Ella - A Verdade Por Trás Da História escrita por Ayelli


Capítulo 18
Capítulo 17 - Pressentimentos




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              Haig e Kuzma preparavam-se para retornar a Mora. Após não terem encontrado nenhum rastro de Alexsander, julgavam que havia partido, já que nenhum incidente fora registrado, o que os tranqüilizou até certo ponto.

- Virou fumaça! – disse Haig com certa raiva na voz. – Com isso talvez nunca saibamos o que ele estava fazendo por aqui. Uma coisa é certa, deixa tudo menos tenso, porém a agência não iria enviar um cara como ele à toa.

- É! Por isso ele ainda é o “homem” da KGB, aquele mesmo que quase te matou um tempo atrás, lembra? Acho que não, porque vejo você dando mole demais, você sabe que se ele desconfiar que você ainda está vivo vai vir atrás. Não há muita coisa por aí que seja páreo para um vampiro, mas, esse é um inimigo para ser respeitado!

Enquanto ouvia o velho Kuzma, Haig foi sentindo um aperto no peito que foi se intensificando a ponto dele quase não conseguir respirar. Percebendo isso, Kuzma o amparou e quis saber o que estava acontecendo.

- Não sei eu... Eu... Você está sentindo isso? Está ouvindo? De onde vem? – correu para a janela com ar aflito.

- Não sinto, não vejo e não ouço nada! O que é, tá ficando maluco?

- Ella... eu podia jurar que ouvi sua voz, um sussuro, sei lá, a última vez que me senti assim foi quando meu pai... – de repente tudo ficou escuro, Haig permanecia em pé, imóvel como se estivesse em transe e seus olhos enegreceram, literalmente, suas presas saltaram e Kuzma se assustou porque já vira isso antes, há alguns anos, quando passava pelas terras do clã da lua, uma manifestação primitiva dos instintos e o que eles faziam não era nada bonito de se ver. Haig sentia-se abandonando o próprio corpo e lutou para não perder a consciência, levou a mão à cabeça e sentou-se numa poltrona no canto do quarto, parecia atordoado. – O que foi isso Kuzma? – o amigo sentou-se à beira da cama próximo a ele e refletiu por um segundo.

- Isso exatamente eu não sei, mas há muito tempo não via essa expressão, muito tempo mesmo!

- Como assim, que expressão? – peguntou Haig fixando os olhos no amigo.

- Haig, você por acaso... a quais lugares você e seu pai já foram, digo, desde que nasceu? Conhece muitos países ou só ficou pelo centro da Rússia? – ele olhou para o amigo e soltou um riso irônico.

- Achei que você ia me dizer alguma coisa importante, mas acho que está brincando, não é? Você não quer mesmo saber sobre meus passeios turísticos nesse momento?! – levantando-se aparentemente irritado, Kuzma caminhou em direção à janela.

- Ah! Cala a boca seu fedelho! – disse depois de refletir por alguns instantes – Não foi só a guerra civil de 1992 que matou milhares de civis na República da Abkházia. Foi muito mais que isso, além também da limpeza étnica desejada por aqueles que lutavam para que a região se tornasse independente da Geórgia – encheu um copo de vodka e tomou um largo gole.

- Ô meu querido, aula de história e geografia, agora? Se tiver alguma coisa importante a dizer, sugiro que diga logo ou que terminemos de arrumar nossas coisas, preciso de notícias de Ella além de que, tem uma fumaçinha por aí precisando ser dissipada.

- Fica sentado aí e escuta! – pela grande confiança e respeito que tinha por Kuzma, Haig obedeceu, ainda que um tanto contrariado.

- Pois bem, andei por lá nessa época, enquanto vocês fugiam para a Suécia. As notícias correm e ouvi falar das mortes e, bem, alguma coisa dentro de mim foi atraída para lá...

- Claro, o cheiro de sangue! O que mais chamaria a atenção de vampiros numa guerra?! – disse Haig, mas Kuzma lançou-lhe um olhar sério. – Tudo bem, desculpe...

- Para nós é fácil perceber sempre que há algo mais por trás das histórias divulgadas, eu vi vampiros que nunca havia visto antes. Claro que eu sabia da existência deles. Bom, na verdade, eu achava que era só mito, ou lenda, sei lá, nos distanciamos tanto das origens que nem nós mesmos acreditamos no que fomos um dia... O fato é que eles são muito diferentes de nós, apesar de serem da mesma espécie. São agressivos, mais rápidos e não me espantaria se forem até mais inteligentes, porque até hoje ninguém sabe da existência deles, nem mesmo a “esperta” KGB, até eles acreditam que sejam só lendas – sorriu.

- Como assim, você os viu?!

- Eu vi, era uma época difícil, com a KGB na nossa cola. Encontrei Angus e decidimos ir até lá, verificar e, porque não, nos alimentar. Não éramos nós que estávamos matando só... aproveitamos o que os próprios humanos deixavam para nós. Num final de tarde, o sol já havia se posto, mas ainda havia certa claridade, eu me alimentava de um homem que acabara que levar dois tiros nas costas, seus pulmões estavam perfurados e não havia a menor possibilidade dele sobreviver, não que eu me importasse muito com isso... bom, só às vezes. Então, quando levantei os olhos ele estava lá, parado diante de mim, me olhava com ar incrédulo, hostil e parecia desprezar o que via, mas eu me lembro do seu olhar – nesse momento Haig levantou-se e se aproximou do amigo.

- E...

- Seus olhos estavam totalmente negros, a córnea, a pupila e a esclera eram tudo uma coisa só, negra feito o mais profundo breu da noite, tinha uma expressão feroz e seus dentes, ainda sujos de sangue estavam à mostra, cabelos negros e compridos, usava um traje antigo e, você pode apostar, eu senti que ele queria me matar. Fiquei pensando se ele me entenderia caso eu resolvesse abrir a boca ou se isso seria o estopim do que parecia aceso entre nós. Não foi preciso, ele mesmo falou: “Subespécie! Miseráveis! Fracos! Vocês nos envergonham!”. Nesse momento Angus apareceu e me chamou e quando me virei novamente, ela havia desaparecido.

- Então...

- Eles existem! E Angus os conhecia. Andamos por lá uns dias e eu pude ver que não são piedosos quando decidem pegar alguém, duvido que esse Alexsander continuasse tão valente diante de um deles.

- Mas... eles não andam por aí, não é?

- Não Haig. Eles fazem parte de uma pequena parcela que praticamente não saiu em busca de aventuras ou tentou desbravar territórios, muito pelo contrário, se confinaram às cavernas de Abkhazíya, uma região entre a Ásia e a Europa, coberta por montanhas e cujas costas são banhadas pelo mar Negro. Estão divididos em dois grupos, um habita a caverna Krubera-Voronya e o outro a caverna Sarma, as duas cavernas mais profundas do mundo, a eles não incomoda o fato de não poderem andar sob a luz do dia ou poder se alimentar apenas de sangue.

- E como explica o fato do “cara” estar vestido de forma... digamos civilizada, um pouco ultrapassado é verdade, mas...

- Pois foi exatamente o que intrigou a mim e a Angus na ocasião, se eram tão primitivos assim... Pois bem, primitivos não quer dizer burros sabem que o tempo passa, as coisas mudam, não se misturar, não quer dizer “não aprender”. Provavelmente observavam os costumes quando decidiam ou precisavam se alimentar e seguiam até alguma cidade, provavelmente pegavam as roupas de suas vítimas, vai saber, não me senti nada impelido a investigá-los depois daquele encontro, são só conjecturas.

- Bom, e por que está me dizendo essas coisas agora? – Kuzma tornou a encher seu copo de vodka, virou-o de uma só vez.

- Eu já vi esse olhar antes, esse mesmo que apareceu em seu rosto agora há pouco e, não tenho medo de muitas coisas garoto, apenas do desconhecido. Seus olhos estavam iguais aos dele.

Apesar de querer saber o que de fato aconteceu com ele, Haig não podia ignorar que sabia de alguma forma inexplicável, que Ella corria perigo.

- Amigo, eu queria muito tentar descobrir mais sobre o assunto, mas, nesse momento tem algo acontecendo que eu não consigo saber exatamente o que é, só sei que Ella está envolvida, talvez não esteja tão segura assim quanto eu imaginava que estaria na casa de Amaril, precisamos ir para lá.

- Não podemos chegar lá dessa forma, se realmente estiver acontecendo alguma coisa, “alguém” pode estar nos esperando ou esperando outros de nós, ou...

- Conjecturas – disse Haig com seu habitual risinho que escondia um nervosismo que ele jamais deixaria transparecer. – Tenho uma idéia! – pegou o telefone e ligou para Mora.

- Alô – respondeu-lhe uma voz familiar, era Doroty.

- Doroty, temos uma emergência!

- Seu filho-da-mãe! Você some, todos vocês somem e me liga de repente dizendo que tem uma emergência? Enquanto você não conseguir me matar do coração não vai ter sossego! – Haig abaixou o telefone enquanto, do outro lado da linha, Doroty disparava seu discurso materno enfurecido – Eu acho que pode haver algo pior que o clã da lua.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!♥



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