43rd Edition Of The Hunger Games escrita por Bess, André Kun


Capítulo 23
Capítulo 23 - Memórias de Kayla


Notas iniciais do capítulo

Bom dia gente :3
Faz uma eternidade que eu não vejo minhas amorinhas! *o*
A Effie Ironica me mandou MP me pedindo esse cap, desculpa não ter respondido, sério DD=
Bueno, lembram-se do Steve? O boy magia da Kayla? O guri dos campos de trigo? Pois não, o POV'S é dele, e até agora não consegui encontrar um ator pra representar ele TT_TT Mas isso é o de menos, vamos logo ao cap!
Boa leitura! *O*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/283507/chapter/23

Kayla Wexell, a ninja – Distrito 9.

“(...) Sei que boa parte dos telespectadores da Capital fica se perguntando se eu tenho um namorado, e bem, eu não tenho. Nunca liguei muito para isso, principalmente porque a maioria dos garotos que eu conhecia eram babacas e eu sempre os tratei assim. E tem um em especial que eu odeio, acima de tudo e todos. Ele sempre teve um sorrisinho com o canto da boca que eu sempre considerei arrogante e atrevido. O nome dele era Steve, e os cabelos dele eram loiros como os do menino que morreu hoje. Eu e ele brigamos desde que nos entendemos por gente, e não poderia ser diferente. Ele me odeia, eu o odeio, somos inimigos naturais, e se somos inimigos naturais porque demônios eu me sinto tão mal e tão rabugenta quando ele fica com outra menina?

E teve aquela vez que eu troquei olhares com o irmão dele, e no dia seguinte os dois tiveram uma discussão feia para logo depois sair no tapa. Eu queria me convencer de que o assunto não estava relacionado a mim, mas bem, isso foi um pouco impossível.

Quando eu fui escolhida na Colheita, rolei involuntariamente os olhos em busca da minha família, e concentrei meu olhar neles, mas de alguma maneira ou de outra eu acabei encontrando ele. Não consigo nem descrever a reação de Steve. Ele ficou paralisado, começou a pôr as mãos na cabeça e empalideceu. Naquele dia o cabelo dele estava particularmente longo e se assemelhava a campos de trigo. Sua barba estava por fazer, e esta é a imagem que eu guardo dele.

Sinto falta dele, por mais que não queira confessar. Espero um dia rever Steve, então nós nos abraçaríamos por longos minutos, e eu poderia passar minhas mãos nos campos de trigo.” – Kayla Wexell, capítulo 21

Fico imóvel em frente ao grande telão do meu distrito. O jogo acabou. Kayla perdeu. Sabe, essa é uma notícia realmente chocante. Eu custo a acreditar, parece que há toda essa coisa de um estilingue de metal fazendo tic-toc na sua cabeça, numa pulsação descompassada a qual você não consegue se conectar.

Meu nome é Steve Holmes. Kayla era minha inimiga, amiga e paixão. Ela treinava com katanas no porão da casa dela junto aos irmãos, para que se um dia chegasse aos Jogos pudesse se sair bem e matar os outros tributos. Sabe, ela não era má porque era má. Ela realmente não era má. Ela era uma ninja, preservava sua honra e fazia o que fosse necessário para garantir sua sobrevivência.

Ninguém quer morrer. Todos queremos sobreviver, e assim que colocamos como um ideal a sobrevivência e determinamos que a nossa é mais importante que a dos outros (ela precisava ter bastante ego para isso), é fácil matar sem remorsos. Ela tinha compaixão, mas não suficiente para deixar que suas vítimas sobrevivessem. Não sei até que ponto ela podia continuar sendo uma máquina de matar, porque foi o que a Capital fez com ela.

Minha Kayla virou uma máquina de matar. Sem remorsos. Sem remorsos. Sem remorsos, sem remorsos, sem remorsos...

Fico repetindo “sem remorsos” em voz baixa, agachado e com a cabeça no meio dos joelhos, até que a palavra perca seu significado. Palavras perdendo seus significados: é esse o resumo da vida hoje em dia. Até “vida” perdeu seu significado. Nós trabalhamos até a morte sob chuva, vento e sol, o resto do tempo comemos uma mísera comida, depois somos obrigados a mandar nossas crianças a uma Arena onde elas morrem rapidamente ou, quando voltam, nunca mais conseguem ser as mesmas de antes. Elas ficam bem mais violentas e paranoicas. A vida perde seu significado constantemente aqui, e agora perdeu pra mim. E eu sei que vou ter pesadelos, mesmo não tendo provado tudo aquilo que aconteceu pessoalmente.

Kayla cometeu horrores na Arena. Ela andava manchada de sangue, a cara completamente pintada, não pensava nas outras crianças como seres vivos, e sim como suas caças. Ela se esqueceu de seus terrores, suas aflições, suas personalidades e suas vidas inteiras. Ela apenas ceifava-as, cortava o fio da vida com sua foice assim como, com foices também, tirava a cevada dos campos.

Ela se destruía a cada passo, sempre esteve condenada. Cada erro, cada morte, eles a abalavam, apesar dela ser inabalável. Ela viveu sua vida freneticamente; apenas a eletricidade poderia pôr fim numa vida elétrica.

É difícil acreditar que ela morreu. A vida não era apenas uma linha reta fina e comprida, era tridimensional. Ver algo tridimensional subitamente parar de ser executado é realmente muito difícil. É uma sensação angustiante, e não há nenhum consolo, nenhuma palavra gentil sobre vida após a morte, ninguém nunca se preocupou em me dizê-las.

Kayla era frenética. Por toda a sua vida ela esteve se jogando naquele lago, ela sempre esteve sendo atingida pelo raio, a eletricidade sempre atravessou seu corpo e paralisou seus movimentos. Por um momento penso que o destino da japinha foi consequência das ações anteriores dela, mas não foi. Seu destino e sua vida foram obliterados pela Capital, a maldita. Talvez em outra vida, em outro país, ela possa ter sido outra coisa além de uma ninja paranoica e autodestrutiva, mas aqui em Panem ela se perdeu, desperdiçou sua vida num ciclo contínuo de sofrimento em prol de comida. Kayla era infeliz, no sentido mais literal da palavra.

Mas ela tinha sentimentos de qualquer garota, sei disso. Ela nunca se abriu com ninguém, não tenho como saber se ela me amava do mesmo jeito que eu a amei. Sim, eu a amei, ainda amo e é triste pensar que sempre vou amá-la, um amor condenado e irreversível. Gostaria de ter mais forças para enfrentar esse tipo de coisa, mas não tenho força nem para desviar o pensamento de algo que não seja a dor terrível da falta de comida no estômago, o fato de que as crianças do meu Distrito morrem de inanição assim como moscas morrem diariamente.

Porém, quando eu tive dois minutos para falar com ela logo após a Colheita, Kayla foi bem diferente daquela menina briguenta que eu conhecia. Sim, eu e ela brigávamos muito, e eu não conseguia evitar esboçar um sorrisinho arrogante no canto da boca quando a via. Tudo que eu consegui ver naquele dia foi a Kayla que eu nunca tinha conhecido, e foi naquele dia que eu comecei a entender que ela era apenas humana, não era um milagre nem uma maldição.

Ainda consigo me lembrar nitidamente. Eu estava pálido e suava frio, então girei a maçaneta, entrei no cômodo e ela estava lá. Ela me olhou e eu prendi a respiração. Avancei até ela e a abracei muito forte. Ela me abraçou de volta, e quando eu segurei o rosto dela entre minhas mãos, pude enxergar suas íris dilatadas que me fitavam com passividade.

Ela sorriu e disse que voltaria para mim, que eu não me preocupasse. Abracei-a de novo, mas ao contrário de toda a confiança que ela demonstrava, sua respiração estava desregulada e seu coração, acelerado. Kayla estava com medo!

O medo a preenchia sim, ela era humana. Ela tinha luzes dentro dos olhos, e são esses sentimentos que ela me proporcionou experimentar que eu sempre carregarei. Não são bonitos, eu os enxergo mais como cicatrizes inevitáveis: a maioria das pessoas só está preocupada em sobrevivência, eu e ela fomos pegos por essa maré histórica, porém do mesmo jeito pudemos vivenciar situações e desejos que fazem de qualquer pessoa um ser satisfeito por ter extraído a essência da vida e que não descobrirá, quando morrer, que não viveu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Beijitos e até o próximo!
Aliás, votem nos comentários! Preferem que seja da Leatheniss reencontrando o Laser ou da mãe da Ekie? (Ou se tiverem outra suggestion).



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "43rd Edition Of The Hunger Games" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.