa hóspede por quanto tempo precisar.

– Est la bienvenue ! Seja bem vinda Srtª Ana ! Qualquer coisa que precise não hesite em me chamar, oui ? – disse a moça num tom tão suave que quase pareceu um susurro. Ana acenou com a cabeça em retribuição.

– Por favor, Affonso irá trazer a bagagem da srtª, peça que leve para la chambre verte, oui.

Oui Madame ! – respondeu a moça. Ela tinha uma aparência tão delicada que mais parecia uma boneca de procelana ambulante. Estatura mediana, cabelos claros, presos no alto da cabeça num coque, olhos azul-celeste, ainda mais destacados por um vestido azul sob um cardigã branco, e sapatos baixos combinando, muito elegantes, por sinal.

Como Ana havia imaginado, o interior da casa tinha um ar imponente e requintado. No hall de entrada, um espelho Luiz XV, majestoso em sua moldura dourada sob uma mesa no mesmo estilo, e um lustre magnífico que pendia do teto bem no centro.

Madame Amaril, seguia à sua frente, apresentando a residência. Passando para a sala seguinte, Ana concluiu que, definitivamente, a casa toda era Luiz XV. Madame explicou que a sala de jantar em estilo neo-barroco era utilizada para reuniões sociais e recepções onde grandes negócios eram tratados. Num espaço contíguo à sala Luis XV, ostentando elegante lareira, um gabinete de gosto vitoriano e mais íntimo. Imediatamente, Èvenice surgiu por outra porta trazendo chá e croissants.

– S'il vous plaît, Srtª Ana, queira sentar-se. – disse madame Amaril enquanto lhe passava a xícara de chá. – Então esteve hospedada em casa de Pedro, lugar magnífico. Se não tivesse sido obrigada a vir parar em Gävle, certamente teria me mudado para Mora, muito mais tranquilo. Então, suponho tratar-se de uma parente... próxima ?!

– Não, madame Amaril, na verdade foi um acaso, Sr. Pedro foi... muito generoso e... bem, é uma história longa então, vou resumir, eu estava em um navio que afundou e não sei como consegui me salvar, não sei quem apareceu, me recolheu das areias da praia e me levou até a casa do Sr. Pedro, onde passei as últimas semanas e agora preciso saber porque meus pais viriam para cá, quem eles conheciam aqui e como começaríamos nova vida nesse país.

Intéressant ! – disse madame Amaril sorvendo o chá vagarosamente enquanto parecia processar as informações. – Então, você não sabe quem deveriam encontrar aqui. Já se perguntou se esse era realmente o destino? Você parece não saber muito sobre sua família, digo, tudo tão vago, seus pais nada lhe disseram sobre essa viagem, nomes, nada ?

– Não entendo o que quer dizer, madame ! Não me disseram nada, mas acredito que não sabiam que provalvelmente eu acabaria sozinha na praia e tendo que encontrar sei lá quem sem a presença deles, não ?– perguntou Ana, sem entender o que ela poderia estar querendo dizer com aquilo.

– Oh ! Mas é claro mon cher, deixe pra lá, querida ! Quem sabe seria melhor recolher-se a fim de descansar um pouco da longa viagem e preparar-se para o jantar. Como disse, não tenha pressa, poderá permanecer aqui quanto tempo se faça necessário !

– Eu nunca poderei agradecer o suficiente toda a ajuda que estou recebendo da Srª agora, tanto quanto a que recebi de Pedro.

– Oh, mon cher, não se precupe com isso ! Èvenice, acompanhe a Srtª Ana, ela irá a seus aposentos repousar um pouco e preparar-se para o jantar.

Ao entrar no quarto entendeu o « la chambre verte », as paredes eram pintadas num tom verde muito claro e o teto branco, a decoração seguia estilo do restante já visto, a cama era imensa e muito confortável, Ana não resistiu e jogou-se nela, seu corpo queria gritar agradecendo aquele gesto e acabou adormecendo.

Madame, excusez-moi, a Srtª Ana adormeceu, acredito que não acordará para o jantar, oui ?! – disse Évenice lançando um olhar de missão cumprida à patroa.

Que ce soit, deixe estar, melhor assim Évenice, é muita novidade para um dia só, preciso pensar... Pedro é um homem astuto, com certeza sabe muito bem o que está fazendo me mandando essa menina. Poderia apenas ter tido a elegância de me mandar avisar com antecedência. Oh ! Mon Dieu ! Nem eu desejo jantar, vou me recolher. Mon cher, verifique se tudo está em ordem e recolha-se também, estou prevendo temporadas de turbulências! Esperava que pudesse finalmente envelhecer em paz, bonne nuit.

Bonne nuit, Madame !

Apesar de tudo o que estava acontecendo, de muitas situações inusitadas e intrigantes, Ana dormia o sono dos justos. Acreditava que encontrando os tais parentes de que seu pai falava, sua vida estaria resolvida e voltaria a ter, dentro do possível, uma vida normal para uma garota comum de sua idade.

Enquanto caminhava vagarosamente em direção a seus aposentos, os pensamentos de Amaril iam um pouco mais rápidos. Já estivera metida em sérias encrencas antes por causa dessa espécie. Em suas lembranças, a morte de seu marido Francis, diante de seus olhos, era algo que não se apagava da memória, principalmente sabendo que ela seria a próxima na lista daqueles malditos agentes russos, afinal, simpatizantes não eram permitidos e acabavam tratados da mesma forma, sendo eliminados ! Demorou a entender os motivos pelos quais fora poupada, mas hoje sabia muito bem.

A agência sempre teve a esperança de que Amaril troxesse até eles aquele que conseguira fugir, Haig, filho do colaborador Zirgov, mas Amaril realmente havia perdido o contato depois da morte de Rudolph, seu protetor e que ensinara ao rapaz com excelência a arte de despistar seus perseguidores, e além disso ela prometera a seu marido que jamais entregaria o filho daquele que também havia sido seu grande amigo e levaria essa promessa às últimas consequências.

O Velho Rudolph, também a ajudara no passado, um motivo a mais para levar a cabo a promessa que fizera. Ele tinha um filho chamado Theodoro que fugira com nome falso de Manoel e sua esposa Emanuelle sob pseudônimo de Maggie, que estava grávida na ocasião e viria a dar a luz assim que puseram os pés na Letônia... Ella, não se lembrava ao certo mas, achava que era esse o nome da menina e que na época quase ninguém soube de sua existência. Depois de algum tempo achava estranho que a família evitasse lugares públicos com a criança ou até mesmo quando recebiam pessoas conhecidas em casa, o que era raro, a desculpa era sempre a mesma, a de que a menina tinha uma saúde muito frágil. Amaril não se lembrava de tê-la visto uma única vez.

Eram tantas as lembranças, tantos amigos queridos que havia perdido nessa guerra silenciosa que acontecia longe do conhecimento público. Amaril acreditava que seria impossível dizer quantas vidas humanas foram perdidas e, por fim, nem eram aqueles considerados uma ameaça os que promoviam essas mortes, então, há muito tempo que a ameaça real havia passado a ser os próprios humanos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ella - A Verdade Por Trás Da História" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.