Ella - A Verdade Por Trás Da História escrita por Ayelli


Capítulo 43
Capítulo 42


Notas iniciais do capítulo

If you could only see the beast you've made of me
I held it in but now it seems you've set it running free
Screaming in the dark, I howl when we're apart
Drag my teeth across your chest
to taste your beating heart

Howl
Florence and The Machine



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Parte I

No grande salão, agora havia uma mesa enorme ao centro, rodeada de cadeiras, tudo feito de madeira pelos próprios habitantes, que tiveram aulas e noções básicas de carpintaria como parte integrante do currículo do curso: "Como deixar de ser um animal totalmente primitivo".

Piadas à parte, Haig possuía muitos conhecimentos e habilidades, vantagens de existir como um imortal há muito tempo e, principalmente, vivendo entre gente civilizada.

Haig e Aleh, mesmo com alguma dificuldade, também conseguiram introduzir noções de higiene pessoal.

Como a maioria das cavernas mais antigas, essas são formadas por grandes salões e muitas galerias menores. E algumas dessas sub-galerias possuem água, seja em pequenas fileiras escorrendo pelas paredes, ou em lagos internos oxigenados pelas nascentes próximas. Duas dessas galerias foram reservadas para banhos, uma para as poucas Is que viviam entre eles e a outra, maior, para os homens que eram em maior número.

Haig e Aleh foram até duas das cidades mais próximas, embora “próximo” não queira dizer exatamente isso por aquelas bandas, a fim de trazer coisas como roupas novas, sabonetes e xampus, itens de perfumaria masculina e feminina, pentes e escovas, tudo patrocinado por uma parte do dinheiro que trouxeram consigo, estratégia pré-definida por Haig no intuito de trazer aquelas criaturas à civilidade.

A tarefa mais difícil era, sem dúvida, convencê-los de que eles não precisavam beber sangue humano toda vez que cruzassem com alguém. Isso seria imprescindível se quisessem andar entre os humanos. Sem falar do sol. Ah, o sol! Alguns poucos indivíduos já mostravam sinais de adaptação, talvez aqueles que já vinham se arriscando há algum tempo, mas outros, Haig simplesmente não os via andando por aí em plena luz do dia, embora o sol por lá não tivesse o costume de prolongar sua visita.

Ao final de cada dia, ficava claro para Haig que eles poderiam demorar-se por lá bem mais do que ele havia imaginado.

Parte II

Ella nunca havia se dado conta, de fato, do quanto era instintiva até começar a adentrar aquela caverna.

Não era fácil explicar, mas sentia a familiaridade daquela atmosfera, embora seus olhos não reconhecessem nada do que viam. Nesse momento, percebeu que, mesmo que não apreciasse o sangue como fonte de alimento e não fosse imortal como os vampiros, também não dava para dizer que era uma humana comum.

Claro que preferia estar em seu sítio organizado, limpinho e cheiroso, mas sabia que se acostumaria naquele lugar pelo tempo que precisasse permanecer ali.

Havia dois meses que Carlos partira a fim de tentar realizar a tarefa de trazer Ella, tempo esse que foi necessário para que ela deixasse tudo encaminhado antes de partir.

Haig e Aleh, assim como os demais habitantes das cavernas, estavam ansiosos e um nervosismo pairava no salão onde estavam todos reunidos, quando Ella e Carlos surgiram por uma das aberturas nas rochas.

–Seja bem vinda, Ella! - disse em alta voz Zurik, e todos voltaram os olhares aos recém-chegados.

Ella deteve-se por um momento, um tanto receosa. A aparência da maioria dos habitantes já havia melhorado consideravelmente, mas ainda assim era um mundo totalmente novo para ela.

Respirando fundo, colocou um sorriso no rosto e seguiu em passos firmes em direção a Zurik. Sabia, instintivamente, que deveria cumprimentá-lo primeiro.

– Como vai? Você deve ser Zurik.

– Sim, e você nossa bela Ella! Seja bem vinda! Nossa casa é a sua casa!

– Obrigada!

– Agora vá cumprimetar seu marido e seu filho, eles estão ansiosos demais! - disse Zurik sorrindo.Ella estava confusa, Zurik era do tipo indecifrável. Ele tanto podia ser um homem simpático e amável quanto um ser muito perigoso, e isso a incomodou.

Ignorando esse incômodo receio, reservou ao marido e ao filho um abraço demorado e cheio de emoção, demonstrações de afeto às quais aquele povo não estava acostumado.

– Mãe... que bom que a senhora decidiu vir!

– Meu filho, que saudade! Você está bem? - perguntou ela abraçando o filho. Um abraço de mãe, do tipo que quer matar a saudade e analisar se não falta nenhum pedacinho.

– Estou sim, mãe, pode ficar tranquila!

Então Ella olhou para seu marido com os olhos marejados e partiu para os seus braços. Era impressionante como seus sentimentos por Haig eram exatamente os mesmos do início, nada mudara, o mesmo amor, o mesmo desejo. Como seu coração palpitava à simples proximidade. Agora sabia que havia tomado a decisão certa, amava demais o marido e o filho, e se houvesse uma possibilidade de ficarem juntos para sempre, ela a agarraria.

Haig a tomou nos braços e saiu do salão carregando-a no colo para espanto de todos os presentes. Porém, embora não entendessem muito bem o que estava acontecendo, ninguém ousava questionar Haig, o grande guerreiro. No final das contas, Carlos estava certo, uma boa parte dos motivos que levaram Zurik a querer Haig por perto estava ligado à sua descendência.

Depois de caminhar um tempo sem dizer nada por um dos corredores, saíram numa espécie de jardim num outro salão menor, uma parte da caverna sem teto que dava visão para o céu repleto de estrelas, e o que provavelmente permitia que as plantas de desenvolvessem natural e lindamente. Ella adorava a natureza e ficou maravilhada.

– Oh, que lugar lindo!

– Que bom que gostou, eu escolhi essa parte da caverna para viver com você, caso você viesse.

– Estou aqui!

– Sim, está! - agora era Haig quem tinha os olhos marejados. – Obrigado por vir, estava difícil imaginar a vida sem você!

– Estava difícil vivê-la sem você! Então ele pegou sua mão e a conduziu por um caminho que circundava o pequeno jardim em direção a uma porta. - Eu não vi muitas portas por aqui – ela disse.

– É, esta aqui é a primeira. Eu mesmo a entalhei e preparei esse lugar para nós, nosso refúgio.

O “cômodo” por dentro era rústico, porém, muito organizado. Tudo ali dentro era feito das madeiras das florestas ao redor, artesanalmente. Havia uma cama grande e o colchão era de tecido costurado, seu enchimento era uma mistura firme, porém macia, de palha e penas, assim como os travesseiros. Ao ver os grossos cobertores de pele, ela se lembrou de Tamerlán, e Haig, instintivamente, percebeu o que se passava em sua mente.

– Não se preocupe, assim como as do nosso amigo eremita, essas peles são de animais que abatemos para consumo, aqui também não há matança desnecessária. Pelo menos é o que estou tentando fazer com que aprendam... Bem, eu sei que deve ser difícil para você, então eu tentei...

– Psiuuu ... – disse Ella virando-se para ele e calando-o com um beijo. – Difícil foi ficar longe de você esse tempo todo!

Então o desejo de ambos, que há muito estava sufocado, explodiu como da primeira vez em que tiveram um ao outro. Entregaram-se à paixão como se a possibilidade de o dia de amanhã não existir fosse real, devoraram-se com a ânsia dos amantes enlouquecidos e caíram exaustos, já quase ao final da madrugada.

Assim que amanheceu, Aleh bateu à porta. Haig abriu os olhos num sobressalto, há tempos que não dormia, não sentia essa necessidade, e assim que abriu os olhos e viu Ella a seu lado, pensou que passaria por tudo novamente só para tê-la ali, como agora.

– Pai, Zurik está chamando a todos no salão! Vocês estão bem? – insistiu Aleh diante do silêncio que vinha de dentro do cômodo e da demora do pai em responder.

– Claro, meu filho, já estou indo!

– Ele quer todos lá, sem nenhuma exceção e fez questão de frisar isso! - Está bem, já estamos indo!

– Ella, meu amor, temos que ir! O mestre dos magos está convocando uma reunião! – riram.

– Eu senti tanta falta disso! Ella sentia uma alegria profunda e verdadeira, como se tudo estivesse completo, como se absolutamente nada lhe faltasse.

Como era bom estar ali!


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