Diana's POV

Era o dia da colheita para os mais novos Jogos Vorazes.

Duas semanas atrás, o número de Pacificadores que chegou ao Distrito 4 triplicou. Toda e qualquer medida considerada necessária pela Capital para que uma nova Rebelião do Tordo não acontecesse foi tomada.

Então, hoje, mais de duas mil crianças de doze a dezoito anos estavam reunidas na maior praça do 4. Eu ouvia conversas nervosas à minha volta, que foram todas interrompidas quando a mulher da Capital subiu ao palco, já com os potes com os nomes ao lado do microfone.

– Sejam todos bem-vindos! - ela cantarolou animadamente, como se estivesse apenas dando bom dia, não como alguém que vai escolher crianças para ir em direção a morte certa. - Vamos escolher nossos tributos!

Não me dei ao trabalho de prestar atenção ao seu nome. Ela se vestia completamente de um laranja escandaloso, com uma peruca pior ainda. Fiquei em dúvida se aquilo era mesmo um rosto ou alguém havia jogado argila em sua cabeça e uma criança tivesse tentado fazer um desenho. Ou seja, desastroso.

Depois de tediosos vídeos e discursos sobre as rebeliões e guerras que já aconteceram, a mulher rebolou até um dos potes e disse:

– Primeiro as damas – como sempre. Fiquei esperando junto com o resto de meninas com as respirações presas. Ela demorou um tempo exagerado para retirar o primeiro papelzinho. Até que anunciou, quase gritando: - Diana Owen!

Era o meu nome. Eu não sabia como reagir. Eu não sabia nem se conseguiria reagir. Nunca tive muita sorte, mas aquilo era demais. Eu tinha apenas quinze anos e ninguém que se voluntariasse por mim. Meus irmãos tinham mais de vinte anos, muito velhos, e de qualquer forma não gostavam de mim. A mãe deles morreu no parto da minha irmã, e eu nasci de um caso com nosso pai e Afrodite. Eu tinha poucas amigas meninas, e nenhuma que gostasse a esse ponto de mim.

O máximo que consegui fazer foi andar firme até o palco, sem expressão no rosto, coisa que sabia fazer muito bem. A mulher alaranjada me cumprimentou e pediu que eu esperasse a seu lado enquanto chamava a outra semideusa.

– Claire Knight!

Claire's POV

Não era possível. Eu não conseguia acreditar. Justo eu fui escolhida para o recomeço dos Jogos Vorazes. Minha mente pareceu flutuar, e meu próprio nome ficava ecoando em minha cabeça, como se fosse uma confirmação de que era mesmo eu.

Eu odiava mortes. De jeito nenhum teria coragem para matar alguém; eu não tinha nojo de sangue, mas se visse uma pessoa aos pedaços na minha frente, paralisaria.

Achava que iria desmaiar, pois era o mais provável. Meus ouvidos começaram a apitar e um Pacificador teve praticamente que me arrastar até o palco, onde Diana já estava. Eu a conhecia, já que estudávamos na mesma escola, apesar de eu ser um ano mais nova. Ela me olhou com aqueles olhos que pareciam mudar de cor para azul, verde e marrom como se pudesse ver através da minha alma. Tentei ignorar isso, pensando que era apenas algo de filha de Afrodite.

Isso me fez lembrar que, por eu ser filha de Apolo, pelo menos saberia com certeza manejar alguma arma decentemente, mesmo que fosse só para me defender. Afinal, eu seria uma Carreirista, o nome dado antigamente aos tributos dos Distritos 1, 2 e 4.

Minha linha de pensamentos foi cortada com outra frase da mulher vestida de laranja:

– E agora os cavalheiros – e foi até o pote com os nomes dos meninos. Porém, antes que pudesse pegar algum, uma voz soltou um berro no meio da multidão.

– Eu me ofereço como tributo!

Um garoto que eu conhecia saltou aos olhos de todos. Ele tinha cabelos encaracolados marrons e olhos e pele da mesma cor. E eu era apaixonada por ele. Meu corpo pareceu sem peso por um momento, até que tive de lembrar a mim mesma de que tinha que respirar.

– E qual o seu nome, meu jovem? - perguntou a mulher, a voz transparecendo animação com a ideia de um voluntário logo no começo.

– Noah Gilles – respondeu Noah com firmeza. Ao meu lado, não pude evitar olhar, a expressão no rosto de Diana era de horror, e eu entendia o porquê. Noah era seu melhor amigo desde que me conheço por gente, os dois eram inseparáveis.

A mulher laranja soltou uma gargalhada de gralha.

– Pois bem, suba aqui, querido, você tem determinação.

Noah foi andando lentamente até o palco, parando de meu outro lado, provavelmente de propósito, para não ter que ficar perto de Diana. Estranhamente, dela eu não sentia ciúmes.

A mulher sorteou o último nome, e incrivelmente, foi esse o que mais me surpreendeu.

– Chace Morrison!

Todos o conheciam. Como não poderiam? Ele era o cara. O cara lindo de dezesseis anos, filho de Poseidon, com olhos mais azuis do que o mar mais fundo e cabelos pretos como carvão. O cara mais popular de talvez todo o Distrito 4, o de músculos definidos, alto e maior ajudante nos trabalhos, com quem todas as meninas sonhavam em ficar.

Chace se adiantou, passando por todos os outros de um modo que, devo admitir, foi muito sexy. Ele não aparentava medo; era pior. Atravessou a praça com um sorriso irônico no rosto, como se fosse seu sonho ir para os Jogos. Como se estivesse pronto para tudo e todos e não fosse deixar nenhum vivo.

– Uma salva de palmas para nossos quatro tributos! E que os deuses estejam sempre a seu favor!